Cidadania no Brasil: mobilização X conscientização - Jornal Cruzeiro do Vale

Thiago Burckhart | Estudante de Direito

Diante das manifestações ocorridas do mês de junho no Brasil, é necessário, oportuno e possível pensar hoje na cidadania brasileira, de que modo que ela se reinventa em meio às modificações sociais ocorridas substancialmente nos últimos anos, como é o caso da influência da internet na sociedade civil.

Apesar de se reconhecer como um povo politicamente passivo, não é só de posturas passivas em relação à política que o povo brasileiro se comportou. Foram diversos os momentos em que este povo se organizou e se estruturou diante de dois pilares essenciais para a construção de um movimento social reivindicatório: a mobilização e a conscientização. Estes dois pilares fazer parte de cada movimento social organizado, e exercem papel fundamental para que ocorra a mudança pretendida, seja ela qual for.

Entretanto, as manifestações que ocorreram no Brasil no mês passado, e que ainda vem ocorrendo em algumas localidades, demonstraram que estes dois pilares não foram bem erguidos. A influência de mecanismos como a internet, por meio das redes sociais, auxiliaram para com a mobilização de diversos jovens, adultos, e até mesmo idosos e crianças de todo o Brasil a vir para a rua. Mas, não houve a conscientização. O outro pilar não foi erguido, o que prejudicou diretamente na consolidação deste como um movimento social.

A tomada de consciência é algo difícil e demorado, porém extremamente necessário. Infelizmente, a classe intelectual brasileira é extremamente elitizada, dissociando cada vez mais a figura do intelectual com a de um ativista. São poucos os intelectuais engajados hoje. Esse fenômeno, aliado a um sentimento individualista que percorre a construção social contemporânea e globalizada, impedem que haja a reunião de pessoas em prol de um coletivo, de uma causa em comum. Cada um protesta pelo que acha conveniente, sem haver um acordo semântico.

Nesse sentido, a construção da cidadania no Brasil atual é e será uma tarefa difícil para cada um de nós, cidadãos. A preocupação com a coisa pública, com a administração pública deve ser uma preocupação geral e não somente de uma minoria. Ou seja, para a construção de uma cidadania participativa e verdadeiramente democrática no Brasil será necessário uma mudança na cultura e nos valores sociais, uma revolução interna em cada um, para que possa se concretizar externamente.

Edição 1503