Pedalando em Gaspar - Jornal Cruzeiro do Vale

Pedalando em Gaspar

21/08/2015 11:29

Convidado a escrever sobre o dia do ciclista, celebrado nesta última quarta-feira, não me pude furtar sob vários aspectos. Seja como gasparense de criação do tempo das danceterias Kalach e Paradise ou dos bailes da Sociedade Alvorada, mas dos grandes passeios ciclísticos, notadamente o do cinquentenário de aniversário de Gaspar. Vem-me também boas lembranças das pedaladas tranquilas da ?rua brusque? até o Centro.

Prosseguindo, recente reportagem deste Jornal tratou da falta de ciclovias em Gaspar com argumentos que dificultam sua implantação. Como especialista em projetos cicloviários, ironicamente afirmo que as ciclovias não são a única, mas parte estrutural (a espinha dorsal) da solução. O processo de planejamento cicloviário requer, após análise criteriosa das principais origens e destinos e do cotidiano da população, lançar a rede cicloviária. Daí, redefine-se a prioridade de circulação, construindo ciclovias onde são estritamente necessárias, pois demandam mais recursos. Completa-se o sistema com ciclofaixas, vias compartilhadas em baixa velocidade, alguns passeios compartilhados e bicicletários estrategicamente posicionados. É preciso salientar que as atuais ciclofaixas em mão dupla em vias coletoras, arteriais e expressas, normalmente vias mais rápidas, colocam o ciclista perigosamente desprotegido contra um automóvel na contramão do fluxo.

Toda esta estrutura pode parecer onerosa, mas comparada às destinadas aos automóveis até a ciclovia, estrutura mais sofisticada, é barata. E, a falta de recursos públicos é desculpa que ouço há anos dos administradores.

O argumento de pouco espaço não encontra respaldo técnico. Um bom projeto cicloviário requer até o redesenho total da via de muro a muro, redistribuindo espaços ou redirecionando o tráfego principal por vias alternativas. Assim, para ser competitivo, o ciclista sempre deve percorrer as menores distâncias possíveis. Ademais, a interligação é fundamental. Novos trechos cicloviários somente devem ser executados se fisicamente conectados aos existentes com rampas e continuidade adequados, condição que aumenta bem mais o uso da rede.

Conclui-se que Gaspar e as cidades da região ditas do Vale Europeu ainda precisam ?pedalar? mais se quiserem atingir níveis de ciclismo próximos aos dos atuais países de origem. Há potencial para que todos os dias sejam dos ciclistas. Basta vontade política, capacidade técnica e envolvimento da população. A cidade humaniza-se e ganha-se em saúde e qualidade de vida.

 

Por Fabrício José Barbosa: natural de Blumenau, o autor é Arquiteto e Urbanista, tendo sido criado e residido em Gaspar no bairro Santa Terezinha dos 3 aos 20 anos, entre 1978 e 1995. Atualmente é casado, mora em Timbó e trabalha como arquiteto na Prefeitura de Indaial. É especialista em planejamento e projeto de redes cicloviárias, tendo realizado mais de 50 km de projetos em diversas cidades. Também é voluntário há 12 anos como diretor técnico da ABC, Associação Blumenauense pró-Ciclovias.



Edição 1712
 

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