Por Herculano Domício - Jornal Cruzeiro do Vale

Por Herculano Domício

30/10/2016

OBSERVAÇÃO NECESSÁRIA
Esta coluna nas notas com os títulos “Blumenau e Gaspar”, já estava concluída desde o dia 22 de outubro, como anunciei em coluna anterior. Não sofreu ajustes. E por que trato de Blumenau? Primeiro porque que o resultado de domingo lá, terá influência aqui. Segundo, é preciso compreender melhor o jogo regional e das mudanças dos partidos daqui para frente e com vista a 2018. E o PSDB passa a ter uma importância elevada nesse jogo a partir de quatro polos: Criciúma, Joinville, Jaraguá do Sul e principalmente Blumenau

BLUMENAU E GASPAR I
A reeleição de Napoleão Bernardes, PSDB, em Blumenau, foi de altíssimo risco. E desde o início. Primeiro quando ele ganhou em 2012, foi um azarão. Sinceramente? Isso era público e notório: nem ele, nem o PSDB de lá, e quiçá do estado, estavam preparados para a vitória. Sem estrutura, sem experiência, com um partido desarrumado, sem maioria na Câmara e nas mãos de gente esperta, a começar pelo seu vice, Jovino Cardozo, penou dois anos para colocar a casa minimamente sob o seu controle e ordem. Terceiro, herdou um governo bem avaliado, o de João Paulo Kleinubing, ex-DEM e neo PSD, herdeiro do conservador PFL, e que pode estar voltando para o DEM.

BLUMENAU E GASPAR II
Quarto. Napoleão governou sob a crise econômica severa proporcionada pelo desastre nacional armado pelo PT, PMDB, PP, PSD, PDT, PCdoB e outros, desastre que inviabilizou os recursos para as obras. Somou-se o governo do estado – um dos mais fracos dos últimos anos - e que abandonou a região. E por último: com a cidade deformada e esburacada pela rede de esgotos (saiu-se dos vergonhosos 4% para quase 40% em seis anos – Gaspar é zero, mas tem gente ganhando como aqui se coletasse e tratasse esgotos) ou a falta de manutenção mínima necessária das ruas diante da crise, Napoleão foi ousado.

BLUMENAU GASPAR III
Arriscou-se perigosamente todas as fichas, em cima do laço e próximo às eleições, na intervenção do transporte coletivo. E num comentário lateral que fiz aqui à época, afirmei que ali estava lançada a sorte dele para o bem e o mal. Não fez o que queria como o de ter licitado os novos permissionários antes das eleições. Salvou-se pela adaptação da população ao serviço precário da Piracicabana e por nesse período não haver aquelas absurdas greves sem aviso e respeito ao mínimo. Sofreu durante a campanha. Contudo, os adversários, conservadores, foram infantis. Comeram a isca. Entre se ter um serviço precário e não tê-lo, onerando ainda mais quem já tem pouco ou nem emprego possui, o eleitor preferiu o precário. Mais uma lição aos sindicalistas, aos jornalistas pais da matéria, aos esquerdistas padrastos dos fracos, que que para prevalecer a tese do caos, eles impingem mais sofrimento onde o sacrifício e a angústia já são extremos.

BLUMENAU E GASPAR IV
Então se Napoleão deve agradecer a todos os santos e exaltar à sua boa sorte companheira, deve louvar contraditoriamente à conjuntura nacional adversa criada pelo PT, PMDB, PP, PSD, PDT, PCdoB e outros. Eles ficaram expostos como incompetentes, ladrões, corruptos e perderam o discurso de éticos, capazes e transformadores, ou a nova alternativa para a sociedade. A escolha era: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Mais, Napoleão foi ajudado pela campanha errática do seu adversário do segundo turno, o deputado Jean Jackson Kuhlmann, além do apoio das entidades empresariais que teve quer esconder. Já a imprensa que perdeu toda a identidade com a cidade, ficou mais órfã. Então, Napoleão se safou outra vez. A imprensa que nas redações é aparelhada por um suposto progressismo, não tinha como preferir Kuhlmann, como faria se Valmor Schiochet, PT, Arnaldo Zimmermann, PCdoB, ou Ivan Naatz, PDT, tivessem um deles, passado para o segundo turno. Foi divertido ler reportagens, comentários, perguntas, entrevistas e opiniões do segundo turno. Um contorcionismo danado.

BLUMENAU E GASPAR V
Pior. Kuhlmann não aprendeu a lição e foi capaz de repetir literalmente o erro de 2012 quando perdeu para o próprio Napoleão. Viu problemas em tudo. Fez um misto de campanha do PT – onde tudo estava errado e o certo é inviável a olho nú, ainda mais numa época de crise financeira, de cofres públicos à míngua. A agressividade gratuita ou infundada pode se constatar pesquisando-se o mural da Justiça Eleitoral nas sucessivas demandas que Kuhlmann perdeu. Ou então com bobagens demagógicas e irresponsáveis como as que o candidato de Gaspar, Marcelo de Souza Brick, PSD, - seu protegido - fez aqui para enganar gente precisada de creche. Tudo da mesma fonte. Sem carisma, sem proposta, sem inovação, sem passado gerencial – a não ser no desastre de Ilhota, com o seu apadrinhado Daniel Christian Bosi – Kuhlmann não empolgou. E para piorar, Raimundo Colombo, o prefeito de Lages, que apareceu na última hora por aqui fazendo teatrinho -, mais uma vez foi o melhor cabo eleitoral na vitória de Napoleão. Com práticas velhas, Kuhlmann já está carimbado por duas eleições de vereador e três de deputado estadual. E agora, com duas derrotas seguidas para prefeito.

BLUMENAU E GASPAR VI
A eleição de Napoleão Bernardes – que necessariamente não é um conservador se olharmos para o pai Acácio Bernardes, o tio João e a irmã Célia Regina - em Blumenau é um alerta ao PT que há quatro eleições é derrotado lá. É um aviso a família Lima (Décio Neri, Ana Paula e Jeferson Forest), amigos íntimos de Luiz Inácio Lula da Silva, e à sua sanha intimidatória. Ela já não encontra mais lastro no ambiente de redes sociais ativas. É um aviso ao próprio Jean Kuhlmann que tudo precisa ser revisado no ranço, discurso, prática e vingança que carrega. Melhor: é um aviso ao próprio PSDB que nasceu como um apêndice amorfo do PMDB todo poderoso do gasparense Renato de Melo Vianna. O então representativo PMDB de Blumenau, originário do MDB de Jaison Tupy Barreto e Evelásio Vieira, tornou-se um cristal trincado. E por que? Porque de partido passou a ser um ajuntamento familiar, não se renovou, viveu de tetas e agora é um zé ninguém na região.

BLUMENAU E GASPAR VII
A eleição de Napoleão vai fazer muita coisa vai mudar no mundo político e dos políticos não apenas em Blumenau, mas na região e até mesmo no estado. E começa aqui em Gaspar pelo próprio sonho de Marcelo de Souza Brick que não terá ocupação. Ele “queria” ser candidato a deputado estadual. Vive criando expectativas na sua rede social. Primeiro vai ter que arrumar uma boquinha. Segundo, vai ter que repensar a sua vida e até ir para o PSB de Giovânio se quiser se lançar a esta aventura. No PSD, está congestionado. Kuhlmann tem a preferência à reeleição –se não se arriscar a Federal e perder. E Ismael dos Santos, PSD, o desaparecido, vai ser a outra opção para a ala evangélica do próprio PMDB de Kleber Edson Wan Dall. Ruim, heim! Sobrou Andreia Symone Zimmermann Nagel, PSDB. Com ela, o partido respirou como nunca antes em Gaspar. Deixou de ser um apêndice mendigo do pior do PMDB daqui. E desde que perdeu, ela não parou. Estava em campanha cerrada por Napoleão. Muito mais do que gente tucana daqui que mama na prefeitura de lá há anos. Acorda, Gaspar!

A MINHA NOTA DAS 7.03 DESTE DOMINGO
O vencedor terá quase 60 por cento do votos válidos e responderá à imprensa de Blumenau incapaz de produzir e pagar as suas pesquisas eleitorais para os leitores. Responderá também às viúvas do PT, PCdoB, PDT, PSOL e todos os outros movimentos denominados de progressistas que acham que possuem votos depois na chance que tiveram para reafirmarem as suas ideias e políticas, mas que na prática, por incompetência ou maldade, preferiram quebrar e roubar o Brasil, enganando analfabetos, ignorantes e desinformados.

E QUAL FOI O RESULTADO?
O vencedor em Blumenau teve 57,56% dos votos válidos contra 42,44% dados ao perdedor. A campanha da esquerda pelo voto nulo ou em branco também não pegou. No primeiro turno foram 9.266 votos em branco, contra 5.534 neste domingo. Já nos nulos também houve uma queda: 19.199 contra 16.608. Já a abstenção aumentou: 26.723 contra 20.823, em dois de outubro.Outra, sabe-se agora para quem foram os quase 36 mil votos dados aos progressistas PT, PCdoB e PDT. Napoleão Bernardes teve 104.535 (81.050 no primeiro turno) e Jean Kuhlmann 77.073 (63.411). O PT que teve 8.911 votos com Valmor Schiochet, pediu para transferir os votos para Jean. Se transferiu os segredos das urnas não permitem auscultar esses votos, mas presume-se. E o que acontecerá com Jean? Talvez a reeleição a deputado, talvez o Tribunal de Contas como prêmio e aposentadoria para permitir a renovação do partido por aqui.

SINAL AMARELO
O PSD teve duas derrotas diretas importantes em Santa Catarina neste segundo turno: Blumenau ( deputado Jean Jackson Kuhlmann) e Joinville (deputado Darci de Matos). A outra derrota, foi indireta em Florianópolis na quase vitória surpresa de Ângela Amim, PP. O resultado do primeiro turno e principalmente do segundo nos maiores colégios eleitorais, é o melhor recado para o governador Raimundo Colombo de que as coisas vão muito mal na sua administração e partido, e só ele não quer vê-las. É um mau presságio para presidente da Assembleia, Gelson Merísio, que está vestido de candidato para governador em 2018. Já o PMDB que ganhou em Joinville, território politico do ex-governador e já falecido Luiz Henrique da Silveira e do atual presidente do partido, o deputado Federal Mauro Mariani, sabe que esta vitória não é propriamente partidária, mas de um empresário que vestiu há quatro anos a camisa do partido para salvá-lo de um naufrágio por lá.

TRAPICHE
A decadente imprensa de Blumenau. Sem ser poucas rádios, portais e blogs, quem conhece os donos das emissoras de tevês e jornais de lá? Alguns profissionais empregados, de tão alienígenas, até se guiam pelo GPS para chegarem lá ao local de trabalho.

O Jornal de Santa Catarina, o que já foi estadual e referência, ou a TV da RBS que já foi a pioneira TV Coligadas, vergonhosamente, não foram capazes de pagar e sustentar editorialmente uma pesquisa de intenções de votos nestas eleições. Abandonaram os seus leitores e telespectadores, literalmente.

A TV Ric Record, cujos donos curitibanos estão enraizados em Florianópolis, no primeiro turno até mostrou uma pesquisa. Distante do resultado nas urnas, talvez tenha recolhido o saco para não pagar pela segunda vez o mico do risco. Afinal, um seu empregado apresentador – Alexandre José - era candidato e um interessado direto numa pesquisa favorável.

A decadência e vergonha está na medida em que o jornal Cruzeiro do Vale (com duas) e o seu concorrente, o Metas (com uma) – teoricamente numa comunidade de menor importância - patrocinaram tais pesquisas em Gaspar, com institutos críveis e os resultados ficaram dentro da margem de erro. São comprometimentos com os clientes leitores e as premissas do jornalismo.

Há riscos em se patrocinar e se publicar tais pesquisas? Há. Mas, no jornalismo adulto é impossível admitir que se façam reportagens como as feitas por lá, em que se pergunte para os seus próprios leitores para onde irão os votos dos progressistas que votaram no primeiro turno em Valmor Schiochet, PT, Arnaldo Zimmermann, PCdoB, e Ivan Naatz, PDT.

O leitor, quando compra e lê um jornal, está exatamente atrás dessa resposta. Qualquer coisa diferente é assumir a decadência e chamar os leitores que pagam pelo produto que consomem, de tolos.

Afinal para onde foram os votos dos progressistas de Blumenau, incluindo os dos próprios jornalistas de lá? Só uma pesquisa de intenção de votos poderia dar essas pistas e alimentar uma reportagem estruturada e opiniões dos professores de jornalismo sobre o mesmo assunto.

Nos dois comitês eleitorais todos sabiam como se movimentava essa massa de órfãos. Na verdade, órfãos ficaram os leitores e os telespectadores devido o jornalismo sem dados. Mais de 45 anos de história jogados fora. Estão comemorando o que mesmo?

Para que existe a Fesporte se ela não consegue sequer promover os Jogos Abertos de Santa Catarina ainda mais quando a emergência se apresenta? Realça-se o cabide de emprego? Aliás os JASCs precisam ser reinventados. São os mesmos do sonho amador (e importante como ideia) de Artur Schlosser, na Brusque da década de 1960.

Quem me lê, sabe que sempre fui contra religiosos de todos os tipos serem políticos, bem como radialista, comunicador, jornalista, artista e analfabetos. O rosário de argumentações é longo e até pode incluir gente que lida com a intermediação de serviços públicos.

Em Blumenau, Alexandre José, comunicador da Rádio Guararema e apresentador do Jornal do Meio Dia, resolveu se inscrever num partido, o PRB (de pastores) e dar o nome para ser vice de lá com Jean Jackson Kuhlmann, num jogo cheio de emoções pré-eleitorais. Então cabem três perguntas diante do resultado deste domingo e do que foi o primeiro turno.

Radialista e comunicador que passa a impressão de pai dos pobres, mesmo com audiência comprovada, tem votos? Radialista que critica governos e políticos no labor diário e na eleição se torna candidato aliado dos criticados perde a credibilidade (eleitoral e profissional)? Radialista vice é uma maneira de ajudar ou arrumar uma desculpa antecipada para o desastre da falta de votos?

Pois é. O PMDB de Gaspar não toma jeito. Seguiu em caravana neste final de semana para apoiar a eleição em Joinville, onde o partido estava em dificuldades na reeleição de Udo Döhler. Uma orientação religiosa.

Na vizinha Blumenau, onde o PMDB se associou ao PSDB, diante da proximidade física, deixou tudo ao Deus dará. Não quis participar da vitória? Ou achou que esta era uma maneira para se aproximar do presidente Mauro Mariani, a que estava muito distante?

Quem terá influência no governo de Kleber Edson Wan Dall, PMDB, acreditem, é o vereador Jovino Cardoso, PSD, mas de Blumenau.

Em Blumenau, desde que criado esse sistema todos os prefeitos conseguiram a reeleição em segundo turno: Décio Neri de Lima, PT; João Paulo Kleinubing, PSD, e Napoleão Bernardes, PSDB.

A coluna já estava pronta desde as 18h30min, aguardando edição, que não estava prevista para este domingo. Na terça-feira, não haverá coluna inédita.

Comentários

Miguel José Teixeira
03/11/2016 13:23
Senhores,

Manchete do CV: "Fóssil de barata que viveu antes dos dinossauros é achado em Santa Catarina"
Huuummm. . .se alguém aí lembrou-se de certa "Cidadã Honorária Gasparense", é pura maldade.
Sidnei Luis Reinert
03/11/2016 12:35
STF tende a poupar Renan, enquanto Temer libera Jucá e estuda como neutralizar delação de Cunha


Edição do Alerta Total ?" www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Não foi apenas com o chamamento de Lula e Michel Temer como testemunhas de defesa que os advogados de Eduardo Cunha aumentaram o terror da classe política. O mercado também tremeu com o pedido dos defensores para que uma das mais poderosas transnacionais do planeta se pronuncie. Cunha deseja que a Shell forneça cópia do procedimento de contratação de poços de petróleo no Benin, no Oeste da África. O objetivo é provar que o contrato investigado nos autos do processo foi celebrado conforme regras de mercado ?" e não por propina de US$ 15, milhão paga a Cunha em conta na Suíça, segundo acusação do Ministério Público Federal.

O juiz Sérgio Fernando Moro terá de avaliar a pertinência da convocação de Lula, Temer, Henrique Eduardo Alves, Delcídio do Amaral, Nestor Cerveró e mais 17 pessoas escaladas como "testemunhas de defesa" de Cunha. Se a intimação for deferida pelo magistrado, todos ficam obrigados a sentar na 13ª Vara Federal em Curitiba, já que o artigo 206 do Código de Processo Penal define que a testemunha não poderá se eximir da obrigação de depor. No entanto, todos podem se salvar do embaraço, alegando o artigo 477 do Código de Processo Civil. A regra impede que sejam testemunhas em ações judiciais "o inimigo da parte ou seu amigo íntimo, bem como quem tiver interesse no litígio"...

Enquanto Eduardo Cunha, preso em Curitiba, fica costeando o alambrado para detonar uma temida "delação premiada", quem corre para salvação, nos bastidores judiciais, é o presidente do Congresso Nacional. No Supremo Tribunal Federal, é gigantesca a pressão para que Renan Calheiros acabe poupado da decisão que pode ser tomada hoje, ou providencialmente adiada, sobre o impedimento para que réus em ações judiciais possam permanecer em cargos na linha sucessória do Presidente da República. Em maio, Eduardo Cunha foi tirado da presidência da Câmara por este motivo. Renan responde a 12 inquéritos no STF, porém nenhuma delas ainda é ação criminal ?" o que pode servir de brecha para sua salvação. O mítico Palhasso do Planalto não quer gracinha com Renan...

Além da salvação de Renan no STF, vazou uma outra costura para blindar Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral. Pelo menos três ministros já sinalizaram que podem aceitar a tese de separação das contas de campanha de Dilma Rousseff e Michel Temer. A presidenta impichada seria novamente condenada, enquanto seu sucessor teria a contabilidade eleitoral perdoada. Por enquanto, o TSE sinaliza que fará de tudo para não cassar o mandato de um Presidente da República. A defesa de Temer alega que "nenhum dos fatos articulados teriam sido praticados diretamente por Michel Temer".

Querendo distância de tal polêmica, Michel Temer parte para super articulações. Apelidado de "líder de todos os governos" desde a Era FHC, passando por Lula, Dilma, o senador Romero Jucá se prepara para assumir o posto de líder do governo Michel Temer. Mesmo respondendo a sete inquéritos no STF, sendo dois na Lava Jato, o economista Jucá, que também preside o PMDB, é considerado o homem chave para coordenar a complicada relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. A longeva liderança de Jucá é apenas uma prova de que o PMDB manda em tudo que acontece nos rumos do País ?" com muito mais poder que o falecido PT.

Resumindo: Renan é tão ou mais poderoso que o Jucá...E a esclerosada Nova República do PMDB segue em frente, depois do enterro do PT... Quem sabe uma megadelação de Cunha possa nos salvar?
Miguel José Teixeira
03/11/2016 10:25
Senhores,

Depois que o chefe da maior quadrilha que já existiu no Brasil, parafraseou Platão: "a desgraça de quem não gosta de política é ser governado por quem gosta, a minoria, a elite", sou obrigado a parafrasear o Romário: "Lula calado é um filósofo"!
Herculano
03/11/2016 07:48
LULA NÃO VOTA, MAS JULGA O VOTOS DOS OUTROS, por Roberto Dias, para o jornal Folha de S.Paulo

"O povo brasileiro ainda não está em condições de votar por falta de prática, por falta de educação e porque se vota em geral mais por amizade com os candidatos." Dita por Pelé nos anos 70, a frase marcou época. Numa ditadura que engatinhava para as urnas, discutir a "qualidade" do voto não parecia a prosa mais inteligente. A sentença também marcou o autor, ao sugerir que, sem chuteira, ele tinha pouco a somar, ideia eternizada por Romário: "O Pelé calado é um poeta".

Longe dos gramados de Brasília, Lula falou à vontade na terça (1º), na Universidade Federal de São Carlos (SP), dois dias após a eleição que desidratou o PT. Envolto por plateia reverenciosa e por uma lógica de "nós contra a elite" que sufoca a matemática, concluiu que as pessoas que discordam dele, bloco ora majoritário, "não aceitam que prefeituras progressistas governem este país". Criticou sobretudo os moradores de SP, epicentro de sua derrota: "Aqui o problema é o conservadorismo".

Julgar o voto alheio deveria figurar em qualquer lista das coisas mais ridículas que existem. É um ato até tautológico. O lado derrotado vai de pronto achar absurdo o voto do vencedor. Quem ganha sempre vai ter motivos para elogiar os eleitores ?"até mesmo incorrendo no cômico, como no caso de Rafael Greca, que atribuiu sua vitória "à inteligência do povo de Curitiba" e que agora lidará com 400 mil pessoas que, na sua ótica, não são tão espertos assim.

Muito diferente é criticar uma ideia ou um candidato. Nesse ponto os argumentos de Lula melhoram: "Ao invés de negar a política, a gente tem que fazer política. Porque a desgraça de quem não gosta de política é ser governado por quem gosta. E quem gosta é sempre a elite." Os EUA, onde o voto não é obrigatório, corroboram essa tese, como descreveu o professor Marcus André Melo, da Universidade Federal de Pernambuco: lá, o comparecimento às urnas dos 10% mais ricos dos americanos é quase o dobro do dos 10% mais pobres.

