VIDA BESTA ? NICHOLLAS EDUARDO - Jornal Cruzeiro do Vale

VIDA BESTA ? NICHOLLAS EDUARDO

30/11/2010 09:24

Mesmo antes de o bebê nascer, a mãe havia decidido qual seria o nome da criança. Na época passava uma novela e o personagem protagonista, chamava-se Eduardo. Mas o pai, fã de filmes de ação queria que fosse Nicolas. Homenagem a Nicolas Cage o ator de Holywood, o qual, diziam, parecia-se muito com ele. Pelo menos a calvície era similar.
Na hora do registro, uma discussão, só para variar. Teimosa, Marina não abria mão de Eduardo, afinal acompanhara a novela do início ao fim, suspirando pelo galã. Além do que, em seu subconsciente gostava de pensar que o filho seria parecido com o ator, pois quando estava com Otávio em seus momentos mais íntimos, fechava os olhos e imaginava aquele ?pedaço de mal-caminho? em cima dela. 
- Ah não! Ele vai se chamar Nicolas. Eduardo é comum demais. E foi você que escolheu o nome da Paty. Lembra? Eu queria Larissa e você nem deu bola.
- Tá bom! Mas então vai ser Nicolas Eduardo e Nichollas com CH e dois LL é bem mais chique.
E como sempre, a última palavra foi dela. E assim ficou Nichollas Eduardo. E assim foi criado, ou mal criado, o mal-criado. Desde pequeno mimado. Roupas, brinquedos, presentes. O que queria era só pedir e ela fazia tudo por ele. Em casa não levantava a mão para nada. Se o pai o repreendia por alguma molecagem, a mãe saia como uma leoa em defesa da cria. Não precisou de avós para estragá-lo, a mãe já o fizera, e com maestria. Agora com 14 anos, tornara-se um legítimo filhinho da mamãe.
Naquela manhã, entrou no carro sentou-se atrás como de costume. Não gostava, mas a irmã, um ano mais velha, acabou vencendo as tantas batalhas pelo lugar no banco da frente. O argumento da idade era muito forte, mesmo para quem normalmente não seguia regras, acatava esta. No caminho, coloca os fones do smartphone e aumenta o volume ao máximo para não ouvir o rádio do carro que tocava um sertanejo universitário romântico, que a irmã sintonizava sempre, só para irritá-lo; assim pensava.
O carro mal estaciona, pega a mochila, abre a porta;  sai e a fecha. No reflexo do vidro, ajeita a franja que escapa do boné. Pela janela, O pai despede-se dele. Nem responde, nem ouve, nem liga, mesmo com a música desligada.
Segue lentamente até entrada. Thiago chega em seguida e o chama:
- Peraí ô... E aí belê?
- Só!
- Estudô?
- Pra q?
- Pras prova?
- Qs prova?
- Pô... Hj tem quatro.
- Podicrê. E as prova de recuperação né?
- É né. Tá viajando? Logo tu que tá ferrado nas nota.
- Nem me liguei , mas, não dá nada.
- Vai faze o q?
- O d sempre né... Colá.
- Se liga né? Hj eles ficam em cima.
- Se liga tu ô... Sô profissa.
- Então tá.
Thiago e Nick sobem as escadas e vão para sala. Abrem a porta e todos já estão sentados. A disposição das carteiras não é a habitual. Apenas três fileiras. O plano de Nick era sentar atrás de Lucas, o CDF da turma e infernizá-lo durante a prova para até que passasse as respostas. Sempre dava certo, pelo menos quando eram questões objetivas, de assinalar. Gelou, e agora? Tinha lugar apenas atrás de Gabriel, outro inútil como ele e de Júlia, uma menina com quem nunca falava, pois era sem-graça. Nem bonita, nem popular. Fora dos padrões de suas ?amiguinhas?.
Pensou. Moleza presa fácil. E num átimo, arquitetou e partiu para a execução do plano B. Antes de começar a avaliação cutucou Júlia com delicadeza:
- Oi Jú, tudo bem? Falou, com um sorriso amarelo na cara, de pau.
- Oi... Respondeu Júlia, espantada com a atenção inédita do malandro.
- Fez o q fim de semana?
- Nada.
- Uhn... q chato.
- Ahan.
Rapidamente ele tira uma folha do caderno recorta um pedaço do papel.
- Pega aqui ó, passa o teu MSN pra gente conversar e quem sabe combinar alguma coisa pro próximo. Entrega a ela seguido de um piscadinha.
Surpresa, pega o papelzinho. Meio sem ação e num reflexo, começa a escrever para devolvê-lo. Vira-se e quando vai devolver...
- Não, me entrega depois e coloca as respostas da prova atrás; responde o cafajeste juvenil, piscando pela segunda vez.
- TODOS EM SILÊNCIO! VOU COMEÇAR A ENTREGAR AS PROVAS.
Nick recebe as folhas. Começa a ler, mas não entende patavina. Parecia grego. Apenas coloca o nome, a única pergunta que sabia responder. Restava apenas esperar para ver se sua estratégia de sedução daria algum resultado. Quase uma hora depois o resultado, digo, os resultados, atrás do papelzinho amassado, jogado rapidamente sobre a mesa. Disfarçou, assinalou e preencheu o que podia. Agora era só esperar a nota.
A nota veio, foi suficiente. Já, Júlia espera até hoje o conquistador barato adicioná-la; para conversar e combinar... ?alguma coisa?.

Michel Jaques -  michel.jaques@yahoo.com.br

edição 1251

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