Os que cercam, usam e orientam Kleber estão levando-o para o cadafalso da forca - Jornal Cruzeiro do Vale

Os que cercam, usam e orientam Kleber estão levando-o para o cadafalso da forca

22/07/2019

Ele está cada vez mais exposto.

Uso irregular da máquina da secretaria de Agricultura em possível área de preservação poderá lhe configurar improbidade administrativa, além de crime ambiental

O requerimento 141/2019, do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, demorou em algo que a cidade quase inteira sabia. Cheguei a noticiar esse assunto há quase três meses aqui em uma pequena nota. O requerimento vai ser votado na sessão de amanhã à noite da Câmara. A princípio, ele deve passar, afinal quem não deve, não teme. Ademais é dever do vereador fiscalizar e pedir explicações em nome dos cidadãos pagadores de pesados impostos ao Executivo.

Mais: ao mesmo tempo, o requerimento é um detonador de uma bomba de nitroglicerina. Se ela não for tardia e habilidosamente bem desarmada, vai não só explodir e como implodir a imagem e o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, do vice Luiz Carlos Spengler Filho, PP e do prefeito de fato, presidente do MDB e secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, o advogado Carlos Roberto Pereira.

As fotos acima e abaixo não deixam dúvidas sobre o rolo e o pecado. Eu mesmo já havia, numa pequena nota lá em abril, abordado este complicado imbróglio e que não é o primeiro envolvendo a secretaria da Agricultura e nem na área ambiental que recentemente fez até parar uma obra aqui no Centro onde a prefeitura era parte do problema.

Fiquei esperando o desfecho das providências do Executivo para o caso. E nada! O próprio prefeito Kleber estava ciente deste caso no Gasparinho. É que houve Boletim de Ocorrência na Delegacia, polícia ambiental envolvida no caso e ele prestou depoimento sobre o assunto, em Blumenau na tentativa de esclarecer o que ainda está nebuloso.

E de prático o que Kleber fez até agora para sanear este problema, ao menos disfarça-lo, repassar à culpa para outros subordinados seus e livrar à sua própria pele? Aparentemente, nada! O titular da secretaria de Agricultura e Aquicultura, André Pasqual Waltrick, PP, para não desestabilizar o esquema de poder e aliança política, continua firme à frente da pasta e que mais uma vez foi responsável por fato assemelhado.

Então, orientado pelos seus “çabios”, Kleber está esperando ser acusado de improbidade? É isso? Ou ele acredita que está mesmo de corpo fechado nos órgãos de fiscalização, no Ministério Público, na Justiça e até no Tribunal de Contas do Estado, como arrotam os próximos na administração daqui trazendo gente de fora do governo como cùmplices das dúvidas?

Se aprovado, o que se quer ver esclarecido no requerimento do vereador Dionísio e que é um morador no Gasparinho? Se a administração [Kleber] tomou conhecimento do uso de máquina pública (escavadeira hidráulica da Secretaria de Agricultura) em propriedade particular localizada ao lado da Rua Adolfo Bonifácio Zimmermann, no Bairro Alto Gasparinho, fato este que ocorreu no dia 13 de abril de 2019. Volto: eu já respondi acima: Kleber se não autorizou, ao menos tomou conhecimento após o evento e aparentemente não tomou nenhuma providência para sanear. Nada é conhecido. Mas...

E se tomou, o vereador Dionísio quer saber se foi instaurado procedimento administrativo para investigação? (quer cópia comprobatória à Câmara de Vereadores);Dionísio quer saber quais seriam os esclarecimentos que o Executivo Municipal pode relatar diante dos fatos citados acima? Dionísio pediu cópia da licença ambiental, fornecida ao proprietário do imóvel onde ocorreram os serviços (cópia assinada pelo agente autorizador). Dionísio quer que o Executivo apresente à ordem de serviço que liberou a execução dos trabalhos no referido local (com cópia assinada pelo servidor autorizador). Dionísio pergunta ainda se o proprietário é possuidor do imóvel e se tem cadastro rural. Se positivo, o vereador quer saber quais os benefícios têm para tal finalidade? (ele pede os documento comprobatório).

Ou seja, Dionísio está cercando o bode de todas às possíveis artimanhas para fugir do cercado.

O Boletim de Ocorrência 0158092/2019 do dia 13 de abril não era exatamente pelo uso da máquina da prefeitura em propriedade particular, mas de dano ambiental (destruir, danificar floresta de preservação ou suá-la com infringência das normas de proteção). E na averiguação do caso “in loco” e no inquérito instaurado, a suspeita se ampliou: a de que tenha acontecido as duas situações, ou seja, dano ambiental e uso indevido de recursos públicos.

DE QUEM MESMO ORIENTA KLEBER?

Para encerrar. Como se vê mais uma vez, o adversário da gestão de Kleber, se não for ele mesmo, é a sua própria equipe. E por que? Ela é feita de curiosos, desempregados e que precisou emprega-los na prefeitura, puxa-sacos que estão escondendo os problemas e constrangendo quem os aponta ou reclamam melhorias via ouvidoria, redes sociais e aplicativos de mensagens, por cabos eleitorais absorvidos como comissionados no poder de plantão, além de um sistema de comunicação dissociado da realidade, o qual tenta abafar o que está exposto aos gasparenses, aos formadores de opinião, aos eleitores.

E para completar este quadro do rei nú, alguns líderes da administração de Kleber e Luiz Carlos se acham de corpo fechado no poder de plantão, só por serem os poderosos de passagem. Outros, por sua vez, acham que quem verdadeiramente atrapalha, é uma minoritária oposição, ou até mesmo este colunista cuja credibilidade já foi realçada e usada como referência no passado para o voo ao poder do atual grupo.

Entretanto, quem está fazendo bobagem – uma atrás da outra - ou não comprimindo às promessas de mudanças feitas na campanha e por falta de liderança, planejamento, prioridade, foco, proteção e execução? O próprio Kleber, Luiz Carlos, Carlos Roberto Pereira, José Hilário Melato.... É essa gente do MDB e do PP que está dando a corda e o levando o prefeito para o patíbulo. Foi assim com o único prefeito afastado há 20 anos (setembro) Bernardo Leonardo Spengler, o Nadinho, e Adilson Luiz Schmitt, que teve que sair do partido. Acorda, Gaspar!

Os casos de polícia

O gasparense Paulo Norberto Koerich, Delegado Geral em Santa Catarina, vai surpreendendo aos que desconheciam o seu trabalho e à capacidade de resolução

Já vai longe quando o jovem Paulo Noberto Koerich se destacou como chefe de gabinete do ex-prefeito Francisco Hostins, PDC (1989/92), num grupo de profissionais – único até aghora criado na história de Gaspar - e poucos políticos que tirou a cidade literalmente da lama onde ela estava se enterrando. E foi naquela tarefa que Koerich decidiu que não seria político, mas o oposto: polícia que vai atrás do bandido - incluindo o político e que fez várias vezes -, incentivado por um amigo delegado de fama da época, Ademir Serafim.

Koerich – pela competência, oportunidade e dedicação - fez carreira meteórica na investigação, inteligência e como delegado de polícia. Chegou a ser o chefe de gabinete do ex-secretário de Justiça e Segurança do estado, o promotor Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, falecido em acidente aéreo em junho de 1999.

Koerich navegou como poucos a momentos entre holofotes e às penumbras do poder dentro da polícia, tudo para preservar a característica de investigação, inteligência e não associar à sua imagem à dos políticos. De delegado regional em centros vitais, não teve dúvidas em voltar a ser um simples delegado de Polícia em Ilhota ou Gaspar – para o temor local -, ou alternou o Gaeco e a Adepol, nesta para defender os seus.

A área de segurança faz uma experiência inédita em Santa Catarina para não ter uma liderança única. Eu particularmente já expressei a minha desconfiança dessa experiência. Contudo, o barco caminha e bem, até porque o governador, Carlos Moisés da Silva, PSL, é do riscado: um tenente coronel bombeiro da reserva.

NOTÍCIA INTERNACIONAL

O que aconteceu este final de semana? Em menos de 56 horas, três laboratórios para a produção de drogas sintéticas – dois na Capital e um em Blumenau - foram estourados. É relevante e por que? É um mundo onde rola muito segredo, julgamentos e justiças por mãos próprias, dinheiro e corrupção das brabas que envolvem até as forças de segurança. E a polícia catarinense vem mostrando à sociedade que possui alvos, objetivos e liderança para buscar resultados efetivos.

Polícia nos dias de hoje é essencialmente inteligência, técnica e uso massivo da tecnologia e laboratórios para se estabelecer as provas do crime contra os criminosos certos. Este tem sido até aqui o foco de Koerich. Muito recentemente, policiais e delegados catarinenses já foram para os Estados Unidos, Botsuana (África), Nicarágua e lá com organismos internacionais trocaram experiências policiais da Costa Rica, México, El Salvador e Guatemala e que lidam com a lavagem de dinheiro e corrupção no ambiente do tráfico internacional. Aqui, estas experiências, técnicas, foram debatidas e repassadas aos que não foram ao exterior.

O resultado da ação da Polícia catarinense em Itajaí foi parar nas manchetes dos principais portais de notícias do mundo

Na semana passada, uma ação para desmantelar em Itajaí uma fábrica de réplicas de carros de marcas mundialmente famosas e de luxo, foi parar no noticiário internacional como na CNN, Time, The Guardian como mostram as reproduções acima. Mas, do outro lado, por exemplo, falta resolver o assalto milionário executado a um carro forte no Aeroporto Quero-Quero, de Blumenau. O caso ficou para a Polícia Federal e se discute na Justiça se isso não deveria ser da competência dela ou da política catarinense.

Enquanto isso, os bandidões comemoram e sarram dessa busca legal e burocrática de competência. Elas amarram às investigações, distanciam as prisões e ao mesmo tempo criam vantagens ao crime organizado para novos danos à sociedade, expondo à vida dos pagadores de pesados impostos.

Um discurso repetido que disfarça a incompetência, os erros da administração de Gaspar. Tenta ransferir para a oposição a culpa bem como para os que pedem soluções aos problemas

O vereador Evandro Carlos Andrietti tem certeza de que muitas obras não saem do papel em Gaspar por causa da oposição. Já os vereadores oposicionistas Dionísio Luiz Bertoldi e Rui Carlos Deschamps, ambos do PT, e Cícero Giovane Amaro, PSD, por sua vez, têm certeza que a prefeitura está embrulhada nos seus erros e incompetência, mas quer arrumar nos outros culpados daquilo que é só dela.

O vereador Evandro Carlos Andrietti, MDB, é uma espécie de garoto de recado do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho, e do prefeito de fato, o secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, e presidente do MDB de Gaspar, Carlos Roberto Pereira. Com o seu jeito de amigão, discursos raros, mas quando os faz, são simples, diretos, bem compreensíveis para a linguagem popular, eles não deixam nenhuma dúvida sobre o que está falando e quem está envolvendo. Foi assim na sessão da Câmara na terça-feira passada.

Andrietti disse que está inconformado com as cobranças dos seus eleitores e do “povo” de Gaspar em geral. Chegou até a qualificar como “babaca”, quem está nas redes sociais fazendo as cobranças dos políticos no poder de plantão. Ainda bem, pois antes, para ele, e como já registrei aqui, tinha apenas esta coluna que “inventora” dos relatos das realidades cheias de dúvidas e atrasos que deveria ser escondida do povo.

“Quem essa gente pensa o que é?”, perguntou ele da Tribuna referindo-se aos internautas cidadãos, cada vez mais alvo do novo esquema de comunicação da prefeitura. “Vereador não faz obra. Quem faz é o prefeito”.

Primeiro, essa gente a que o vereador se refere é exatamente a pagadora de pesados impostos e tem o direito de reclamar; essa gente pode até mesmo ser a eleitora do vereador ou do poder de plantão. Então, sem falar que o político é um ente exposto da sua comunidade por ser um elo de convergência na representação popular, o vereador deve respeito para a divergência, bem como cuidado também. O tiro do discurso do vereador – e do poder de plantão, neste caso - pode estar sendo dado no próprio pé.

Segundo, realmente vereador não faz obra, mas deveria fiscalizá-la. O vereador por ser a representação popular é o canal de pressão sobre o Executivo para priorizar as obras à sua comunidade do qual é representante. E quando se está no mesmo lado, o vereador além de não fiscalizar o prefeito, alinha-se como cúmplice nas dúvidas. Na hora de inaugurar a obra, todavia, quer e divide os louros com o prefeito. Para que? Para ter reconhecimento e o voto como recompensa. Ou, não é assim? Adrietti é diferente neste ponto? Não!

É o jogo mal jogado. E não é de hoje. Ou o vereador quer mudar as regras desse jogo onde ele também tem parte tanto no bônus como no ônus? Antes de prosseguir, convém lembrar que o vereador Andrietti é aquele que quando na eleição de uma diretora do CDI Thereza Beduschi, no Barracão, viu à sua preferida perder no voto. E por isso, foi correndo ao prefeito para mudar à regra e indicá-la ao cargo. Então... vereador não faz obra, mas interfere aos seus interesses.

Terceiro: “quem faz obra é o prefeito?” Como o prefeito e sua turma estão em dívida, o vereador Andrietti quer deixar o prefeito Kleber com o pincel na mão? Pode ser que sim, pode ser que não. E pelo teor do discurso, pode ser não é o mais provável. É que Andrietti culpou os vereadores da oposição pela falta de verbas para calçar algumas ruas do seu interesse na reta da nova campanha eleitoral e que segundo ele, só serão feitas quando o pregão 58/2019 for liberado pelo Tribunal de Contas do Estado ou a Justiça.

E por que esse pregão está enrolado – até o fechamento da coluna – há semanas no TCE?

Porque o vereador Cícero Giovane Amaro, PSD, denunciou de que ele era irregular. O líder do MDB, advogado Francisco Hostins, na tribuna à época, disse até que era um equívoco de interpretação da lei e que logo tudo estaria esclarecido. O novo parceiro do governo Kleber e que já foi o mais hostil adversário de Kleber nesta legislatura, o advogado Roberto Procópio de Souza, PDT, foi na mesma linha.

Até agora, nada resolveram. Então o assunto não é algo simples e de mera interpretação. Quanto mais a equipe técnica de Kleber demorar para por isso as claras, mais fica evidente que Cícero estava com a razão.

Quarto: o que Andrietti está fazendo com o seu discurso? Primeiro colocando a culpa na oposição para a população, justamente naquilo que por enquanto a oposição não possui culpa alguma, mas a própria prefeitura de Kleber que não conseguiu esclarecer até agora à simples dúvida de “interpretação”; segundo, Andrietti está pressionando à oposição para ela desistir de fiscalizar o Executivo naquilo que é obrigação dela (e de todos os vereadores); terceiro, ele está incomodado com as justas cobranças dos seus eleitores e para os quais não pode dar as verdadeiras respostas, pois enfraqueceria o seu grupo de poder.

O recado da chantagem não veio apenas do discurso de Andrietti, mas também do próprio prefeito Kleber como relatou o vereador Rui Carlos Deschamps, PT, envolvido na pavimentação da Rua Vidal Flávio Dias, no Belchior Baixo.

Ali, até os próprios empresários de lá colocaram há meses (e já perdeu o valor no mercado) R$700 mil para a pavimentação de uma parte da rua até a BR 470. Rui estava inconformado. Kleber disse que enquanto a oposição não amaciar as críticas e fiscalização (uau!) ao seu governo, não haverá obras em redutos ou de interesses oposicionistas.

Ou seja, Kleber com o gesto disse que prefere espantar investidores, ter menos impostos e empregos em Gaspar do que fazer as ações com transparências, dentro da legalidade e que se discute sobre o pregão 58/2019 suspenso exatamente por isso pelo Tribunal de Contas. Acorda, Gaspar!

O desrespeito e o descaso com quem se sacrificou pela cidade.

A liberação de parte da rua Nereu Ramos na sexta-feira só aconteceu porque deu tudo errado para o poder de plantão.

Houve um nó fundamental no trânsito regional na quinta-feira. Chovia. O desvio pela rua José Casas se tornou um problema grave e os moradores ameaçavam interditá-la com protesto e assim ampliariam o caos na tentativa de abrir o diálogo com os governantes.