Só que reside nesse front outro tipo de problema no discurso do petista. Lula é o brasileiro que mais votos recebeu na história. Foram 280 milhões em sete disputas eleitorais. Essa mesma pessoa achou que não deveria dar o seu voto na eleição de sua cidade, São Bernardo ?"e dois dias depois defendeu a importância de fazer política. Em outros tempos, as contradições da prosa de Lula até soariam divertidas. Nos atuais, ele se arrisca a parecer tão poeta quanto Pelé.
Herculano
03/11/2016 07:43
CUNHA PODE PAGAR INDENIZAÇÃO DE R$220 MILHÕES, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Eduardo Cunha está sujeito a mais de um século e meio de prisão, caso seja condenado nos crimes dos quais é acusado no âmbito da Lava Jato. O tempo de cana tem limite baseado nos crimes pelos quais é acusado (corrupção, lavagem de dinheiro etc), mas a indenização que terá de pagar ao Erário não tem limite; é baseada no que a Justiça determinar que foi "subtraído". A estimativa chega a R$ 220 milhões.

160 ANOS DE CANA
Somadas todas as penas privativas de liberdade dos crimes pelos quais responde, Cunha pode passar mais de 160 anos preso.

MULTA LIMITADA
Penas de multa de alguns crimes, como o de corrupção passiva, tem limite definido em lei: 1/30 do salário mínimo vigente por "dia-multa".

RÉU PRIMÁRIO
Eduardo Cunha terá direito a progressão (redução) de pena após o cumprimento de um sexto da pena total ao qual for condenado.

JÁ PERDEU
A pedido do MP, Sérgio Moro determinou o congelamento de R$ 220.677.515,24 de Cunha "oriundos de improbidade administrativa".

PRESIDÊNCIA PODE TORRAR R$1,6 MILHÃO COM PAPEL
Desde o afastamento da ex-presidente cassada Dilma Rousseff, em 12 de maio, a Secretaria de Governo da Presidência da República realizou 16 atas de registro de preços estimando gastos de R$1,64 milhão com etiquetas, adesivos, bloquinhos, papel A4, crachás, cartões de visita etc. Apenas com resmas de papel, o gasto previsto é de R$ 214 mil, mas o favorito do Planalto é o papel sulfite: R$ 367 mil em um contrato.

MEMORIA FRACA
O gasto com bloquinhos, R$90 mil, ilustra bem o desinteresse do Planalto com os meios eletrônicos, para economizar de papel.

PORTUGUÊS COMPLICADO
Após o retorno das mesóclises aos discursos presidenciais, o gasto com revisões ortográficas e diagramações foi estimado em R$45,5 mil.

INOVAÇÃO
A Presidência incluiu confecção de cartões de visita, cartilhas e livretos com inscrição em braile para deficientes visuais. Custo: R$ 216,8 mil.

NOMES AOS BOIS
Invasões de escolas não são "protestos de alunos", mas de entidades aparelhadas pelo PCdoB há décadas, tipo UNE e Ubes, omissas no petrolão. E ativas contra o impeachment e contra o governo Temer.

TOMOU PARTIDO?
Às vésperas da escolha da vaga da Câmara no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o corregedor do MP, Claudio Portela do Rego, demitiu uma das mais antigas colaboradoras, Ana Luisa Jorge Marcondes, assessora-chefe do CNMP, supostamente para atender ao Planalto.

ELOGIOS AO PRESIDENTE DO TST
A corajosa declaração do ministro Ives Gandra Martins, presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ganhou muitos elogios. Ele admitiu que há "desbalanceamento" das decisões do TST contra os empregadores.

PRIMEIRA CONVERSA
Houve uma conversa informal, há dois meses, sobre eventual delação de Eduardo Cunha, entre Fernanda Tórtima, discreta advogada, com procuradores. Mas Cunha rejeitou o princípio de cumprir ao menos 15 anos de prisão. Isso tudo foi antes de ele ser levado para Curitiba.

FANTASIA VS. NOTÍCIA
Expert em acordos de delação, Marlus Arns não foi contratado após a prisão de Eduardo Cunha. Ele já era advogado correspondente da defesa de Cunha em Curitiba, para acompanhar o caso Cláudia Cruz.

VOLTA AO TRABALHO
O primeiro-secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), está confiante na retomada de votação da pauta econômica do governo. "Todo mundo aguardava o fim do segundo turno", explica.

AÇÕES DE INTIMIDAÇÃO
Setembro de 2016 foi o mês com o maior número de ações judiciais de políticos contra jornalistas: 337. Cresceu 44% em relação a setembro de 2014, o recorde anterior. Os dados são da Abraji, a associação de jornalismo investigativo.

PROCESSADO EM LIBERDADE
Parou na Justiça o processo contra Sílvio Porto, ex-diretor da Conab do governo Dilma preso em 2013 na Operação Agro-Fantasmas. É acusado de desvios no Fome Zero, estelionato, quadrilha, peculato etc.

PERGUNTA NA LAVA JATO
Se há uma "polícia" legislativa, por que ela não investigou as denúncias de corrupção contra a cúpula do Senado?
Herculano
03/11/2016 07:36
APOSENTADOS COM REGRAS GENEROSAS, GEDEL E PADILHA SILENCIAM, por Rainer Bragon, para o jornal Folha de S. Paulo

O mês de novembro deve nos brindar com mais um exemplo dos usos e costumes que fazem a imagem dos políticos se assemelhar, esteticamente, ao popular pão que o Diabo amassou com o rabo.

Michel Temer prepara uma reforma da Previdência que exigirá mais tempo de serviço e mais contribuição dos brasileiros. Na linha de frente da defesa da proposta estarão o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o responsável pela articulação com o Congresso, Geddel Vieira Lima.

Além de serem colegas de Esplanada, os dois têm outro ponto em comum: se aposentaram por meio de um generosíssimo programa que, somado aos contracheques de ministros, lhes rendem supersalários de mais de R$ 50 mil todo mês.
Coisa de quase R$ 20 mil acima do maltratado teto do funcionalismo.

Padilha e Geddel são beneficiários do extinto Instituto de Previdência dos Congressistas e se amparam em um controverso entendimento do Tribunal de Contas da União, para o qual o IPC, apesar de ter tido todo seu rombo milionário absorvido pelos cofres públicos, era uma entidade de previdência privada.

O TCU é majoritariamente formado por ex-congressistas e tem também dois ministros com supersalários, José Múcio e Augusto Nardes.

A situação de Padilha e Geddel foi noticiada em outubro pelo jornal "O Estado de S. Paulo". A Folha informou depois que o PSOL questionaria no STF o valor acima do teto.

Nos dois casos as palavras escaparam aos falastrões Padilha e Geddel. O primeiro se limitou a dizer ao "Estado" que tinha 70 anos de idade. À Folha saiu-se com um "nada a declarar sobre o tema". Geddel quedou-se mudo nas duas ocasiões.

A Folha perguntou ainda se eles se sentiam constrangidos ao terem uma situação pessoal gritantemente diversa da reforma que defendem. Nem um pio. Como nas clássicas transcrições policiais, nada mais foi dito nem nada mais lhes foi perguntado. Um silêncio assaz eloquente.
Herculano
02/11/2016 09:52
ONDA FURADA, por Dora Kramer, para o jornal O Estado de S. Paulo

Fala-se de 'virada' à direita como se algum dia o Brasil tivesse sido de esquerda

Concluídas as eleições, inicia-se a fase das conclusões. No geral, apressadas quando se trata de fazer projeções. A mais difundida no momento é a que põe nas mãos do governador Geraldo Alckmin a legenda do PSDB para concorrer à Presidência da República em 2018, como consequência da vitória em primeiro turno de João Doria para a Prefeitura de São Paulo, da conquista de importantes cidades no Estado e da derrota do candidato do senador Aécio Neves à prefeitura de Belo Horizonte.

Nesses casos de A + B=C, somam-se bananas com laranjas e trata-se a política como se fosse ciência exata ou como algo que funcione no piloto automático. No meio, entre um acontecimento e outros há os fatos, há as circunstâncias e há gente, espécie humana, categoria instável, sujeita aos efeitos da chuva e das trovoadas.

Experiente no tema, Alckmin tratou anteontem de declarar algo que certamente não pensa: que, no momento, a disputa de 2018 não está na agenda dele nem do PSDB. É claro que está, mas é daquelas coisas que o político precavido não assume. Entre outros motivos para não se queimar e ver se consegue atravessar a distância entre uma eleição e outra com chance de sucesso na tarefa de ultrapassar obstáculos.

São inúmeros. Na seara tucana há dois com nomes e sobrenomes: José Serra e Aécio Neves. Sem contar os respectivos aliados internos e externos. O primeiro é chanceler e um interlocutor privilegiado no PMDB. Importantíssimo para a eventualidade da conquista desse apoio caso o partido de Michel Temer não concorra ou não chegue ao segundo turno em 2018. O segundo é senador e presidente do PSDB; tem a máquina, portanto. Ambos contam com visibilidade garantida, além de não terem seus destinos ligados ao êxito ou fracasso de alguém, como Alckmin precisa de que João Doria corresponda às expectativas do maior eleitorado do País.

Além disso, a própria história de eleições fornece milhões de exemplos de desconexão entre resultados bons e maus. Dois deles: em 2008, Geraldo Alckmin não chegou ao segundo turno na eleição municipal em São Paulo, disputada entre Marta Suplicy e Gilberto Kassab, o vitorioso; em 2014, Aécio Neves teve menos votos que Dilma Rousseff em Minas Gerais, seu reduto principal, mas por pouco não ganhou dela na final pela Presidência.

Vamos a outro caso de conclusão apressada que, aliás, dá título a este texto: a tal da onda conservadora que supostamente varre o País. Por causa da derrota ampla, geral e irrestrita do PT? Pela eleição de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro? Pela vitória de Doria?

Ora, o fiasco do PT não tem nada a ver com ideologia. Tem a ver com corrupção e desatino na administração da economia. Ademais, quem disse que os petistas detém o monopólio do pensamento de esquerda? Governou com e para a direita atrasada, tratou os mais pobres como consumidores ?" algo típico do coronelato arcaico dos grotões. Além disso, seu líder máximo quando sindicalista declarava não ser de esquerda. Lula vestiu essa roupagem quando precisou dela para construir um partido.

Doria venceu em São Paulo por ter sabido encarnar com eficiência o antipetismo. Crivella ganhou no Rio em boa medida pela autossuficiência do prefeito Eduardo Paes que insistiu em apoiar um candidato eleitoralmente inviável. De onde o segundo turno entre o bispo aposentado e um candidato visto como representante de uma esquerda amalucada. Marcelo Freixo, convenhamos, não chega perto de ser um Fernando Gabeira, que, aliás, perdeu de pouco para Paes em 2008 quando, pela régua dos arautos da onda conservadora, o Brasil era de esquerda.

Em momento algum o País teve a prevalência da corrente de esquerda. Não nos esqueçamos: Lula só ganhou a eleição quando adaptou seu discurso ao centro e fez uma Carta aos Brasileiros jurando fidelidade à política econômica qualificada pejorativa e equivocadamente como neoliberal
Herculano
02/11/2016 09:50
AGORA, ÀS CLARAS, por Merval Pereira, para o jornal O Globo

Com a confirmação do relator da comissão especial de combate à corrupção, deputado Onyx Lorenzoni, de que propostas contra a prática de caixa 2 "com dinheiro lícito" estão previstas no relatório que será lido para aprovação na semana que vem, está aberta nova etapa na tentativa de estabelecer uma linha divisória para a punição de parlamentares e ex-parlamentares que foram financiados de modo ilegal nos últimos anos.

Os políticos resolveram assumir abertamente a tese de que é preciso criminalizar o caixa 2, sem darem ênfase, porém, aos efeitos da nova lei, que é anistia ampla e suprapartidária. Eles não estão preocupados com os já presos na Lava-Jato, mas com os que podem vir a ser presos depois das delações da Odebrecht e outras empresas envolvendo doações aos políticos. Do mesmo modo, as empresas também têm interesse nessa definição legal.

A tal ponto que o deputado Lúcio Vieira Lima, irmão do ministro Geddel Vieira Lima, disse que, se a comissão especial de combate à corrupção não enfrentar o assunto, a comissão que trata da reforma eleitoral tratará dele. A postura é muito diferente da de meses atrás, quando tentaram aprovar na surdina, com voto de liderança, um projeto de lei com o mesmo objetivo.

Denunciada a manobra aqui na coluna, acabaram desistindo dela naquele momento. Agora, estão dispostos até mesmo a aceitar uma votação nominal, como pretende requerer o deputado Miro Teixeira, alegando que cada um terá de assumir sua responsabilidade nessa decisão.

Há na Justiça Eleitoral disputa de entendimentos sobre se o caixa 2 é crime ou só infração eleitoral. No artigo 350 do Código Eleitoral, está dito que é crime "omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais". Muitos juízes interpretam esse texto como a definição do crime do caixa 2, mas outros consideram que não está tipificado aí o crime.

Se o Congresso aprovar um projeto de lei sobre o assunto, o Tribunal Superior Eleitoral vai ter que se definir sobre a questão, eé o que os parlamentares querem, pois, a partir da nova lei, a punição não poderá retroceder, com base no artigo 1º do Código Penal, segundo o qual "não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal".

A base do projeto é a medida 8 de combate à corrupção apresentada pelo MP de Curitiba sob o título "Responsabilização dos partidos e criminalização do caixa 2". A proposta do MP é a modificação da lei 9.096/95, que fixa as normas para funcionamento dos partidos, "para prever a responsabilização objetiva dos partidos políticos em relação à sua contabilidade paralela (caixa 2),e à prática de ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal, de fontes de recursos vedadas pela legislação eleitoral ou que não tenham sido contabilizados na forma exigida pela legislação".

Também responderá o partido que utilizar, para fins eleitorais, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal, de fontes de recursos vedadas pela legislação eleitoral ou que não tenham sido contabilizados na forma exigida pela legislação. A pena é de multa.

A medida é importante, ressaltam os procuradores, porque, até então, apenas os dirigentes (pessoas físicas) respondiam por eventuais crimes cometidos em benefício do partido. No mesmo sentido, propõem a criminalização do caixa 2, inclusive para as pessoas físicas diretamente envolvidas na movimentação e utilização desses recursos, parlamentares e corruptores. A pena é de reclusão de 4 a 5 anos.

Os parlamentares querem especificar na nova lei o que é caixa 2 para financiamento de campanha, separando do que seja propina, para fins pessoais ou do partido. O difícil será separar a doação de caixa 2 supostamente feita com dinheiro lícito daquela que utiliza dinheiro originário de ações ilegais. Continuará havendo a possibilidade de o parlamentar ser denunciado por lavagem de dinheiro ou corrupção passiva, abrindo uma grande discussão na Justiça.

No mensalão, Ayres Britto já deu uma clareada na situação ao dizer que não há caixa 2 com dinheiro público, mas, sim, peculato. Também Cármen Lúcia se pronunciou naquele julgamento afirmando que caixa 2 é crime, em qualquer circunstância.
Herculano
02/11/2016 09:48
AS ILUSÕES DAS ELEIÇÕES, por José Nêumanne, no jornal O Estado de S. Paulo

Na era cibernética, até o castigo 'avoa' nos ares para o PT de Lula e o chefão tucano Aécio

O principal derrotado nas eleições municipais de outubro de 2016 foi o Partido dos Trabalhadores (PT). E com ele afundaram nas urnas seus sucedâneos e tradicionais aliados de esquerda: de Rede, PSOL e PCdoB a nanicos revolucionários ?" os de centro-esquerda e os mais extremados.

Isso quer dizer que a centro-direita venceu a disputa, levando em conta estatísticas avassaladoras do gênero: 80% das prefeituras do País foram conquistadas por legendas, das gigantes às mínimas, todas componentes da base de apoio do governo-tampão de Michel Temer? Ou, ainda, o maior partido da oposição nos desgovernos petistas de Lula e Dilma, o PSDB, ganhou 863, ou seja, 25% dos pleitos, um recorde histórico? Nada disso!

Acreditar em tal lorota ?" ou na análise oportunista e apressada do advogado, empresário e político Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil do governo federal, de que os eleitores derrotaram nas urnas a hipótese estapafúrdia do "impeachment sem crime é golpe" ?" é dar alguma razão a quem ainda insiste nessa total tolice.

Quem rotula PSDB e PMDB de centro-direita acredita em contos de fadas e bruxas nos quais Lula, insubstituível líder do PT, é esquerdista. Os tucanos, atarantados sócios da maior legenda que se opôs aos 13 anos, 4 meses e 12 dias sob o ex-sindicalista e a ex-guerrilheira, são farinha do mesmo saco de que se nutriu o partido que foi comandado por Ulysses Guimarães. Foram produzidos na luta gloriosa contra a ditadura militar e civil, esta, sim, de direita, que promoveu o milagre econômico e a repressão brutal dos anos 60 a 80. Mas foram separados na feira em que se puseram à venda nas vicissitudes da democracia que sucedeu ao arbítrio.

Ao contrário do que reza a doutrina esquizofrênica da esquerda, dominante nas escolas e nos palanques, o autoritarismo não ruiu aos pés dos "heróis" da guerra suja, mas da prática democrática da sociedade e dos parlamentos liderados pela oposição civil, mesmo sob dura ameaça permanente.

O longo processo que depôs a quarta gestão federal petista nunca foi contaminado em um segundo que fosse pelo vício da ilegitimidade. A teoria do "gópi" ?" apud senadora Fátima Bezerra (PT-RN) ?" nunca sequer foi levada em conta pelo cidadão comum na hora de votar em seu prefeito. O engano de Padilha nem precisa ser negado por pesquisas de opinião que constatam índices massacrantes de impopularidade de seu chefe no Palácio de Planalto. Pois esta é percebida, por qualquer brasileiro de posse das faculdades mentais, em casa, no trabalho e nas ruas. Mas, como ficou rouca de insistir Dilma, impopularidade não tira legitimidade de presidente nenhum. E a maioria que a sufragou nele votou, ora bolas!

Das profundezas de sua tumba o Conselheiro Acácio, criado por Eça de Queiroz, mandou avisar que os vencedores das eleições municipais, a salvo de todas as ilusões, foram os candidatos que tiveram mais votos. Em São Paulo, João Doria precisou muito de Geraldo Alckmin para afastar Andrea Matarazzo da legenda tucana, exilando com ele os figurões Fernando Henrique, José Serra e Alberto Goldman. Mas o governador paulista não contribuiu com os votos necessários para a vitória nas urnas.

A eleição folgada em segundo turno do ex-bispo (isso existe?) da Igreja Universal Marcelo Crivella, no Rio, não representa uma adesão em massa da maioria católica dos cariocas às barbas do pretenso profeta Edir Macedo. Os mapas eleitorais da cidade que já foi maravilhosa desvendam um triunfo obtido na periferia miserável sobre os bairros dos abonados que, isolados, elegeriam Marcelo Freixo. Na verdade, este foi derrotado porque sua tolerância com traficantes e vândalos mascarados fere mais a suscetibilidade do pobre, que não pode sair da favela onde nasceu, do que a segurança do rico, apto a comprar a própria paz com uma parte ínfima da mais-valia a que tem acesso.

Segurança é uma senha evidente para definir o voto majoritário de outubro, mas não é a única. Nem a principal. O sinal disso foi dado pela transformação do agressivo cinturão vermelho que cingia a Grande São Paulo por um diáfano diadema azul. Nunca antes na História deste país, no ABC, berço do sindicalismo autêntico, do PT e do carisma de Lula, bandeiras rubras foram enroladas nas festas de vitórias municipais. A região teve a terrível oportunidade de testemunhar que o poder nas mãos dos sindicalistas e os cofres públicos escancarados pela renúncia fiscal às montadoras não poderiam resultar em nada diferente do desemprego em massa, que esvaziou as despensas dos lares operários. A fuga das estrelas encarnadas das ruas do ABC paulista é o melhor símbolo da consciência do eleitorado de ter sido vitimado pela corrupção, pela inépcia e pelo aparelhamento petista da máquina pública, que resultaram na crise econômica, na quebradeira das empresas e na tragédia do desemprego galopante.

Foi necessário o holerite desaparecer em todos os municípios para os brasileiros notarem quanto os empobrece o enriquecimento dos políticos, cujo furto fica mais cruel quando se acompanha do desencanto com o lorotário ideológico.

Por incrível que pareça, a pré-racionalidade do eleitorado (apud Mauro Guimarães) também cobrou duramente do maior adversário de Lula e principalmente Dilma, o tucano mineiro Aécio Neves, que perdeu a eleição em Belo Horizonte para um cartola de futebol que disse que "roba" (sic), mas não pega propina. Neto de Tancredo Neves, que avisava sabiamente que ninguém se elege presidente se não for capaz de unir o próprio berço, Aécio trouxe agora à tona a mentira de que em 2014 teria sido derrotado no Nordeste, mas foi vencido mesmo em Minas Gerais.

Agora disputará a indicação do partido com Geraldo Alckmin, que elegeu um prefeito em cada quatro cidades paulistas, sendo uma delas a maior de todas. Nesta era cibernética até o castigo "avoa" nos ares.
Herculano
02/11/2016 09:46
PRINCIPAL MANCHETE DE CAPA DO JORNAL FOLHA DE S. PAULO NO DIA DOS MORTOS. MARCELO ODEBRECHT FICARÁ PRESO ATÉ FIM DE 2017, PREVÊ ACORDO COM A LAVA JATO

Texto de Marina Dias e Gabriel Mascarenhas, da sucursal de Brasília. Os advogados da empreiteira Odebrecht e o Ministério Público Federal fecharam um acordo para que o herdeiro da construtora, Marcelo Odebrecht, permaneça preso em regime fechado até dezembro de 2017.

