22/05/2018
O título poderia ser o surrado: o roto e o mal lavado. Entretanto, o contexto é outro. Tratam-se de “irmãos” e a vingança é o ponto de convergência de todos. As escaramuças são de intimidação. Cada um tomando terreno do outro e demarcando-o. Como as armas não foram arriadas, o resultado mostra que a sociedade terá muito a ganhar com dentes e olhos do talião. Quando sentarem para “conversar”, a sociedade perderá. É outro caso em Gaspar “onde o rabo abana o cachorro”.
E por que?
É que alguns vereadores de Gaspar resolveram lavar a roupa suja deles. Quatro oportunidades concorreram para isso: a transparência das redes sociais, a vaidade e os jogos de poder dos envolvidos, a ascensão de Silvio Cleffi, PSC à presidência deixando o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, em minoria na Câmara; bem como a coragem e acidez desta coluna no jornal e portal Cruzeiro do Vale.
Antes, tudo isso acontecia nos bastidores, no escurinho. Poucos sabiam dos pesados jogos dos poderosos e das trocas deles no poder de plantão.
Como num roteiro de filme, vamos às partes.
Ato 1. Silvio Cleffi, PSC, médico, na frágil base de sustentação do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB e do vice, Luiz Carlos Spengler Filho, PP, influenciou como poucos na gestão da secretaria de Saúde do novo governo. Chegou ao ponto de contribuir decisivamente para a saída da secretária, a técnica Dilene Mello Jahn dos Santos aos seis meses de trabalho dela. Silvio, como médico, político da base, era a eminência parda e a serviço daquilo que entendia como útil e necessário ou a favor da corporação. Mesmo assim, saúde pública local se tornou um caos para os doentes e pobres, nos postinhos, policlínica, farmácias básicas e até mesmo no Hospital, que ninguém sabe de quem é e está sob intervenção municipal, coisa inventada pelo PT e absorvida por Kleber.
Ato 2. Com sede de poder, Cleffi, neófito na política partidária, fincado em partido periférico, preterido na ânsia de espaços e poder de mando, renegou à base do governo a qual pertencia e traiu seu “irmão” de templo, seu criador político, o prefeito Kleber. Com os votos do PT, PDT e PSD se tornou presidente da Câmara, criou um clima de fim de festa no governo antes dela mesmo começar. Deu maioria à oposição. Foi-se o “contrato” de apoio que ele fez com o MDB e o PP. Pior: empossado na presidência da Câmara, liderou um “pacto de todos” onde só os vereadores da oposição “melhorariam” a saúde pública, área onde interferia e o caos se estabeleceu. No fundo, a manobra, foi para proteger a classe médica; Silvio se posicionou, mesmo na oposição, para continuar influindo na saúde pública local.
Ato 3. Pendurado no pior problema que criou para o seu governo e diante nas manobras de Cleffi para chantageá-lo, Kleber foi obrigado e as pressas, trocar a sua segunda titular da Saúde de Gaspar, e já atrelada a Cleffi. No lugar dela, colocou o prefeito de fato, o ex-secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, o advogado Carlos Roberto Pereira. O doutor Pereira, com autonomia que o cargo lhe permite, mexeu no comando do Hospital cujo gestor era indicado por Cleffi e na regulação de consultas, exames e atendimento da secretaria de saúde, outro ninho de interesses corporativos em Gaspar. É na regulação que se estabelece a prioridade para exames, diagnósticos, cirurgias e consultas com especialistas, um dos calcanhares de Aquiles da administração gasparense. A preferência do secretário era pelo médico Aurélio Zimmermann, mas havia incompatibilidade de horários.
Ato 4. Na mesma ação, o doutor Pereira exigiu que o funcionário público Silvio Cleffi cumprisse os seus horários no postinho do Bela Vista e na Policlínica, onde atuava na sua especialidade de cardiologista. Silvio não teve chances – exigido em mais tempo na representação política como presidente da Câmara -, pediu para sair da Policlínica. Manteve-se no postinho do Bela Vista, seu redutor eleitoral. E nesta exigência de cumprimento de horários nos locais de serviço, ficou comprovado o cumprimento parcial da jornada. Isto, aliás, rendeu contra Silvio uma representação no Ministério Público. Silvio diz que provará ser ela equivocada e motivada por “perseguição”.
Ato 5. Estabeleceu-se imediatamente uma queda de braços entre a classe médica representada pelo presidente da Câmara e o governo Kleber, que se obrigou a reverter o caos na Saúde, diante das cobranças políticas e populares. Fez isso, principalmente para salvar a sua imagem, colocar a área sob o mínimo controle e ter discursos para parte da eleição deste outubro. O foco são as eleições de 2020.
Ato 6. Mais uma vez Kleber foi pego de calças nas mãos tanto na área de Saúde e como na comunicação, lugar que está vago, ocupado por um curioso, depois também de duas tentativas fracassadas de preencher essa área estratégica. Até agora, só fazedores de press releases. O médico José Alberto Dantas “novo” diretor clínico do Hospital e “novo” regulador da secretaria de Saúde, nomeado então homem de confiança do doutor Pereira, que desagradou frontalmente a classe médica da Gaspar, estava com a habilitação profissional suspensa pelo próprio Conselho Regional de Medicina, mas trabalhando normalmente.