Quinta-feira chovia intermitentemente. A prefeitura ainda trabalhava na recuperação da barranca do Rio Itajaí Açú e que foi solapada ao final da Nereu Ramos, no bairro Figueira. Nas rádios, diante da pressão de passantes e moradores da região, o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Jean Alexandre do Santos, desdenhou os questionamentos e os críticos.

Ele falava que à liberação da Nereu Ramos iria demorar, pois temia pelo resultado do aterro se usado imediatamente. O secretário combatia à opinião de leigos – ou especialistas – sobre a técnica de recuperação da área interditada: era preciso dar uma “seguradinha” e esperar o aterro assentar.

No mesmo tom, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, leigo, mas com dois irmãos formados nesta área técnica, referendava o seu secretário: falava em “estancar” o material que foi colocado lá. Ninguém, entretanto, dava prazos para a reabertura da Nereu Ramos. Se tudo desse certo, deveria ocorrer só esta semana.

Mais uma vez o governo de Kleber brigou contra a realidade e o óbvio. Só a pressão, bem como a procura por voz nos veículos de comunicação de Blumenau e à ameaça feita na quinta-feira por moradores que estavam decididos pelo protesto e a interdição da Rua José Casas, usada para o desvio provisório às obras de recuperação da barranca que solapou a Rua Nereu Ramos para o Rio, foram capazes de demover Kleber - e seus técnicos - da opinião de levar esse assunto de barriga para esta semana.

Contribuiu decisivamente, também, o congestionamento monstro que aconteceu no final da tarde e início da noite de quinta-feira. Ele ultrapassou o Bela Vista aos que queriam chegar ou passar por Gaspar pela Anfilóquio Nunes Pires e Nereu Ramos. Isso repercutiu negativamente nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens. Foi mais um desastre para a imagem de eficiência que governo Kleber insiste em vender à população. E não há mais comunicação que conserte isso.

Em meio à essa realidade e pressão, contrariando o que tinha sido dito durante a quinta-feira toda até então, Kleber anunciou à noite e às pressas, ofuscando o anúncio político da reurbanização da Rua Bonifácio Haendchen, no Distrito do Belchior, e que fazia naquela mesma noite, anunciou nas redes sociais a liberação parcial da Nereu Ramos para veículos até quatro toneladas, além dos ônibus de transporte coletivo na sexta-feira pela manhã para os que fossem do Centro ao Bela Vista.

Com isso, Kleber tirou parcialmente a tampa da chaleira que só estava lá abafando a fervura por falta de prevenção. Havia indícios claros e antigos de que a barranca do Rio estava doente, comprometida – e que por teimosia não foi reparada a tempo. Por isso, criou-se a alternativa emergencial da José Casas e Olga Bohn. Este improviso, nasceu justamente de outra pressão quando ficou demonstrado que a picada das Águas Negras se mostrou impossível para dar conta como desvio do recado, exatamente por falta de ligações urbanas naquela área.

A LIBERAÇÃO FOI PARA EVITAR AS MANCHETES NEGATIVAS NA IMPRENSA REGIONAL E ESTADUAL.

As fotos que ilustram este artigo mostram os danos do improviso e principalmente descaso contra os moradores e a Rua José Casas, especialmente, mas que atingiu as demais na mesma proporção. Na José Casas em alguns casos comprometeu seriamente à qualidade de vida e o acesso dos moradores às suas residências; calçadas foram destruídas, sinalização derrubada no mato pela própria manutenção da prefeitura; material de recomposição do leito da rua criou desnível e invadiu as calçadas; por falta de contínua manutenção a rua que ficou esburacada – com lama e poeira –, faltou fiscalização mais apurada da Ditran no trecho contra a velocidade, ultrapassagens e caminhões. Enfim, segundo os moradores, a prefeitura fechou todos os canais de diálogo com os moradores.

Mas, o que fez Kleber e sua equipe voltarem atrás? Não foram só os moradores que estavam prontos para o tudo ou nada. Foi o congestionamento monstro de quinta-feira à tarde e noite que inundou de indignação e reclamações contra o poder de plantão de Gaspar nas redes sociais e aplicativos de mensagens. As mensagens questionavam fortemente e desgastavam o poder público, especialmente a secretaria de Obras, Ditran e o prefeito.

E para complicar, além de procurar os meios de comunicação daqui e Blumenau, os moradores se organizavam para fechar o local, agravar ainda mais o caos da mobilidade, a única maneira que encontraram para estabelecer um canal mínimo de diálogo com a atual administração, para ao menos serem ouvidos e ao mesmo tempo mitigar os seus problemas.

E aí a prefeitura tremeu e resolveu antecipar e “desmanchar” previamente as manchetes locais, regional e estadual. Simples assim.

Na sexta-feira pela manhã, o próprio prefeito Kleber, a contragosto, e para parecer que está no comando da prefeitura – e assumindo o erro - compareceu ao local da interdição da Rua Nereu Ramos para liberar meia-pista da rua e como se um agente de trânsito fosse. Ele orientava o tráfego pelo local para gravar mais uma de suas auto-reportagens para as mídias sociais como se não tivesse sido ele o causador de tudo isso por falta de prevenção, planejamento e à negação em ouvir à comunidade.

E para encerrar e mostrar mais uma vez como o prefeito é refém do seu próprio esquema de poder político que montou, ou deixou que seus luas-pretas o levam à mal governar. A superintendência da Diretoria de Trânsito – Ditran – de Gaspar é ocupada por um recém nomeado, absolutamente leigo no assunto, em indicação política partidária à composição de estabilidade do poder de plantão: Salésio Antônio da Conceição, PP. E é por causa disso, que tudo se complica.

A Ditran está desfalcada de agentes e não se faz concursos há anos. Um ganhou férias. Um outro da manutenção, foi chamado de volta da licença-prêmio e se pagou dois meses dela. A Área Azul não está funcionando, pois os apontadores da Área Azul precisam apoiar a interdição da Nereu Ramos que exige uma escala de 24h no local. E para complicar, duas viaturas (Meriva e Duster) estavam na oficina.

Aí você pensa que isso é implicância da imprensa, de internautas como acusa o vereador Andrietti, ou da oposição. Não é.

O que cai aos meus ouvidos e que corre nos aplicativos de mensagens, nas páginas e comentários das redes sociais, sempre indicam o mesmo vício: falta de prevenção, planejamento, bom senso somada à execução falha. No sábado, por exemplo, depois de toda a balbúrdia de quinta e sexta-feira, lá foi a Ditran, acertadamente, refazer a sinalização da José Honorato Muller. Só se sabia disso quando se chegava lá. Nenhum aviso antes para se buscar rotas alternativas. Planejamento? Zero! Respeito com os pagadores de pesados impostos, também. Acorda, Gaspar!

PSL vai se reunir em Gaspar para alinhar as demandas da região.

Presidente garante que vai ter candidato a prefeito em chapa pura

O presidente da Comissão Provisória do PSL de Gaspar, Marciano Silva, definiu três objetivos de curto prazo: buscar transformar a Comissão em Diretório; constituir uma nominata de candidatos a vereadores, potencialmente capazes para à eleição do ano que vem e ter, consequentemente, um candidato próprio a prefeito; bem como definir as prioridades de realizações possíveis para Gaspar, todas, segundo ele, incluídas num ambiente regional para a viabilização nos pleitos de recursos estadual e federal. “O governador Carlos Moisés das Silva já sinalizou isso de forma clara”, lembrou Marciano ao citar os discursos públicos e conversas partidárias sobre o partido ter candidatos nas principais cidades do estado.

Para buscar esses recursos, o PSL vem se reunindo periódica e sistematicamente sob a liderança dos deputados Ricardo Alba (estadual e de Blumenau), bem como com o Coronel Luiz Armando Schroeder Reis (federal e de Joinville) interessado em ser o portavoz do partido para os assuntos da região do Médio Vale. Estão analisando essas prioridades nas áreas de Saúde, Educação, Segurança e Mobilidade.

Já houve encontros com esses objetivos em Florianópolis, Joinville, Blumenau, recentemente em Penha. Ainda este mês haverá outro aqui em Gaspar, aproveitando um roteiro que está montado para Ilhota, Brusque, Blumenau, Indaial, Timbó e Pomerode. A data será definida esta semana.

Em Gaspar o PSL sofre um assédio do poder de plantão liderado pelo MDB, PP, PSC e informalmente pelo PDT e PSDB cooptados recentemente pelo esquema de poder do governo de Kleber Edson Wan Dall. Há uma tentativa clara sobre os possíveis candidatos a vereadores conforme relatos dos próprios filiados e simpatizantes. Ainda não sabe – ou não se revela, apesar das especulações rotineiras - quem poderá encarnar a candidatura ao cargo de prefeito nas próximas eleições em Gaspar pelo PSL. Por isso, perguntei ao presidente Marciano:

O Moisés [governador] está negociando com o MDB a sustentabilidade do governo.

Marciano: a princípio o governador Moisés, pelas palavras dele nas suas entrevistas, tem falado que no que for de prioridade para o desenvolvimento de Santa Catarina, ele conta com o apoio de todos partidos para o melhor para os catarinenses.

Agora no que se trata de PSL e governo Moisés, com toda a certeza, ele sabe separar as coisas, na hora de valorizar sua base, está trabalhando e dando o seu apoio para o projeto do PSL para 2020 nas cidades catarinenses.

Como fica isso em Gaspar?

Marciano: o PSL de Gaspar está trabalhando independente de qualquer especulação das mídias, nós aqui estamos focados em nossa base, tendo por certo que não iremos misturar as coisas, MDB, PSD, e outros partidos, não terão apoio e nem parte com o PSL, a princípio é o nosso projeto, chapa pura!

Os do MDB daqui dão como certa a tranca, inclusive para não se ter candidato [a prefeito]?

Marciano: tentar trancar, ou atrapalhar o trabalho do PSL de Gaspar, acreditamos que o governo atual vai fazer a sua parte, mas nós iremos trabalhar, seguiremos humildes e firmes, sabendo que o povo tem demonstrado nas ruas nas últimas manifestações o seu desejo de mudanças. Nós do PSL de Gaspar, teremos nossos pré-candidatos a vereadores, como também teremos prefeito e vice com chapa pura, seguiremos a linha do nosso presidente Jair Bolsonaro, menos governo, mais o povo, amor à pátria, família, e temor a Deus.

Outra vocês continuam como comissão provisória aqui?

Marciano: a comissão provisória terá sua validade até 30/09/2019, mas logo iremos receber a senha de acesso ao sistema do TSE onde iremos organizar os filiados, hoje já contamos com uma média de 250 a 300 filiados, que logo iremos ter acesso pelo sistema através da nossa atualização.O nosso objetivo é muito em breve sermos não mais uma executiva provisória, mas sim definitiva, seguindo todas as normas do estatuto do partido.

TRAPICHE

Registro I. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, está de aniversário nesta segunda-feira.

Registro II. Com tantos problemas por aqui, o prefeito de Gaspar usou as redes sociais na semana passada para saudar os aniversários dos municípios de Penha e Balneário Camboriu.

Registro III. Isso mostra que Kleber está construindo um eleitorado para disputar à Assembleia Legislativa em 2022? O planejamento e foco não deveria ser 2020? Um velho problema... Das duas uma: ou acha que a reeleição Gaspar está no papo numa aliança que vai governar só por mais dois anos, ou teme antecipadamente pelo pior. Acorda, Gaspar!

 

Comentários

Herculano
23/07/2019 18:15
PRESOS SERÃO LEVADOS PARA BRASÍLIA

Conteúdo de O Antagonista.Os quatro presos acusados de hackear os celulares de Sergio Moro e Deltan Dallagnol - uma mulher e três homens - serão levados para Brasília, registra O Globo.
Herculano
23/07/2019 18:00
Da série: fecha-se o cerco.

PF informa ao STF que não há inquérito contra Glenn Greenwald. Enquanto isso, operação prende 4 suspeitos de invadir celular de Sergio Moro. Ação foi autorizada pela Justiça Federal do DF
Herculano
23/07/2019 17:57
da série: os especialistas garantem que todos os crimes cibernéticos deixam rastros. Está na hora da inteligência e PF mostrar que são capazes de dar respostas. Demorou para dar o primeiro sinal de vida...

PF PRENDE QUATRO SUSPEITOS DE HACKEAR CELULARES DE MORO E DELTAN

Foram cumpridas 11 ordens judiciais; PF não divulgou detalhes da investigação

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Texto de Rubens Valente, da sucursal de Brasília.A Polícia Federal prendeu nesta nesta terça-feira (23) quatro pessoas sob suspeita de terem invadido telefones de autoridades, incluindo o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador da República em Curitba (PR) Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato.

A PF ainda não divulgou detalhes da investigação.

Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais sete de busca e apreensão e quatro de prisão temporária nas cidades de São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP).

A operação se chama Spoofing. Segundo a PF, Spoofing "é um tipo de falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é".

A Folha apurou que a PF chegou aos suspeitos por meio da perícia criminal federal, que conseguiu rastrear os sinais da invasão dos telefones.
Herculano
23/07/2019 15:10
da série: estava na cara de todos, mas os políticos e judiciário fingiam que isso era lenda.

POLÍCIA ENCONTRA LIGAÇÃO DO HEZBOLLAH COM TRÁFICO DO RIO

Conteúdo de O Antagonista. A Polícia Civil do Rio tem indícios de que Elton Leonel Rumich, preso no ano passado em Ipanema, é um dos elos de facções criminosas do Brasil com o grupo terrorista libanês Hezbollah, mostra reportagem do jornal O Dia, publicada hoje.

Conhecido como Galant, ele é considerado um dos maiores fornecedores de drogas para o PCC e o Comando Vermelho e dominou o tráfico no Paraguai após matar, em 2016, Jorge Rafaat em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil.

A Delegacia Especializada em Armas e Explosivos (Desarme), que prendeu Galant no carnaval de 2018, quando ele fazia uma tatuagem, obteve do Coaf uma lista de nomes com quem ele realizou transações financeiras.

O órgão encontrou 30 mil pessoas, entre elas supostos terroristas investigados por lavar dinheiro do tráfico na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.

Os investigadores apuram se a venda de drogas financia o terrorismo e se o Hezbollah opera o contrabando de armas para o PCC e o CV pela fronteira do Brasil com o Paraguai.
Herculano
23/07/2019 11:59
O ANTIESTADISTA, por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo

Jair Bolsonaro não tem noção da estatura do cargo que ocupa

Costuma-se reservar a palavra "estadista" para designar líderes que se destacam dos demais políticos por enxergarem mais longe, serem capazes de elevar-se acima das divisões sectárias e fazer avançar agendas decisivas, que produzirão impactos positivos por décadas.

Jair Bolsonaro é o exato oposto disso. Ele não tem noção da estatura do cargo que ocupa, dedicando-se a questiúnculas que não deveriam chegar nem perto do gabinete presidencial, como o conteúdo de filmes que contam com financiamento público ou o número de pontos necessário para cassar a habilitação de motoristas. Pior, busca interferir nesses assuntos de forma personalista, com desprezo pelas instituições e contra consensos técnicos.

Bolsonaro também não desperdiça oportunidades de aprofundar as divisões políticas que tanto mal têm causado ao país. Ele abusa de pautas que não passam de nitroglicerina ideológica, investe contra governadores nordestinos e ataca, de forma pusilânime, desafetos e até profissionais que não corroborem suas singulares visões de mundo.

Não dá nem para afirmar que o presidente é sincero em suas convicções. Quando julga que há uma oportunidade para faturar, não hesita em renegar o discurso da véspera, como se viu no caso do acordo do Mercosul com a UE, duas entidades supranacionais, que foram demonizadas durante a campanha. Não estou reclamando. Seria pior se ele sempre levasse suas fantasias até o fim.

Mesmo quando seu governo tem êxitos a celebrar (e existem alguns), eles não raro foram objeto de sabotagem do próprio Bolsonaro, como vimos na reforma da Previdência - o que faz duvidar de sua inteligência.

Se não houver um desastre econômico, seguiremos nesse ritmo por mais três anos e meio. Podemos nos consolar com o fato de que colunistas brasileiros não enfrentamos o problema da falta de temas de política nacional que atormenta nossos homólogos suíços e noruegueses.
Herculano
23/07/2019 11:57
RENOVAÇÃO SIM, MAS SEM ATALHOS, por João Amoedo, empresário e presidente do partido Novo, no jornal O Estado de S.Paulo - 23/07

Os eleitos dissidentes com origem em movimentos de renovação cumpriram importante dever cívico ao se envolver com a política e contribuíram com o País ao votar pela reforma da Previdência, mas erraram ao fazer a escolha partidária. Erraram ainda mais os que usaram recursos públicos para financiar suas campanhas.