Segundo a Folha apurou, na negociação de delação premiada, os procuradores envolvidos na Operação Lava Jato e os representantes do empreiteiro acertaram que a pena total será de dez anos, sendo dois anos e meio em regime fechado.

Marcelo está preso desde junho do ano passado no Paraná sob suspeita de envolvimento no esquema de desvios da Petrobras. Esse período de um ano e quatro meses será descontado da pena total, de acordo com pessoas ligadas às negociações.

A partir de dezembro de 2017, portanto, o empresário entraria em progressão de regime, cumprindo pena no semiaberto e aberto, inclusive o domiciliar.

No começo de outubro, a Folha revelou que as autoridades da Lava Jato apresentaram proposta para que ele cumprisse pena de quatro anos em regime fechado.

A defesa do ex-executivo, no entanto, conseguiu negociar a redução da punição, alegando que era muito rígida diante do conteúdo apresentado pelo empresário, envolvendo políticos de alto calibre e contratos públicos de valores elevados.
A mulher dele, Isabela Odebrecht, já começou a reformar o escritório que fica na casa do casal, em São Paulo, para que o marido possa trabalhar quando for libertado em regime semiaberto.

ASSINATURA
A delação da Odebrecht é uma das mais aguardadas pelos investigadores da Lava Jato. Cerca de 80 executivos e outros funcionários da empresa negociam com a PGR (Procuradoria-Geral da República), em Brasília, e a força-tarefa em Curitiba.

A expectativa é que o acordo seja assinado até o fim deste mês. A partir daí, começa a fase de depoimentos e, depois, o acerto para a homologação judicial.

Nas conversas preliminares de negociação da delação, políticos de vários partidos foram mencionados pelos executivos, entre eles os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), assim como o presidente Michel Temer (PMDB), o ministro de Relações Exteriores, José Serra (PSDB), governadores e congressistas. Todos vêm negando as irregularidades.

Em março, o juiz Sergio Moro, que conduz a Lava Jato na Justiça Federal, condenou Marcelo Odebrecht a 19 anos e quatro meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Entre os benefícios de fechar uma colaboração com a Justiça estaria, inclusive, a redução dessa pena.

De acordo com investigadores que tiveram acesso aos depoimentos iniciais, Marcelo Odebrecht afirmou, por exemplo, que a ex-presidente Dilma interveio para que a Caixa atuasse na operação financeira de construção da Arena Corinthians, palco da abertura da Copa de 2014.

O banco público participou de duas maneiras do projeto. Numa delas, aceitou ser o intermediário do financiamento do BNDES ao fundo de investimento criado por Corinthians e Odebrecht.

Depois, a Caixa comprou, conforme reportagem da Folha, debêntures emitidas pela Odebrecht no valor de R$ 350 milhões, em uma transação sigilosa para cobrir um rombo da empreiteira na construção do estádio.

O pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, contou ainda aos investigadores que o estádio foi uma espécie de presente para o ex-presidente Lula, torcedor do Corinthians.

Em relação a José Serra, reportagem da Folha revelou que a empreiteira diz ter pago R$ 23 milhões via caixa dois na Suíça para a campanha dele à Presidência em 2010. O tucano não comenta o teor da delação, mas nega ter cometido irregularidades.

O doleiro Alberto Youssef, segundo a fechar delação na Lava Jato, deixará a cadeia neste mês, após dois anos e oito meses. O primeiro delator, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, também não está mais preso.

OUTRO LADO
Procurada, a Odebrecht informou que não vai se pronunciar sobre a data em que Marcelo Odebrecht deixará o regime fechado tampouco a respeito das negociações de delação premiada em curso.
O ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff durante o processo de impeachment da petista, José Eduardo Cardozo, disse que não teve acesso ao conteúdo das declarações do empreiteiro e, por isso, não vai comentá-las.

A Caixa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que também não irá se manifestar. A assessoria do banco diz que as transações das quais participou envolvendo a Arena Corinthians são protegidas por sigilo
Herculano
02/11/2016 09:35
TUNDA-LÁ, por Carlos Brickmann

Foi uma surra memorável. Não varreu o PT do mapa (se o Mensalão e o Petrolão não o fizeram, não será uma derrota eleitoral, mesmo essa tunda de criar bicho, que o fará), mas o deixou em décimo lugar, ele que era o maior dos partidos. Nas últimas eleições municipais, em 2012, as cidades governadas pelo PT tinham 38 milhões de habitantes. Agora, restaram-lhe seis milhões, ou pouco menos - uma queda de 85%. O PSDB cresceu 89% e deve governar, no total, 48,7 milhões de habitantes.

Nordeste, reduto do PT? Não é mais. ABCD paulista, berço do PT? Mudou de lado. Na São Bernardo de Lula e seu aliado inseparável, Luiz Marinho, o PT nem foi para o segundo turno (fazendo com que Lula deixasse de votar - ou escolhia um petista ou não votava em ninguém). O PT perdeu mesmo quando era representado por outra legenda: o PSOL do Rio, com maciço apoio de artistas, intelectuais e imprensa, entregou ao senador Marcelo Crivella, do PRB, sua primeira vitória em cinco eleições majoritárias. O governador petista mineiro Fernando Pimentel teve o prazer de assistir à derrota do PSDB e de Aécio Neves em Belo Horizonte - mas não para o PT, e sim para o PHS de Alexandre Kalil, ex-dirigente do Clube Atlético Mineiro que diz não ser aliado de nenhum grande partido: "acabou coxinha, acabou mortadela, o papo agora é quibe". Aliás, o PT de Belo Horizonte não chegou nem a 8% dos votos e ficou fora do segundo turno.

A PROXIMA...

Mas não se deve imaginar que a derrota, por pesada que seja, vai acabar com o PT ou com o futuro político de Lula. Política é como nuvem, ensinava o sábio governador mineiro Magalhães Pinto: a gente olha está de um jeito, olha de novo está de outro. O PT não vai acabar porque há muita gente que acredita em suas ideias, muita gente que encara o petismo como religião. O partido pode até mudar de nome, mas continua existindo. E Lula pode aparecer como candidato forte em 2018. Lembremos Richard Nixon: perdeu a presidência para Kennedy, perdeu o Governo da Califórnia para Pat Brown, ficou com fama de perdedor. Em 1968 chegou à Presidência, batendo Hubert Humphrey.

James Reston, lendário jornalista do New York Times, comentou: "Foi a maior ressurreição desde Lázaro".

...ELEIÇÃO...

Frase de Nixon sobre sua passagem de perdedor a vencedor: "Um homem não está acabado quando perde. Ele está acabado quando desiste."

Alguém acredita que Lula vai desistir?

... É A PROXIMA

Há um único Poder capaz de evitar que Lula, carismático, hábil, bom político, volte à campanha, com a possibilidade de fascinar multidões: o Poder Judiciário. Lula só estará fora se for julgado e condenado, impedido legalmente de concorrer. Se for absolvido, volta por cima. Aí é Lula 2018.

LA GARANTIA DEL FUTURO

Enquanto se discute o Brasil depois da eleição municipal, o cerco a Lula continua firme. De acordo com a revista IstoÉ, a Operação Lava Jato investiga desde agosto se uma bela casa muito bem localizada em Punta Del Este, balneário mais luxuoso e caro do Uruguai, é um daqueles imóveis que não são de Lula, mas nos quais, como os donos são seus amigos e o autorizaram a fazer o que quiser, ele faz o que quiser. No caso uruguaio, a mansão seria de uma empresa off-shore que seria controlada pelo empresário Alexandre Grendene, sócio do grande grupo calçadista Grendene e dono de vários imóveis no pais.

Com tantos condicionais, verdade ou mentira? Depende: que a Operação Lava Jato investiga o caso, deve ser verdade, já que o repórter Germano Oliveira é sério e competente. Que a casa é de Lula, só haverá resposta precisa no final das investigações.

A SEGURANÇA

De qualquer forma, o Uruguai é um excelente lugar pra investir, com boa segurança jurídica e tratamento fiscal favorável. Para Lula, caso prefira afastar-se dos aborrecimentos dos interrogatórios do juiz Sérgio Moro de uma eventual prisão, o Uruguai é ideal: um país agradável, perto do Brasil, e cujo presidente, Tabaré Vasquez, é seu amigo e compartilha suas ideias. Nada de aborrecimentos com a Interpol; a garantia total de que não será extraditado; e, ao contrário de outros países onde seria recebido como herói, como Venezuela e Cuba, a vida uruguaia corre mansa, sem desabastecimentos nem a necessidade de ouvir discursos quilométricos.

Caso queira aposentar-se ou descansar algum tempo, o lugar é perfeito.

QUESTÃO RELIGIOSA

Boa parte das críticas ao prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella, é causada por sua religião (evangélico, membro da Igreja Universal e sobrinho do bispo Edir Macedo).

No Brasil, questiona-se a religião do candidato? Tivemos presidentes católicos, um ateu, um protestante. E daí?
Herculano
02/11/2016 09:30
A IGUALDADE É DIFÍCIL, por Roberto DaMatta, antropólogo, no jornal O Globo

Temos uma aguda consciência das diferenças e dos abismos que separam e distinguem indivíduos e coletividades. Não há mais nenhum lugar inocente e sem sofrimento.

Uma fábrica é uma máquina de igualdade. Seu objetivo é produzir coisas iguais, e sua reputação tem a ver com a capacidade de produzir perfeitamente o mesmo do mesmo. O problema é que, começando com o seu proprietário, a igualdade da produção em massa promove, em outros níveis, uma brutal desigualdade.

Por outro lado, é impossível não constatar a impossibilidade de produzir objetos idênticos em sociedades não industriais. Quando eu vivi com os índios apinayé, surpreendia-me o fato de todos saberem quem eram os autores dos objetos - cestas, esteiras, arcos, bordunas, flechas ou enfeites - que eu havia adquirido para o museu onde trabalhava.

O igual é o modelo do fabricado. Todos seriam iguais perante a lei e igualmente iguais perante certos bens e serviços oferecidos pelo Estado ou adquiridos por meio do dinheiro, cujo valor é - vale falar no óbvio - igual para todos. Mas não se pode esquecer do "perante". É a lei que é igual para os diferentes entre si.

Numa sociedade cujo ideal é a igualdade, as desigualdades seriam lidas como anomalias, perversões e hóspedes não convidados. Mas nem nas sociedades tribais fundadas na família, com tecnologia produzida por seus próprios membros, existe uma igualdade concreta. Há desigualdades, mas elas são transformadas em particularidades e pertencimentos. Cada grupo interno - metades, associações, linhagens ?" diferencia produzindo interdependências sem as quais o sistema ficaria abalado.

Ademais, entre os apinayé os demiurgos Sol e Lua, inventaram a Humanidade atirando cabaças nas águas de um ribeirão. As cabaças afundavam e, quando voltavam à tona, estouravam, e delas saíam pessoas. Sol produziu gente sadia e bonita. Mas Lua interferiu e começou a dizer baixinho: feio, cego, surdo e assim surgiram as diferenças. Quando Sol interpelou Lua, ele replicou que um mundo sem diferenças não ia dar certo.

Eis uma concepção na qual a descontinuidade não é fruto da desobediência da criatura, mas é instituída pelos criadores. Acrescento, contudo, que antes do contato com o "civilizado", as diferenças materiais entre os membros desta coletividade eram mínimas e que a dinâmica que os une e desune é a da filiação e da afinidade, debaixo de uma ética de reciprocidade.

No nosso caso, a questão é outra. Como diz Lévi-Strauss, nós vivemos num mundo incapaz de fidelidade a si mesmo. O vir-a-ser é o tema dominante da nossa cosmologia fundada no individualismo, no progresso e, consequentemente, num futuro no qual tudo vai (ou deveria) se resolver. Temos uma aguda consciência das diferenças e dos abismos que separam e distinguem indivíduos e coletividades. Não há mais nenhum lugar inocente e sem sofrimento. Vivemos o fim das Shangri-Lás, e ninguém sabe mais quem foi James Hilton.

A novidade de um mundo globalizado é a descoberta de que nenhuma sociedade é perfeita mais adiantada. A globalização obriga a rever utopias. As musas da modernidade ?" liberdade, fraternidade e igualdade ?" são complicadas na prática. Muita igualdade liquida a liberdade. Muita liberdade dramatiza os limites das diferenças e racionaliza a exploração humana. Se o planeta é de todos, como aceitar que alguns países tenham o poder de tudo destruir?

No Brasil, o problema é como acabar de vez com o "Você sabe com quem está falando?", esse brasileirismo inventado como último recurso hierárquico e escravista contra a igualdade republicana que obriga a entrar na fila, ser parado por um guardinha qualquer, ser compelido a responsabilidade quando se ocupa um cargo público e ?" eis o escândalo dos escândalos ?" ser enjaulado por um crime porque a lei vale mesmo para todos, e a igualdade perante e lei acaba com os privilégios. Antes de sermos presidentes, ministros, juízes, senadores e donos de grandes empresas, somos todos cidadãos. Mas como lidar com a contradição que transforma um eleito pelo povo com o nosso dinheiro numa superpessoa acima da lei? Ontem ele pedia votos, hoje ?" eleito por meio de um fundo partidário! ?" ele acha legítimo assaltar os cofres públicos.

É desprezível essa batalha judicial (mistificada como política) para manter privilégios. Estou convencido de que o discurso quase sempre vazio que enquadra as pessoas no velho dualismo de direita e esquerda dissimula muito mal o cerne da questão: somos uma sociedade dividida entre aristocratas (ancorados no Estado) e babacas ?" as pessoas comuns. Os que conhecem os limites dos seus papéis sociais e, com o seu trabalho, sustentam um palacianismo kafkiano de direita e de esquerda, duro de eliminar. Somos os últimos escravos...
Herculano
02/11/2016 07:56
POR SORTE, NINGUÉM MAIS OUVE ESSE PESSOAL QUE QUEBROU O PAIS, por Alexandre Schwartsman, economista, ex-diretor do Banco Central, no jornal Folha de S. Paulo

Implícita ou explicitamente, muitos dos argumentos contra a austeridade fiscal se apoiam na ideia (errada) de que a contenção dos gastos nos levará a um cenário de estagnação, ou baixo crescimento. Não por menos, comparações com o desempenho europeu nos últimos anos pipocam nas análises sobre o assunto.

Há, por trás dessa noção, a crença de que apenas o gasto público poderia impulsionar a demanda e assim levar à recuperação da atividade. Essa análise peca tanto no que se refere à teoria quanto à realidade local, bastante distinta da enfrentada pelos países ricos.

Do ponto vista teórico, ignora que, exceto em condições bastante específicas, que jamais se materializaram no Brasil, há uma troca entre o gasto público e as taxas de juros. Uma política fiscal mais frouxa, como a defendida pelos keynesianos de quermesse, implica taxas de juros mais elevadas e vice-versa, ou seja, há fortes razões para crer que um programa de estabilização fiscal bem-sucedido se transforme em taxas de juros mais baixas, por pelo menos dois canais.

Em primeiro lugar, gastos menores tendem a reduzir a inflação, o que, como notado pelo Banco Central em sua comunicação mais recente, abre espaço para taxas de juros mais baixas.

Em segundo lugar, no caso de economias em que o descontrole fiscal implica elevação do risco-país (o tanto a mais que o governo precisa pagar na sua dívida em comparação a países percebidos como bons pagadores), sua correção leva à queda.

Não se trata de um delírio teórico: o risco brasileiro caiu à metade, de cerca de 5% ao ano no início de 2016 para algo em torno de 2,5% ao ano agora, queda impulsionada em larga medida pelas medidas que começaram a sinalizar desenvolvimentos mais positivos no caso das contas públicas. Note-se que há ainda muito terreno a recuperar: há poucos anos o risco Brasil seguia de perto o risco México; hoje, mexicanos podem tomar recursos pagando a seus investidores 1% ao ano a menos do que brasileiros.

Já no que se refere à taxa de juros doméstica, o progresso foi ainda mais extraordinário. Embora a Selic tenha sido reduzida em apenas 0,25 ponto, as taxas mais longas caíram muito mais.
Mesmo se deixarmos de lado os níveis distorcidos do começo do ano, que apontavam para uma taxa real de juros para 2017 acima de 10% ao ano, tínhamos valores na casa de 6,5%-7,5% ao ano pouco antes do afastamento da presidente.

Hoje, porém, a taxa real de juros para 2017 se encontra ao redor de 5,5% ao ano, ainda elevada, mas, como previsto pela teoria, muito inferior à observada antes da adoção de medidas de ajuste fiscal de longo prazo. Seus efeitos sobre o crescimento devem se fazer sentir em 2017 e 2018.
Essa dinâmica não pôde se materializar nos países europeus, onde taxas de juros se encontravam próximas a zero, dada a inflação baixa. Já em nosso caso, em circunstâncias bastante diversas, o ajuste fiscal contribuiu fortemente para a redução da taxa real de juros e pode continuar a fazê-lo, caso medidas adicionais sejam aprovadas nos meses à frente.

É incrível como esse pessoal, depois de quebrar o país com sua mistura de má teoria e desrespeito aos dados, ainda se ache capaz de participar do debate brandindo os mesmo defeitos. Por sorte, ninguém mais os ouve fora de seus próprios círculos.
Herculano
02/11/2016 07:53
IMOVEIS DA CÂMARA NOS CUSTARÃO R$310 MILHÕES, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, deu seguimento às obras do antecessor, Eduardo Cunha, incluindo a reforma de 432 apartamentos funcionais, que já custaram aos cofres públicos mais de R$120 milhões. No total, serão gastos R$310 milhões na reforma de 18 blocos de apartamentos, que também receberão eletrodomésticos e mobília, para uso de suas excelências. Tudo pago pelo contribuinte.

IMOBILIÁRIA CÂMARA
Apartamento padrão para deputados, mantidos pela Câmara, tem em média 250 metros quadrados, duas salas, 4 suítes, escritório etc.

É UMA FARRA
O deputado que esnoba apartamento funcional recebe auxílio-moradia de R$ 4.253 por mês, o equivalente a 4,8 salários mínimos.

LENTA AGONIA DO ERÁRIO
Os primeiros contratos para reforma dos imóveis saíram do papel em 2007, mas as obras só deslancharam mesmo sob a gestão de Cunha.

NEGOCIO LUCRATIVO
Só um dos contratos de reforma (nº 2013/295) em vigor, da PB Construções e Comércio, custa R$ 41,79 milhões ao contribuinte.

CALOTE DO DF EMBARAÇA DIPLOMATAS NO EXTERIOR
Com quase 80% das receitas usados para pagar salários, o governo do Distrito Federal não tem conseguido restituir o ICMS para embaixadas e diplomatas estrangeiros em compras no Brasil, como automóveis, por exemplo. Eles são isentos, como prevê a Convenção de Viena. O calote tem provocado problemas para diplomatas brasileiros nos países dos credores do ICMS. É que, pelo princípio da reciprocidade, cada país trata diplomatas como os seus são tratados nos outros países.

DEVO, NÃO NEGO...
A Secretaria de Fazenda do DF confirma que 249 processos aguardam dinheiro para restituições no valor de R$ 843,5 mil.

CONTA-GOTAS
Até outubro, o governo do Distrito Federal conseguiu pagar menos da metade do total devido. Foram R$ 704,4 mil em 281 restituições.

NÃO SAI TÃO CEDO
A Fazenda não admite dívida, alegando que a Convenção de Viena não fixa prazo, como se isso fosse objeto de tratado internacional.

SENADOR VOADOR
Lindbergh Farias (PT) pediu reembolso ao Senado de R$ 244.963,33 supostamente gastos em passagens aéreas entre janeiro e outubro. Equivale a 348 viagens de ida e volta para o Rio, sua cidade, no período de 304 dias corridos. Muito estranho.

EUNÍCIO GANHA FORÇA
Com a derrota humilhante do grupo de Renan Calheiros em Maceió, ganhou força o nome do líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), para presidir o Senado. Renan tenta "melar" porque não controla Eunício.

TETO É OBRIGAÇÃO
Ao defender a proposta que cria um teto para os gastos públicos, a senadora Simone Tebet (PMDB-MS) explica: "Ou cortamos os gastos ou aumentamos impostos. Ou seja, só resta uma saída".

CORRUPÇÃO VS. RESTO
Pesquisa da Associação de Juízes e da OAB mostra que o custo da corrupção no Brasil (R$70 bilhões) é menos da metade do rombo no orçamento anunciado no governo Dilma (R$170 bilhões) e mais de 25% da folha de pagamento do governo (R$255 bilhões, em 2015).

BICADAS
A disputa para presidente da Câmara em fevereiro se transformou numa "prévia" da disputa interna do PSDB em 2018. Aécio Neves quer emplacar um aliado no cargo. Por fora, Geraldo Alckmin quer o mesmo.

ADOROU TUDO ISSO
Rodrigo Maia não desistiu da própria reeleição para presidente da Câmara, em fevereiro. Articula a mudança do regimento interno para permitir a reeleição, mas desagrada o "centrão" e os tucanos.

VAI ENCARAR
O deputado Marcos Rotta (PMDB-AM) abrirá mão do mandato para assumir o cargo de vice-prefeito de Manaus, em janeiro. "Já tenho reuniões marcadas", revela. E promete "encarar o novo desafio".

EFEITO DILMA
Das 26 capitais, só Boa Vista (RR) terá prefeita: Teresa Surita (PMDB), ex do senador Romero Jucá. Dos 5.506 prefeitos eleitos no 1º turno, só 637 são mulheres. Uma mulher para cada dez prefeitos marmanjos.