Ato 7. Quem denunciou esta estranha situação? Os médicos de Gaspar ao seu “representante” no embate de poder, Silvio Cleffi. Eles que já estavam espinhados com o doutor Pereira como novo secretário de Saúde. É que o doutor Pereira estava colocando a mão nesse vespeiro que é muito antigo aqui em Gaspar e sempre tema nesta coluna. Conheço este assunto em Gaspar, como poucos desde 1983. O hospital sempre em perpétuo socorro, já os que ser servem dele...
Ato 8. Depois de pegos pela notícia de que o doutor Dantas trabalhava irregularmente na prefeitura e no Hospital, todos no governo, incluindo os seus representantes na Câmara, arrumaram a desculpa esfarrapada de que se tratava de uma vingança de Cleffi. Ai. Ai, ai. Ele apenas se aproveitou de uma situação real. Cleffi está certíssimo nesta como cidadão e médico, talvez não como político em defesa dos pacientes expostos a erros médicos.
Ato 9. Vingança seria se a denúncia fosse falsa. Ela não é! Então? Inacreditável a ingênua alegação do governo de Gaspar à cidade, aos cidadãos onde deveria ser ela a primeira a defender proteção. Com tantas provas e evidências, por que se estabelecer mais uma vez numa mentira ou diminuir a importância de um caso grave? Falhou a prefeitura. Falhou Kleber. Falhou o doutor Pereira. Falhou a comunicação. Falhou o doutor Dantas – que foi acusado por Cleffi na tribuna da Câmara de ter agido em dois casos de mortes, com negligência e imperícia. O doutor Dantas, um experiente médico, um profissional de confiança do “novo” esquema, supostamente – e é preciso apurar isso - escondeu do doutor Pereira, a sua punição pelo Conselho e que o impedia de trabalhar temporariamente como médico ou na gestão de médicos.
Ato 10. Antes de terminar, um registro da incoerência nessa lavagem de roupa suja dos nossos políticos, que repito, só a sociedade de Gaspar ganha. O funcionário público (Samae) e vereador Cícero Giovane Amaro, do PSD, evangélico, que elegeu Silvio presidente, reclamou de que o vereador Francisco Solano Anhaia, líder do MDB, estava banalizando o uso do Ministério Público com os casos envolvendo Cleffi, a mesa diretora e a Câmara de Gaspar. Incoerência. Foi Cícero que primeiro acionou – acertadamente - o MP em pelo menos dois casos: o engordamento da margem do Ribeirão Gaspar Grande no Centro e o acumulo de cargos contra dispositivo constitucional, do secretário Alexandre Gevaerd. Ué? Para um serve, para outro não? Meu Deus!
Ato 11. E para completar, Cleffi todo enrolado com os seus atos, para se redimir parcialmente, terá aprovado hoje este requerimento que fará prova contra Kleber, Pereira e o doutor Dantas. Aprendizes. Dente por dente. Olho por olho, como no Velho Testamento. Renega-se a outra face relatada no Novo Testamento. Ainda bem. E depois afirmam em Gaspar para se livrarem das cobranças dos eleitores e eleitoras, que esta coluna é o problema deles. De verdade, tudo é um jogo. Essa coluna apenas comenta as técnicas, táticas e jogadas dos políticos de Gaspar para se manter no poder e vencedores nas suas armações com os votos do povo.
Ato 12. O requerimento do vereador Silvio Cleffi:
Tendo em vista o ocorrido recentemente, oficializado ao Executivo por esta Casa de Leis e amplamente divulgado sobre a possibilidade do Dr. José Alberto Dantas, médico, ter transgredido normativa imposta pelo CRM de Santa Catarina de suspensão do CRM por 30 dias a saber, de 16/04/2018 à 15/05/2018, esta Casa de Leis apresenta os questionamentos abaixo, os quais deverão vir acompanhados da competente documentação e justificativas.
1- Cópia do livro ponto ou outra forma de registro entre 16/04/2018 à 15/05/2018 do médico José Dantas.
2- Os serviços realizados pelo referido médico na regulação do município foram apontados?
3- Em caso positivo, quantas e quais regulações foram realizadas pelo médico supra citado durante este período. Encaminhe-se documentos comprobatórios.
4- Em caso negativo, quais foram os critérios utilizados pela Secretaria de Saúde para priorizar: Consultas, Exames ou Cirurgias durante este período de 30 dias.
5- Como Diretor Técnico do hospital, à despeito de existir documentação que comprove a mudança da Diretora Técnica, o referido médico permaneceu trabalhando durante este período liberando exames ou qualquer outra atividade do hospital? Caso afirmativo, encaminhe-se todas as documentações comprobatórias ou relatórios que foram formulados destas ações.