No final de 2010, quando junto com um pequeno grupo de pessoas resolvemos construir um partido político, não imaginávamos o trabalho e a burocracia envolvidos. Tínhamos, contudo, algumas convicções: os 27 partidos existentes naquele momento não nos representavam. Queríamos deixar um País melhor para as futuras gerações, precisávamos promover a renovação de nomes e práticas na política e sabíamos que isso só seria possível com visão de longo de prazo e por intermédio de uma instituição partidária.

É com esta experiência que gostaria de tecer alguns comentários sobre a discussão atual envolvendo movimentos, partidos e mandatários dissidentes.

Os partidos, como instituições, têm não só o direito, mas a obrigação de definir seus procedimentos, as suas práticas e seus valores.

O que precisamos cobrar das agremiações partidárias é coerência e transparência. Portanto, um dever fundamental de quem deseja se eleger, principalmente para renovar a política, é conhecer as normas, as práticas e os posicionamentos da legenda pela qual irá se candidatar.

Os atalhos têm custo. Os mandatários, hoje dissidentes e que tiveram origem em movimentos de renovação, cumpriram um importante dever cívico ao se envolverem com a política e contribuíram para a melhoria do País ao votarem pela reforma da Previdência, mas erraram ao fazerem a escolha partidária. Erraram ainda mais aqueles que utilizaram recursos públicos destes partidos para financiar as suas campanhas.

A formação de grupos organizados pela sociedade civil é muito bem-vinda e demonstra como estamos evoluindo rapidamente na nossa participação como cidadãos. Entretanto, os movimentos em nome da transparência e da coerência precisam deixar claro quais são seus objetivos.

Se, além de trazer gente nova para o setor público, treinar e dar suporte para eventuais candidatos, também pretendem participar da atuação política com uma "bancada" no Congresso, defendendo pautas próprias, precisam se transformar em um partido.

O caminho correto para a atuação política, quando não encontramos uma instituição partidária que nos represente, é constituir uma nova. Façam como o movimento que deu origem ao NOVO: montem um partido, tenham uma ideologia clara com princípios e valores, não utilizem dinheiro público, deem transparência às suas fontes de recursos, realizem processo seletivo para a escolha dos seus mandatários, não misturem a gestão partidária com a gestão pública, exijam ficha limpa de todos os filiados, não tenham comissões provisórias e implementem ainda todas as outras mudanças que criticam nos partidos tradicionais.

Não é fácil, não é simples e não é rápido, mas é assim que teremos uma renovação de fato. Precisamos valorizar as instituições. Elas são fundamentais em um Estado de Direito e não existe mudança sustentável sem as mesmas. O caminho da mudança implica em assumirmos o protagonismo e em demandarmos liberdade, e não mais interferência estatal. A montagem de um partido, apesar da burocracia, está aberta a todos. É possível, o NOVO provou isso.
Herculano
23/07/2019 11:56
PARAÍBAS E MELANCIAS, por Eliane Cantanhêde, no jornal
O Estado de S.Paulo

Bolsonaro contra institutos, governadores, conselhos, fundações e mais um general

Nas democracias, líderes políticos e governantes devem ter relações institucionais e ampliar contatos, interlocutores e aliados. O presidente Jair Bolsonaro faz justamente o oposto: ele parece determinado a confrontar e irritar todo mundo que não pensa exatamente igual a ele. Uns são "paraíba", outros são "melancia", e só ele sabe o que é bom para o País. Isso não soma, só divide e acirra os ânimos.

Depois de usar um termo pejorativo contra nordestinos e dizer que "não é para dar nada" ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), Bolsonaro não se contentou com a reação em bloco dos governadores da região ?" a mais oposicionista do País ?" e foi cutucar Rui Costa, da Bahia. O que seria uma festa de inauguração de aeroporto, hoje, em Vitória da Conquista, virou motivo de guerra.

Na versão do governador, que é do PT, Bolsonaro "excluiu o povo" e transformou a festa numa "reunião político-partidária" com os seus apoiadores, com uma claque organizada. De 300 convites, só 70 teriam sido para o governo local. Rui Costa decidiu não ir e gravou um vídeo de desagravo.

Bolsonaro também partiu para cima do general da reserva Luiz Rocha Paiva, que considerou "antipatrióticas e incoerentes" suas manifestações sobre os nordestinos. Segundo o presidente, na tréplica, o general não passa de um "melancia". Sabem o que é isso? É um militar com a farda verde por fora e alma vermelha por dentro. Ou seja, um militar de esquerda. Ou o general se irritou ou deve ter dado muita gargalhada. E não só ele...

O diretor do Inpe, Ricardo Galvão, é outro que entrou na mira e não abaixou a cabeça. Depois de desqualificado publicamente por Bolsonaro, como se estivesse "a serviço de ONGs", ele avisou ao Estado que não vai se demitir e classificou a atitude do presidente de "pusilânime e covarde". E o que será que a Ancine e a turma ativa e organizada do cinema andarão aprontando para se defender dos ataques palacianos?

As investidas do presidente, porém, não param por aí e agora não são mais só de tempos em tempos, mas de horas em horas. Ontem, ele voltou as baterias novamente para os conselhos, tão essenciais para a troca de experiência, o debate, o contraditório e, principalmente, a definição de políticas públicas. E atingiu um em cheio: o de políticas sobre drogas, o Conad.

O Supremo já decidiu em junho, por unanimidade, mas provisoriamente, que o presidente não pode extinguir por decreto conselhos que foram criados por lei, ou seja, com aval do Congresso. Mas Bolsonaro manteve exatamente o mesmo discurso de antes, avisando que vai enxugar os conselhos e extinguir "a maioria" deles. É até possível que haja excesso de conselhos, mas o corte de Bolsonaro tem motivação particular: é um corte ideológico.

Detalhe: ele é o presidente que mais governa via decretos, só atrás (ainda) de Collor. Decretos entram em vigor imediatamente, dispensando aval de Câmara e Senado. Têm, pois, menos força do que projetos de lei. E são mais autoritários.

Após submeter o ministro Sérgio Moro ao constrangimento de desconvidar a pesquisadora Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, Bolsonaro acaba de excluir do Conad os especialistas que lidam com drogas no cotidiano: jurista, médico, psicólogo, assistente social, enfermeiro, educador e cientista. Um espanto!

É assim que, depois do Inpe, Ancine, IBGE, FioCruz, Ibama, ICMBio, Funai e universidades, Bolsonaro atrai contra si chuvas e trovoadas da OAB, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (a emblemática SBPC) e dos conselhos de Medicina, Psicologia, Serviço Social, Enfermagem e Educação. Já imaginou se o saque do FGTS for só de R$ 500, conforme antecipou o Estado?
Herculano
23/07/2019 11:54
PALAVRAS NO VENTILADOR, por Merval Pereira, no jornal O Globo

A última semana foi especialmente crítica para o presidente Bolsonaro, que falou muito, geralmente em situações improvisadas, o que dificulta seu desempenho, que já não é dos melhores na oratória. Mas, mesmo quando conversou com jornalistas estrangeiros num café da manhã, se descuidou com as palavras. Deu vazão a sentimentos que o perseguem, como conspirações.

Antigamente, os paranóicos procuravam comunistas embaixo da cama. Hoje, procuram conspiradores debaixo da mesa presidencial.

Não sei quem inventou essa parábola do anão debaixo da mesa, responsável por revelar todas as decisões tomadas no gabinete presidencial do Palácio do Planalto. Ela circulava com um tom irônico, que Bolsonaro também usou, mas não revelava nenhuma conspiração.

Esse espírito defensivo está sempre presente nas declarações do presidente e de seus filhos, especialmente o vereador Carlos. Fora do plano de conspiração, Bolsonaro tem obrigação de pesar o que está falando, pois sabe que tudo será publicado.

Perdeu a noção da repercussão que a palavra do presidente provoca. Além das declarações infelizes, erradas, Bolsonaro está numa discussão difícil, sobre a indicação do filho para a embaixada do Brasil nos EUA. Defendeu o filho de maneira equivocada, confundindo o país com a família.

E o que vazou de seu comentário a respeito dos nordestinos não é bom. Mesmo que se referir aos nordestinos como "paraíbas" seja uma característica da linguagem informal, há um claro tom pejorativo.

O presidente Bolsonaro, naquela sua linguagem popular que pode dar votos, mas não respeita a "liturgia do cargo", disse, por exemplo, que não pode ser apanhado "de calça curta" com a divulgação de dados tão importantes quanto os do desmatamento da Amazônia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Quis dizer que deveria ter sido avisado antes da divulgação, não para impedi-la, alega, mas para discutir os dados. Tudo bem, se não fosse a resposta destemperada do presidente à pergunta de um correspondente estrangeiro.

O aumento de 88% do desmatamento obviamente seria pergunta de qualquer entrevista que o presidente desse depois da divulgação de um dado tão negativo para o meio-ambiente.

Bolsonaro deveria ter reunido seus ministros ligados ao tema ?" Meio-Ambiente, Agricultura, Ciência, Tecnologia e Inovação ?" e o diretor do INPE para discutir o assunto, que ele mesmo admite ser de extrema importância, o que já é um avanço.

Se persistisse a desconfiança de que os dados estão errados, o presidente teria toda razão ao criticá-los, mas seria melhor colocar os ministros para defender a tese. O presidente do INPE, Ricardo Galvão, tem mandato de 4 anos que começou em 2016, e não pode ser afastado.

Mas pode ser forçado a pedir demissão por uma constante campanha de descrédito, como Bolsonaro vem fazendo, a exemplo de governos anteriores que receberam agências com dirigentes indemissíveis com mandatos. No caso do INPE é mais grave, porque desmoraliza um dos órgãos brasileiros mais respeitados interna e externamente.

Se Bolsonaro acha, com razão, que é uma propaganda negativa para o país anunciar tal grau de desmatamento, deveria se preocupar não com o mensageiro, mas atacar as causas da tragédia ecológica, e anunciar medidas para contê-la. A teoria da conspiração, no entanto, não deixa que o presidente e seus assessores mais xiitas tenham atitudes sensatas.

Um presidente da República que sugere a jornalistas estrangeiros que seu mais importante órgão de pesquisas está a serviço de uma ONG, aumentando os índices de desmatamento propositalmente, é de uma irresponsabilidade tão grande que até mesmo Bolsonaro, que fala o que lhe passa na cabeça sem filtros, admitiu que "exagerou".

Mas o estrago estava feito.
Herculano
23/07/2019 11:53
NOSSAS INSTITUIÇõES E SUA CIRCUNSTÂNCIA, por Fernando Lara Mesquita, no jornal Estado de S.Paulo

A boa regra depois que o crime passou a usar a imprensa seria o 'full disclosure' nas redações

No primeiro debate entre os 20 concorrentes à indicação para candidato a presidente pelo Partido Democrata, nos EUA, o principal "argumento de venda" foi apresentar-se como quem conseguiu o maior numero de contribuições abaixo de US$ 200 e recusou mais doações milionárias. Está aí um exemplo de como a boa regra induz o bom comportamento. Naquele país, a única que existe para financiamento de campanhas é que os concorrentes estão obrigados a declarar cada contribuição recebida no prazo de cinco dias. Cabe ao eleitor avaliar se elas o comprometem ou não. Aqui, onde preferimos que o Estado fiscalize tudo, inclusive a si mesmo, a perspectiva mais palpável é que na próxima eleição nos seja arrancado mais que o dobro do que nos foi arrancado na última, que cada partido receba seu quinhão segundo o desempenho na eleição anterior, e não pelo que tiver feito de bom ou de ruim com o mandato recebido, e que jamais saibamos quem, dentro deles, ficou com quanto desse dinheiro.

As instituições, como as pessoas, são elas e sua circunstância. Não é à toa que a expressão que define a ordem institucional democrática é checks and balances, "freios e contrapesos". Cada instituição só produz o efeito desejado quando referida a todas as outras. Tomadas isoladamente ou encaixadas num contexto pervertido, elas quase sempre produzem o efeito inverso do que se propõem.

No Estado Democrático de Direito "todo o poder emana do povo" e toda lei só se torna lei mediante o seu consentimento explícito. O primeiro direito que condiciona todos os outros é, portanto, o de o eleitor livrar-se na hora do representante que só age em prol de si mesmo. E para que isso seja possível é preciso, primeiro, que o sistema eleitoral permita saber exatamente quem é o representante de quem e que os representados, e não os representantes, tenham a prerrogativa exclusiva de acionar os instrumentos de força criados para constrangê-los a lhes serem fiéis. Inverter essa hierarquia é inverter toda a cadeia das lealdades. Nada é "consertável" no Brasil antes que consertemos isso.

São as circunstâncias reais, e não a teoria, que põem o corte de um lado ou do outro da lâmina de cada instituição. Afirmar como "óbvio" na ordem institucional brasileira, onde o Estado tem todas as prerrogativas e o cidadão nenhuma, o que é óbvio na ordem institucional americana, onde se dá exatamente o contrário, é manter o País no beco sem saída dos falsos silogismos em que andamos perdendo sangue, suor e lágrimas há 519 anos.

Assumir que a decisão monocrática do sr. Toffoli é desinteressada, nada tem que ver com Flávio Bolsonaro, nem tira da porta da cadeia e põe na da rua todos os criminosos com e sem mandato mais perigosos da República é tão falso quanto negar que o sigilo bancário (até dos agentes do Estado) é um direito que deve ser protegido em princípio... se todas as outras instituições estiverem estruturadas para manter o Estado nas mãos dos cidadãos, e não o contrário.

Se, por exemplo, os promotores públicos, aqui como lá, fossem eleitos pelo povo, e não nomeados pelos políticos que têm por função fiscalizar e contra cujos poderes têm obrigação de nos defender; se os juízes passassem por eleições periódicas de confirmação; se tivéssemos os direitos à retomada de mandatos e ao referendo do que vem dos Legislativos, é provável que não nos ocorresse considerar uma lei específica de abuso de autoridade. Mas sem a ancoragem de tudo à palavra final do eleitor e com todo cargo ou emprego público sacramentado como um "direito adquirido" inalienável, é certo que até a lei de abuso que vier será usada seletivamente, como todas as outras, na defesa de privilégios, contra qualquer tentativa de eliminá-los.

O trabalho jornalístico que não parte desta que é a nossa realidade, esta, sim, pra lá de óbvia, já começa falso. A justificativa do instituto do sigilo da fonte, por exemplo, é sacrificar a transparência da informação em nome do valor mais alto do aperfeiçoamento da democracia, a primeira e inegociável razão de existir da imprensa democrática. Mas publicar como se fosse produto de jornalismo investigativo os grampos e dossiês que as partes que disputam o poder livres de qualquer compromisso exigível pelos eleitores atiram umas contra as outras e manter anônima a fonte, quando não é um ato de cumplicidade, é um convite para o aparelhamento do jornalismo.

A virtude sempre precisou de incentivos. A boa regra para estes tempos em que o crime se especializou em usar em vez de fugir da imprensa e da lei seria a do full disclosure, ou "transparência absoluta", nas redações. O jornalista que exige que servidores em atividade, como Deltan Dallagnol, sejam obrigados a relatar as palestras que fazem, indicando quem pagou por elas e quanto, além das atividades conflituosas de suas esposas e seus parentes próximos, não terá nenhuma dificuldade de entender a importância do full disclosure, não só das peças de "jornalismo de acesso" onde saber de onde vêm os tiros contribui muito mais para o aperfeiçoamento da democracia que o apedrejamento do alvo visado, mas até de contemplar a criação de uma versão doméstica da lei antinepotismo.

Não há conflito obrigatório no fato de jornalistas com cônjuges, companheiros ou parentes em linha reta, colateral ou por afinidade até o terceiro grau assalariados ou detentores de privilégios concedidos pelo Estado participarem da cobertura da guerra do Brasil plebeu contra a privilegiatura. Mas a obrigação de declará-lo sob o hiperlink de cada assinatura certamente os incentivaria a ser mais equilibrados no direcionamento das suas investigações, além de ter um efeito fulminante contra a instrumentalização anônima da arma da imprensa.