PERGUNTA NA PORTA DA ESCOLA
Onde estavam os invasores de escolas quando Dilma cortou R$10 bilhões da Educação, no início de 2016?
Herculano
02/11/2016 07:50
IMPOSTO SOBRE FORTUNAS, DE GRAÇA, por Vinicius Torres Freire, para o jornal Folha de S. Paulo

O governo inventou um modo de aumentar impostos em 2017, um jeito quase sem custos. De quebra, seria um tributo sobre grandes fortunas, para dizer a coisa de modo sarcástico.

Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, anunciou nesta terça (1º) que vai propor projeto de lei a fim de reabrir o programa de "repatriação", a declaração de dinheiros mantidos ilegalmente no exterior.

O prazo da primeira "repatriação" terminou na segunda-feira (31). Nesta rodada, o governo arrecadou R$ 50,9 bilhões em multas e impostos, cobrados de uma base de R$ 169,9 bilhões declarados à Receita.

Calheiros diz que apresenta o projeto na semana que vem. De acordo com um senador envolvido no assunto e com gente do Ministério da Fazenda, a nova chance de regularizar o dinheiro vai custar mais caro.

O plano é aumentar imposto e multa de 15% para 17,5%, "para a nova chance não sair de graça para os atrasados". Não está certo ainda se o novo programa começa em janeiro ou fevereiro. Não haveria gambiarra para permitir que políticos regularizem dinheiro clandestino. Esse era um lobby que movia o projeto de reabertura do prazo de "repatriação" na Câmara, que gorou.

Deve haver modificação na lei de modo a "tornar mais claro" que não haverá risco de os contribuintes agora arrependidos se sujeitarem a processos criminais. Em escritórios de advocacia que assessoram interessados na "repatriação", se diz que esse risco teria "inibido clientes".

Calheiros disse que podem vir mais R$ 50 bilhões. Escritórios de advocacia chutam que R$ 25 bilhões seria um número razoável. Para gente do governo, o valor pode ser um pouco maior, mas ainda não haveria estimativa confiável. Advogados dizem que já têm gente na fila, clientes que se atrasaram, esperavam mudanças de regras na Câmara ou "não estavam atentos" para os riscos de não regularizar o patrimônio.

O risco é o de ser flagrado com dinheiro irregular no exterior, que vai aumentar com a troca de informações entre os fiscos de vários países.
Para o governo, esse "imposto sobre grandes fortunas" pode ser um alívio. A perspectiva de fechar as contas no ano que vem é no mínimo nebulosa.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse outra vez na segunda-feira que, com a aprovação do "teto" para os gastos do governo, não seria necessário aumentar impostos. Não é possível afirmar tal coisa, a não ser que o governo não esteja nem aí para a meta de saldo primário que anunciou para 2017. Não está?

O "teto" limita despesas, mas não garante receitas. Se a receita for insuficiente, não se cumpre a meta, aumenta o deficit primário (receitas menos despesas, afora gastos com juros da dívida pública), aumenta a dívida.

Até setembro, a receita nominal (sem descontar a inflação) vinha crescendo apenas 1,1% ao ano. Para atingir a meta fiscal de 2017, o governo parece contar com um aumento de 9,9% da arrecadação. Com R$ 25 bilhões de impostos e multas da "repatriação", teria pelo menos 2,3% extras.
Sim, trata-se de dinheiro extraordinário, que não vai entrar de novo em 2018. Mas, na pindaíba medonha de agora, é um alívio na dívida. Sem o custo econômico e político de aumentar impostos.
Herculano
02/11/2016 07:44
BOLSA SONEGADOR FAZ BOM CONTRIBUINTE DE OTÁRIO, por Josias de Souza
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Há no país dois tipos de cidadãos: os brasileiros comuns e os brasileiros especiais. Os comuns têm o imposto de renda descontado mensalmente no contracheque. E honram todos os outros tributos na hora em que pagam no caixa do comércio pelas coisas que compram. Os brasileiros especiais brincam de esconde-esconde com a Receita Federal, sonegam impostos e esperam que o governo aprove algum plano que lhes perdoe os crimes e ofereça vantagens fiscais. O programa de repatriação do dinheiro que brasileiros entesouraram ilegalmente no exterior é mais uma festa organizada para premiar sonegadores.

Alega-se que foram repatriadas apenas verbas de origem lícita. Isso é conversa fiada. O dinheiro deixou de ser lícito no instante em que migrou para o exterior sem o pagamento dos tributos devidos. Cometeram-se no mínimo os crimes de sonegação fiscal e evasão de divisas. Daí para a lavagem de dinheiro procedente do submundo do crime é um pulinho. A repatriação enxaguou e passou a ferro todo esse dinheiro de má origem.
Quebrado, o governo não tem muita alternativa.

Entrega a alma para conseguir dinheiro. Arrecadou quase R$ 51 bilhões ao regularizar uma fortuna de quase R$ 170 bilhões enviada para o estrangeiro às escondidas por 25 mil empresas e uma centena de pessoas. A festa deve continuar. Renan Calheiros, o notório presidente do Senado, anuncia que apresentará um projeto para reabrir o bolso sonegador a partir de janeiro. A mensagem que fica é que, no Brasil, quem paga imposto é otário.
Herculano
02/11/2016 07:36
PROJEÇÕES SOBRE A ELEIÇÃO SÃO LOGICAS, MAS PODEM NÃO TER FUTURO, por Elio Gaspari, para os jornais O Globo e Folha de S. Paulo

As vezes, o saber que não se sabe é tão importante quanto aquilo que se sabe. Em outras palavras, a ignorância é coisa valiosa. Depois de uma eleição, é comum e até mesmo saudável que se produzam explicações, quase sempre lógicas, aparentemente definitivas. Assim: O PSDB e Geraldo Alckmin foram os grandes vencedores da eleição municipal.

Abatido pelos próprios malfeitos, o PT arruinou-se e, com ele, a esquerda, seja lá o que isso signifique. A eleição de 2016 marca a ascensão de uma maré conservadora na vida nacional.

Essas três conclusões estão certas. O problema surge quando, a partir delas, projeta-se o futuro. Voltando-se o relógio para 2012 pode-se visitar a sabedoria da ocasião.

Entre o primeiro e o segundo turno da eleição municipal, o Supremo Tribunal Federal julgou o processo do mensalão, José Dirceu foi condenado e semanas depois foi para a cadeia de braços erguidos e punho fechado.

O PT saiu da eleição como o partido mais votado do país, e Fernando Haddad elegeu-se prefeito de São Paulo. Seria uma boa aposta para uma futura eleição presidencial. Se não fosse ele, poderia ser o petista Luiz Marinho, ex-ministro da Previdência e do Trabalho, reeleito para a prefeitura de São Bernardo do Campo. Na ponta do PMDB, Eduardo Paes reelegeu-se prefeito do Rio de Janeiro, com perto de dois terços dos votos.

Vinham por aí a Copa do Mundo e, acima de tudo, a Olimpíada. Seria uma boa aposta para o governo do Estado em 2018, ou, quem sabe, para a Presidência da República. Por via das dúvidas, ele lançava um candidato a vice de Dilma Rousseff, na vaga de Michel Temer. Era o governador Sérgio Cabral, nos dedos de cuja senhora brilhavam os diamantes da Van Cleef presenteados por Fernando Cavendish, o bem-aventurado empreiteiro da Delta.

Esse era o mundo de 2012, e todas as projeções pareciam lógicas. Lava Jato era o nome que se dava aos lugares onde se lavavam carros, Sergio Moro era um juiz que ficara a pé na investigação das roubalheiras do Banestado, a Operação Castelo de Areia, onde a Camargo Corrêa fora apanhada pela Polícia Federal, virara pizza no Superior Tribunal de Justiça e Teori Zavascki era juiz que acabara de ser indicado para o Supremo. Sabia-se dele que falava pouco.

Deu tudo errado. Passados quatro anos, Lula, o fabricante de postes, nem sequer foi votar no segundo turno, o PT foi moído, Dirceu está conformado na cadeia, Cavendish entregou ao Ministério Público a nota fiscal do anel de madame Cabral, o presidente da República chama-se Michel Temer e Dilma Rousseff também não votou no segundo turno de Porto Alegre.

As projeções lógicas de 2012 tinham nexo, mas não tiveram futuro. As de 2016 também parecem razoáveis. Falta lembrar que vem por aí a colaboração da Odebrecht, com mais de 50 narrativas e o rastro da supercaixa do tucanato. Isso e mais a da OAS. Provavelmente, também a de Eduardo Cunha. O poderoso PSDB é o convidado de honra em todas elas. Além disso, é condômino do governo de Michel Temer, que disputa a marca de impopularidade de Dilma Rousseff. No fundo, todas as previsões são exercícios de sabedoria, mas não se deve menosprezar a eterna ignorância dos viventes em relação ao futuro.
Herculano
02/11/2016 07:31
Ao Sidnei.

O mais importante é ter ideias, acreditar nelas, refletir sobre elas, expressá-las e defende-las.

Nenhuma ideia é melhor do que a outra quando não posta em prática. A ideia da esquerda do atraso, posta em prática no Brasil se mostrou desastrosa. Só isso. E essa esquerda não reconhece o caos e sofrimento que causou à economia, às pessoas e ao futuro do país e da nação. Muito menos está disposta à discussão desse mal que causou à sociedade, muito menos à hipocrisia ética que se lançou.

Pior do que ter ideias é forçar todos a aceitarem-na como um ato hegemônico, ou como se fosse a ideia certa para todos praticarem e louvarem, demonizando, humilhando, constrangendo e perseguindo que não tem a mesma interpretação da cartilha.

É isso que a esquerda do atraso quando na oposição e poder querem e lutam no Brasil, Venezuela, Cuba... É isso, que a direita também repete como erro conceitual e prático.
´
O pluralismo e a divergência são as melhores vacinas para um mundo plural e dialético. Não há ideias e práticas certas. Há ideias e práticas mais atuais e menos desiquilibradas, que levam ao bem estar e o reconhecimento do ser humano.
Sidnei Luis Reinert
02/11/2016 06:09
Herculano, Kim Kataguiri, coordenador do Movimento Brasil Livre, fala mal da esquerda( PT), fala mal da direita( Jair Bolsonaro), Olavo de Carvalho tem razão: Se alguém não é de direita,é lógico que ele é de esquerda.
PT, PMDB, PSDB, PDT,PSD SÃO TODOS PARTIDOS DE ESQUERDA, UNS MAIS, OUTROS MENOS RADICAIS,PORÉM COM OS OBJETIVOS FINAIS IGUAIS.
Herculano
01/11/2016 16:49
POR CAUSA DE OCUPAÇÕES, 191 MIL ESTUDANTES FARÃO O ENEM NOS DIAS 3 E 4 DE DEZEMBRO

Conteúdo do Uol (Folha de S. Paulo). De um total de 191.494 alunos inscritos para participar do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) terá as provas adiadas por causa da ocupação de alguns dos locais de prova por estudantes secundaristas contrários à PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 241 e à reforma do ensino médio proposta pelo MEC (Ministério da Educação). Ao todo, 304 locais de prova estão ocupados.

Esses alunos serão avisados por SMS a partir da noite desta terça-feira (1º) sobre o adiamento da prova. Para esse público, o exame será realizado nos dias 3 e 4 de dezembro. Além do SMS, a informação também será enviada para o e-mail do participante. Também será possível se informar pelo aplicativo Enem 2016 e pelo 0800 616161.
Para os demais inscritos - ou seja, 97,78% dos 8.627.195 participantes - , o exame será realizado normalmente no próximo fim de semana, nos dias 5 e 6 de novembro.
Herculano
01/11/2016 15:55
ESQUERDA, DA CASA GRANDE, FICOU REVOLTADA PORQUE SENZALA VOTOU POR CONTA PROPRIA, por Kim Kataguiri, coordenador do Movimento Brasil Livre, no jornal Folha de S. Paulo

As eleições de 2016 mostraram que, para os monopolistas da moral e das virtudes, pobre só presta quando vota em candidato de esquerda. No Twitter, diversos comentários absolutamente abjetos de eleitores de Marcelo Freixo (PSOL) foram feitos contra a maioria esmagadora de famílias pobres que votaram em seu adversário.
Durante os 13 anos de governo petista, as esquerdas sempre se vangloriaram de representar os mais pobres. "Demos carro e casa para os mais pobres! Colocamos eles nas universidades, nos aviões!", afirmavam, como se falassem sobre marionetes, sobre brinquedos que estavam à sua disposição.

Após o resultado dessas eleições, os pobres, de repente, são "burros" e "não sabem votar". Tanto Haddad (PT) em São Paulo como Freixo no Rio perderam feio nos bairros mais carentes. Isso só prova que os pobres ?"assim como as mulheres, os negros, os gays e todas as outras "minorias oprimidas"- não passam de mero instrumento político para essa gente. Quando estão sujeitos ao seu cabresto ideológico, são vítimas. Quando
divergem, são o mal da humanidade.

O discurso liberal, por outro lado, demonstrou ainda mais força nesse segundo turno. Símbolo disso é a vitória de Nelson Marchezan (PSDB) em Porto Alegre. Deputado federal, o tucano nunca escondeu suas posições.

Criticou o reajuste do Judiciário -maior contradição do governo Temer, que dá sinais cambaleantes de compromisso com o equilíbrio fiscal?", expôs os absurdos R$17 bilhões gastos com a Justiça do Trabalho e mostrou como o Congresso está muito mais preocupado com o interesse de sindicatos e grupos de pressão do que com o da sociedade.

Marchezan venceu com um discurso pragmático, realista. Discurso que muitos acreditavam não funcionar numa eleição majoritária. Não só isso: o deputado venceu a primeira eleição em Porto Alegre em que a esquerda tradicional não foi nem para o segundo turno.

A esquerda cultural ?"aquela que se reúne nos mesmos bares, ouve as mesmas músicas, usa as mesmas roupas e diz adorar Marx, mas não tem ideia do que "superestrutura" significa?", percebeu que, após as grandes manifestações pelo impeachment, seu papinho só cola dentro de uma bolha extremamente limitada.

Depois de mais de uma década de corrupção institucionalizada, a população se cansou de discursos bonitos de tão demagógicos e demagógicos de tão bonitos. Quem sente a crise na pele optou por mudar. Àqueles que vivem de escrever textão no Facebook do alto de seus MacBooks, só restou resmungar para a mesma patota de sempre
Herculano
01/11/2016 15:52
VEM CHUMBO

O advogado do PT de Gaspar, o militante do PDT de Blumenau, Roberto da Luz, está nervoso. Acha que a imprensa é um problema, quando ela por ofício desnuda as artimanhas do seu cliente. Esse é um cacoete antigo. Aliás o PT já está desnudo no Brasil já faz muito tempo.
Herculano
01/11/2016 15:49
ELITE INTELECTUAL QUE PERDEU NO RIO SE CONSIDERA MORALMENTE SUPERIOR, Joel Pinheiro da Fonseca, economista e mestre em filosofia, para a Folha de S. Paulo

Confirmando o que se viu no primeiro turno, a esquerda brasileira ?"nova ou velha?" seguiu em derrocada no segundo.

O PSOL, que queria devorar o cadáver do PT e tinha esperança em três grandes cidades (Belém, Rio de Janeiro e Sorocaba) perdeu as três. Em Curitiba, deu Greca. Em Porto Alegre, Marchezan. Para fechar com chave de ouro, teve ainda a simbólica derrota do PT para o PSDB em Santo André, na Grande São Paulo.

A derrota de Freixo para Crivella no Rio será especialmente sentida. O Brasil perde a chance de ter uma cobaia das ideias do PSOL na economia e na gestão, e a esquerda de maneira geral volta para onde ela fica mais confortável: na oposição, criticando tudo que existe em favor de utopias imaginárias.

Não lhe fará bem. Aliás, já não está fazendo. No lugar de uma reação saudável, de tentar descobrir como poderia ter se conectado com o eleitorado que agora não acredita em suas promessas, a campanha e a militância voluntária que defendeu Freixo com unhas e dentes, assim como seus pares que defenderam Haddad em São Paulo, preferem apontar o dedo e condenar quem votou contra seu lindo projeto social.

Falam dos vilões de sempre: a elite branca (que na verdade designa melhor o eleitorado do Freixo que o do Crivella) que não quer negros no aeroporto, os fundamentalistas que querem transformar o Brasil em uma teocracia, os machistas, os homofóbicos etc.

E o dedo acusatório não se volta apenas contra quem votou em Crivella. Os votos brancos, nulos e abstenções (vencedores novamente) também entram na roda. Não ter se empolgado com o bolivarianismo tupiniquim do Freixo é uma covardia imperdoável.

Nada disso é novidade. É herança da velha esquerda, que aceitava a democracia como uma concessão momentânea à política burguesa, desde que levasse à revolução. A diferença é que, sem a possibilidade da insurreição (ainda mais depois de dois anos invocando o amor à ordem legal que seria violada com o impeachment), resta apenas acusar e reiterar a própria virtude.

E fica a pergunta: se votar é tomar parte na luta eterna do bem contra as forças obscurantistas do mal, qual o grande mérito da democracia?

Quem perdeu no Rio foi uma elite intelectual, artística e universitária que se considera, com a mais pura sinceridade, mais esclarecida e moralmente superior ao resto do país; pessoas que ela secretamente odeia e das quais, ao mesmo tempo, espera total adesão. Uma classe que tem ojeriza visceral à classe média, que considera religião falha de caráter e que demoniza a ambição de subir na vida.

Por isso, chegou-se ao óbvio: fora a questão de se suas propostas funcionam ou não, se são boas ou más para a sociedade ?"na minha opinião, seriam catastróficas, mas essa é outra discussão?", a crença incondicional na pureza de seus ideais foi usada pela classe política que dela se beneficiava para promover os maiores esquemas de corrupção da história do nosso país.

A fé humilde dos crentes possibilitou a esbórnia dos bispos. Curiosamente, não estou falando da Igreja Universal
Erva Daninha
01/11/2016 13:25
Olá, Herculano;

O Brasil foi para a direita e não vai voltar tão cedo para a esquerda. O Antagonista

Espero que a onda azul consiga encobrir os padrecos da CNBB.

Miguel José Teixeira
01/11/2016 10:23
Senhores,

"A proposta de limitar gastos públicos às disponibilidades de recursos pode fazer bem à saúde financeira do Estado, reduzir a dívida, baixar os juros, retomar emprego e renda graças à maior credibilidade e investimento."

Aliança com o povo
CRISTOVAM BUARQUE, Professor emérito da UnB e senador pelo PPS-DF
Hoje, no Correio Braziliense

A história recente do Brasil mostra uma aliança das corporações do setor moderno, de trabalhadores e de capitalistas, saqueando o Estado e comprometendo o futuro do país. Ao longo das décadas, essa aliança, comandada pela direita com a conivência da esquerda, corrompeu os parlamentares, de direita e de esquerda, para aprovar orçamentos irresponsáveis, que ofereciam, ao mesmo tempo, estradas, escolas, salários, previdências generosas para alguns, saúde, ao mesmo tempo em que permitia vazamentos por propina. Todos os setores se locupletaram com orçamentos fictícios baseados em receitas hipotéticas cobertas por endividamento ou inflação, ou por obras paralisadas e serviços interrompidos por falta de recursos.

O resultado não poderia ser diferente: o Estado, encarregado de tudo, pouco fez bem feito, a inflação passou a ser uma constante, o país se endividou, deu calote, perdeu credibilidade; quando a ficção se esgotou, caiu na recessão e no desemprego. Sobretudo, criou o vício na política irresponsável e construiu uma sociedade violenta e excludente. Decorrente de uma aliança sem sentimento de povo nem de nação, que exige se enganar mutuamente. Isso foi feito por meio de orçamentos irresponsáveis, tudo era oferecido a todos, embora os recursos fossem insuficientes.

Inflação e endividamento, a "divinflação" é o band-aid do acordo em que as partes se acertam gastar mais do que dispõem. Quando o band-aid se descola, o povo paga a conta: com os serviços públicos degradados; o desemprego se expande; as rendas são desajustadas pela inflação; e o país cai na instabilidade e no descrédito das instituições. Os únicos beneficiários são os empresários que definem os preços, e os sindicatos que conquistam reajustes de salários.

A maior vítima, porém, é a verdade. Com a mentira dos gastos superiores às receitas, o debate político se apequena, descaracteriza-se e desaparece, porque para aumentar gastos em um setor não se faz necessário reduzir em outro; esquerda e direita abrem mão da luta de interesses por prioridades diferentes, aceitam orçamentos que beneficiam empreiteiras e alegram ao povo, como se viu na construção de estádios para a Copa. Tudo dentro de uma aliança carnavalesca, sem respeito ao povo, ao país, às crianças e aos jovens que herdarão um país ingovernável na democracia das corporações. A política abre mão de projetos nacionais e se contenta nas reivindicações de grupos.

Ser de esquerda passa a ser gastar mais em educação e saúde sem tirar dos ricos, sem quebrar privilégios, que a esquerda considera direitos adquiridos, e sem exigir qualidade dos serviços. O povo fica inexistente, só existem os representados por sindicatos.

A proposta de limitar gastos públicos às disponibilidades de recursos pode fazer bem à saúde financeira do Estado, reduzir a dívida, baixar os juros, retomar emprego e renda graças à maior credibilidade e investimento. Mas, sobretudo, fará bem à política despertando uma "exquerda" acomodada na luta por mais gastos em aliança com os donos dos privilégios. No lugar de reivindicar apenas aumento de gastos para educação e saúde, uma nova esquerda vai surgir lutando por melhor qualidade nesses serviços e pela redução no gasto do dinheiro público para atender privilégios dos ricos.

