O reconhecimento da literatura - Jornal Cruzeiro do Vale

O reconhecimento da literatura

Li de novo o artigo “A literatura em Santa Catarina”, publicado há algum tempo. Gosto do texto, lúcido e coerente, mas me detenho no fecho do mesmo: “A literatura de Santa Catarina só será reconhecida e admirada nacionalmente, quando encontrar seu espaço dentro de seu próprio território e entre a sua própria gente. Precisamos conhecer para reconhecer.”

É a mais pura verdade. Não que não tenhamos grandes escritores catarinenses, reconhecidos nacionalmente, como Salim, que nos deixou recentemente, Urda, Tezza, Flávio Cardoso, Sérgio da Costa Ramos, Júlio de Queiroz, que também foi fazer companhia a Salim Miguel, infelizmente, e outros, mas a verdade é que o leitor catarinense não procura conhecer a obra de autores da terra. E isso não se refere apenas ao leitor comum, ao público em geral, que prefere comprar os Best-sellers a ler um livro de autor daqui. Os próprios escritores catarinenses não prestigiam o colega que publica sua obra.

Tenho visto lançamentos de escritores de literatura produzida aqui no Estado, nas feiras do livro aqui de Florianópolis, nos quais pouquíssimos escritores comparecem. Dá pra contar no dedo quem aceita o convite e vem comprar o livro de autor catarinense. Um que não falha é Celestino Sachet, grande escritor catarinense que conhece a literatura daqui porque a lê. Os escritores, no geral, parecem não prestigiar muito os seus pares.

Em Joinville, onde existe a Confraria do Escritor, reunindo todos os escritores da cidade e região, três deles fizeram, há algum tempo, um lançamento de seus livros na cidade, mas das dezenas de escritores que fazem parte da nova agremiação, apenas alguns poucos deles, os que sempre estão presentes a eventos literários, prestigiando os colegas, é que compareceram, como Else Sant´Ana Brum, Wilson Gelbcke, Donald Malchinsky. Os outros que estavam presentes eram os autores do livros lançados: Célia Biscaia Veiga, eu e Mary Bastian.

Então o trabalho feito por algumas boas escolas, no que diz respeito a trabalhar escritores locais em sala de aula, lendo sua obra, fazendo trabalhos sobre ela, convidando os focalizados para interagir com os alunos, é de vital importância para que leitores em formação conheçam autores que às vezes moram ao lado, mas de quem nunca leram uma linha.
É esse trabalho de base, essa aproximação autor/leitor, que precisa ser feito pela escola, que vai fazer com que o leitor catarinense conheça e reconheça a literatura produzida aqui.

Já perguntei, em palestras para primeiro e segundo graus, quais os escritores da cidade onde estávamos, como Jaraguá, por exemplo, os estudantes conheciam. E ninguém levantou a mão para responder. Eu insisti que havia vários escritores da cidade escrevendo crônicas nos jornais locais, mas mesmo assim não eram conhecidos pelos estudantes.
Em Joinville a pergunta encontrou algum eco, um ou outro autor joinvillense foi citado, pois a escola já os tinha trazido para conversar com os alunos, como estava fazendo comigo, então alguns responderam, mas muitos outros escritores, alguns com romances publicados em nível nacional, não foram citados.

De maneira que a escola tem um papel fundamental nessa aproximação autor/leitor, nessa possibilidade de levar a obra do autor que reside na mesma cidade do aluno até ele. Não estou dizendo que é fácil, porque sei que há muitas dificuldades enfrentadas pelos professores, até o próprio conteúdo programático, que não raro, deixa de facilitar essa tentativa de popularizar a nossa literatura. Ainda bem que ainda existem excelentes professores que encontram brechas no conteúdo programático para estudar literatura.

Mas é preciso começar em casa. Casa que não tem livros é casa que tem criança com menos possibilidade de vir a gostar de ler. Ter livros diante dos olhos, ter livros nas mãos, mesmo antes de aprender a ler é condição sine qua non para que nossas crianças venham a gostar de ler. Eu já comprovei isso mais de uma vez.

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor

 

Edição 1772

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