Os destinos do jornalismo e da democracia sempre estiveram amarrados. O choque de transparência, para além de distingui-lo definitivamente da luta pelo poder e da guerra suja da internet, teria para a qualidade do jornalismo e da democracia brasileiros um efeito restaurador.
Herculano
23/07/2019 11:51
BENEFÍCIOS EM ESCALA NO NOVO MERCADO DE GÁS, por João Carlos Mello, no jornal Valor Econômico,

Parte das dívidas que os Estados detêm poderão ser renegociadas, tendo como contrapartida investimentos em obras

O "choque de energia barata" prometido pelo governo tem dominado boa parte das discussões sobre o Novo Mercado de Gás, cujas diretrizes acabam de ser divulgadas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O projeto atende às principais demandas do setor de energia e evidencia que existe uma rota - e vontade política para alcançá-la. Entre os pontos de maior destaque figuram a desverticalização do setor, uma harmonização tributária entre as esferas federal e estaduais e a promoção do livre acesso ao insumo e às vias de transporte e distribuição.

Há ainda muito a ser feito para a implantação do projeto, mas é consenso que o acesso ao gás natural a preços acessíveis terá impactos importantes na retomada do crescimento econômico, destravando investimentos e trazendo competitividade à indústria nacional. O Ministério de Minas e Energia estima que a instalação de infraestrutura para atender à demanda desse novo mercado movimentará R$ 34 bilhões até 2032. Os grandes consumidores entre eles, setores industriais pujantes, como o ceramista, o químico e setor de vidros - aguardam a possibilidade de adquirir o insumo diretamente do polo produtor, negociando preços e prazos em contratos de longo prazo. Mas eles não são os únicos que podem ganhar com a proposta de abertura do mercado.

Para o governo federal, as vantagens são evidentes: destravar a economia, estimular investimentos e, claro, dar um destino nobre ao gás natural proveniente da exploração do pré-sal. O Brasil produz cerca de 100 milhões de m3 de gás por dia. Quando tiver início a exploração da Bacia de Sergipe-Alagoas, estima-se um acréscimo de quase um terço nesse volume. Em 2018, o consumo médio no país foi de 64 milhões de m3 diário, segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), mas tem potencial de crescer caso haja redução no preço. Hoje, a indústria brasileira paga em média US$ 13 pelo metro cúbico. Na Europa, a média é próxima a US$ 7, nos Estados Unidos, chega a US$ 3. Em muitos casos, o gás natural substitui a queima de outros combustíveis fósseis com maior impacto ambiental, como carvão ou óleo diesel.

Os Estados, responsáveis pelos serviços de distribuição, exercem papel fundamental para a viabilidade de um mercado livre. As diretrizes preveem estímulos importantes para que os governos locais negociem suas participações em empresas de gás e promovam a criação da figura do consumidor livre. Muitos governos estaduais, no entanto, ainda hesitam em aderir à proposta. A dúvida pode se dissolver à medida que as lideranças políticas percebam os diversos benefícios que o mercado de gás pode gerar: parte das dívidas que os Estados detêm com a União poderão ser renegociadas, tendo como contrapartida investimentos em obras de gasodutos, terminais de gás natural liquefeito (GNL) e unidades de processamento de gás natural (UPGNs) capazes de dinamizar a economia, atrair empresas, gerar divisas e abrir vagas de emprego nas respectivas unidades federativas. Na prática, troca-se uma dívida pela possibilidade de estímulo à economia local.

Também para a Petrobras, esta é uma oportunidade de obter divisas e recuperar sua saúde financeira. A companhia vem reduzindo os índices de alavancagem, moderando as taxas de endividamento e se desfazendo de ativos que não fazem parte de seu principal negócio: a exploração e produção de petróleo e gás. Em 2015, a estatal acumulava US$ 126,3 bilhões em dívidas; ao final de 2018, já havia conseguido reduzir o montante para US$ 84,4 bilhões. A alavancagem atual é de 2,34 vezes, mas o governo já anunciou a meta de 1,5 vez, para evitar a exposição da empresa às flutuações do preço das commodities.

Hoje a Petrobras detém o controle de praticamente toda a malha de transportes e também possui participações em 19 das 27 empresas estaduais de distribuição de gás natural. O plano de desinvestimento da companhia nesse segmento já teve início com a venda da TAG (Transportadora Associada de Gás) e da NTS (Nova Transportadora Sudeste); a resolução do CNPE avança nesse sentido e prevê a alienação total das ações que a Petrobras detém, direta ou indiretamente, nas empresas de transporte e distribuição.

Com maior oferta e um mercado competitivo, a redução dos preços do insumo será consequência lógica. Mesmo que o índice de 40% de queda nos preços aventado pelo governo não seja atingido, podemos esperar um impacto bem relevante, para baixo, no custo do gás. E, com a integração dos mercados de gás natural e energia elétrica, a tal "energia barata" poderá finalmente atingir os consumidores residenciais de forma indireta. As usinas termelétricas serão protagonistas desse processo.

Diversos fatores climáticos e de infraestrutura têm exigido o despacho de usinas térmicas a óleo, que apresentam alto custo financeiro - o que gera impacto em todo o Sistema Interligado Nacional e também no bolso dos cidadãos brasileiros. A substituição dessas usinas por térmicas a gás natural resultará em economia e ainda em ganhos de eficiência energética.

A região Nordeste, nesse caso, merece atenção especial: servida historicamente pelas usinas hidrelétricas da bacia do rio São Francisco, ela vem enfrentando situação bastante adversa nos últimos anos. Estudos da Thymos Energia evidenciam que a implantação de uma térmica a gás natural nesse subsistema poderá
evitar um custo de R$ 8,5 bilhões por ano entre 2024 e 2030, além de garantir segurança energética ao sistema e compensar a intermitência das fontes renováveis, abundantes no local. Cerca de 80% dos parques eólicos brasileiros estão no Nordeste, e o potencial para expansão da geração de energia solar fotovoltaica na região também é grande.

Os próximos passos do Novo Mercado de Gás devem ser dados em até sessenta dias - prazo estabelecido pelo governo para a definição da governança e das informações necessárias ao monitoramento do projeto. Estimativas do governo federal dão conta de que uma redução de 10% no preço do gás provocaria um crescimento de 2,1% no PIB industrial. Somando-se a isso os benefícios em escala que o Novo Mercado do Gás pode gerar, a expectativa é de que o projeto avance com celeridade e se torne a nova realidade do setor.
Herculano
23/07/2019 11:49
O FUTURO DAS FEDERAIS, por Simon Schartzman, no jornal O Globo

O ideal seria que as universidades deixassem de ser repartições públicas e adquirissem um status legal próprio

O programa Future-se, anunciado pelo MEC para fortalecer a autonomia administrativa e financeira das universidades federais, procura responder a um anseio antigo de dar às instituições maior autonomia e flexibilidade de captação e gestão de recursos orçamentários e de seus bens patrimoniais. Para entender e avaliar o programa, é necessário considerar três aspectos principais: o institucional, o educacional propriamente dito e o financeiro.

O ideal seria que as universidades deixassem de ser repartições públicas e adquirissem um status legal próprio, combinando a flexibilidade da legislação privada com mecanismos que garantam suas funções públicas. O modelo disponível é o das organizações sociais, já adotado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e outras instituições. Ao invés de tentar isso diretamente, o MEC está propondo uma via indireta, que é fazer com que as universidades estabeleçam convênios com organizações sociais existentes ou a serem criadas, que assumiriam parte ou a totalidade de suas funções de gestão, governança e empreendedorismo. Embora a ênfase seja em atividades de pesquisa, é possível dar uma interpretação mais ampla, já que as OS teriam funções gerais de gestão patrimonial e dos planos de ensino, pesquisa e extensão das universidades.

O modelo proposto lembra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, que hoje administra a maioria dos hospitais universitários federais. A dúvida é quem comandaria estas organizações, e qual seria seu relacionamento com as reitorias, órgãos departamentais e coordenações de curso. A proposta não deixa claro se cada universidade teria sua própria OS ou não, mas prevê a criação de um Comitê Gestor para todo o conjunto, que, em última análise, substituiria o próprio Ministério da Educação nas funções de avaliação e controle do sistema.

Apesar da possível abrangência, o programa está destinado, claramente, a uma parte relativamente pequena das universidades, que são as atividades de pesquisa e inovação. Existem hoje cerca de 120 instituições federais de ensino e pesquisa, que atendem cerca de 1,3 milhão de estudantes de graduação e 170 mil de pós-graduação, e mais cerca de 350 mil em cursos de nível médio, sobretudo nos institutos federais.

A Capes lista cerca de 3.500 cursos de pós-graduação nas federais, dos quais somente 140 são considerados de nível 7, de padrão internacional, 90% dos quais concentrados em dez instituições. Estas, em princípio, teriam condições de se beneficiar do novo programa, se internacionalizar e atrair recursos competitivos públicos e privados. Os demais cursos de pós-graduação são, preponderantemente, de aperfeiçoamento profissional, nos quais a pesquisa tem importância secundária. Mesmo nas melhores instituições, o grosso da atividade é de ensino. Não fica claro se as universidades que aderissem ao programa deveriam manter duas estruturas separadas, uma de pesquisa e inovação e outra do ensino regular, e qual seria a política do Ministério da Educação para os cursos de graduação de todo o conjunto.

O ministério prevê que o programa poderia captar cerca de R$ 100 bilhões, o que parece demasiado otimista, tanto em relação à capacidade das universidades de atrair investimentos quanto à disposição do governo de criar incentivos fiscais e disponibilizar recursos próprios. Hoje, o sistema federal custa cerca de R$ 60 bilhões anuais, dos quais 90% em salários e aposentadorias. Então, os novos recursos seriam "dinheiro novo", o que seria bem-vindo, havendo a preocupação, no entanto, que isso leve a uma redução ainda maior do financiamento regular de custeio e investimentos. Além disso, fica em aberto a questão de se as universidades estaduais e privadas teriam acesso a estes fundos.
Herculano
23/07/2019 09:03
DEPOIS DA RECLAMAÇÃO AQUI DOS QUE MORAM NA RUA JOSÉ CASAS - QUE SERVE DE DESVIO PARA NEREU RAMOS - E A AMEAÇA DE INTERDIÇÃO, A PREFEITURA DE GASPAR TOMOU DUAS ATITUDES


1. Abriu parcialmente a Nereu Ramos na manhã de sexta-feira

2. Agora, as 9h fechou o desvio para recuperá-lo, principalmente a José Casas.

3. Era preciso o assunto virar manchetes aqui, nas redes sociais e nas rádios para a prefeitura e a secretaria de Obras e Serviços Urbanos tomar providências mínimas e óbvias? Acorda, Gaspar!
Herculano
23/07/2019 07:32
UM PACOTE DE CONCESSÕES AMBICIOSO E MUITO NECESSÁRIO, editorial do site Gazeta do Povo, Curitiba PR

Enquanto o governo continua preparando a lista de empresas estatais que pretende privatizar, uma outra área chave para o desenvolvimento do país, a das concessões de infraestrutura, já tem definições. O ministro da pasta, Tarcísio Gomes de Freitas, definiu a iniciativa como "o maior programa de concessões do mundo": no total, 41 aeroportos, 11 terminais portuários, 16,5 mil quilômetros de rodovias e 2,4 mil quilômetros de novas ferrovias serão leiloados até o fim de 2022, com um investimento total previsto de R$ 208 bilhões durante a duração das concessões - normalmente, de 30 anos.

As rodovias devem responder por mais da metade deste valor, R$ 140 bilhões; um dado relevante, já que no Brasil a deterioração das estradas é diretamente proporcional à participação deste modal na infraestrutura nacional. Anualmente, estudos da Confederação Nacional do Transporte fornecem dados valiosos sobre o estado crítico das rodovias por onde circula grande parte da produção industrial e agrícola nacional de nossas rodovias. A CNT já mediu, por exemplo, o grau de letalidade de acidentes de acordo com a qualidade não apenas da pavimentação, mas também da sinalização e da geometria das pistas. Outra informação levantada pelos relatórios anuais da entidade demonstra o acerto do governo ao acelerar as concessões de estradas: os trechos administrados por concessionárias têm avaliação muito melhor que aqueles sob gestão estatal.

No setor aeroportuário, o governo parece ter encontrado um bom modelo de concessões

Nesta área, só podemos esperar que, depois de décadas de experiência de vários estados e da União com concessões rodoviárias bem-sucedidas ou frustradas, os editais sejam elaborados de forma a garantir concessões equilibradas, que proporcionem ao concessionário o retorno justo e necessário enquanto não espoliam motoristas e caminhoneiros. Não podemos repetir, por exemplo, o caso do Anel de Integração paranaense, que conseguiu combinar tarifas altíssimas e execução incompleta de obras de melhoria. Se estradas esburacadas oneram o setor produtivo e minando nossa competitividade, concessões feitas de forma equivocada têm o mesmo efeito.

É no setor aeroportuário que o governo parece ter encontrado um bom modelo de concessões, elaborando lotes de terminais que combinam aeroportos importantes e de alto potencial rentável com outros menores, mais destinados à aviação regional, e garantindo que os vencedores nos leilões tenham de investir em todos eles, sem priorizar as "joias da coroa" enquanto deixam os demais aeroportos às moscas. Este sistema, desenhado ainda na gestão de Michel Temer e acertadamente mantido por Jair Bolsonaro, foi testado com enorme sucesso em março deste ano, atraindo o interesse de gigantes internacionais, dispostos a pagar muito pelas outorgas. Além disso, o governo ainda estuda a venda da parte da Infraero em aeroportos importantes, como Guarulhos, Galeão, Confins e Brasília, todos leiloados durante o governo Dilma Rousseff.

A concessão dos aeroportos à iniciativa privada é apenas um passo para desenvolver o enorme (e mal aproveitado) potencial do transporte aéreo no Brasil. A liberação para empresas de capital 100% estrangeiro e uma regulamentação amigável à vinda de companhias low cost aumentarão a competição no setor, conseguindo finalmente cumprir a promessa de passagens mais baixas, equivocadamente feita pelo governo federal quando do imbróglio da cobrança pela bagagem despachada.

A intenção governamental de promover um programa de concessões tão ambicioso exigirá, também, outras reformas. No passado, o dinheiro do BNDES exerceu papel importante, quando não essencial, como viabilizador ou garantidor das concessões ?" aliás, a lentidão nos desembolsos durante a recessão foi um dos motivos alegados por consórcios interessados em devolver algumas concessões em 2017 e 2018. Bolsonaro e o novo presidente da instituição, Gustavo Montezano, querem que o banco de fomento mantenha o foco no financiamento às concessões e privatizações, mas emprestando menos ?" fala-se na manutenção do patamar atual, de R$ 70 bilhões por ano. Isso significa que os interessados em administrar aeroportos, estradas, ferrovias ou portos terão de olhar também para o setor privado na hora de buscar recursos, e o ambiente regulatório precisa facilitar essa possibilidade, tornando os investidores menos dependentes dos humores estatais.

No Brasil de hoje, não há motivo para que o Estado continue administrando uma infraestrutura de transporte que a iniciativa privada pode gerenciar de maneira mais eficaz, como demonstram vários aeroportos já licitados, ou as rodovias paulistas, sempre citadas entre as melhores do país. O plano de concessões do governo estimula o protagonismo privado na economia e, se bem realizado, reverterá em benefícios para todos os que usam as malhas rodoviária, ferroviária, portuária e aérea, bem como os que consomem, vendem e exportam os produtos que por elas circulam
Herculano
23/07/2019 07:27
POLÍTICA DE PESSOAL DO FUNCIONALISMO EXIGE UMA REFORMA, editorial do jornal O Globo

São necessárias regras racionais para que tudo deixe de ser definido por lobbies de grupos de pressão

O adiamento de reformas necessárias para adaptar o país a mudanças que ocorrem em vários campos - no demográfico, na tecnologia e em outras tantas áreas - cobra um preço.

O exemplo atual é o da Previdência, tema por óbvio sensível, e que foi sendo deixado de lado por conveniências políticas, até chegar ao ponto em que aposentadorias e pensões consomem cerca da metade dos gastos públicos primários, uma conta que não para de subir.

E assim, o governo Bolsonaro está sob pressão para aprovar no Congresso uma reforma que precisa ser robusta, para afastar as expectativas crescentes de insolvência do Estado. Disso depende a capacidade de a economia voltar a se movimentar e começar a absorver os 13 milhões de desempregados.