O resultado da definição de um teto para gastar vai desmascarar a aliança da "exquerda" com a direita e criar uma esquerda aliada ao povo. Para isso, a esquerda terá de mudar e o governo terá de entender que o teto não se manterá se não tocar nos privilégios, que se mantêm vivos: os salários mais altos e outros privilégios e vantagens, a política fiscal que isenta os ricos e pesa sobre os pobres. A "exquerda" está se desmoralizando historicamente ao ficar do lado da direita corporativa contra o teto nos gastos, mas o governo estará se inviabilizando politicamente ao propor teto nos gastos sem enfrentar os privilégios. É cedo para dizer se a proposta do teto dará certo, ela pode fracassar se continuar na aliança maldita da "exquerda" e da direita corporativas pressionando além do possível, mais uma vez contra o povo e agora também contra a própria Constituição.

Miguel José Teixeira
01/11/2016 09:42
Senhores,

Para refletir. . .

Se atribuirmos a derrocada de podres caciques, tais como Sarney, Renan, Lula e até o Aécio ao estancamento do "propinoduto da PeTrobrás", fica a pergunta: de onde vieram os baralho$ para o Alckmin dar as carta$???

Herculano
01/11/2016 08:25
da série: a mídia viúva que defende a esquerda do atraso não admite mudanças pelo voto livre e democrático, rotula as mudanças oriunda das urnas e teme que as mudanças por vontade popular possam dar certo por um longo período

A ONDA QUE SE ERGUEU NA URNA, por Bernardo Mello Franco, para o jornal Folha de S. Paulo

Uma onda conservadora se ergueu sobre o país nas eleições municipais. Suas águas varreram o petismo, afogado nos próprios escândalos e no naufrágio da economia sob o governo Dilma. O mapa do Brasil está mais azul, mas as diferenças de tom devem ficar visíveis assim que a nova pintura secar.
Em capitais como São Paulo, Porto Alegre e Salvador, o eleitor escolheu candidatos com perfil de centro-direita. João Doria e Nelson Marchezan Jr, do PSDB, e ACM Neto, do DEM, apostaram no discurso pró-mercado. Prometeram reduzir a máquina pública e assumiram a bandeira das privatizações, que costumava ser escondida nos palanques.
Os dois tucanos têm pouco a ver com o passado social-democrata do PSDB, mas se apresentaram como políticos moderados. Aproveitaram o desgaste da esquerda sem tirar proveito eleitoral de temas de comportamento, como drogas e aborto.
Outras capitais, como Rio, Belo Horizonte e Curitiba, consagraram representantes da direita populista que emergiu das manifestações de rua. Marcelo Crivella, Alexandre Kalil e Rafael Greca apostaram na revolta com o sistema político. Os três chegam ao poder a bordo de siglas médias (PRB) ou nanicas (PHS e PMN).
Bispo da Igreja Universal, Crivella abandonou o estilo moderado e se aliou a figuras como o deputado Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia. No segundo turno, radicalizou o uso de temas morais e a pregação anticomunista para desgastar o adversário, que concorria pelo PSOL.
Os novos prefeitos de Curitiba e BH apostaram no personalismo e na fabricação de polêmicas ao estilo Donald Trump. Na campanha, Greca contou ter vomitado com o cheiro de um pobre e Kalil disse que "rouba, mas não pede propina". No Brasil de 2016, nada disso foi suficiente para evitar que os dois se elegessem.
Herculano
01/11/2016 08:19
MUSA DE "LOS HERMANOS", A FIL?"SOFA DAS INVASÕES, POSA PARA FOTOS COM GLEISI HOFFMANN; PT NÃO SABE NEM GANHAR NEM PERDER, por Reinaldo Azevedo, em Veja

A tal Ana Júlia apresentada como um jovem apartidária, vai ao Senado e dispara outras bobagens de efeito

Ai, ai?
Como costumo dizer aqui, jamais partam do princípio de que o PT e os petistas têm limites.

Quem os vê, assim, combalidos, quase na sarjeta, não imagina do que são capazes. Há muitos anos já escrevi, está até num livro de frases que publiquei, que os companheiros não sabem nem perder nem ganhar. Se ganham, tentam esmagar o oponente, eliminá-lo, porque só enxergam a vitória como a destruição do outro. Se perdem, escolhem o caminho da sabotagem, que é o que se vê com o movimento de invasão das escolas.

Mesmo com a força de Lula; mesmo com o ex-presidente telefonando para a tal "Ana Júlia" - que, está demonstrado, se parece mesmo com o produto do Departamento de Marketing do partido -; mesmo com a imprensa se comportando como babá dos invasores, o movimento murchou.

Bastou que seus métodos fossem trazidos à luz por aqueles que se importam com a educação, e as mais de 800 escolas invadidas há dez dias são agora pouco mais de 300. A esmagadora maioria dos alunos quer aula. Seus pais reivindicam a volta da normalidade. E assim tem de ser. Invadir não é um direito. Divergir é que é.

Adivinhem quem se oferece para ser a ponta de lança da resistência à PEC 241 no Senado? Sim! Ela mesma! A valente senadora investigada Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ex-ministro investigado, que já passou um tempinho na cadeia, Paulo Bernardo. Conhecemos o seu método e o apreço que tem pelo Congresso, inclusive a Casa que integra, durante o mensalão. É aquela senhora que afirmou que o Senado não tinha moral para julgar Dilma Rousseff. Dissesse: "Não me considero com moral para?" Aí sim! Mas ela decidiu falar do Senado.

Nesta segunda, houve uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado para debater "Saúde, Cidadania e Direitos Humanos".

Sindicalistas, representantes da Fiocruz e especialistas em contas públicas criticaram a PEC 241. Valcler Rangel, vice-presidente da Fiocruz, disse que não "dá para botar na saúde e na educação a responsabilidade sobre qualquer tipo de desequilíbrio". Claro que não! E quem está fazendo isso? Uma tal Maria Lucia Fattorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida (que diabo será isso?), declarou que estão "sangrando o orçamento federal para manter a farra dos banqueiros". Deve ser verdade!  A Maria Lúcia só não conta que o governo é obrigado a pegar dinheiro no mercado para sustentar a farra que ela quer manter. Mas nem entro nisso agora.

Sabem quem estava lá? A Musa dos Los Hermanos - Ana Júlia. Trata-se daquela garota que é filha de um militante do PT e que foi vendida à opinião pública como uma jovem apartidária, só interessada no bem comum. É a moça que disse, na Assembleia Legislativa do Paraná, que os deputados estaduais tinham as mãos sujas de sangue? Por quê? Ora, porque, na Escola Santa Felicidade, um invasor matou outro. Nota: nas escolas invadidas, só entram as pessoas autorizadas pelo "coletivo".

Ana Júlia continua a assombrar o pensamento com frases de efeito. As desta segunda foram estas:
"Nós vamos desenvolver métodos de desobediência civil, nós vamos levar a luta estudantil para frente, nós vamos mostrar que não estamos aqui de brincadeira e que o Brasil vai ser um país de todos".

Ela não esquece nem os bordões do partido do pai. Foi além:
"Em relação à PEC 55, a antiga PEC 241, eu quero dizer uma coisa: aqueles que votarem contra a educação estarão com as mãos sujas por 20 anos".

Foi aplaudida pelos esquerdistas presentes.

Depois, ela decidiu deixar explícita a sua isenção apartidária. Posou para fotos ao lado de Gleisi.
O Código Penal não prevê sanção para molestamento ideológico.

Bem, Ana Júlia já é agora uma esfinge sem segredos.
Herculano
01/11/2016 08:07
SINUCA DE BICO

Triste a escolha do eleitor do Rio de Janeiro, que nunca mais se acertou depois que deixou de ser capital da República e se atolou no populismo de esquerda de Leonel Brizola, PDT, sócio da contravenção e outras atividades não amparadas pelo Estado de Direito.

Um é um espertalhão que até virou bispo, numa igreja que só olha o poder e patrimônio como objetivo. No outro, um esquerdopata, que serve a intelectualidade e engana os pobres.
Herculano
01/11/2016 08:00
da série: depois da surra nas urnas, depois do recado aos que quebraram o Brasil, os da esquerda do atraso arrumam novo discurso e desculpas. Como usam a democracia para fachada, voltam a insistir em mudanças na marra e cotas.

REFORMA PRECISA AUMENTAR REPRESENTATIVIDADE POLÍTICA, por Vanessa Grazziotin, senadora pelo PCdoB-AM, no jornal Folha de S. Paulo

O resultado das eleições, ao lado de outros tantos elementos importantes, reforça a ideia e a necessidade de uma reforma política que venha para mudar efetivamente, e não para alterar as coisas de modo que tudo fique como está.

Uma reforma que permita uma representatividade política mais real, que aumente a representação feminina e das camadas menos favorecidas; que reduza o peso do poder econômico, amplie a democracia e assegure a participação das diversas correntes ideológicas.

O problema, portanto, é estruturante e não podemos imaginar que a simples proibição das coligações proporcionais e a imposição da cláusula de barreira, como querem os "grandes partidos", seja capaz de resolver tão profundas distorções.
Para iniciar, devemos responder algumas questões. Por que os partidos são tão execrados? Por que o sistema de representação exclui parcelas importantes da sociedade, como as mulheres, trabalhadores, negros e indígenas? Por que os políticos mudam tanto de partido? E por qual razão se criam tantos partidos?

Os partidos são execrados porque as siglas cumprem apenas uma exigência burocrática para alguém disputar uma eleição. Enquanto isso não mudar, essa aberração não cessará. Isso porque a maioria não guarda qualquer coerência entre o que diz e pratica, o que só mudará quando eles forem obrigados a seguir a plataforma apresentada ao eleitor.

Quanto à ampliação da representação das mulheres e da diversidade social, isso só será resolvido quando os partidos forem obrigados a apresentar listas de candidatos nas quais se alterne a participação de gênero e dos diversos segmentos sociais. O atual resultado eleitoral reforça essa assertiva.

Nessas eleições, por exemplo, nós, mulheres, mantivemos o mesmo e vergonhoso índice de 10% de participação no Parlamento. Uma posição constrangedora perante o mundo. Ocupamos a 158ª posição entre 190 países, segundo estudo da União Interparlamentar (UIP), parceira da ONU.
Quanto às frequentes mudanças de partidos, o que ocorre é que eles se subdividem ou mudam de siglas, na medida em que a maioria dos partidos, com as honrosas exceções, são meros cartórios eleitorais. Quando estão muito desgastados, para despistar o eleitor, se fundem ou criam outro, como foi o caso do PFL/DEM. E como a fidelidade partidária na prática ainda não existe, o ambiente favorece a promiscuidade.

A representação política precisa servir para o espelhamento existente entre a demografia e a democracia. Do contrário, o sistema de representação se reduzirá apenas a um sistema de dominação social, de raça e de gênero.
Enfim, precisamos fortalecer as ideias, os projetos, e não os indivíduos. Esse é o debate que precisamos enfrentar.
Herculano
01/11/2016 07:22
ALCKMIN TEME QUE AÉCIO PRORROGUE SUA PERMANÊNCIA NA PRESIDÊNCIA DO PSDB, por Josias de Souza

Geraldo Alckmin e seus aliados receiam que Aécio Neves articule a prorrogação por um ano do seu mandato de presidente do PSDB, que vence em maio de 2017. Vitaminado pelas urnas de 2016, o governador paulista decidira indicar para a vaga um deputado de sua confiança, Silvio Torres (SP), atual secretário-geral da legenda. Entretanto, para evitar riscos, Alckmin cogita reivindicar a poltrona para si mesmo, sem intermediários.

Um aliado de Aécio declarou ao blog que a prorrogação do mandato de presidente está prevista no estatuto do PSDB. Lembrou que a providência já foi adotada noutras oportunidades. Mas disse que o grupo do senador mineiro considera prematuro o debate sobre a sucessão interna. Há outras prioridades. Duas delas constam do calendário de fevereiro: a escolha de novos líderes tucanos na Câmara e no Senado e a posição a ser adotada pelo PSDB na eleição dos presidentes das duas Casas.

O mandato de presidente do PSDB é de dois anos, com direito a uma recondução. Aécio cumpre o seu segundo mandato. Foi reconduzido com o apoio de Alckmin, que esperava obter reciprocidade, já que Aécio não pode mais se reeleger. É nesse contexto que surge o debate subterrâneo sobre a brecha estatutária da prorrogação. A efetivação da manobra manteria Aécio no comando durante o período em que o partido terá de se preparar para a disputa presidencial de 2018.

Se Alckmin levar adiante a hipótese de disputar o comando do PSDB, vai transformar a convenção nacional do partido, a realizar-se em maio, numa espécie de prévia para a disputa pela vaga candidato do partido ao Planalto. Na eventualidade de ser derrotado, o govenador teria tempo para se reposicionar em cena. Alckmin admite tudo, menos ficar de fora da próxima disputa presidencial.

Aliados do governador estão aborrecidos com a leitura que Aécio faz das urnas. Para diluir o êxito eleitoral de Alckmin em São Paulo, Aécio direciona os refletores para os resultados vistosos colecionados pelo PSDB em topo país. Insinua que o sucesso tem a ver com a sua presidência. E menospreza a derrota que sofreu em Belo Horizonte.

No Palácio dos Bandeirantes, Aécio é alvo de piadas. Aos risos, um auxiliar de Alckmin diz que o senador deveria ter direito de pedir música no Fantástico: "Ele foi derrotado três vezes em Minas. Perdeu no seu Estado a disputa presidencial de 2014, perdeu o governo e a prefeitura da capital."
Herculano
01/11/2016 07:19
BRASÍLIA ENTRA EM ESTADO DE ATENÇÃO ENQUANTO ESPERA DELAÇÕES E PROTESTOS, por Mario Sérgio Conti, para o jornal Folha de S. Paulo.

Passar uns dias em Brasília reforça a conjectura de que o Brasil está prestes ?" prestes a não se sabe o quê. Com o fim da crença de que o país progride, a capital entrou em estado de atenção, aguarda tudo ao mesmo tempo: delações, protestos, conciliação. A iminência de uma revelação que não se produz está em todas as bocas. A seguir, a algaravia do que elas falaram.

Senadora: Está em andamento um acordo para livrar a cara dos corruptos. Ele está sendo feito nos ministérios, no Planalto, nesse plenário. Mas ninguém diz quem está negociando com quem.
Deputado: O acordo é para anistiar todos os que foram eleitos com caixa dois. Assim, o governo e o sistema político se safam. Os empreiteiros se safaram antes, com as deduragens premiadas.
Senador: Não é bem um acordo. É uma onda, um salve-se quem puder coletivo, um entendimento mudo, uma tabelinha que vai sendo improvisada conforme os novos lances.

Ministro que aparece na delação da Odebrecht: Nunca estive tão angustiado na vida. Por não saber o que vai acontecer amanhã. Não me informo porque chamaria a atenção.

Senador: Num voo para o Rio, o Lindbergh viajou ao lado da Claudia Cruz, mulher do Eduardo Cunha. Ela estava de óculos escuros e se escondia. No desembarque, um grupo veio na sua direção. E não é que o Lindbergh foi para frente dela, estufou o peito e espantou os caras?

Lindbergh Farias, senador: Agi por impulso.
Ministro: Tive uma reunião com a cúpula do Exército. Os generais não pensam em golpe, se bem que estejam preocupados com a segurança nacional. É impressionante o desprezo deles pela Polícia Federal.

Deputado: Num dia, tropeiros tomaram a Esplanada para protestar contra a proibição das vaquejadas. No outro, a Câmara engessou o orçamento da União por 20 anos. Agora noticiam que 160 brasileiros foram assassinados por dia no ano passado ?" um a cada nove minutos. Está difícil de entender o país.

Cartaz num caminhão estacionado no Eixo Monumental: Quatro mil vaquejadas geram 700 mil empregos.

Juiz: Sei que a vaquejada é um fato cultural. Mas bater em mulher também é.

Ministro: Esse negócio de vaquejada me lembra o Sandro Moreyra. Tem uma crônica em que ele conta a ida da torcida brasileira a uma tourada. Os brasileiros aplaudiram o touro e gritaram "bicha! bicha!" para o toureiro. Foram politicamente incorretos até quando corretos.

Deputado: Não vejo como Temer possa chegar ao fim. A política econômica vai desempregar ainda mais, e você acha que ninguém vai fazer nada? Confio no nosso povo.

Senador: Acho que não vai acontecer nada. Os brasileiros estão cansados.

Deputada: É incrível a irresponsabilidade do poder. O Brasil só piora e Brasília não está nem aí.

Juiz: Prefiro Brasília ao Rio. O Rio onde eu jogava vôlei de praia ficou perigoso. Mas que é difícil mudar o Brasil a partir de Brasília, ah, isso é.

Albie Sachs, ex-juiz do Tribunal Constitucional da África do Sul, que perdeu um braço na luta contra o apartheid: É uma emoção estar em Brasília hoje. Descobri Niemeyer durante o meu exílio, de 11 anos, em Moçambique. Foi um dos maiores homens do século 20. Ele nos ensinou que poderíamos construir o futuro.

Oscar Niemeyer, sobre os seus objetivos com Brasília: Construir uma cidade de homens felizes, homens que sintam a vida em toda a sua plenitude, em toda a sua fragilidade, homens que compreendam o valor das coisas puras.
Herculano
01/11/2016 07:15
TURMA DE DILMA LEVOU R$7,2 MILHÕES EM 6 MESES, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Desde o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, em 12 de maio, ex-ministros e assessores do seu finado governo não se acanharam de tomar R$ 7,2 milhões dos cofres públicos sem trabalhar. É que eles se habilitaram às boquinhas da "quarentena", embolsando "vencimentos de transição", por seis meses, enquanto procuravam empregos no mercado. A mamata acaba na próxima quarta-feira, dia 12.

SEU DINHEIRO
O contribuinte pagou mais de R$ 3,1 milhões apenas a ex-ministros do governo Dilma Rousseff, defenestrada pelo impeachment.

É DE CASA
Todas as quarentenas foram concedidas pela Comissão de Ética Pública, cujos membros foram nomeados pela ex-presidente, claro.

TETO SOLAR
Salários de autoridades demitidas da administração do PT podem chegar ao triplo do teto constitucional.

BOLSO CHEIO
Aldemir Bendine recebeu R$123 mil por mês como ex-presidente da Petrobras, empresa-alvo do maior escândalo de corrupção da História.

DESDE LULA, CENTRAIS NÃO PRESTAM CONTAS AO TCU
A Lei 11.648, que Lula sancionou em 2008, atribuiu às "centrais sindicais", como a CUT, direitos de órgãos públicos, só para que possam receber... verbas públicas. Vetou apenas o artigo que obrigava centrais, confederações, federações e sindicatos a prestarem contas desses recursos ao Tribunal de Contas da União (TCU). A lei nem previa punição por não prestar contas, mas Lula sepultou o "incômodo".

MALANDRAGEM
O Ministério do Trabalho inventou que fazer sindicatos prestar contas seria contra Constituição, "que garante a autogestão" das entidades.

GRANA FÁCIL
Entidades sindicais recebem do governo cerca de R$ 3,5 bilhões por ano. São R$200 milhões só para centrais. Sem precisar prestar contas.

CUT NUMA BOA
A CUT, braço sindical do PT et caterva, não disponibiliza publicamente qualquer dado sobre como gasta os milhões repassados pelo governo.

BYE BYE BRASIL
Porta-voz que anunciou a morte de Tancredo Neves e depois eleito governador gaúcho, Antonio Britto resolveu abandonar o Brasil e morar na Flórida, EUA. Já providencia escola para os filhos.

A CARA DE UM...
Derrotado no Rio, Marcelo Freixo (Psol) rasgou a máscara que usou na TV, domingo à noite, para finalmente declarar ontem que não aceita a vontade do povo carioca. No fundo, não passa de um Donald Trump.

PEIXE FORA D'ÁGUA
Lula não lê nem bilhete, mas vai participar de um encontro de "juristas e intelectuais" petistas que vivem o temor da ação da Justiça. Isto é, morrem de medo que o ex-presidente vá em cana.

LEVE PARA CASA
Maceioenses "defendem" de gozação, nas redes sociais, a candidatura de Cícero Almeida (PMDB) a prefeito de Murici, curral do clã Renan Calheiros. Almeida, o "Ciço", sofreu derrota acachapante para Rui Palmeira (PSDB) na disputa pela prefeitura de Maceió: 60,2 x 39%.

A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM
Mais sumido que voto no PT, André Figueiredo, aquele deputado que fingiu romper com Dilma só para virar ministro, quer voltar à liderança do PDT. Difícil será destituir o atual líder Wéverton Rocha (MA).

POR ONDE ANDA 'TOP-TOP'
Marco Aurélio "Top-Top" Garcia, ex-aspone de assuntos internacionais aleatórios de Lula e Dilma, passou os últimos 6 meses pendurado nas tetas do governo, embolsando "quarentena" de R$14 mil líquidos/mês.

DUAS MÁS NOTÍCIAS
Num mesmo dia, o ex-governador do DF Agnelo Queiroz (PT) acabou declarado inelegível no TRE e, no Tribunal de Justiça, foi condenado a pagar R$1,5 milhão à Fabrika Filmes, produtora que fez sua campanha. O TJ-DF aprovou o bem fundamentado voto do relator Diaulas Ribeiro.

RENOVAÇÃO JÁ
Os eleitores rejeitaram quase 80% dos parlamentares que disputaram vagas de prefeitos e vices, domingo. Dos 81 deputados, 63 voltam ao Congresso com a rejeição elevada. E preocupados com 2018.

