Ler o mundo - Jornal Cruzeiro do Vale

Ler o mundo

25/11/2011 10:20

Estive, de 13 a 15 de novembro, em Ribeirão Preto-SP, onde fui participar do Congresso Brasileiros de Escritores, promovido pela UBE ? União Brasileira de Escritores de São Paulo. Escritores de todo o Brasil compareceram para debater, palestrar, fazer oficinas literárias, apresentar mesas redondas, dar conferências. E muitos outros foram para assistir a tudo isso e encontrar seus pares. Aliás, é muito importante a discussão de assuntos referentes à produção, publicação, distribuição da literatura e a função dela na sociedade, mas o que vale mais é o congraçamento de escritores que nem se conheciam e que continuam o debate depois que o congresso acaba.

De Santa Catarina, só estávamos lá eu e a Jacqueline Aisenman, escritora de Laguna, mas que vive em Genebra. Encontrei por lá o Menalton Braff, da diretoria da UBE, contista dos bons, que já frequentou as páginas do Suplemento A ILHA, mas não consegui assistir a palestra dele, sobre a composição do conto, que aconteceu no primeiro dia de congresso, quando eu ainda não havia chegado. E conheci muitos outros escritores de várias partes do país, como Fábio Lucas, Deonisio da Silva -catarinense, Fernando Moraes, Cláudio Willer, Pedro Bandeira, Ruth Guimarães, Laura Bacelar, por exemplo.

No penúltimo dia de congresso, fui à palestra de Affonso Romano de Santana, ?Ler o Mundo: um desafio?, como não poderia deixar de ser. Havia outras duas no mesmo horário, que deveriam ser interessantes, mas não deixaria passar a oportunidade de ouvir Affonso. E valeu a pena. Ele é agradável de se ouvir, um homem culto e inteligente, uma pessoa simpática e afável. E sua palestra me fez ver que leitura não é só ler um livro, ler alguma coisa escrita ou impressa, simplesmente. É, como diz o título da palestra que também é titulo de seu mais recente livro, ler tudo o que está ao nosso redor, até o que está em nós: ler o nosso corpo, ler a família, ler a sociedade, ler os amigos, ler o kosmo. E não é que ele tem razão?

Ele falou, também, em ampliação da palavra leitura e também da palavra livro. E nisso também ele tem toda razão, pois o sentido dessas palavras está se perdendo no nosso dia a dia. Poderíamos ficar ouvindo Affonso a tarde inteira, a noite inteira. Ele citou máximas como ?Se você acha que a cultura é cara, imagine a ignorância?, ?O livro faz bem à saúde?,?eu leio a leitura dele?, essa última dita por um doente de um hospital que oferecia livros aos pacientes e, tendo alta, pediu para ficar mais um pouco, para terminar de ler um livro. Acontece que o médico ficou sabendo que ele não sabia ler. E então ele explicou que o colega paciente ao seu lado lia para ele e ele ?lia a leitura dele?. Não é fantástico?

Affonso, depois de terminar a palestra, respondeu a tudo que lhe foi perguntado com a maior simpatia, conversou com todos que ficaram para que ele autografasse seus livros e tirou fotos com todos. Só eu esqueci que estava com a máquina fotográfica no bolso e não tirei uma foto com ele. Falha minha, falha feia. Foi a palestra mais concorrida do congresso. A melhor palestra, dita com simplicidade e espontaneidade, com uma verdade lúcida e transparente.

Valeu todo o congresso.

Luiz Carlos Amorim

Edição 1346

Comentários

Deixe seu comentário


Seu e-mail não será divulgado.

Seu telefone não será divulgado.