O atual governo tem o desafio de recuperar o tempo perdido. Outro assunto é a reforma administrativa , sempre falada, mas sem que haja avanços substanciais. E quando existe algum avanço, logo à frente vem um recuo. Aconteceu na passagem da gestão Fernando Henrique para Lula e o PT. O então ministro Luiz Carlos Bresser Pereira formulou propostas para que o funcionalismo passasse, por exemplo, a ser gerenciado por princípios usuais na iniciativa privada - prêmio por mérito e avaliação de desempenho. Em vão, porque a chegada ao poder do lulopetismo, com apoio de corporações sindicais - e as do funcionalismo são as mais fortes - fez tudo voltar à estaca zero.

Agora, ensaiam-se mais uma vez mudanças como aquelas, dentro do Ministério da Economia. Espera-se que desta vez sem retrocessos. Uma das várias frentes deste trabalho é haver um plano de cargos e salários que não onere ainda mais o sobrecarregado contribuinte e, tão importante quanto, torne a máquina burocrática minimamente eficiente, para prestar serviços aceitáveis a quem lhes paga os salários, a população.

Uma constatação é que se torna impossível alguma racionalidade com a existência de 309 carreiras, geralmente com salários iniciais muito superiores aos praticados no mercado de trabalho privado. Dentro do próprio funcionalismo, há enormes disparidades.

Levantamento feito pelo GLOBO a partir de dados do Ministério da Economia mostra que o gasto da União com as carreiras da elite dos servidores representa duas vezes e meia a despesa com os demais servidores. Apenas cinco carreiras no Executivo respondem por uma despesa de R$ 421 mil anuais por pessoa, enquanto com o restante do funcionalismo o gasto médio é de R$ 167 mil.

Deve ser um indício de que mesmo no universo dos servidores há lobbies mais influentes que outros. Seja como for, é crucial ordenar as normas que regem 1,2 milhão de pessoas, incluindo os inativos. Inaceitável que tudo continue a ser definido neste universo ao sabor de grupos de pressão.
Herculano
23/07/2019 07:11
PRISÃO 'ESPECIAL' DE LULA JÁ CUSTOU R$4,7 MILHõES AO CONTRIBUINTE, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou nesta terça-feira nos jornais brasileiros

Petista condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex, Lula está preso desde 7 de abril de 2018, sob condições especiais, numa sala que era o alojamento de policiais na sede da Polícia Federal, em Curitiba (PR). São 472 dias. A PF estima que o custo para manter o petista preso é de R$10 mil por dia, ou seja, já foram R$ 4,7 milhões até o momento. Até o fim do próximo mês o total gasto no petista condenado atinge a marca de R$5 milhões.

PRESO, MAS NEM TANTO

O petista tem direito a banheiro com água quente e televisão numa sala de 15 m2. E ainda pode conceder "entrevistas" a veículos e jornalistas.

NINGUÉM AGUENTA

Em ofício ainda em abril de 2018 à Justiça Federal, a PF pediu a transferência de Lula a outro presídio em razão dos custos elevados.

MORAL?

Para o Ministério Público Lula não pode ser enviado a outra prisão pois não há como garantir a "segurança física ou moral" do petista.

CUSTO 120X MAIOR

O custo médio de um preso aos cofres públicos no Brasil é de R$ 2,5 mil por mês. Lula custa ao contribuinte cerca de R$ 300 mil por mês.

Só 15 SENADORES NÃO RECEBEM AUXÍLIO-MORADIA OU IMóVEL

Entre os 81 senadores no exercício do mandato, apenas 15 não são beneficiados com auxílio moradia de R$ 5,5 mil por mês e tampouco ocupam um imóvel funcional. A prática é "novidade" na Casa: 14 dos senadores foram eleitos (ou reeleitos) em 2018. Apenas Álvaro Dias (Pode-PR) conquistou o mandato em 2014 e está no grupo daqueles que não ocupam imóvel funcional e também não levam o auxílio. O senador Paulo Paim (RS) é o único da bancada do PT no grupo.

MORADORES DE BRASÍLIA

Os três senadores do DF, Izalci Lucas (PSDB), Leila Barros (PSB) e Reguffe (sem partido) não ocupam imóvel, nem recebem auxílio.

SÃO POUCOS

Alessandro Vieira (Cid-SE), Chico Rodrigues (DEM-RR), Confúcio (MDB-RO), Girão (Pode-CE) e Espiridião Amin (PP-SC) estão na lista

LISTA CURTA

Siqueira Campos (DEM-TO), Kajuru (PSB-GO), Bittar (MDB-AC), Oriovisto (Pode-PR) e Renilde Bulhões (Pros-AL) completam a lista.

NO VERMELHO ATÉ 2022

Desde 2014 as contas do governo federal estão no vermelho, e a proposta da Lei de Diretrizes Orçamentária prevê rombo de mais de R$ 124 bilhões para 2020. A situação deve permanecer negativa até 2022.

DE OLHO NO ROMBO

Apesar do novo contingenciamento de R$ 1,4 bilhão anunciado ontem, até maio deste ano o rombo fiscal registrado pelo governo federal foi de R$ 17,4 bilhões, diz o Tesouro. A meta de déficit é de R$ 139 bilhões.

BOLSONARO DUAS RODAS

O presidente Bolsonaro foi recebido com aplausos e gritos de "mito" no Brasília Capital Moto Week, um dos maiores eventos do tipo do mundo. Ele é motociclista, mas optou por andar a pé no meio da multidão.

ELEIÇÃO NA NOSSA CONTA

Segundo o parecer do relator da Leia de Diretrizes Orçamentárias, Cacá Leão, parte dos recursos destinados às emendas de bancada poderá "amparar o custeio" das eleições municipais em 2020.

BALANÇO DO CONGRESSO

O Senado contabilizou 131 projetos aprovados no primeiro semestre de 2019. Foram aprovados 90 propostas pelo plenário da Casa e 41 foram aprovadas nas comissões. Na Câmara foram 177 propostas aprovadas; 60 no Plenário e 117 em caráter conclusivo nas comissões da Casa.

MENSAGENS VAZADAS

Em 2015, o aplicativo Telegram realizou o Crypto Contest, torneio de criptografia com prêmio de US$ 300 mil aberto a qualquer um que invadisse o sistema. Apesar de muito criticado, ninguém teve sucesso.

PIB PER CAPITA

Entre 1994 e 2016, o PIB per capita cresceu consistentemente, sem cair. Foi de R$2,2 mil em 1994, primeiro do Plano Real, para R$30,4 mil em 2016. Os dados são da Fundação Getúlio Vargas e do IBGE.

PALESTRA E LUTA

A OAB-DF com apoio da Caixa de Assistência dos Advogados promove nesta terça-feira (23) palestras sobre "A mulher negra e a década afrodescendente da luta por direitos", no plenário José Eduardo Grossi.

PENSANDO BEM...

...contingenciamento ainda não virou corte.
Herculano
23/07/2019 07:04
COMO REAGIR A BOLSONARO? por Pablo Ortellado,professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia, no jornal Folha de S. Paulo.

Presidente parece se divertir com a indignação dos descontentes

O governo Bolsonaro coloca um grande desafio. Como responder a sua prolífica produção de declarações e ações ultrajantes?

Apenas na última semana, o presidente anunciou que vai indicar o próprio filho para o cargo mais estratégico da diplomacia brasileira, ameaçou censurar ou fechar a Agência Nacional de Cinema e caluniou da forma mais aviltante uma respeitada jornalista brasileira.

Em um governo regular, a reação indignada da opinião pública, de organizações de direitos humanos e de atores do mundo da política forçaria o presidente a pedir desculpas.

Mas Bolsonaro não reage assim. Ele parece divertir-se com a indignação que causa - e uma parte do seu público também.

Foi o que se viu, por exemplo, na "brincadeira" que fez ao chegar ao Palácio do Alvorada, no último sábado, se dirigindo às pessoas que estavam ali: "Vamos fechar a Ancine ou não vamos?". Ao que responderam em coro: "Vamos!"

O bolsonarismo se mantém com uma estratégia de divisão e mobilização permanente. Ele explora e mantém viva a divisão da sociedade civil, assustando os seus apoiadores com supostos perigos dos quais os adversários seriam portadores.

Cada vez que Bolsonaro faz uma provocação, a reação de revolta é recebida pelos seus seguidores com uma espécie de júbilo de triunfo. Se os bandidos, os corruptos, os vagabundos ou os comunistas desgostaram, deve ser porque o governo está no rumo certo.

Por isso, a indignação e o protesto dos descontentes de sempre têm pouco efeito prático sobre o governo e sobre a base mais fiel de Bolsonaro.

Isso não significa que devemos assistir resignados a esse espetáculo temerário.

Em primeiro lugar, é preciso resistir institucionalmente. Nós podemos sair desses quatro ou oito perigosos anos como uma Hungria ou como uma Turquia - isto é, como um país no qual o poder político atropelou e destroçou as instituições liberais - ou nós podemos sair com instituições mais ou menos incólumes como parece acontecer nos Estados Unidos ou na Itália. Para isso é preciso proteger e respaldar instituições como a imprensa, o Supremo e o Congresso Nacional -mesmo eles tendo os problemas que têm.

Além disso, é preciso pacientemente mostrar para a parcela que está fora da polarização e para os apoiadores moderados do presidente que esse governo não tem compromisso com o combate à corrupção, como originalmente postulava nem tem como resgatar uma ordem moral tradicional há muito tempo ultrapassada.

Esse difícil e delicado diálogo não pode ser feito quando se chama o interlocutor de fascista.
Herculano
23/07/2019 07:00
CREDITO EXTERNO, UM AVANÇO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

Com a imagem do País em recuperação, empresas brasileiras têm captado dinheiro externo aos menores custos desde 2014

Com a imagem do País em recuperação, empresas brasileiras têm captado dinheiro externo aos menores custos contabilizados desde 2014, quando o Brasil afundava na recessão e numa das maiores crises fiscais de sua história. Vários fatores têm contribuído para essa melhora e o avanço da reforma da Previdência é um dos mais importantes, segundo executivos e analistas de grandes bancos internacionais e do mercado financeiro.

A reforma começa, portanto, a produzir resultados positivos bem antes de sua aprovação final: até agora o projeto só passou pelo primeiro turno de votação na Câmara dos Deputados. Uma espiada nos bons efeitos já confirmados poderia ser um estímulo a uma tramitação rápida e sem grandes obstáculos a partir do começo de agosto.

Fatores externos também têm ajudado, com destaque para a freada nos juros americanos e as promessas de políticas ainda muito frouxas na Europa e no Japão.

Diante da perspectiva de menor crescimento econômico, bancos centrais do mundo rico decidiram prolongar os juros estimulantes. Isso torna mais fácil competir com a remuneração oferecida pelos papéis do Tesouro americano e outros títulos de grande prestígio no mercado global. Há um evidente benefício para os emissores ?" empresas e governos ?" do mundo emergente. Nesse quadro o Brasil tem sido especialmente favorecido.

Empresas brasileiras conseguiram, na semana passada, captar recursos no mercado internacional pagando em média 246 pontos-base (pontos de porcentagem) acima da remuneração oferecida pelo Tesouro dos Estados Unidos. Foi a menor taxa da série iniciada em 2010 e muito próxima da mínima registrada em janeiro de 2018, de 247 pontos. Também na semana passada, o custo médio para as empresas de mercados emergentes ficou em 257 pontos-base, acima, portanto, daquele encontrado pelas brasileiras.

A melhora também tem sido observada na evolução de um dos principais indicadores do risco país, o Credit Default Swap (CDS), uma espécie de seguro contra calote. O CDS de cinco anos foi negociado na sexta-feira passada a 128 pontos, uma taxa desconhecida desde setembro de 2014. Há um ano a taxa ainda estava acima de 300 pontos. Outras economias latino-americanas têm avaliações melhores que a brasileira. O CDS do Chile, por exemplo, está em 36 pontos. O da Colômbia, em 84. O da Argentina, com crise interna e externa, tem superado 900 pontos.

Detalhe importante - e muito promissor - é a melhora do crédito brasileiro ocorrer quando o País ainda aparece em posição muito ruim nas classificações das agências internacionais de risco. O Brasil perdeu o chamado nível de investimento, o chamado selo de bom pagador, em 2015, no governo da presidente Dilma Rousseff, quando se evidenciava de forma indisfarçável a devastação das contas públicas. A classificação do País seria novamente rebaixada pelas principais agências antes do afastamento da presidente petista.

No mercado, a recuperação efetiva do crédito, independente da classificação das agências, começou na gestão do presidente Michel Temer, com o firme combate à inflação pelo Banco Central e os primeiros esforços de arrumação das contas públicas (por meio da criação do teto de gastos, por exemplo). Mas a melhora da economia parou. Uma das causas foi o agravamento da insegurança política e econômica a partir do meio do ano passado.

O avanço da reforma da Previdência e as promessas de outras mudanças de grande alcance, como a tributária, estimulam novas apostas no Brasil. Essas apostas estão obviamente condicionadas a um forte compromisso com a reorganização da administração pública e a revitalização da economia brasileira. O acesso ao financiamento internacional poderá facilitar a implantação de uma nova fase de prosperidade. Mas isso dependerá de uma política pensada e executada de forma firme e clara, sem perda de rumo e sem surtos de irracionalidade. O presidente Jair Bolsonaro ajudará muito, se frear seus arroubos e der mais atenção aos objetivos e limites de uma administração republicana e impessoal.
Herculano
23/07/2019 06:51
ZERO 3 PODE VIRAR SACO DE PANCADAS NOS ESTADOS UNIDOS, por José Antônio Severo, em os Divergentes

O presidente Jair Bolsonaro parece não perceber, mas indicar seu filho Zero Três à chefia da Embaixada do Brasil nos EUA pode se tornar um problema para o próprio mandatário brasileiro

A indicação do nome do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) para embaixador do Brasil nos Estados Unidos é uma das variáveis da crise no setor de comunicação do Palácio do Planalto. Os profissionais da mídia que têm acesso à Secretaria de Imprensa não se cansam de advertir que a ida do 03 para Washington será um dos maiores desastres de imagem que o Brasil vai ter de carregar.

Entretanto, pega mal tocar no assunto com o presidente Jair Bolsonaro. Aí o problema. Expulse o mensageiro.

Na América do Norte e, também, na Europa Ocidental, as canetas ferinas da imprensa estão afiando as penas para cobrir o que se espera seja a atuação do futuro embaixador brasileiro junto à Casa Branca. Será um conveniente e indefeso saco de pancadas.

É isto que seria um temor do general Rêgo Barros, porta-voz da Presidência da República, duramente atacado pelos arautos do situacionismo, o vereador Carlos Bolsonaro e o deputado federal Marcos Feliciano (Podemos/SP). Talvez cada qual dos adversários do general tenha motivações diferentes, mas o efeito é o mesmo: os dois querem 03 longe de Brasília.

Entretanto, lançá-lo no turbilhão político-partidário de Donald Trump em ano eleitoral na terra do Tio Sam será uma operação de alto risco. O representante diplomático do Brasil vai atrair fogos amigo e inimigo. Afinal, não sendo americano, é alvo livre para tiro de todos os calibres.

Com as últimas declarações do presidente Jair Bolsonaro atacando de frente todos os mantras politicamente corretos, Eduardo pode se converter no alvo preferencial de adversários do presidente Donald Trump durante a campanha eleitoral que se aproxima nos Estados Unidos. A pergunta: que fará o presidente norte-americano quando a imagem desastrosa do filho de seu parceiro brasileiro desabar sobre ele?

A dúvida é o quanto Donald Trump estaria disposto a segurar, antes de alijar esse pesado aliado ao mar. A percepção dos marqueteiros é que o peso de todas as polêmicas de origem norte-americana que se implantaram no Brasil serão reativadas: índios, mulheres, LGBT, desmatamento, fundamentalismo religioso.

Admirador acrítico de seu próprio filho, o presidente estaria surdo às advertências de sua assessoria. Esse seria um dos temas a provocar o desgaste do porta-voz. No final, Rêgo Barros pode ser mais um general a esvaziar as gavetas.
Herculano
23/07/2019 06:45
da série: o Sul está descriminado faz mais de século, simplesmente por ter melhor IDH e gerar mais impostos para distribuir aos outros. Santa Catarina, por exemplo, que possui um governador aliado ao governo Federal tem o pior retorno para obras de infraestrutura: foi assim com a duplicação da BR 101, é assim com as duplicações das BR 470 e 282, a ferrovia ligando o oeste aos portos...