PENSANDO BEM...
...petistas falavam muito em "golpe" porque temiam o que se viu nas eleições de 2016: o golpe de misericórdia nas urnas.
Herculano
31/10/2016 17:05
GENTE "CULT" TENDE A SER CHATA E AFETADA EM SUAS OPINIÕES, por Luiz Felipe Pondè, filósofo, no jornal Folha de S. Paulo

O mundo pós-moderno em que vivemos é um prato cheio para frescuras. A palavra "frescura" pode soar um pouco estranha para quem não possui um repertório um pouco mais sofisticado em filosofia. Se isso acontece com "frescura", quanto mais com a palavra "desconstruído", que tem em sua história gente chiquérrima, como o filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004). Quanto a "pós-moderno", então, nem me fale. Nada é mais chique do que algo ser pós-moderno. Voltaremos já ao que seria "pós-moderno".

Vamos por partes. Dizer que algo é uma "frescura" implica dizer que ela tem um frescor que lhe é peculiar, um certo tom de "novo", "avantgardiste", diria alguém versado em teoria da arte moderna. Portanto, sua raiz está no âmbito da natureza e da arte, ao mesmo tempo! Talvez, lá atrás, encontremos algum fenômeno a ver com mudança de estação do ano. Tal conceito também afeta qualquer teoria da moda.

Um detalhe: "frescura" sempre carrega alguma nuance de afetação. Quando algo ou alguém é "fresco", quer dizer que ele ou ela é um tanto exagerado (afetado) nas suas ações. Os mais velhos diriam: uma nota acima do necessário.

Na sua evolução semântica ("evolução semântica" quer dizer mudança de significado de uma palavra ao longo do tempo), a palavra "frescura" acabou assumindo um sentido próximo a "wannabe". O que quer dizer isso? Simples: "(to) want to be", em inglês, significa "querer ser algo","wannabe" significa "querer ser algo chique que não se é de verdade". Tipo gente que queria ser culta e por isso frequenta lugares "cult" para todo mundo pensar que é culta. Sacou? Conhece alguém assim? Aposto que sim. Gente "cult" tende a ser chata e afetada em suas opiniões.

E "descontruída"? Essa tem a ver com nossa época pós-moderna. Filósofos franceses chiques do final do século 20 se puseram a dizer (Jean-François Lyotard entre eles) que nossa época havia se cansado de "grandes narrativas". Em língua dos mortais, isso quer dizer ficar de saco cheio de muita teoria complicada e que é preciso ler muito para entender e, por isso mesmo, gastar o cérebro demais. Para os pós-modernos tudo é relativo e Shakespeare é igual a alguém batendo tambor repetidas vezes em algum recanto perdido do mundo.

Os pós-modernos começam então a misturar coisas que normalmente não iriam juntas, como bolsa Prada com pijamas no Iguatemi, paletós caros com sandálias Havaianas no Copacabana Palace e, assim, desconstruir tudo o que foi tomado como evidência antes deles. Daí chegamos a "frescuras desconstruídas" de nossa conversa de hoje.

Uma coisa que se adora desconstruir hoje em dia é a comida. Quando todo mundo acha que pode fazer comida gourmet, é melhor você se ater à comida da sua avó. Vou dar um exemplo real que me foi contado por uma amiga, recentemente. Olha só que primor de frescura (comida fresca que quer parecer inteligente e chique).

Um restaurante "top" na França. Num dado momento, é servido a ela uma "espuminha" com uma coisa escura e dura no meio do prato, completamente indecifrável. Mulher educada e com trânsito no mundo sofisticado, fica perplexa diante da dificuldade de identificar tamanha "desconstrução" do que seria muito banal, como carne, peixe, salada ou algo semelhante. Na sua modéstia típica de quem é de fato elegante, pergunta para o inteligente chef o que viria a ser aquilo.

Surpresa! Você não imaginaria a resposta, assumindo que você não seja uma dessas pessoas frescas que acham que comida deve ser inteligente.
A revelação máxima: a coisa escura era uma pedra. Pedra com espuminha. A desconstrução máxima do que seria comida: uma pedra. Nenhum animal come pedra. Mas humanos desconstruídos, sim. Hoje em dia está na moda fazer espuminha de tudo na comida. De todas as cores: vermelho, amarelo, azul, verde, marrom...

A ideia dessa comida desconstruída é que você chupe a pedra molhando ela na espuminha até secar o prato e a pedra. Alguém poderia se perguntar qual o limite da desconstrução gourmet. Que tal baratas africanas com espuminha de fezes seca?
Herculano
31/10/2016 17:00
COMO ENFRENTAR OS FACISTAS QUE OCUPAM ESCOLAS? AS URNAS DISSERAM O QUE O POVO QUER, por Reinaldo Azevedo, de Veja

É preciso cortar água, luz e telefone. Não só isso: Polícia na porta: pode sair gente, mas entrar não! A questão chegará à Justiça, claro! E os juízes dirão se querem seus próprios tribunais invadidos

Quero tratar aqui de duas questões que estão absolutamente imbricadas: o resultado das eleições municipais e as invasões de escolas em alguns Estados, muito especialmente no Paraná, onde o movimento é mais forte porque, de fato, é conduzido pelo PT e pelo sindicato da rede oficial de ensino do Estado, a tal APP Paraná, que agora usa Mafaldinhas & Remelentos do ensino médio para fazer política.

A esquerda foi rechaçada nas urnas. Tem um de seus piores desempenhos desde a redemocratização. O país conta com 5.570 cidades. PT, PCdoB, Rede e PSOL conseguiram eleger prefeitos em 344 - vale dizer: em 6,17% do total. Eis o tamanho dos vermelhos nas eleições municipais. O que isso significa? Já escrevi aqui: a população votou majoritariamente contra o Velho Regime e em favor do Novo.

Ora, é claro que a imensa maioria dos eleitores tem informações sobre a existência de uma PEC que estabelece o teto de gastos e sobre uma MP que muda o ensino médio. Mesmo assim, os partidos identificados com essa pauta tiveram, então, a adesão de mais de 90% da população que votou. Só não faço a conta exata porque partidos como o PSB e o PDT se dividiram. Mas o resultado final é esmagador.

Muito bem! Que modo o PT e seus satélites de esquerda encontraram para deixar claro que existem? Como sempre, optaram por sabotar a democracia. É isso o que significa o movimento de ocupação de escolas, especialmente no Paraná. Ruim de teses e de votos, a esquerda, no entanto, continua boa de marketing: inventou até uma tal Ana Júlia, de 16 anos, filha de um militante petista, para ser a pensadora das invasões. É aquela moça de raciocínio singelo: "se a escola é para os estudantes, e se nós somos estudantes, a escola, então, é nossa, e podemos invadir". E a esmagadora maioria que quer aula? A filósofa tem a resposta: que se submeta ao "coletivo". Quem é "o coletivo"? A minoria invasora. É a neta moral da Marilena Chaui.

Lula, que não cumpriu a sua obrigação de votar, ligou para ela para incentivar as invasões.
Nos dois casos, evidencia o respeito que tem pela democracia.

O resultado no Paraná não foi diferente. Tomem Curitiba como exemplo. O petista Tadeu Veneri obteve 4% dos votos no primeiro turno. A Xênia, do PSOL, ficou com 1,15%. E pronto! Esse é tamanho que tem na capital paranaense as forças que apoiam a invasão. E, no entanto, há centenas de escolas tiranizadas por vândalos. Mais um dado: Rafael Grecca (PMN), apoiado pelo governador Beto Richa (PSDB), venceu a disputa contra Ney Leprevost: 53,25% contra 46,75%.

No dia seguinte à eleição, um grupo de mascarados, supostos secundaristas, invadiu mais um prédio na capital: o Núcleo Regional de Educação.
O que dizer é o que fazer?

Respondo

Não é o que a sociedade quer, é evidente. As urnas deixam isso claro. O movimento, no entanto, conta com o apoio de setores expressivos da imprensa, tomada de esquerdistas. No Paraná e em qualquer lugar. Uma visão acanalhada e ilegalista do processo político faz supor que tanto invasores como estudantes que querem ter aula são partes legítimas do processo. Os desordeiros contam com uma intervenção mais dura da Polícia para ver se o movimento se alastra. Quem já deveria ter entrado em ação em defesa do direito de cidadãos, chamados estudantes, de ter aula? O Ministério Público Federal. Até agora não moveu uma palha.

O Movimento Brasil Livre, heroicamente, tem tentado enfrentar os brucutus, debaixo de porrada física dos trogloditas e de porrada moral dos setores vigaristas da imprensa.

Sabem a melhor coisa a fazer, em todas as esferas? Declarar encerrada qualquer forma de diálogo. Que os invasores apodreçam dentro dos prédios. Mas que lhes sejam cortados água, luz, telefone? Sim, certamente a questão chegará à Justiça. Que vá até os tribunais superiores. Os senhores juízes terão de dizer se a invasão de um prédio público é uma forma honesta de reivindicação.

Se disserem que sim, estarão convidando o "povo" a invadir os tribunais. E aí não vale chamar a Polícia.

E a sociedade organizada do Paraná que decida, então, até quando 94% da população continuará tiranizada por 6%.

Fim de papo! Fim da água! Fim da luz! Fim da linha!
É assim que se lida com fascistas.

Ah, sim: que a Polícia seja colocada na porta das escolas. Ninguém mais entra. Só sai. Vamos ver até quando resistem esses heróis do fascismo. "Ah, mas a coisa pode se espalhar?" Que se espalhe e que seja dado o mesmo tratamento.

Ou é isso ou é condescender com fascistas.
Sidnei Luis Reinert
31/10/2016 16:14
Acredite, se quiser

O Financista 31.10.16 14:35
Um "renomado tributarista" ouvido pelo Radar On-line, da Veja, calcula que 100 mil brasileiros ainda manterão dinheiro não declarado no exterior, após o fim do período de repatriação. Seria coisa de US$ 400 bilhões, ou quase R$ 1,3 trilhão, fora do país.

Considerando que, para repatriar os recursos, os interessados pagaram 30% do valor em multas e impostos, essa dinheirama renderia cerca de R$ 380 bilhões ao Tesouro ?" o suficiente para zerar o déficit deste e do próximo ano.
Ana Amélia que não é Lemos
31/10/2016 13:34
Sr. Herculano:

Postado por Políbio Braga:

"O candidato do PMDB, Gean Loureiro, virou a eleição em Florianópolis. Ele venceu por 0,5% de diferença. A vitória só aconteceu no último momento.

Gean Loureiro, PMDB - 50,26%
Angela Amin, PP - 49,.74%

O governador Raimundo Colombo, PSD, que apoiou Amin, perdeu junto com ela."

Um governador que não sabe governar não merece ganhar nada.





Sidnei Luis Reinert
31/10/2016 12:17
Análise do consultor Rogerounielo França sobre a macabra violência brasileira:

Somente no ano passado, 58.383 brasileiros foram vítimas de homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte ou em decorrência de intervenção policial.

Uma comparação internacional é capaz de exemplificar o estado de violência em que o Brasil se encontra. Entre março de 2011 e novembro de 2015, a guerra na Síria fez 256.124 vítimas. No Brasil, no mesmo período, foram 278.839 mortos.

O 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que ocorre um homicídio no país a cada nove minutos. São 160 pessoas mortas por dia, de forma violenta. Com um cenário tão grave, há muita expectativa envolvendo investimentos do Plano Nacional de Segurança
Sidnei Luis Reinert
31/10/2016 12:14
O velho FBI e a Puliça Legislativa do Senado


Edição do Alerta Total ?" www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

A História costuma ser sábia em fornecer exemplos de acertos e erros que deveriam servir de aprendizado para futuras gerações. O Brasil que precisa ser passado a limpo, por um amplo processo de Aprimoramento Institucional, tem muito a aprender com os Estados Unidos da América. Sobretudo no que diz respeito à "Inteligência", e seu uso legítimo e não fora-da-lei..

De março de 1935 ?" quando foi transformado em agência federal de inteligência ?" até 2 de maio de 1972, o FBI (Federal Bureau of Investigation) teve um único comandante, o poderoso John Edgar Hoover. Durante décadas, Hoover, o primeiro Diretor do FBI, exerceu o cargo de comandante supremo da agência de inteligência com plenos poderes, só deixando de ser Diretor por um motivo de força maior, o seu falecimento.

Tanto Republicanos como Democratas, oito presidentes dos Estados Unidos contaram com seus serviços (ou tiveram que engulí-lo, segundo as más linguas) à frente da temível organização policial, que sempre teve à sua disposição os mais sofisticados métodos de investigação e um arquivo capaz de destruir qualquer potencial adversário.

Para que fosse possível investigar certas pessoas "especiais", que ele via como ameaça ao sistema, Hoover criou, no âmbito do FBI, um programa clandestino denominado COINTELPRO, que permaneceu secreto até 1971. Depois de profundas investigações, em 1975, as atividades de citado programa foram consideradas ilegais.

Os historiadores contam que o grande poder de Hoover vinha de sua capacidade de intimidação e de sabotagem, decorrente do absoluto domínio de informações sigilosas. Dizem que o próprio pastor Martin Luther King teve que desistir de se candidatar a presidente dos EUA depois que Hoover ameaçou divulgar um dossiê a seu respeito, baseado em escutas clandestinas.

Mas, o que torna oportuna a divulgação desses aspectos da trajetória de Hoover, todos eles disponíveis no oráculo Google?

O que torna tal divulgação oportuna, e põe oportuna nisso, é a descoberta do poderoso arsenal de espionagem e contrainteligência em poder da Polícia Legislativa do Senado. Alvo da Operação Métis, levada a efeito pela Polícia Federal em 21 de outubro, a Polícia do Senado (jocosamente chamada "milícia do senado") teve seu diretor, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, preso, juntamente com outros três policiais.
Porém, o que mais chocou a todos foi a quantidade de "maletas tecnológicas" apreendidas. Segundo noticiado, tais maletas eram utilizadas em um esquema de contrainteligência montado para localizar e destruir escutas telefônicas e ambientais de parlamentares envolvidos na Lava Jato. Como pode a Polícia Legislativa, que é uma aberração constitucional, ter 12 maletas, enquanto a Polícia Federal dispõe de apenas duas?
Vale lembrar que tais equipamentos que só são disponibilizados com autorização de órgãos do governo dos Estados Unidos da América. Além disso, é preciso frisar a aberração gravíssima de que arapongagens, espionagens e extorsões à margem da lei são "negócios" comuns em Brasília e adjacências. Certamente, rendem informações privilegiadas e comprometedoras que favorecem políticos e empresários que têm acesso ou que podem pagar pelo serviço sujo de investigação da vida alheia.
Existem transnacionais de "consultoria em segurança" especializadas até na arte de forjar documentos, obtidos com quebras ilegais de sigilos, que se transformam em "provas" para condenações judiciais. Este esquema de jagunçagem à margem da lei tem de ser combatido vigorosamente. Todas as máquinas que promovem assassinatos de reputação precisam ser coibidas e neutralizadas.
Herculano
31/10/2016 09:23
MAU EXEMPLO DOS DERROTADOS NAS ELEIÇÕES, por Valdo Cruz, para o jornal Folha de S. Paulo

Talvez nada simbolize melhor a situação dos derrotados nesta eleição municipal de 2016 do que a decisão dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff de não votarem no segundo turno. O primeiro, pela idade, não precisava ir. A segunda justificou a ausência.

Numa eleição de elevada abstenção, uma forma de protesto e desencanto do eleitor com a política, os dois petistas deram um mau exemplo. Deles esperava-se o contrário, o de mostrar a importância de uma eleição. Decidiram desprestigiá-la.

Os dois têm lá seus motivos para não terem comparecido às suas seções eleitorais em São Bernardo do Campo e Porto Alegre. Seus candidatos ficaram de fora do segundo turno. Mas isso não seria, com certeza, o que eles defenderiam se ainda estivessem no comando do país.

Enquanto o PT de Lula e Dilma sai como o grande derrotado da eleição municipal, o PSDB, que perdeu a eleição presidencial para a petista, desponta com o principal vitorioso.

No ninho tucano, o segundo turno reforçou a posição de Geraldo Alckmin. Ele elegeu João Doria no primeiro turno em São Paulo e derrotou o PT no Grande ABC, berço político do Partido dos Trabalhadores.

Já seu principal opositor dentro do PSDB amargou nova derrota. Aécio Neves não elegeu seu candidato, João Leite, prefeito de Belo Horizonte. Para quem era considerado imbatível no seu Estado natal, o novo revés não ajuda nem um pouco.

Daí que, hoje, Alckmin ganha pontos na disputa interna para ser o candidato tucano a presidente em 2018. Em situação privilegiada. O PSDB seguirá na aliança de Temer, apoiando medidas até impopulares, mas poderá desembarcar lá na frente.
Já o presidente Temer não tem do que reclamar. Seus aliados ganharam a eleição. O que pode ajudar nas votações de suas medidas no Congresso. Se reverter a crise econômica, pode até ser o que diz que não será, candidato. Mas temos de esperar a Lava Jato, que tudo pode mudar.
Herculano
31/10/2016 09:20
NA MÁQUINA DO TEMPO, editorial do jornal O Globo

Comparem-se frases, slogans, chavões, construções de raciocínio petistas contra as imprescindíveis mudanças na regulação da exploração do pré-sal, enfim executadas pelo Congresso, com frases, slogans, chavões e construções de raciocínio da época da campanha do "petróleo é nosso", nas décadas de 40 e 50 do século passado, cujo desfecho foi a criação da Petrobras, em 1953, e a conclusão é que nada mudou na ideologia nacionalista brasileira, de esquerda ou direita, em todo este tempo.

Cabe dizer, então, que o nacionalista nativo nada aprendeu e também nada esqueceu. Se já era delirante a ideia da proteção de "nossas riquezas", hoje ela soa descabida, além de retrô. Não bastasse a constatação de que os contratos de risco estabelecidos a contragosto pelo nacionalista presidente-general Ernesto Geisel, em 1975, e o fim do monopólio da estatal em 1997, por meio de FH, foram essenciais para a própria descoberta do petróleo do pré-sal, sempre se soube que a empresa não tinha a mínima condição financeira para explorar de forma monopolista esta nova fronteira geológica de produção.

À parte a roubalheira lulopetista no petrolão, responsável por bilhões em prejuízos na estatal?" já foram contabilizados em balanço R$ 6,2 bilhões nessa conta ?", os delírios estatistas que levaram a reservar a área do pré-sal para a Petrobras passaram a degradar a situação financeira da própria empresa.

Inspirada no fracassado programa de substituição de importações do governo Geisel, na ditadura militar, a política de usar o poder de compra da empresa para elevar na marra os índices de nacionalização de equipamentos usados no setor de petróleo levou a grandes aumentos de custo e a constantes estouros de prazos. O que pode acontecer de pior para programas de investimento. No caso, a exploração do pré-sal.

Incrível como a miopia ideológica leva à repetição de erros. Geisel pode ter sido apanhado de surpresa. Lula e Dilma, não. Poderiam, inclusive, pedir informações sobre o resultado daquele projeto geiseliano.

Não faltam informações, também, sobre o antes e o depois da abertura da exploração de petróleo a capitais privados estrangeiros e nacionais. O slogan do "petróleo é nosso" empolgou muita gente, porém o óleo e o gás se mantiveram durante décadas debaixo da terra, sem ajudar o país.

A Petrobras se transformou em importante empresa, com qualificado quadro técnico, muito experiente em especial na exploração em águas profundas. Mas sem a flexibilização nas regras do pré-sal, ia-se voltar à época em que o petróleo era "nosso", mas não se produzia uma gota dele. E sem abrir o pré-sal ao mundo, e como a Petrobras continua bastante endividada, não haveria um novo leilão tão cedo, pela impossibilidade de a estatal deter compulsoriamente 30% de todos os consórcios e ser a operadora única deles. A própria Petrobras pedia as alterações que estão sendo feitas.
Herculano
31/10/2016 09:19
PT SAUDAÇÕES, por Vera Magalhães, no jornal O Estado de S. Paulo

Derrota do partido é tão avassaladora que não permite nenhuma leitura atenuante.

Se alguém ainda acreditava na possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva ser candidato novamente à Presidência da República em 2018, mesmo depois da Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff, o eleitor brasileiro tratou de dizer de forma clara e cristalina: não vai acontecer.

A derrota do PT é tão avassaladora que não permite nenhuma leitura atenuante. Não se salvou nada nem ninguém no partido. Mesmo o rosário da renovação da sigla, que começou a ser desfiado por Tarso Genro e outros, não sobrevive a uma constatação dura: não há candidatos aptos à tarefa.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, citado como opção na terra de cegos que virou o partido, não quer assumir a missão nem seria um nome com trânsito suficiente para desbancar os caciques de sempre e enterrar de vez o lulismo ?" do qual, diga-se, foi um dos últimos produtos exitosos.

Sim, porque a única remota chance de o PT se reerguer seria enterrar o lulismo, mas o partido há muito tempo fez a opção oposta, a de se enterrar se for preciso para defender Lula, em uma simbiose que as urnas acabam de rechaçar de maneira fragorosa.

Tanto que o partido não consegue pensar em uma alternativa para 2018 que não seja seu "comandante máximo", para usar a designação que a Lava Jato deu ao ex-presidente.

A insistência na tese de que Lula é vítima de perseguição ?" com lances patéticos como queixa à ONU e manifestações internacionais bancadas por "sindicatos" que nada mais são que versões da CUT para gringo ver ?" mostra que o PT decidiu atrelar seu destino ao do ex-presidente.

Dilma já parece ter sido esquecida pelos petistas na mesma velocidade com que o foi pelos brasileiros. Tanto que, com exceção de Jandira Feghali, ninguém se lembrou dela nas eleições municipais.