6- Em caso negativo, demonstrar de forma cabal, através de Documentações, Livro Ponto ou outra forma de registro, a presença do médico substituto diariamente no hospital durante estes 30 dias, e comprovação que este realmente substituiu-o na referida função.
7- O médico José Alberto Dantas participou de alguma atividade médica no hospital durante este período?
8- Em caso afirmativo, ele participou, por exemplo, de quantas e quais cirurgias como médico anestesista durante este período?
9- Em caso negativo, quem foram os médicos anestesistas que atuaram durante este período, encaminhando relatório das referidas cirurgias, assinadas pelo cirurgião e médico anestesista no momento em que assistia as cirurgias. Encaminhar relatório de todas as cirurgias neste período.
10- Houve solicitação de parecer do CRM por parte da Secretaria de Saúde a respeito do médico José Alberto Dantas reassumir o cargo de Diretor Técnico do hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro?
Estranho esses jogos dos políticos em Gaspar ou em qualquer lugar. A um normal, uma traição é punida com a exclusão do grupo de poder. Mas, no universo político, via de regra, torna-se um jogo perpétuo do faz-de-conta, chantagem, interesses e principalmente de vantagens presentes e futuras. E quando mistura religião, tudo piora.
Silvio Cleffi é um cristão evangélico da mesma Igreja Assembleia de Deus frequentada por Kleber Edson Wan Dal, MDB, partido onde sempre militou. São “irmãos”, portando! É a perigosíssima – e até criminosa - mistura de fé religiosa, política partidária e poder. Aliás um dos temas de alguns leitores e leitoras da coluna comigo no Stammtisch de dois sábados atrás. Indigesto, mas necessário. Une-se indevida e intencionalmente o sagrado com um sacrilégio para se ter poder usando a fraqueza bem como a ingenuidade dos com fé.
Um – Cleffi - ficou fascinado pela militância política e outro – Kleber - pelo suposto potencial de votos, afinal Cleffi é médico, com atuação no postinho do Bela Vista, o bairro mais populoso e cheio de carências da cidade. Kleber, então, convidou o “irmão” Cleffi para disputar a vereança e os votos da cidade, do bairro e das igrejas pentecostais daqui.
Um ano depois estão em lados opostos, mas “jurando” que um está “ajudando” o outro. Só se for na destruição e na eleição de pastores como deputados para reforçar o poder das suas igrejas no mundo pagão e mundano.
Silvio se filiou e está no PSC, um notório partido de evangélicos. Em Gaspar, ele é tocado pelo secretário de Assistência Social, um cargo de gratidão, dado por Kleber ao seu ex-assessor parlamentar, Ernesto Hostin, e que não tinha nenhuma habilidade para a função e nem para a tal “eficiência” da propaganda eleitoral e governamental que elegeu Kleber.
Ora, se Cleffi virou a casaca, natural seria o neófito na política sair do partido ou o partido sair com ele. Nem um, nem outro. Até nisso Kleber, Cleffi, MDB e PSC erram ou se enfrentam, ou se testam para conhecer os limites de cada um.
O PSC é da base do governo Kleber, tanto que o suplente José Ademir de Moura, é PSC, é evangélico, é um fiel a Kleber, assenta na Câmara no lugar do mais longevo dos vereadores José Hilário Melato, PP, e que está na presidência do Samae. Silvio é ele mesmo e sempre será pelo poder onde ele estiver; não é Kleber, não é da base, não é PSC, mas está no PSC e no poder – o Legislativo. Isso é o que importa. As decisões tomadas pelo vereador Silvio contra o governo e contra a base elas têm um preço e ele devia saber disso, ter o plano B, assim como os do PSC e o MDB, dono do PSC e de outros, por aqui em Gaspar.
Estranho os jogos desses políticos para a galera de analfabetos, ignorantes e desinformados. E depois querem respeito dos seus eleitores e eleitoras!
Por que o presidente do PSC de Gaspar, o amigo, o que se diz um dos seus gurus, o secretário de Kleber, o evangélico Ernesto Hostin ainda não fez o mínimo, o prático, o necessário que é convocar o diretório, analisar o caso Cleffi, enquadrá-lo e até expulsá-lo do partido para que ele procure a sua nova turma?
Mas, não! Não querem se indispor com interesses religiosos, exatamente num ambiente profano da política e administração e que estão os levando à ruina na imagem, avanços e resultados para a comunidade.
E o que unem Kleber e Cleffi para enganar mais uma vez os seus eleitores e eleitoras? O eterno sumido deputado Ismael dos Santos, PSD. Ele é evangélico e não exatamente um partidário do PSD. Kleber não vai trabalhar para o seu MDB, mas para Ismael. Está compromissado. Cleffi, não vai trabalhar para “seu” o PSC, mas para Ismael. Está compromissado. Isso os une e impede o expurgo. E quem perde? Os partidos, as ideias, a transparência e a sociedade. Arriscam-se Kleber, MDB e Silvio pagar caro por mais esta indecisão e incoerência. Acorda, Gaspar!
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