BOLSONARO FAZ DA MESQUINHARIA UMA MARCA DE GOVERNO, por Ranier Bragon, no jornal Folha de S. Paulo

Preconceito contra nordestinos é mais um indicativo de pequenez de espírito

O Maranhão é um estado muito necessitado. É o 11º mais populoso e tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano do país.

Jair Bolsonaro nunca deu um pio que seja no sentido de buscar solução para as mazelas de lá ou de outros lugares, vide a sua concepção sobre a fome no Brasil. Certamente imagina que esse tipo de situação mistura coitadismo com dados fraudados pelos comunistas do IBGE.

Ocupa muito mais a cabeça do presidente a miudeza eleitoral, a ninharia política, a futilidade ideológica.

"Não tem que ter nada pra esse cara", disse em áudio captado momentos antes da conversa com jornalistas estrangeiros, na semana passada.

Ocorre ao presidente que o "nada" que ele decreta para o governador do PC do B, Flávio Dino, afetará também os mais de 7 milhões de moradores do Maranhão, muitos deles eleitores do "mito"? Cada vez mais ele tenta dividir o país entre "o povo" - seus apoiadores - e o resto, que em sua visão não passa de um bando de saudosistas de Lula loucos para infiltrar uma serrinha tico-tico na carceragem de Curitiba.

À mesquinharia político-eleitoreira, Bolsonaro ainda acrescentou preconceito. É comovente ver sabujos espancando a metonímia da prosódia da prosopopeia para sugerir que, ao falar em "governadores de paraíba", Bolsonaro quis, talvez, exaltar o bravo e digno povo paraibano.

Nestes quase sete meses, o presidente já deu indicativos variados de pequenez de espírito. Aos grandes e complexos problemas do Brasil, responde ocupando seu tempo com batatadas sobre pesca, importação de frutas tropicais, filhotismo, nióbio, golden shower, Bruna Surfistinha, as multas da Rio-Santos ou as agruras da classe média em Fernando de Noronha. E dezenas de milhões seguem à deriva enquanto o presidente discute bananas e tilápias.

Agora, com a prometida discriminação aos "governadores de paraíba" - e, consequentemente, à população nordestina -, empresta mais uma acepção à mesquinharia com a qual vem marcando seu governo.
Herculano
23/07/2019 06:37
CELULAR DE PAULO GUEDES FOI CLONADO

Conteúdo de O Antagonista. O telefone celular de Paulo Guedes foi clonado.

A assessoria do ministro informou que, por volta de 22h30, seu número foi usado para entrar numa conta do Telegram.

A assessoria informou também que todas as mensagens com o número de Paulo Guedes devem ser desconsideradas.
Herculano
23/07/2019 06:35
BOLSONARO REPETE TÁTICA DE DILMA E SARNEY


Conteúdo de O Antagonista. A briga de Jair Bolsonaro com o Inpe é mais uma tentativa de controlar os dados sobre o desmatamento no Brasil - prática antiga no governo, escreve Marcelo Leite na Folha.

Em 1988, no governo de José Sarney, houve tentativa de manipulação dos dados: números divulgados pelo então presidente omitiam 92,5 mil km² de área desmatada.
Herculano
23/07/2019 06:28
DISPARIDADE SALARIAL, editorial do jornal Folha de S. Paulo

Gasto com funcionalismo deve ser reduzido gradualmente e sem perda de qualidade

Com salários elevados desde os estágios iniciais das carreiras, estabilidade no emprego e privilégios previdenciários, dificilmente o setor público brasileiro poderia dar maiores incentivos à baixa produtividade de seu quadro de pessoal.

Não surpreende, pois, que o país, longe de apresentar resultados animadores em áreas cruciais como educação, saúde e segurança, assuma custos extraordinariamente altos com seu funcionalismo.

Conforme noticiou esta Folha, o pagamento de servidores ativos nas três esferas de governo, em tendência de expansão, consumiu 13,6% do Produto Interno Bruto no ano passado. Pouquíssimos países do mundo destinam fatia tão ampla de seus recursos a essa finalidade.

Entre as maiores economias do mundo, apenas a África do Sul, com 14,2% do PIB contabilizados em 2016, arca com gastos relativamente maiores. Entre emergentes se costuma desembolsar a metade dessa cifra ou menos.

A despesa nacional com o funcionalismo se aproxima, como se nota, à da Previdência - que inclui, aliás, os benefícios de funcionários públicos inativos e seus pensionistas. Não se pode imaginar um programa de ajuste orçamentário sem contemplar essas duas frentes.

Os gastos com aposentados se expandem em ritmo mais explosivo, o que justifica serem alvo de reforma mais imediata. Racionalizar o dispêndio com pessoal é tarefa ainda mais complexa, que envolve medidas de curto e longo prazos - e uma árdua batalha contra corporações influentes.

Seria menos complicado se as distorções salariais estivessem concentradas, como pode parecer, em algumas poucas categorias com vencimentos próximos do teto de R$ 39,2 mil mensais ou, graças a benefícios diversos, acima dele.

Os dados mostram, no entanto, que os salários médios dos servidores superam os dos demais trabalhadores, com folga, em todos os níveis de qualificação (fundamental, médio e superior).

É necessária, portanto, uma ampla revisão das políticas de remuneração, em âmbito federal, estadual e municipal. Uma providência básica, que já tarda, é reduzir os valores pagos aos recém-contratados, hoje não distantes o suficiente daqueles do topo da carreira.

Tanto quanto possível, devem-se buscar parâmetros na iniciativa privada para vencimentos e reajustes, consideradas funções e qualificações similares.

Cumpre rever o exagerado alcance da estabilidade no emprego, não para promover demissões em massa, uma vez que a quantidade de servidores do país não chega a ser excessiva, mas para facilitar eventuais substituições de profissionais ou correções localizadas.

A redução do custo relativo do funcionalismo deve se dar de modo gradual, à medida que os quadros de pessoal se renovem na União, nos estados e nos municípios. Mais importante, tudo indica que é possível fazê-lo sem comprometer a busca por melhor qualidade dos serviços públicos essenciais.
Miguel José Teixeira
22/07/2019 15:39
Senhores,

Desapega, sô!

Quem foi ao Brasília Capital Moto Week 2019, neste final de semana, jura que viu uma possante motocicleta adaptada com uma réplica da cadeira do SFT no lugar do selim. . .

+ sobre o BCMW2019:

https://www.capitalmotoweek.com.br/programacao-2019/
Má fé ou mal assessorado?
22/07/2019 12:54
O meio ambiente embargou as obras de um estabelecimento, as margens do rio, na Nereu Ramos? Então eles desrespitaram o embargo e inauguraram. Olha só quem tava na inauguração: https://www.facebook.com/1751009021822715/posts/2381626565427621/?substory_index=0

Herculano
22/07/2019 12:35
POR QUE JAIR BOLSONARO FALA TANTO?, por José Henrique Mariante, no jornal Folha de S. Paulo

Arroubos de nacionalismo, grosseria e preconceito fazem barulho

Uma das tantas questões que perseguem o não eleitor de Jair Bolsonaro nos últimos meses é o que pensam neste momento os que o elegeram. De um lado, movido pela raiva de estádio que experimentamos atualmente, está pronto para perguntar se os bolsonaristas já se arrependeram. Por outro, questiona a si mesmo se há vida inteligente no pensamento do presidente ou se ele é apenas outro governante insensato a atazanar sua existência.

A biruta de Bolsonaro atende, claro, aos movimentos que o levaram ao Planalto. Dizer que o país vai falir sem a reforma da Previdência ou que terá mais emprego sem a multa de 40% do FGTS faz parte do adestramento liberal a que se submeteu desde que Paulo Guedes, abandonado por Luciano Huck, caiu em seu colo na corrida eleitoral.

Obedece à mesma lógica a defesa intransigente de uma agenda tão paroquial como variada, reflexo de quem começou pescando voto em qualquer lugar. De armas a licença para matar de policiais, de rosa e azul a transgêneros, de radares a cadeirinha, de pesca oceânica a agrotóxicos.

Bolsonaro fala o que a turma quer ouvir, como qualquer político, mas diariamente vai além. Na ânsia de mostrar que seu governo tem sentido, antecipa medidas a ponto de quase inviabilizá-las, vide o caso do saque do FGTS. Ou promete medidas tão específicas que geram desconfiança, como o filho chapeiro e, portanto, embaixador.

Sinais inequívocos de despreparo para o cargo? Tática diversionista para tirar o foco dos problemas reais? Elaborado comportamento para se manter em polêmica, realimentar a ira da matilha digital e manter aceso seu projeto de poder?

Todas as hipóteses parecem válidas e não impressiona que façam barulho arroubos de nacionalismo, grosseria e preconceito. A resposta a jornalistas estrangeiros sobre a Amazônia e a fala sobre "governadores paraíba" são só os últimos exemplos.

Bolsonaro fala o que pensa. Esse é o problema.
Herculano
22/07/2019 12:33
"HÁ UMA MÁ VONTADE COM O PACOTE ANTICRIME"

Conteúdo de O Antagonista. Capitão Augusto, relator do pacote anticrime no grupo criado para analisar a proposta, afirmou que há uma "má vontade" dos parlamentares com o projeto de Sergio Moro.

Em entrevista a O Estado de S. Paulo, o coordenador da bancada da bala contou sobre a resistência que retarda a tramitação do pacote.

"Parece que é uma espécie de sabotagem. Eles estão protelando. Sabotagem talvez não seja a palavra porque é um termo muito pesado, mas há de fato uma má vontade da comissão em avançar de maneira mais célere a questão. A gente sabe que a questão jurídica é complexa e, aí, você agrega o componente político e jamais vamos conseguir chegar a qualquer tipo de acordo para apresentar esse relatório."

E acrescentou:

"[Depois do grupo de trabalho] É melhor levar direto ao plenário da Câmara. No plenário, o pacote tem ampla maioria. Temos maioria folgada e absoluta. Grande parte dos parlamentares foram eleitos por bandeiras que estão explicitadas no relatório, como o combate à corrupção e a questão de segurança pública."
Herculano
22/07/2019 11:57
O BRASIL LAVA MAIS BRANCO, por Fernando Gabeira, no jornal O Globo

Surge uma convergência entre os Bolsonaro e um ministro ligado ao PT porque os objetivos são comuns

Estou em Cananeia, que foi, ao lado de São Vicente, ali pelos anos 30 do século XVI, uma das primeiras cidades do Brasil. Seu fundador chamava-se Cosme Fernandes, mas era conhecido como Bacharel da Cananeia. Era um degredado, juntou-se com uma índia, tornou-se poderoso, não respeitava a Coroa. Um fora da lei.

Esperando a balsa em Itapitangui, soube que o ministro Toffoli proibiu investigações com dados do Coaf, sem autorização judicial. Pensei: um frêmito de alegria deve estar animando os fora da lei do Brasil. Sobretudo os que fazem lavagem de dinheiro.

Como pedir uma autorização judicial sem os dados do Coaf que a fundamentam? Lembrei-me de um poema de Vinicius: "Filhos, melhor não tê-los/ Mas se não os temos, como sabê-los?"

A propósito, a última semana foi dominada pelos filhos do Capitão. A decisão de Toffoli partiu de um pedido de Flávio Bolsonaro para deter as investigações, que, aliás, se estendem a vários deputados do Rio de Janeiro.

Isso significa, em primeiro lugar, que o caso Queiroz volta para a gaveta; o esqueleto volta para o armário. Mas revela também uma contradição no discurso de Bolsonaro.

Ele se coloca ao lado da Lavo-Jato nas investigações contra o PT, mas, no momento em que elas rondam sua família, o estado de direito precisa ser salvo. Nesse caso, surge uma convergência entre os Bolsonaro e um ministro historicamente ligado ao PT porque os objetivos são comuns.

Essa imagem de esqueleto no armário para mim é importante porque tem uma influência decisiva nos grupos partidários. Ela enfraquece as afinidades políticas e fortalece o sentido de cumplicidade. Partilham-se menos as ideias, mais os segredos.

Espantoso escrever sobre a família do presidente como se ainda estivéssemos numa monarquia. Foi esse também o impacto que me trouxe a notícia de que Eduardo Bolsonaro seria indicado para embaixador nos Estados Unidos.

Alguns entusiastas do progresso afirmam sempre que estamos muitos melhores do que nos tempos remotos da humanidade. É indiscutível. Nesse viés otimista poderia, por exemplo, consolar-me com os romanos que comentavam Calígula e seu cavalo Incitatus, nomeado senador.

Mas se o viés for saudosista, ficaria melancólico ao lembrar que o primeiro embaixador do Brasil nos Estados Unidos foi Joaquim Nabuco, uma das figuras mais importantes de nossa história política.

O pressuposto da indicação agora é a proximidade com Trump. Acontece que uma tarefa dessas implica uma relação também com instituições, forças políticas, grupos empresariais.

Dificilmente numa república seria indicado o filho de um presidente para tal cargo. A tendência republicana é buscar um nome experiente e capaz, dada a importância da tarefa.

Nos Estados Unidos, há uma prática mais comum de indicar embaixadores sem tradição diplomática. De um modo geral, são empresários apontados pelo próprio presidente.

Trump tem utilizado muito esse recurso, que não surgiu com ele. Mas os embaixadores que apontou têm provocado polêmicas em várias partes do mundo: Alemanha, Holanda, Israel, com uma atuação política agressiva e algumas gafes.

Talvez seja inspirado em Trump e também na atuação da filha do presidente americano Ivanka que Bolsonaro pensa em dar esse passo. Ivanka acompanha o pai, sob críticas na imprensa, em alguns encontros internacionais.

Não conheço bastante o Senado de hoje para cravar uma previsão. Sei apenas que será algo difícil manter essa escolha, e ela dará margem a um grande psicodrama político.

A quantidade de memes e piadas mostra que o tema caiu no universo do humor. Dispensa grandes considerações teóricas, pois grande parte das pessoas compreende o que se passa e o expressa de uma forma muito mais criativa.

A tarefa dos senadores será considerar se esta é uma boa escolha e funcionar como um contrapeso ao poder do presidente.

Aqui no extremo meridional paulista, na histórica Cananeia, busco o consolo no passado. Estamos melhor que Roma Antiga nas nomeações e chegamos ao estágio da Suíça. Mas a Suíça do tempo em que era famosa por lavar mais branco.
Herculano
22/07/2019 11:54
REFÚGIO NA GALERA, por Leandro Colon, diretor da sucursal de Brasília no jornal Folha de S. Paulo

Estratégia de Bolsonaro é falar o que quer e correr para as ruas

De surpresa, Jair Bolsonaro apareceu em uma tradicional galeteria em Brasília para almoçar no domingo (21). "O calor do povo não tem preço", disse em rede social.

Pouco antes, o presidente esteve em um culto evangélico e discursou aos presentes. Ele afirmou que não sofre a solidão do poder porque tem lealdade com o povo. No sábado (20), deu uma passada em um encontro de motociclistas no DF. Divulgou as imagens da visita logo em seguida.

Nenhum desses eventos estava previsto na agenda de fim de semana do presidente. Episódios semelhantes, com escapadas sem aviso prévio, ocorreram em sábados e domingos recentes. E a imprensa, logicamente, precisa correr atrás dele.

Assim como também virou rotina o presidente terminar a semana sob artilharia após declarações polêmicas, muitas descabidas, desconexas da realidade e até da verdade.

O que faz Bolsonaro? Tem usado o fim de semana para tentar prevalecer sua narrativa dos fatos da véspera, culpando a imprensa por, segundo ele, deturpar o que dissera.

Ao mesmo tempo, produz e difunde imagens com simpatizantes. Noves meses depois de ser eleito presidente, Bolsonaro mantém a tática de campanha eleitoral pendurada em seguidores fora e dentro das redes.

Parece ser a aposta dele diante de ausência de um apoio fidelizado no Congresso, da escassez de estratégia política e de comunicação no Planalto e da intolerância que não esconde ter a críticas da imprensa.

Há três dias, Bolsonaro surpreendeu até quem já desistiu de se surpreender com ele. Foi uma sexta-feira (19) maluca e sem fim. Declarou que não há fome no país, agrediu governadores do Nordeste e admitiu que criticou um filme (o da Bruna Surfistinha) ao qual não assistiu.