A presidente cassada tem sido vista fazendo compras tranquilamente no Rio, em um sinal inequívoco de que o discurso de que houve um golpe era uma fantasia, a única saída para um partido que perdeu o poder porque já não tinha condições de governar nem apoio popular, como o resultado das eleições tratou de deixar evidente.

É essa reflexão que o PT terá de fazer se quiser se refundar. Isso pressupõe admitir que patrocinou um esquema de corrupção cuja dimensão ainda está por ser inteiramente conhecida. Admitir que levou a economia do País à maior recessão da história. Que perdeu a governabilidade antes de Dilma perder a cadeira. E que Lula não é uma vítima de uma perseguição implacável que envolve Judiciário, imprensa, Ministério Público e sabe-se lá mais quem.

Quais as chances de o partido fazer isso seriamente? Remotas, para não dizer inexistentes.

Do outro lado do pêndulo político, o PSDB sai do pleito municipal como o grande vencedor mais por memória do eleitorado de décadas de polarização com o PT do que por força própria. Mas o fim dessa alternância, pelo simples fato de que um dos polos se esfacelou, também obrigará os tucanos a reverem sua estratégia para voltar a ter chance de governar o País.

Isso significa trocar as disputas de bastidores entre caciques para ver quem será o candidato da vez, uma constante desde a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, por alguma nitidez programática capaz de mostrar ao eleitorado que o partido tem um projeto para tirar o País do buraco.

A pulverização de votos por uma miríade de siglas mostra que o eleitor, embora ainda enxergue no PSDB e PMDB as alternativas mais seguras à ruína petista, começa a procurar opções.

A negação da política é uma das marcas indeléveis de 2016. O único político de expressão nacional que saiu vitorioso, Geraldo Alckmin, acertou ao perceber o Zeitgeist e apostar em um candidato em São Paulo com o discurso da não política. Em escala nacional, no entanto, o País já viu o estrago que a eleição de um outsider pode provocar. Com Fernando Collor, antes. E com Dilma depois.
Herculano
31/10/2016 09:17
O QUE DE FATO IMPORTA, por Ricardo Noblat, de O Globo

"Não podemos jamais cair na praga maldita da vingança. O processo eleitoral termina aqui" 
MARCELO CRIVELLA, prefeito eleito do Rio

Nada vai superar o que a Lava-Jato nos reserva. De volta à Lava-Jato, que há dois anos e meio não sai de cena, mas que nos últimos quatro meses dividiu o protagonismo com a Olimpíada, a Paraolimpíada e, por último, as eleições municipais, encerradas ontem com a mais avassaladora derrota já colhida pelo PT em todos os seus anos de vida, a vitória do PSDB nas maiores cidades do país e o fortalecimento, por ora, do governo de Michel Temer.

TUDO O MAIS de previsível que possa acontecer pelo menos nos próximos seis meses dificilmente será capaz de superar o que a Lava-Jato nos reserva em termos de fortes emoções. O destino de Lula, por exemplo, será definido até o fim do ano ou início de 2017. O juiz Sérgio Moro, na segunda quinzena de novembro, tomará o depoimento de quem delatou Lula por corrupção.

EM SEGUIDA, a confirmar-se o que o próprio PT espera, Moro condenará Lula. Poderá mandar prendê-lo ou não. Se não prender, Lula aguardará em liberdade a decisão posterior do Tribunal Federal de Recursos com sede em Porto Alegre. Até aqui, o tribunal avalizou ou agravou as sentenças de Moro. Caso isso se repita, Lula deverá ser preso e, como ficha-suja, não disputará a eleição de 2018.

A DELAÇÃO DE Marcelo Odebrecht e de cerca de 70 executivos da maior empreiteira do país ainda não foi fechada, mas falta pouco para que seja. Apontada desde já como "a delação do fim do mundo" e, certamente, a maior de todos os tempos aqui ou em qualquer lugar, ela parece destinada a varrer como um tsunami o que ainda resta de pé do atual e carcomido sistema político.

VIDA INGRATA! Lula - sempre ele ?" será alvo da delação daqueles a quem tanto ajudou como presidente da República e, depois, como lobista internacional. Nada de pessoal, é claro. Foi bem recompensado pelo que fez. Mas, além de Lula, a delação atingirá cabeças coroadas de quase todos os partidos, algumas delas aspirantes à sucessão de Temer.

O GOVERNO NÃO escapará incólume. Temer talvez se veja obrigado a promover uma pequena reforma ministerial. Talvez promova uma reforma de médio porte, aproveitando para livrar-se de alguns ministros que não correspondem às exigências dos seus cargos. Estilhaços da delação poderão alcançar o próprio Temer. Embora protegido pelo exercício do mandato, ele não ficará bem.

O SUPREMO TRIBUNAL Federal (STF) não ficará bem se ali continuarem seguindo devagar, quase parando, as denúncias e os processos que envolvem políticos e autoridades com direito a foro especial. Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, é um desses políticos. Responde no STF a onze processos. O primeiro, depois de sete anos emperrado, está pronto para ser julgado.

QUANDO CHEGAR ao seu final, a Lava-Jato de pouco terá servido, na ausência de uma reforma política que de fato desmonte o que a provocou. Políticos que se imaginam a salvo da Lava-Jato, ou que rezam para se salvar, falam em reforma política a ser aprovada para produzir efeitos em 2018. Mas serão eles (cruzes!) que votarão tal reforma. É de se acreditar que produzirão algo decente?

OUTRO DIA, EM meio a uma sessão da Câmara dos Deputados, tentou-se aprovar uma anistia para quem se elegeu com dinheiro não declarado à Justiça. E também para os doadores do dinheiro. A proposta de anistia está sendo revista. Deverá ser reapresentada em breve. Estamos nos estertores de um sistema político moribundo que teima em respirar. Todo cuidado com ele é pouco.
Herculano
31/10/2016 09:15
HOJE É DIA DO SACI PERERÊ

Hoje é dia de comemoração pagã. É dia das bruxas, ou então do Halloween, uma comemoração anglo-saxão - mas que ganhou o mundo a partir dos Estados Unidos - que antecede ao dia de todos os Santos.

A história desta data comemorativa tem mais de 2500 anos. Surgiu entre o povo celta, que acreditavam que no último dia do verão (31 de outubro), os espíritos saiam dos cemitérios para tomar posse dos corpos dos vivos. Para assustar estes fantasmas, os celtas colocavam, nas casas, objetos assustadores como, por exemplo, caveiras, ossos decorados, abóboras enfeitadas entre outros.
 
Por ser uma festa pagã foi condenada na Europa durante a Idade Média, quando passou a ser chamada de Dia das Bruxas. Aqueles que comemoravam esta data eram perseguidos e condenados à fogueira pela Inquisição.

O Brasil, pelas escolas, também aderiu ao imaginário anglo-saxão e esqueceu a nossa rica literatura que trata de assunto assemelhado no mundo das bruxas (as de Monteiro Lobato) e o nosso Saci Pererê.
Herculano
31/10/2016 09:09
BOA POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL NÃO DEPENDEM DE IDEOLOGIA, por Vinicius Mota, para o jornal Folha de S. Paulo

Confirmou-se nessas eleições municipais o movimento tectônico da política brasileira rumo à centro-direita, em harmonia com o que ocorre na América do Sul. Parece ser o início de um ciclo longo.

É fácil detectar os traços organizacionais da esquerda no Brasil, conectada com o sindicalismo trabalhista nos setores público e privado, com lobbies da reforma agrária e urbana, com uma parcela do professorado das universidades públicas e com uma franja da Igreja Católica.

Menos óbvio é entender por que a luta contra a desigualdade de renda e oportunidades encontra obstáculos intransponíveis numa esquerda assim configurada.

Avanços na educação e na saúde para a maioria mal remediada da população dependem de derrotas do corporativismo encarnado pelos sindicatos. As próprias ideias econômicas da esquerda fertilizam o solo no qual vicejam grupos empresariais bem situados que parasitam o Estado.

A centro-direita e sua constelação de interesses, um pouco mais liberal na economia, tampouco é portadora necessária das melhores respostas. Busquem-se no Ceará dos irmãos Gomes ou no Pernambuco de Campos experiências de sucesso no ensino público, mas não na modorrenta administração Alckmin em São Paulo.

Direitistas e esquerdistas muitas vezes se unem nas agendas predatórias. O tucano João Doria dará sequência à caótica e perdulária política de subsídios no transporte paulistano, que o petista Fernando Haddad, pressionado por movimentos de esquerda, conseguiu a proeza de piorar.

Aqui quem faz 60 anos, faixa cuja renda já dispõe de ampla proteção no país, também ganha ônibus de graça. Talvez fosse mais eficaz lançar dinheiro de helicóptero sobre regiões carentes da cidade.

O que distingue as boas políticas igualitárias no Brasil não é a cor ideológica, mas a capacidade de, com base na melhor ciência, deslocar os grupos de pressão.
Herculano
31/10/2016 08:03
QUEM VAI HERDAR CAPITAL ELEITORAL DEIXADO POR LULA, por Gabriela Fujita, do portal Uol

As eleições municipais de 2016 deixam algumas pistas de como será a disputa presidencial em 2018, mas nada muito claro ainda, de acordo com os analistas políticos que participaram da cobertura do UOL neste domingo (30).

Com as perdas do PT (Partido dos Trabalhadores) em todo o país, fica a dúvida sobre uma possível candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República e sobre quem poderá herdar o capital eleitoral que ele venha a deixar.

O blogueiro do Uol Josias de Souza diz que não é mais viável que Lula enfrente a disputa pelo PT.
"É muito cedo para a gente dizer quem vai ser candidato forte em 2018. O Lula não é mais candidato ou não reúne mais condições para ser o candidato do PT em 2018, e você tem a Lava Jato, que fez com que o noticiário político migrasse da editoria de política para a editoria de polícia, e agora vai migrando gradativamente para aquela seção do jornal onde são publicados os avisos fúnebres. Algumas candidaturas já estão mortas, a candidatura do Lula está morta", afirma.

O cientista político do Insper Carlos Melo concorda: "as condições do ex-presidente Lula são muito complicadas para que ele possa vir a ser candidato. Mas quem herda esse contingente de votos do Lula?", questiona.

É bem difícil, os dois afirmam, estabelecer quem poderia obter vantagens com uma não candidatura do petista. O cenário, por enquanto, apresenta muitas dúvidas. E uma delas é que leva tempo para construir uma trajetória como a do ex-presidente.
"O Lula disputa uma eleição em 1982, perde, disputa eleição em 1989, 1994, 1998..., ele vai ganhar 20 anos depois. Para o PT chegar ao poder nacional, são 20 anos de trajetória. No caso do PSOL, nós temos a primeira aparição --e ainda localizada-- na cidade do Rio de Janeiro. Imaginar que agora toda aquela base eleitoral do PT vá para o PSOL, acho que é precipitação", diz Melo.
Desemprego e corrupção fizeram periferia "dar adeus ao PT"

LIDERANÇAS REGIONAIS
Ainda é cedo para avaliar quem teria condições de herdar um espólio do PT também na opinião do blogueiro do UOL Leonardo Sakamoto, para quem o partido ainda poderá lançar em 2018 seus grandes nomes tradicionais.

"Aqui em São Paulo, tivemos o Eduardo Suplicy como o mais votado da Câmara de Vereadores. É cedo para decretar a falência do PT", afirma.

Mas lideranças regionais que despontam agora podem representar futuros refúgios desses eleitores, avalia.

"No Ceará, a família Gomes mantém o seu poder sobre Fortaleza. Flávio Dino, no Maranhão, consolida a vitória de um aliado na capital, São Luís, com mais prefeituras do que o Sarney no Estado. O próprio Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro, com o PSOL elegendo a segunda maior bancada no Rio."

AÉCIO NEVES (PSDB)
Embora o PSDB tenha obtido um resultado positivo nas eleições municipais, seu presidente nacional, o senador Aécio Neves, teve um resultado "ultranegativo", na avaliação de Josias de Souza. O tucano mineiro enfrentou hoje a terceira derrota consecutiva em seu quintal eleitoral, com a vitória de Alexandre Kalil (PHS) em Belo Horizonte. As outras derrotas ocorreram na eleição para o governo do Estado, quando foi eleito Fernando Pimentel (PT), e quando Aécio recebeu menos votos em seu berço eleitoral do que os conquistados pela ex-presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

"Aécio tem que enfrentar agora um paradoxo: ele acha que é uma coisa, mas a realidade está mostrando que ele é outra coisa diferente. Ele acha que é o candidato natural do PSDB à presidência em 2018. A realidade mostra que ele já não é o candidato natural", afirma o blogueiro, uma vez que Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e o ministro José Serra também constam na lista de presidenciáveis do partido.

Geraldo Alckmin (centro) comemora vitória de João Doria em São Paulo, pelo PSDB

GERALDO ALCKMIN (PSDB)
Na avaliação do cientista político Carlos Melo, não está em casa a dificuldade do governador Alckmin, cujo aliado João Doria conquistou a Prefeitura de São Paulo.

"O governador Alckmin ganha em São Paulo, mas tem um grande problema, que é para fora de São Paulo. Ele é muito forte em sua terra, mas tem muita dificuldade para fora. Ao contrário do Aécio, com fragilidade na sua terra, mas com uma certa fortaleza para fora."

As próximas batalhas do partido tucano antes de decidir quem vai para o topo da lista presidenciável devem ser: a liderança na Câmara, a presidência da Câmara e a presidência do próprio PSDB, na opinião de Melo.

CIRO GOMES (PDT)
O ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes é considerado pelos analistas políticos como um dos "vitoriosos regionais" nas eleições 2016. E hoje tem o domínio de um partido nacional, que é o PDT.

"Já há dentro do PT inclusive esforços para um comitê Ciro 2018', diz o cientista político do Insper.

"Herdando alguma parte desse capital do Lula, o Ciro poderá estar no segundo turno. O que a gente pode dizer é que hoje, 30 de outubro de 2016, a eleição 2018 começou. Mas ela já começa não com um grid de largada definido, mas com uma enorme disputa para ver quem é que vai chegar a esse grid de largada. A primeira impressão que nós temos é o que o PT não estará lá", conclui.
Herculano
31/10/2016 07:52
SEGUNDO TURNO CONFIRMA GUINADA À DIREITA E CONSERVADORA, por Leandro Colon, do jornal Folha de S. Paulo

A direita, definitivamente, venceu a esquerda em 2016. E não foi por pouco.

O segundo turno confirmou a preferência do eleitor de capitais e dos grandes centros por candidatos conservadores e com discurso político à direita.
Numa análise geral de todos os municípios, a eleição termina com o fortalecimento de PSDB, PMDB e PSD, todos da base do governo de Michel Temer, e o massacre do PT, que começa o ano de 2017 com apenas um prefeito de capital (Rio Branco).

O movimento eleitoral pró-direita já havia sido indicado no primeiro turno nas capitais e simbolizado na reeleição acachapante de ACM Neto (DEM) em Salvador, com 74% dos votos, e na surpreendente vitória de João Doria (PSDB) em São Paulo.

Ambos se encaixam no perfil de candidatos de características liberais, focados no discurso privatizante e próximo do empresariado.
A votação deste domingo (30) ratificou uma tendência que ainda merece ser totalmente decifrada.

Seria consequência da crise política que tirou o PT do Palácio do Planalto este ano?
Ou uma reação em cascata nos municípios à crise econômica no país, fruto de erros de gestões petistas no governo federal? Ou os dois fatores, político e econômico?

As urnas em 2016 revelam também o crescimento de partidos e grupos que defendem, além de uma política direitista, um comportamento conservador.
O exemplo mais expressivo no contexto nacional é Marcelo Crivella, prefeito eleito no Rio de Janeiro.

Ele venceu Marcelo Freixo, candidato do PSOL, à esquerda e ideologicamente oposto ao vencedor.
Crivella fez a carreira nos cultos da Igreja Universal, de onde é bispo licenciado.

Sua vitória também é o sucesso do PRB, partido controlado pela igreja de Edir Macedo e que pela primeira vez vai comandar uma prefeitura de capital ?"no caso, uma das mais relevantes politicamente.

Hoje senador, Crivella ganha após ter sido bombardeado na campanha pela revelação de frases ditas por ele no passado, na condição de bispo, consideradas por adversários homofóbicas ou de radicalismo religioso.

No discurso de vitória no domingo, ele adotou um tom de conciliação ao agradecer apoio de católicos e de adeptos de outras crenças.

Essa guinada à direita nas capitais ganhou corpo no Sul com as vitórias de Nelson Marchesan (PSDB), em Porto Alegre, e Rafael Greca (PMN), em Curitiba.

Em Belo Horizonte, o segundo turno havia evidenciado esse movimento na disputa entre o tucano João Leite e Alexandre Kalil (PHS).

A vitória de Kalil, que fez carreira como cartola no Atlético-MG, representa ainda a força de candidatos que adotaram discurso de negar a política ?"foi assim também em São Paulo, onde Doria bateu na tecla de que, ao contrário dos adversários, não era um político de raiz.

PT, O GRANDE DERROTADO
O fortalecimento da direita automaticamente representa um enfraquecimento da esquerda, sobretudo do PT.

O partido dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff havia saído do primeiro turno como o principal derrotado em 2016 ao eleger menos da metade do número de prefeituras conquistadas quatro anos atrás.

A sigla venceu somente em uma prefeitura de capital, com Marcus Alexandre, reeleito em Rio Branco (AC).

Começa 2017 sem comandar uma capital no Nordeste, reduto que já representou muito de sua força no país.

O atual prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), foi reeleito na disputa contra o petista João Paulo.

O drama do PT pode ser simbolizado pelas derrotas no chamado "cinturão vermelho" na Grande São Paulo.

O petista Carlos Grana perdeu a reeleição em Santo André para o tucano Paulo Serra com um resultado constrangedor: 78% a 21% dos votos.

O PT já tinha ficado de fora do segundo turno em São Bernardo do Campo, depois de oito anos de gestão petista com Luiz Marinho, cria política de Lula. Na cidade do ABC, berço político do ex-presidente, venceu um candidato do PSDB, Orlando Morando.
Herculano
31/10/2016 07:47
STF E MPF CONDENAM A TAL 'POLÍCIA LEGISLATIVA', por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

O Ministério Público Federal, em parecer da procuradora Debora Duprat, definiu como inconstitucional a atribuição de Polícia Judiciária à Polícia Legislativa, que tenta regulamentação por meio de Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) protocolada no Supremo Tribunal Federal. Em outra ação, o Senado pede autorização para que os seguranças andem armados fora das dependências do Congresso.

É DE ARAQUE
Em despacho interno, o ministro Marco Aurélio sustentou que "polícia" do Senado deveria ser chamada de polícia patrimonial.

O QUE DIZ A CONSTITUIÇÃO
No inciso IV do art. 144, a Constituição diz que a Polícia Federal exerce, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

ATRIBUIÇÕES
Polícia Judiciária é aquela que pode realizar prisões em cumprimento de ordem judicial, realizar escutas, fazer busca e apreensão etc.

PERDEU A NOÇÃO
Em um surto de autoridade, a polícia do Senado criou um "grupo tático especial". Sabe-se lá o que essa turma faz por aí.

CÂMARA GASTA R$ 3,76 MILHÕES EM SAÚDE
Deputados e ex-deputados não sofrem com a crise na saúde pública. Desde o ano passado, a Câmara Federal gastou R$ 3,76 milhões em convênios com hospitais e clínicas de primeiro nível. Do total, R$ 2,5 milhões foram destinados ao hospital Sírio Libanês, de São Paulo, para atender suas excelências. E mantém um Departamento Médico (Demed) tão completo quanto dispendioso, às custas do Tesouro.

ASSIM É MOLE
Apesar do Demed, para os deputados o melhor médico continua sendo um avião (pago por nós) para o Sírio Libanês, em São Paulo.

PLEBE BANCA A CASTA
Quaisquer procedimentos no Sírio Libanês, para deputados, seus dependentes e servidores efetivos, são bancados pelo contribuinte.

DINHEIRO PÚBLICO
O contrato com o Sírio Libanês se encerra nesta segunda (31), mas a Câmara deve renová-lo. Tudo para garantir saúde dos deputados.

FIM DA POLÊMICA
A polêmica questão da terceirização será julgada no Supremo Tribunal Federal STF dia 9. A ação foi movida pela Celulose Cenibra contra uma decisão do TST que considerou ilícita a terceirização na empresa.

GUINADA À DIREITA
"O Rio está endireitando", avalia o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), sobre o crescimento da bancada do partido, que elegeu 54 vereadores. O DEM teve o maior crescimento no Rio: 170%.

DECLÍNIO À ESQUERDA
No Rio de Janeiro, assim como no restante do País, o PT foi o que mais reduziu sua presença nas câmaras municipais: caiu 80,46%. Os petistas elegeram apenas 17 vereadores contra os 87 de 2012.

POR ONDE ANDA AGNELO
O ex-governador do DF Agnelo Queiroz (PT) é o mais assíduo funcionário da Fiocruz em Brasília. Chega às 8h em ponto, registra presença e trabalha. Nas horas vagas, é vendedor da Polishop.

APARELHAMENTO
Após insultar a Justiça, Renan Calheiros tenta emplacar a ex-auxiliar Ana Luisa Marcondes no Conselho Nacional de Justiça. Difícil é convencer Rodrigo Maia de abrir mão da indicação, porque a vaga pretendida pelo insaciável político é da Câmara dos Deputados.