Questionado sobre o fim dos 40% de multa sobre o FGTS, deu resposta confusa. E colocou em xeque dados do governo sobre desmatamento.

Está posta a estratégia do presidente de falar o que quer e correr para a galera. A dúvida é o preço que o país pagará por isso no longo prazo.
Herculano
22/07/2019 11:52
OS IMPULSOS DO PRESIDENTE, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

A esta altura, está mais do que evidente que Jair Bolsonaro não sabe agir com a impessoalidade que há de caracterizar o exercício da Presidência da República.

A esta altura, está mais do que evidente que o presidente Jair Bolsonaro não sabe agir com a impessoalidade que há de caracterizar o exercício da Presidência da República. Em apenas 200 dias de governo, houve exemplos em excesso do peso que os afetos e as hostilidades particulares do presidente têm sobre decisões de Estado, que, a rigor, não deveriam ser pautadas pela emoção.

Em defesa do presidente, diga-se que não transparece deliberada má fé na mixórdia que ele faz entre os assuntos de Estado e o limitado universo de suas paixões. Bolsonaro opera sob o que o historiador Sérgio Buarque de Holanda chamou de "ética de fundo emotivo". Os eventuais reparos feitos a seus atos e decisões como chefe de Estado e de governo são tomados pelo presidente como ofensa pessoal, como mera incapacidade do outro de perceber os bons eflúvios de suas nobres intenções.

Desde que anunciou sua intenção de indicar um filho para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos - o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) -, não houve um só dia em que o presidente não tenha defendido, de alguma forma, o nome do "03" para um dos postos mais críticos de nossa diplomacia. Tivesse o olhar de um estadista, seria mais fácil para o presidente compreender o quão estapafúrdia é a escolha, por qualquer ângulo que se a analise. Porém, Jair Bolsonaro não vê sua escolha com olhos de estadista, mas com olhos de pai. E é como pai que reage às críticas.

Primeiro, a fim de justificar o injustificável, não se sensibilizou com os argumentos contrários à indicação e viu nas próprias críticas a razão para manter firme sua posição. "Se (Eduardo Bolsonaro) está sendo criticado, é sinal de que é a pessoa adequada (para ser o embaixador brasileiro em Washington)", disse o presidente na tribuna da Câmara dos Deputados na segunda-feira passada.

Na quinta-feira, abrindo mão do pudor, Jair Bolsonaro voltou a defender o filho em termos ainda mais claros. "Pretendo beneficiar filho meu, sim. Se eu puder dar um filé mignon para o meu filho, eu dou, mas não tem nada a ver com filé mignon essa história (da embaixada nos Estados Unidos). É aprofundar relacionamento com a maior potência do mundo", disse. Noves fora o pitoresco da declaração, saliente-se que ela revela duplamente o peso dos afetos nas decisões de Jair Bolsonaro. Em especial no que concerne às relações entre países, que devem ser pautadas por interesses, e não por supostas relações de amizade, como a que Bolsonaro supõe haver entre sua família e a do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Dos mais relevantes temas para o País, como a indicação de um embaixador, às troças com autoridades, tudo parece ser tratado pelo presidente da República fora da dimensão da impessoalidade do cargo. Não se quer dizer com isso que o comportamento de Bolsonaro deva ser marcado pela frieza e pela sisudez. Roga-se apenas que ao tratar de assuntos de Estado o presidente faça um esforço para contrabalançar suas emoções com o interesse nacional. Ora coincidem, ora não. De Jair Bolsonaro, dado o cargo que ocupa, é esperado discernimento.

Nada parece escapar do crivo afetivo do presidente. Jair Bolsonaro é capaz de atacar ao mesmo tempo tanto prosaicas mudanças no funcionamento de aplicativos como o Instagram como o conteúdo dos filmes produzidos com recursos da Ancine. No primeiro caso, é tema do qual o presidente nem sequer deveria se ocupar. No segundo, sim, mas por razões de outra natureza, objetiva. Afinal, trata-se do emprego de recursos públicos, e não de seu gosto por esta ou aquela produção.

A preponderância dos afetos sobre a razão obnubila a visão que o presidente deve ter do papel das instituições.

Há cerca de três meses, Jair Bolsonaro afirmou que "não nasceu para ser presidente". Se não nasceu para o cargo, é verdade que optou por exercê-lo. E foi vitorioso no intento. É justo que os brasileiros, então, esperem que a investidura na Presidência sirva de aprendizado diário, caso Jair Bolsonaro tenha a humildade de tomar as críticas pelo que elas são ?" críticas objetivas, e não ofensas à sua honra, à sua dignidade.
Herculano
22/07/2019 11:50
da série: avisados estão

"OU O DEPUTADO FISCALIZA A SUA EMENDA OU SERÁ CÚMPLICE"

Conteúdo de O Antagonista. Na semana passada, como registramos (veja aqui), o deputado José Nelto,líder do Podemos na Câmara, ocupou a tribuna para denunciar, sem citar nomes, que o dinheiro de emendas é geralmente desviado por agentes públicos. "Os caras vão roubar", disse.

O deputado Coronel Tadeu, do PSL de São Paulo, reagiu assim em mensagem envaida a O Antagonista:

"Ou o deputado fiscaliza a sua emenda ou será cúmplice ou coautor desse desvio."
Herculano
22/07/2019 11:46
É FÁCIL E SIMPLES, MAS OS RADICAIS NÃO CONSEGUEM ESSA COMPREENSÃO

De Alexandre Frota, deputado Federal pelo PSL de São Paulo, na conta do twitter dele:

'O Jair fala demais'.E não me importo se os Twitteiros gostam ou não da minha opinião. Basta me bloquear .Ou deixar de me seguir .Não vivo de redes sociais .Fica só quem realmente gosta e sabe que estou certo nas críticas.
Herculano
22/07/2019 11:43
MAIS UMA VEZ, PETISTAS MENTEM, por Diego Amorim, em O Antagonista.

Mais uma vez, petistas mentem para tentar reforçar a narrativa do partido.

Desde ontem, a turma está alvoroçada nas redes sociais com imagens de gente gritando "Lula Livre" dentro de uma igreja católica.

O senador Humberto Costa escreveu no seu Twitter: "Pense numa missa linda". E colocou um coraçãozinho junto ao vídeo.

Hoje, o bispo de Garanhuns, em Pernambuco, onde a filmagem foi feita, teve de divulgar uma nota oficial esclarecendo os fatos.

Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa informa que, desde 1991, a Igreja Matriz de Santo Antônio serve como palco para apresentações de música instrumental durante o Festival de Inverno de Garanhuns. A manifestação petista, portanto, não ocorreu durante uma cerimônia religiosa, mas durante uma apresentação musical.

"Causam-me espanto e surpresa que alguns cristãos sejam capazes de distorcer os fatos e espalhar calúnias", escreveu o bispo. "Não temos condições de controlar as possíveis manifestações do público, sejam de aplauso, repúdio ou de outro tipo. O pároco da catedral não teve nenhuma participação nos fatos. Nesse momento, a igreja estava entregue à Secretaria de Cultura de Pernambuco", acrescentou.
Herculano
22/07/2019 11:38
da série: esticaram tanto a corda, que não há argumento, razão e principalmente dinheiro para sustentar - mesmo a curto prazo - os privilégios criados pelos políticos para si e os funcionários públicos de todos os poderes, incluindo a Justiça, Ministério Pública e as polícias,, enquanto os pagadores de pesados impostos estão na miséria e obrigados a sustentar esse circo. Os cidadãos sem estabilidade só concorrem com sacrifícios, desempregos, desilusão...

LEGISLATIVO JÁ DEBATE O FIM DA ESTABILIDADE, editorial do jornal O Globo

É preciso cumprir a Constituição, que impõe parâmetros de produtividade e qualidade ao funcionalismo

É imprescindível a modernização administrativa do Estado na sequência da reforma da Previdência. Governo, Câmara e Senado se mobilizam na preparação de projetos, aparentemente convergentes, sobre reestruturação de cargos, redução do número de funções de confiança, adoção de critérios de mérito nas carreiras e, também, revisão da estabilidade no emprego público.

Na semana passada, a Comissão de Assuntos Sociais remeteu ao plenário do Senado, para decisão urgente, um projeto de lei complementar instituindo a avaliação periódica e obrigatória de desempenho para os servidores nos três Poderes.

Depois de três décadas, pretende-se regulamentar um artigo (nº 41) da Constituição. Ele estabelece como condição obrigatória a avaliação de mérito no desempenho de servidores, para admissão ou demissão.

Pelas projeções oficiais, no ano que vem o país deverá somar quase 12 milhões de funcionários nas administrações federal, estadual e municipal - essa conta não inclui os empregados de empresas públicas e autarquias. Hoje são 6,7 milhões nas prefeituras, 3,7 milhões nos governos estaduais e 1,2 milhão na União.

A expansão do emprego público nas últimas três décadas foi mais acentuada nos municípios, por efeito da concentração de serviços de educação e saúde nas prefeituras, áreas que absorvem 40% da folha salarial. No conjunto, o setor público remunera seus empregados em média 50% acima do setor privado. Não há, porém, qualquer garantia de contrapartida ao contribuinte em padrão mínimo de qualidade e eficiência nos serviços (caros) que são prestados.

A maioria dos estados e municípios está em virtual falência, com excesso de pessoal ativo em áreas intermediárias da burocracia. Os gastos com pessoal extrapolam todos os limites legais e consomem recursos que deveriam ser destinados às atividades essenciais, como saúde, educação e segurança. O lobby das corporações do funcionalismo, no entanto, construiu uma muralha jurídica que impede demissões até por inoperância no setor público.

Assim, servidores concursados, com estabilidade garantida após três anos, só perdem o cargo mediante infindável processo administrativo ou por sentença judicial transitada em julgado. A Constituição prevê ainda outra possibilidade, a da avaliação de mérito, mas até hoje isso ão foi regulamentado.

A premissa corporativa de que é inequívoca a alta qualificação do serviço público simplesmente não corresponde aos fatos. Não há aferição e reconhecimento de mérito na carreira, por isso não se distingue o funcionário de desempenho sofrível, que custa em dobro ao contribuinte.

É preciso cumprir a Constituição, que impõe parâmetros de produtividade e qualidade ao funcionalismo. O Senado abriu o debate e deveria avançar, celeremente, em outros aspectos dessa modernização, fundamental ao Estado brasileiro.
Herculano
22/07/2019 11:33
PRIVILEGIADOS, UNI-VOS!, por Denis Lerrer Rosenfield, no jornal O Estado de S. Paulo

A esquerda abandonou os trabalhadores por uma suposta fidelidade partidária e doutrinária

A votação da reforma da Previdência terminou, no campo da esquerda, por provocar desalinhamentos entre os seus membros, com deputados se demarcando da posição de seus respectivos partidos, sobretudo no PSB e no PDT, com PT, PSOL e PCdoB mantendo a fidelidade de seus parlamentares. Os primeiros mostraram uma salutar desavença interna, os últimos mantiveram-se firmes em suas origens leninistas, em suas várias vertentes.

Contudo, para além do problema partidário de ordem conjuntural, com ameaças de punições e expulsões, lideradas por chefões partidários fazendo o seu teatrinho, existe uma questão de monta, concernente ao que significa ser de esquerda. Ou seja, qual é o tipo de esquerda que se alinha com os privilegiados de funções públicas e abandona os que não usufruem os mesmos privilégios? Será que a mensagem da esquerda brasileira ?" e para além dela ?" é uma mensagem particularista, corporativa?

A mensagem da esquerda, em sua vertente marxista, era efetivamente universal. Estava voltada para a emancipação da classe trabalhadora, naquele então denominada proletária, e, por intermédio dela, da humanidade. A defesa dos proletários se faria por sua libertação das amarras do capitalismo, instituindo um tipo de sociedade cuja característica central seria a igualdade em todos os níveis, sem nenhum tipo de particularismo, nem de interesse particular.

Para o presente propósito, não cabe a discussão sobre a exequibilidade ou não dessa proposta, mas tão somente ressaltar sua universalidade, sem a qual ela se torna claramente ininteligível. A contraposição principal se estabelecia em relação aos burgueses, que deveriam ser eliminados ou, em sua versão mais branda, tornados iguais. Não se tratava, na posição marxista, de defender os interesses corporativos de funcionários públicos em detrimento dos outros trabalhadores.

Em linguagem corrente: não tem cabimento político, nem moral, que os trabalhadores comuns, com ganhos pequenos, financiem o regime dos funcionários públicos, mediante aposentadorias precoces, integralidade de seus vencimentos e paridade, entre outros benefícios. Seria a própria mensagem da esquerda que estaria sendo traída, em proveito de um punhado de privilegiados, que se arvoram, hipocritamente, em defensores dos "direitos sociais", como se fossem os direitos de todos os trabalhadores.

Os deputados rebeldes têm, dentre outros méritos, o de terem resgatado uma mensagem de cunho universal, abandonando o corporativismo e o particularismo de seus respectivos partidos. Os que não se rebelaram ficaram atados à usurpação ideológica. Pensaram eles na sociedade como um todo, não no caráter restritivo da conjuntura partidária. Partido, em sua definição, defende uma parte, porém devendo integrá-la ao interesse coletivo, sem o qual cai nas armadilhas do corporativismo e do fisiologismo.

A pauta previdenciária é uma pauta da sociedade e do Estado, não apenas dos partidos políticos. Não se trata de ser a favor ou contra o governo, mas de ser ou não a favor da coletividade, do bem maior. O cálculo meramente partidário é particular, restrito às suas lideranças e a seus interesses. Não tem nenhuma dimensão social.

Do ponto de vista da esquerda em geral, a mensagem dos rebeldes foi de renovação, de sacudida das carcaças partidárias. Pensaram no todo, e não na parte; no coletivo, e não no particular. Apesar das incompreensões de seu gesto, estão proclamando por um reposicionamento da esquerda e de seus respectivos programas.

Democracias contemporâneas dependem de uma esquerda moderna e plural. Dependem de uma esquerda que pense os desafios do mundo atual, acompanhando as enormes mudanças políticas, econômicas, sociais, culturais, tecnológicas e científicas das últimas décadas, que transformaram a face da humanidade. Pense-se no conceito marxista e positivista de proletário, para melhor aquilatarmos a grande transformação. Perdeu seu significado, quanto mais não seja, porque o mundo mudou.

O que tinha a esquerda a propor na reforma da Previdência? Além do não dogmático, voltado para a defesa dos privilegiados e de suas corporações, tinha algo a dizer? Não poderia ter apresentado uma proposta mais universal do que aquela que, após laboriosas negociações, foi finalmente aprovada em primeira votação? Não teria sido o momento de a esquerda dizer não aos privilegiados e sim aos trabalhadores em geral?

Em vez disso, optou por abandonar os trabalhadores, refugiando-se numa suposta fidelidade partidária e doutrinária. Ora, é precisamente essa doutrina que está em questão. Ela não responde ao espírito do tempo, funciona como óculos às avessas, que só vêm para dentro, retirando-se do exterior.

O PT continua firme em suas posições esquerdizantes, à sua origem leninista, apesar de seu namoro com a social-democracia no primeiro governo Lula. O PCdoB e o PSOL seguem na mesma linha dogmática. O PSB tem também um programa partidário de cunho marxistizante, cuja leitura remete a uma peça de ficção política, própria de outro tempo. O PDT, originário do antigo PTB, por sua vez, é fruto de outra concepção, oriunda do trabalhismo inglês e, nesse sentido, já não segue a orientação leninista, algo próprio, então, dos comunistas ingleses. Historicamente, correspondem ambos os partidos a uma primeira versão da social-democracia no País, embora tampouco tenham seguido o caminho da modernização. Haveria aí uma proximidade com os tucanos, com a atual social-democracia brasileira, por terem fontes comuns.

Os debates da reforma da Previdência, extremamente pobres na perspectiva das esquerdas, mostraram os impasses de uma modernização necessária, mas claudicante e já atrasada. O seu dilema poderia ser assim traduzido: O "proletários de todo o mundo, uni-vos!" tornou-se "privilegiados, uni-vos!". Triste destino!
Herculano
22/07/2019 11:31
da série: uma boa reflexão neste ambiente intoxicado, onde uma torcedora colorada com uma faixa antifascista, é flagrada em pleno exercício do fascismo contra torcedora gremista.

BLOG INICIA UM RECESSO BRANCO PARA CONTACTAR BASES, por Josias de Souza, no Uol

O blog [do Josias] entrará em recesso por duas semanas. Recesso branco, como o dos parlamentares. A exemplo do Congresso, o blog permanecerá aberto, mas sairei em férias informais, para visitar as bases. Busco resposta para uma dúvida existencial: sou membro da "mídia golpista" ou um rematado "comunista"?

Agora é Jair Bolsonaro quem acusa a imprensa de perseguição. Para o capitão, os repórteres "morrem de saudades do Lula". Por isso, "distorcem" suas declarações, tratando-o com evidente "má-fé". As palavras do presidente alimentam os escorpiões interiores dos seus seguidores.

Os apologistas mais venenosos de Bolsonaro percorrem a internet à procura de encrenca. As ferroadas me chegam por todas as caixas de entrada - nos comentários do blog, no e-mail, no WhatsApp, no Facebook, no Twitter. Mandam-me para Cuba, para a Venezuela. Ou pior: "Vai à..."

Sempre imaginei que eu fosse apenas um jornalista. Mas dizem que sou outras coisas. O sufixo é o mesmo: "ista". O que muda é a serventia. Nos últimos anos, o petismo chamava-me de "golpista". Agora, o bolsonarismo tacha-me de "comunista". Daí a dúvida existencial.

Petistas e bolsonaristas brigam também entre si. A disputa ganha um quê de briga de pátio de colégio. A tribo do capitão diz que o PT roubou no mensalão e no petrolão. A turma do "Lula Livre" aponta para Flávio Bolsonaro. E pergunta: "Cadê o Queiroz?" Guardadas as proporções, é como se os fatos dessem razão aos dois lados.

Enquanto os fanáticos se odeiam em praça pública - ou nas redes sociais, que muitos acreditam ser a mesma coisa - cabe à imprensa cumprir o papel de imprensar, expondo a hipocrisia generalizada. Para isso, não é preciso odiar ninguém. Basta amar o país.

A desintoxicação do recesso branco servirá para potencializar a conexão do repórter com o interesse público. Quanto aos adoradores dos defeitos alheios, espera-se que abram os olhos. Sob pena de acabarem arrancando as próprias carótidas, chupando o próprio sangue, como vampiros de si mesmos.
Herculano
22/07/2019 11:24
FUNDAÇõES PARTIDÁRIAS TERÃO R$200 MILHõES EM 2020, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

As fundações mantidas por partidos políticos, que quase ninguém sabe quais são e o que fazem, terão direito a mais de R$ 200 milhões de dinheiro público para gastarem como bem entenderem e sem prestar contas ao contribuinte. O montante é oriundo do Fundo Partidário. Só este ano serão pagos R$ 927 milhões às agremiações, que são obrigadas por lei a transferir pelo menos 20% disso para as fundações.

AS CONHECIDAS

Perseu Abramo (PT), Teotônio Vilela (PSDB) e Ulysses Guimarães (MDB) são fundações mais conhecidas e quem mais faturou até hoje.

NOVO RICO

O Instituto de Inovação e Governança (Indigo), do PSL, é novo rico. Até 2018 recebia poucos milhares e agora terá ao menos R$74 milhões.

OBRIGATóRIO

Todo partido político registrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral deve manter uma instituição. Sem fiscalização, viram cabides de emprego.

MEU FUNDO MINHA VIDA

Somado ao fundo eleitoral de R$3,7 bilhões, incluído pelo relator Cacá Leão na LDO, partidos custarão mais que o Minha Casa Minha Vida.

RECESSO SEM VOTAR LDO É OFENSA À CONSTITUIÇÃO

Quando tomam posse, parlamentares juram cumprir a Constituição, mas rotineiramente ignoraram a obrigação de votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O "recesso branco" é uma manobra criada pelos deputados e senadores, que concordam não aparecer para o trabalho apesar de o § 2º do Art. 57 da Constituição ser explícito: a sessão legislativa "não será interrompida sem a aprovação" do projeto da LDO.

594 PARLAMENTARES

Se for aprovada pela Comissão Mista, a LDO ainda precisa ser votada pelo Plenário do Congresso; sessão conjunta da Câmara e Senado.

FÉRIAS PARA POUCOS

Apesar da folga das autoridades, servidores são obrigados a bater ponto e trabalhar durante as duas semanas de férias informais.

CUSTO POR SEMANA

O custo estimado do Congresso Nacional é de R$ 10,8 bilhões por ano. Duas semanas "valem" R$ 450 milhões ao contribuinte.

PARTIDOS BILIONÁRIOS

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não foi aprovada, mas o relator, Cacá Leão (PP-BA), incluiu "super fundo eleitoral" para 2020. Somado ao fundo partidário, garantirá quase R$5 bilhões para partidos.

ORÇAMENTO MUTANTE

A LDO recebeu um total de 1.045 emendas, 633 das quase receberam voto pela aprovação ou aprovação parcial. Foram 63 emendas de bancada estadual, 72 de comissão e 498 emendas individuais.

SERVIDORES VISADOS

A Diretoria-Geral da Câmara confirmou que só os parlamentares estão em "recesso branco". Servidores foram avisados que "não haverá a suspensão das atividades da Casa" e quem faltar terá corte no salário.

TORMENTO

Sempre que Onyx Lorenzoni (Casa Civil) cita "retorno de Bolsonaro ao DEM" ameaça uma crise com partidos governistas, sobretudo o PSL. É como o adulto que atormenta crianças exibindo filmes de terror.

TENDÊNCIA DE ESQUERDA?

O PSOL expulsou em 2015 o deputado Cabo Daciolo (RJ), que ganhou fama na eleição 2018 pelo bordão "Glória a Deus", porque ele defendia uma PEC para incluir "todo poder emana de Deus" na Constituição.

SEM ALTERNATIVA

Inúmeros parlamentares de oposição se disseram "a favor de proposta para a Previdência" e contra a reforma do atual governo. Mas nem sequer um oposicionista apresentou alternativa à PEC do governo.

REDES COMPARADAS: FACEBOOK

Na maior rede social do planeta, Lula tem 3,9 milhões de seguidores, Dilma outros 3 milhões e Haddad, 1,8 milhão. Os filhos de Bolsonaro têm, somados, 4,3 milhões. Menos da metade dos 9,6 milhões do pai.

É PRECISO AGIR

Após identificar falhas no Processo Judicial Eletrônico que criam mais burocracia e dificultam acesso à justiça sem acelerar a tramitação, o Tribunal de Contas deu prazo de 180 dias para o Conselho Nacional de Justiça apresentar um plano de ações para resolver esses problemas.

PENSANDO BEM...

...depois de hackers, agora até supostos terroristas desconhecidos viraram fontes jornalísticas.
Herculano
22/07/2019 11:23
LIBERDADE PELA METADE É HIPOCRISIA POR INTEIRO, editorial do site Gazeta do Povo, Curitiba PR

Em 12 de julho, o jornalista Glenn Greenwald era um dos convidados da Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei), parte da programação paralela à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), um dos principais eventos do gênero no Brasil. Mas, no horário marcado para o início de sua palestra, manifestantes tentaram impedi-lo de falar. Para isso, usaram um carro de som, lasers e rojões, que incendiaram uma árvore. Só a intervenção da polícia conseguiu garantir que Greenwald falasse. O site que o jornalista comanda, o The Intercept Brasil, vem publicando supostos diálogos atribuídos ao então juiz federal Sergio Moro, hoje ministro da Justiça; ao procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal; e a outros membros da força-tarefa da Operação Lava Jato.

Poucos dias depois, a Feira do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, cancelou a participação da jornalista Miriam Leitão e seu marido, o sociólogo Sérgio Abranches, no evento, previsto para agosto. A decisão ocorreu em reação a um abaixo-assinado on-line em que, referindo-se à jornalista, crítica do governo de Jair Bolsonaro, os signatários afirmam que, "por seu [de Miriam] viés ideológico e posicionamento, a população jaraguaense repudia sua presença, requerendo, assim, que a mesma não se faça presente em evento tão importante em nossa cidade". Além do abaixo-assinado, a organização do evento recebeu até mesmo ameaças de agressão física contra o casal.

Um grande teste para as convicções democráticas de cada um de nós é justamente a defesa dos direitos daqueles que discordam das nossas posições

Esse tipo de intimidação, vinda de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, merece todo o repúdio, sendo típica de aprendizes de ditadores que não suportam o pluralismo de ideias, marca de qualquer sociedade democrática saudável. Especificamente no caso de Greenwald, é preciso ressaltar que, ainda que os supostos diálogos tenham sido obtidos de forma flagrantemente ilegal, e ainda que haja dúvidas fundadas sobre a própria autenticidade do material, sua divulgação continua a ser um direito do Intercept, sempre que se trate de assunto de interesse público. Se já não há crime na publicação dos supostos diálogos por Greenwald, menos ainda há no caso de Miriam Leitão. Que a liberdade de expressão de ambos seja atacada desta forma é uma vergonha para o país, que a muito custo recuperou este direito após anos de censura e autoritarismo.

Mas, dito isto, também é preciso relembrar que, em muitos casos, especialmente na esquerda, a indignação contra o tratamento dado a Greenwald e Miriam tem um quê de seletivo. Afinal, esse tipo de agressão não tem nada de novo. Em fevereiro de 2013, a blogueira cubana Yoani Sánchez foi hostilizada por manifestantes de esquerda no Nordeste, também levando ao cancelamento de um evento do qual ela participaria. Em outubro daquele mesmo ano, na Festa Literária Internacional de Cachoeira (BA), a ação de militantes conseguiu suspender uma mesa-redonda da qual participavam o filósofo Luiz Felipe Pondé e o sociólogo Demétrio Magnoli, forçando, ainda, o cancelamento de outro debate dentro do mesmo evento. Em junho de 2017, a mesma Miriam Leitão que hoje é alvo de bolsonaristas foi agredida verbalmente antes, durante e depois de um voo de Brasília ao Rio de Janeiro, por petistas que retornavam do congresso nacional do partido, realizado na capital nacional. Em outubro do mesmo ano, a exibição de um documentário sobre o filósofo Olavo de Carvalho na Universidade Federal de Pernambuco terminou em pancadaria promovida por militantes de esquerda - meses antes, cineastas tentaram (mas não conseguiram) inviabilizar um festival de cinema, retirando seus filmes do evento em protesto contra a inclusão deste mesmo documentário.

Não há a menor diferença entre estes casos de 2013 e 2017 e os episódios de dias atrás. São todos manifestações de ódio à liberdade de expressão, tentativas de calar quem pensa de forma diferente. Mas haverá quem silencie sobre uns e critique outros. Pior ainda: haverá quem repudie uns enquanto aplaude e justifica outros - no caso da cubana Yoani, por exemplo, o editor de um site de esquerda chegou ao cúmulo de afirmar que, como não houve violência física propriamente dita, o protesto seria legítimo.

Defender a liberdade de expressão apenas para quem concorda conosco não é democracia, mas hipocrisia. Não é possível repudiar os ataques contra Yoani, Magnoli, Pondé, O Jardim das Aflições e a agressão petista contra Miriam Leitão, e ao mesmo tempo defender ou aceitar que se impeça Greenwald e a mesma Miriam de falar - e vice-versa. Excetuados os casos óbvios, como a apologia ao crime ou a promoção de ideias que violam claramente a dignidade humana, caso do racismo, o livre fluxo de ideias é uma conquista civilizatória que precisamos preservar com todo o esforço; e um grande teste para as convicções democráticas de cada um de nós, independentemente de posição político-partidária, é justamente a defesa dos direitos daqueles que discordam das nossas posições.
Herculano
22/07/2019 11:18
CANALHAS SEM ÉTICA, por Luiz Felipe Pondé, ensaísta, filósofo e professor no jornal Folha de S. Paulo

A privacidade é um manto que protege o vício da própria degeneração

Homens adoram ver duas gatas em ação. Muita gente já tentou explicar a razão disso. Muitas mulheres falam horrores quando esse assunto vem à baila. Usam aquelas palavras que, como "energia", você usa quando não sabe o que mais dizer, tipo "machismo", "sexismo". Mas, devemos reconhecer, a favor da palavra "energia", que ela não carrega a energia ruim de "machismo" e "sexismo".

Talvez a razão óbvia para que os homens gostem de ver duas gatas em ação seja o fato de que ali são duas gatas em ação. Simples assim. De qualquer forma, esse é um dos mistérios que os homens levarão para o túmulo, intocado pelo ressentimento de muitos.

Outro é: afinal, por que mesmo homens inteligentes se encantam primeiro pelo corpo da mulher e depois pela sua alma? Mais xingamentos. Mas nada muda: eis outro mistério que os homens levarão para seu túmulo. Intocado. Outro: por que mesmo homens experientes não conseguem resistir a um sorriso de uma jovem linda? Mais um segredo que os homens levarão para o túmulo. Intocado.

A verdade é que enquanto as mulheres erotizam o intelecto masculino, os homens erotizam as pernas cruzadas das mulheres dentro de uma saia curta.

Mas mesmo os canalhas devem ter ética. Já dizia o grande Nelson Rodrigues, "um dia teremos saudade do canalha honesto", aquele que confessa: quando elogio o intelecto de uma mulher, tenho, antes de tudo, as pernas cruzadas dela devorando o meu intelecto.

Há, também, o canalha deselegante. E a elegância desaparecerá antes dos golfinhos na escala ambiental. Vou contar uma cena a que assisti num hotel numa importante capital do país.

Café da manhã tipo 6h30. Um hotel de gente que vai à cidade trabalhar, logo, acorda cedo. Mesas ocupadas com pessoas diferentes, mulheres e homens. Eis que duas meninas, de uns 20 anos, acompanhadas pelo "investidor", adentram o ambiente. Elas, claramente bêbadas, vestidas com vestidos muito acima dos joelhos, se acariciando. Ele, abraçando as duas, "se achando".

Pecado capital. Toda virtude é tímida, mesmo aquela que faz de você capaz de comer duas mulheres ao mesmo tempo num hotel caro. Aí reside o núcleo da deselegância.

Mas há um outro fenômeno relacionado a essa deselegância. O ressentimento masculino para com a emancipação feminina vem se somar aos históricos ressentimentos que toda relação afetiva e sexual carrega desde o alto paleolítico.

Adentrar o café da manhã do hotel deixando claro que pagara e (supostamente) comera as duas gatas, com tantas mulheres ali, é um ato de profunda grosseria.

A verdade é que muitos homens esqueceram como tratar uma mulher, "mesmo" que ela seja uma médica, uma advogada, uma juíza, uma executiva. O sutil fato que a emancipação feminina não elimina o imperativo de que uma mulher deve ser tratada com elegância e cuidado escapa às almas mais grosseiras e ressentidas entre os homens. Suspeito que essa perda de percepção seja uma das catástrofes afetivas do mundo contemporâneo.

Duas gatas em ação é um sonho de consumo de qualquer homem mortal (dos deuses também). Não era isso que se via naquela cena. O desejo ali parecia falso.

Não se trata de uma condenação moral da prostituição -profissão que só cresce em demanda com o desgaste das relações entre homem e mulher -, mas, sim, como a leveza sensual de uma mulher que bebeu "um pouco demais" pode se transformar num espetáculo macabro, antes de tudo por ter perdido a proteção da privacidade. O vínculo entre vício e privacidade é como um manto que protege o vício da própria degeneração. Mesmo no vício há uma ética.

Qualquer pessoa com um mínimo de experiência, e não corroída pelas mentiras corretas de uma época idiota como a nossa, sabe que a distância entre o vício e a virtude, principalmente numa mulher, depende do número de taças de vinho que ela bebeu. Mas essa máxima, até para o Marquês de Sade, pertence à alcova (quarto secreto da vida sexual das mulheres durante séculos). Sade escreveu um famoso libelo a favor dos vícios de alcova chamado "Filosofia da Alcova", em que ele descreve a iniciação da jovem Eugénie na vida libertina.

Se um dia a graça das deusas pousar sobre você e você ficar com duas gatas ao mesmo tempo, não as exponha a essa humilhação, nem as mulheres que estejam no recinto. No final das contas, o modo como um homem trata uma mulher em qualquer que seja a situação fala muito mais do seu caráter do que as ideias que ele vomita por aí.

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