MASCARADO
Em exposição no Senado, Paulo Rocha (PT-BA) recebeu uma obra de arte denominada "Mascarado", entregue a senadores do Pará. Muito apropriado ao momento político brasileiro.

HAJA PEIXE
O governo federal já pagou R$ 10,1 bilhões aos pescadores artesanais este ano. São 1.323.593 pescadores na lista e apenas 1.933 tiveram de devolver dinheiro recebido indevidamente e 34 não receberam nada.

SEU DINHEIRO
Os governos Dilma Rousseff e Michel Temer gastaram mais de R$ 490 milhões com o pagamento de passagens e outros gastos de locomoção de funcionários públicos, apenas este ano.

PENSANDO BEM...
...tem gente aliviada com o feriadão, na esperança de que a Polícia Federal não faça operações em dias de folga.
Herculano
30/10/2016 20:59
SE ENTREGA, CORISCO, Fernando Gabeira, no jornal O Globo

Renan está nervoso, o que era raro no passado.

Renan Calheiros, no passado, perdia cabelos mas não perdia a cabeça. Agora, ele ganhou cabelos mas perde a cabeça, com frequência. Recentemente, disse que o Senado parecia um hospício e afirmou que ajudou a senadora Gleisi Hoffman no seu embate com a Lava-Jato. Hoje, sabemos que ordenou varreduras em vários pontos estratégicos ligados aos senadores investigados pela roubalheira na Petrobras.

E Renan perdeu a cabeça de novo, chamando um juiz federal de juizeco e o ministro da Justiça de chefete de polícia. Sua polícia legislativa funciona como uma espécie de jagunços de terno escuro e gravata, a serviço de alguns coronéis instalados no Senado. Quando combatemos Renan e o obrigamos a deixar o cargo de presidente, os jagunços já estavam lá. Como o Brasil vivia num estado meio letárgico, tivemos de enfrentar a braço os jagunços de Renan para garantir a transparência de uma reunião sobre seu destino.

O sono brasileiro não é mais tão profundo como na época. Ainda assim, Renan sequer foi julgado pelos crimes de que era acusado na época. São as doçuras do foro privilegiado. Agora, ele quer que o foro privilegiado, que já era uma excrescência para deputados e senadores, estenda-se também aos seus jagunços. E que o espaço do Senado seja um santuário para qualquer quadrilha que tenha, pelo menos, um parlamentar como membro.

Talvez Renan esteja desesperado. Mas essa hipótese ainda precisa ser confirmada. Há sempre alguém que se acha o verdadeiro guardião das leis e se dispõe a defender Renan e o Senado, independentemente desse contexto bárbaro que presenciamos há anos. O próprio Gilmar Mendes, cujas posições são respeitáveis, saiu em defesa de Renan, sugerindo que a polícia não deveria entrar ali. Mas o que fazer quando a própria polícia do Senado comete uma delinquência? A resposta das pessoas que não foram atingidas pela Lava-Jato, mas se incomodam com o sucesso da operação, é sempre esta: falem com o Supremo. No caso do Renan, sob investigação em 12 processos diferentes, e sempre na presidência do Senado, o que significa falar com o Supremo?

Estamos falando com o Supremo há anos. Ele manda grampear senadores adversários, como fez com Marconi Perillo, orienta a agressividade e a truculência de seus jagunços contra deputados. Até hoje, para ele, o Supremo é apenas o cemitério de seus processos.

Renan, Gilmar Mendes e todos os defensores desse absurdo não conseguem me convencer que é preciso pedir licença ao Supremo para punir jagunços que usam equipamentos do Estado, diárias pagas pelo governo, para fazer varreduras na campanha de Lobão Filho, no Maranhão. Varreduras inclusive sob supervisão do genro de Lobão Filho, um homem chamado Marcos Regadas Filho, acusado de sequestro e mencionado no assassinato do blogueiro Décio Sá.

A diversão desse personagem para qual os jagunços trabalharam é usar o helicóptero para dar voos rasantes no Rio Preguiça em Barreirinhas, aterrorizando banhistas e pescadores.

- Foge, meu preto, que isso é vendaval - ouvia-se o grito dos pescadores

O halo protetor do Supremo não se limita aos bandidos do Congresso, mas aos seus jagunços e cúmplices regionais. A Lava-Jato não é infalível. Está sujeita a críticas como todas as atividades de governo. Não se deve usar o êxito da Lava-Jato com intenções corporativas, inclusive num momento de crise econômica como a nossa. Até aí, tudo bem. Mas negar à PF o direito de entrar no Senado quando o crime está sendo cometido pela própria polícia parlamentar, isso me parece um absurdo. O foro privilegiado tem sido uma espécie de escudo para os bandidos eleitos. Se o espaço onde atuam torna-se também um santuário para todos os que trabalham lá, teremos não só a impunidade de indivíduos mas a liberação de espaços especiais para o crime.

Nas campanhas que fiz contra Renan, desenhamos um cartaz dizendo: "se entrega, Corisco". Isso foi há muito tempo. Seus crimes não foram punidos na época. Ainda me lembro das imagens das boiadas se deslocando no sertão para fingir Renan que era um grande criador. Os crimes não apenas deixaram de ser punidos. Aumentaram exponencialmente ao longo dos anos, ancorando-se inclusive na pilhagem da Petrobras.

Eduardo Cunha foi preso. Não tinha mais mandato. Se Renan continuar solto, é apenas porque tem um. É justo cometer crimes em série, sob o escudo de um mandato parlamentar? Renan está nervoso porque percebe o crepúsculo de um sistema de impunidade tecido pela audácia dos coronéis e a inoperância do Supremo. A evolução do país o levou a perder a cabeça, algo raro no passado. Espero que não chegue a arrancar os cabelos e ouça o meu conselho de anos atrás: se entrega, Corisco.
Herculano
30/10/2016 20:56
REBELDES TATEANDO EM BUSCA DE UMA CAUSA, por Bolívar Lamounier, sociólogo, no jornal O Estado de S. Paulo

Como as organizações comunistas ainda mantêm sua influência no meio estudantil?

O sangue do adolescente esfaqueado em Curitiba na última segunda-feira já seria motivo mais que suficiente para tentarmos entender melhor o movimento de ocupação de escolas deflagrado por estudantes secundaristas, apoiados, em alguns casos, por docentes e universitários. Mas a amplitude do movimento suscita questões importantes sobre a presente situação brasileira.

O objetivo declarado, bem o sabemos, é protestar contra a reforma do ensino médio proposta pelo governo Temer. A reforma é uma tentativa de modernizar o currículo, tornando-o mais flexível. Pretende reduzir o número de matérias obrigatórias a fim de aumentar a concentração em Português, Inglês e Matemática. Isso é bom ou ruim? É óbvio que essa pergunta interessa a todos os cidadãos brasileiros, a todas as comunidades de que se compõe a nossa sociedade, não apenas às comunidades diretamente envolvidas no processo educacional.

A primeira questão a considerar é, pois, por que dezenas de milhares de estudantes e professores optaram por uma tática violenta (ocupação é violência), descartando liminarmente o diálogo com as autoridades do governo, com os especialistas que trabalharam no projeto da reforma e com outras comunidades potencialmente interessadas. Por que uma tática que os isola, quando só teriam a ganhar ampliando o alcance de sua manifestação? Por que não uma série bem organizada de debates, pacífica e ordeira, tecnologia que nossa sociedade, felizmente, domina há tanto tempo?

Sabemos que o comportamento de um grupo social numeroso nunca se deve a uma causa única. Há sempre uma conjunção de motivos. Na reflexão a seguir, abordarei três hipóteses, em grau crescente de plausibilidade, designadas como civismo educacional, ativismo romântico e politização de esquerda.

A hipótese do civismo educacional já foi parcialmente suscitada. Debater a reforma do ensino é um direito de todo cidadão. Entre os docentes e discentes, ou seja, na comunidade mais diretamente envolvida no processo educacional, é razoável admitir que esse direito seja vivenciado de modo mais intenso, como um dever cívico. É difícil crer que essa motivação tenha sido suficiente para levar centenas de milhares de secundaristas a se integrar ao movimento, invadindo escolas e nelas permanecendo por vários dias. Presumivelmente, uma atitude cívica de tal intensidade teria mais chance de se desenvolver entre adultos, principalmente entre os mais bem informados sobre as questões em jogo. Admitamos, porém, que a hipótese do civismo ajude a compreender por que uma parcela dos participantes vê sentido na tática de ocupar escolas.

Minha segunda hipótese é a do ativismo romântico. Para o jovem inclinado ao romantismo, a "normalidade burguesa" é um tédio insuportável. Ele deseja ardorosamente mudar a sociedade, mas não sabe como. Não conseguindo identificar-se com a sociedade existente e não atinando com os fundamentos da ordem política democrática, ele não atura as convenções e instituições que lhe servem de base, vendo-as como um mundo de aparências e hipocrisia. Durante o século 20 o romantismo alimentou todo tipo de fantasia revolucionária; e, ainda hoje, por toda parte e todas as classes e grupos etários há estudantes, intelectuais, artistas e clérigos imbuídos da crença de que só através dessa fonte fáustica chegarão à plena posse de sua alma e ao sentido de sua vida. Num país como o Brasil, socialmente dilacerado e dilacerante, essa forma de romantismo compreensivelmente se alastra com facilidade, se não como uma motivação destrutiva consciente, ao menos como uma tentativa de experimentar situações "contraculturais", à margem da sociedade.

Mais robusta, entretanto, parece-me ser a hipótese ideológica, ou seja, a da politização de esquerda. Ninguém ignora que o PT e os pequenos partidos comunistas disputam acirradamente o controle do movimento estudantil, geralmente apoiados por uma parcela do corpo docente. Um leitor desavisado poderá surpreender-se com essa afirmação. Esses partidos e suas facções agem orientados pelo que chamam de socialismo. Mas como, se a URSS desmoronou há um quarto de século? Se a China, desde Deng Xiaoping, abandonou suas antigas crenças a respeito da cor do gato, interessando-se apenas em saber se ele come ratos? Sem esquecer que Cuba, com a bancarrota soviética, virou carta fora do baralho. O que resta é a Coreia do Norte brincando de bomba atômica e a Venezuela a um passo de sua tragédia anunciada. Lembremos, como arremate, que a recente eleição municipal e a Operação Lava Jato reduziram o PT a pó de traque.

Contra esse pano de fundo de tantos fiascos, como compreender que as organizações comunistas conservem sua influência e até consigam se expandir no meio estudantil? Dado o espaço disponível, limitar-me-ei a duas observações sucintas. Primeiro, as crenças antiliberais, entre as quais o comunismo se destaca, correspondem com exatidão à noção de ideologia como o oposto do conhecimento racional. Caracterizam-se por uma incapacidade profunda de assimilar e processar informações novas, contrárias ao sentido que lhes é inerente.

Nas condições atuais, justamente por terem perdido seus referenciais internacionais, as esquerdas ditas socialistas regridem a um mero "movimentismo" sustentado em elaborações intelectuais quase totalmente vazias de conteúdo. O leitor interessado em apreciar este ponto pode esquecer seu Marx, vá direto às Reflexões sobre a Violência de George Sorel, o inventor do anarco-sindicalismo. O conteúdo das ideias - Sorel ensinou ?" é uma questão secundária. Os "oprimidos" aprendem é pelo movimento, por uma luta incessante. Para tanto basta um mito. Pode ser a figura de um populista corrupto ou uma narrativa maniqueísta do tipo "nós contra a elite". Qualquer mito serve e quanto mais simples, melhor. Os "oprimidos" não precisam queimar pestanas em cima dos cartapácios de Marx.
Herculano
30/10/2016 20:52
CADÊ OS "OUTSIDERS"? Eliane Catanhede, para o jornal O Estado de S. Paulo

PT perde, PSDB ganha, PMDB estabiliza e 'outsiders' continuam fora.

Ao contrário do alardeado desde o primeiro turno, esta eleição que termina hoje não consagrou nem privilegiou os "outsiders" da política. Os novos prefeitos de Norte a Sul serão políticos de carreira e a rejeição do eleitorado à política e aos partidos não se dá pelo voto a arrivistas, mas pelo não voto: abstenção, nulos e brancos.

A exceção que confirma a regra no segundo turno é Alexandre Kalil, empreiteiro que se fez à sombra do Estado, apresenta-se como antipolítico, xinga a política e concorre pelo inexpressivo PHS contra o tucano João Leite em Belo Horizonte, uma das três principais capitais do País e a grande indefinição de hoje. Mas, em vez de prejudicar a política, ele a ajuda.

Por quê? Porque se aproveita do ambiente da Lava Jato e da corrupção sistêmica para fazer campanha contra a política, mas não é nenhum exemplo de pureza. Kalil, o não político, foi condenado por apropriação indébita e sistemática do INSS de seus funcionários e deve 16 anos de IPTU. Como virar prefeito se suas dívidas com o setor público somam muitos milhões de reais? Pretende cobrar de si mesmo?

Sua campanha tem traços misturados de Trump, Collor e PSTU: "Não aos políticos, Kalil 31", "Chega de política, Kalil 31", "Fora PSDB, Fora PT, Kalil 31". Ou seja, ele quer entrar no jogo (metáfora bem adequada à eleição de BH), mas finge que não e condena o jogo. Isso é deseducativo, ajuda a massificar a ideia de que a política e os políticos são sujos. Logo, a democracia é um mal.

E por que Kalil é o antipolítico e João Doria não pode ser classificado assim? Doria, como Dilma e Haddad, nunca teve mandato antes, mas disputou prévias no PSDB de São Paulo, reafirmou uma identidade partidária, fez campanha sob o patrocínio do governador Geraldo Alckmin e ao lado de deputados e vereadores... Entrou no jogo sem disfarces. Não negou a política, não deseducou.

Olhando-se para as 18 capitais onde há segundo turno, a eleição é entre políticos. Rio, o máximo da polarização, com Crivella (PRB) e Freixo (PSOL); Porto Alegre, Marchesan (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB); Recife, Geraldo Júlio (PSB) e João Paulo (PT): Maceió, Rui Palmeira (PSDB) e Cícero Almeida (PMDB)... Cadê os "outsiders"?

Nessa visão panorâmica, o PT teve uma derrota acachapante no primeiro turno (só venceu em Rio Branco, no Acre) e o ex-prefeito João Paulo está bem atrás no Recife, única capital onde o partido concorre. Na outra ponta, o PSDB teve a vitória espetacular de Doria e levou Teresina no primeiro turno, concorrendo em oito capitais no segundo, com boas chances em Porto Alegre, Maceió, Manaus (Arthur Virgílio) e Porto Velho (Dr. Hildon). Há empate técnico em BH e os tucanos estão atrás em Campo Grande, Cuiabá e Belém, apesar dos três governadores serem do PSDB.

Dos maiores partidos, PMDB disputa Porto Alegre, Florianópolis, Maceió, Macapá, Goiânia e Cuiabá e o PSB está na disputa no Recife, em Aracaju e em Goiânia, mas outra característica desta eleição é a pulverização partidária, com PSD (Curitiba e Campo Grande), PSOL (Rio e Belém), PMN (Curitiba e São Luís), PDT (São Luís), PRB (Rio), PP (Florianópolis), PPS e Solidariedade (ambos em Vitória), Rede (Macapá), PCdoB (Aracaju), PTB (Porto Velho) e PR (Manaus).

Conclusão: PT vai mal, PSDB tende a ser o grande vitorioso, PMDB mantém uma força disseminada, uma profusão de partidos pinga pelo mapa brasileiro, mas a eleição não é um jogo de "outsiders", mas de profissionais. A política continua sendo dos políticos e o protesto crescente do eleitor no mundo contemporâneo é mais pela abstenção, voto nulo ou em branco do que pelo voto em arrivistas. O eleitor irritado prefere meter o sarrafo nos candidatos pelo Facebook e pelo Twitter do que votar. Mas quem vota tenta fugir do perigo maior.
Herculano
30/10/2016 20:48
EXPLORAÇÃO POLÍTICA DA POBREZA, por Percival Puggina, para o jornal Zero Hora, da RBS Porto Alegre RS

Tem sido comum entre nós que grupos políticos em disputa atribuam apelidos uns aos outros. A versão mais atualizada desse hábito surgiu nas manifestações públicas a favor e contra o impeachment de Dilma Rousseff. Quem era a favor ganhou o designativo "coxinha". Quem era contra virou "mortadela". Conquanto as coxinhas fossem meramente simbólicas e não aparecessem fisicamente, a mortadela, essa sim, chegava em cestos, servida com pão. Em torno desses sanduíches se comprimiam manifestantes trazidos em ônibus para atuarem como figurantes nos eventos governistas. Faziam lembrar os filmes épicos do cineasta norte-americano Cecil B. DeMille, nos quais multidões eram contratadas para povoar a tela em cenas que causavam grande impressão. Nas manifestações contra o impeachment, quando a câmera dava um close, viam-se homens e mulheres humildes, em camisetas vermelhas, atacando com disposição o prometido sanduíche.

Não raro, alguém se infiltrava nessa multidão, entrevistando-a e testando-a sobre suas convicções. As respostas, como seria de se esperar, mostravam que a quase totalidade não tinha ideia sobre a razão de ali estar. Embora muitos assistissem a essas cenas, posteriormente exibidas nas redes sociais, como coisa jocosa, tratava-se, na verdade, de algo constrangedor e triste. Triste e constrangedor. Como não se constranger ante a falsificação da cidadania? Como não se entristecer quando seres humanos têm sua dignidade rebaixada à condição de figurante de cidadão, ao preço de um sanduíche e alguns vinténs, num ato presumivelmente político? Nada contra quem foi levado a esse nível de carência. Apenas dó e respeito. Mas tudo contra quem se vale dessas pessoas e de suas precariedades para difundir uma mensagem de araque em comícios com figurantes. Após tantos anos no poder, precisam valer-se dos apelos da pobreza para atribuir vigor e atrair adesão à falácia de que acabaram com ela.

Pobre pobreza, sempre tão na ponta da língua e longe dos corações! Eleição após eleição, governo após governo, com crescente vigor a partir do "Tudo pelo social" do companheiro José Sarney, a pobreza ganhou o primeiro plano da retórica eleitoral. Na prática, os resultados são tão escassos quanto pode ser percebido tão logo se dissipa a algaravia dos discursos. Tudo se passa como se o discurso fosse capaz de superar os fatos e a autolouvação alterasse as estatísticas, proporcionasse emprego aos desempregados, salário e renda aos devedores. E pão com mortadela a quem tem fome. Sim, porque o pão com mortadela sumiu com o desinteresse pelas massas de figurantes. A volta vem e os "calaveras" se secam, ensinam os fronteiriços.

A economia nacional, que surfou sobre a crise no mar da China compradora crendo que o céu seria sempre azul e a brisa suave, se espatifou contra os rochedos da realidade. Era inevitável. A casa foi assaltada. O poço secou. A responsabilidade fiscal foi demitida das contas públicas. As maiores empreiteiras no Brasil abasteceram seus cofres diretamente do PIB nacional. A turma do Pixuleco enricou como Tio Patinhas jamais imaginou. Com o dinheiro do BNDES, o Brasil se transformou em mecenas ideológico de nossos satélites ibero-americanos e africanos. Mas tudo foi feito, dizem-nos, por incondicional amor aos pobres.

Pior do que isso. Agora, quando se pretende reerguer o país e medidas de austeridade se impõem, retomam o discurso da irresponsabilidade fiscal. Exigem que não se pague a dívida que quintuplicaram, cobram que se baixe a taxa de juros que elevaram e que o novo governo faça logo e faça bem, pela saúde e pela educação, tudo que não foi feito em 13 anos. Por amor e em defesa dos pobres.

O zelo pelos mais necessitados não é saliva de discurso. Antes de tudo é criar condições para que as pessoas, elas mesmas, promovam seu desenvolvimento humano e social. A pobreza, por si só, é uma chaga nacional. Explorá-la politicamente, em nome dela, é perverso
Herculano
30/10/2016 20:38
LULA E DILMA DÃO UMA BANANA PARA A DEMOCRACIA E NÃO VÃO VOTAR; E AINDA HÁ BOBO QUE FAZ VIGÍLIA..., por Reinaldo Azevedo, de Veja

Dois ex-presidentes, ambos favoráveis ao voto obrigatório, ignoram o segundo turno porque seus respectivos candidatos nem o disputavam

Quem é petista e não se beneficiou das maracutaias lideradas pelo partido não deve ser bandido - embora possa gostar de bandidos? Mas uma coisa é certa: é trouxa. Por que afirmo isso? Nem Lula nem Dilma compareceram para votar neste domingo, embora tenha havido segundo turno nas cidades de seus respectivos domicílios eleitorais: São Bernardo do Campo e Porto Alegre.

Sendo quem são, trata-se de uma óbvia manifestação de desrespeito pelo processo eleitoral. Só não compareceram porque ambos já haviam sido derrotados nas suas cidades. Na mítica capital do sindicalismo petista, berço político de Lula, Tarcísio Secoli, candidato do PT, ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 22,57%. O segundo turno foi disputado por Orlando Morando, do PSDB, que ficou com 45,07% na primeira jornada, e Alex Manente, do PPS, com 28,41%. O tucano vai vencer. É claro que, houvesse um companheiro na reta final, o Apedeuta lá estaria.

Dilma também deu de ombros para a eleição, não quis nem saber. Ela vota em Porto Alegre. Do mesmo modo, na capital gaúcha não sobrou esquerdista para a etapa final. Nelson Marchezan Jr., que deve vencer, do PSDB, enfrenta Sebastião Mello, do PMDB. Raul Pont, do PT, obteve apenas 16,37% dos votos. A outra esquerdista da turma, Luciana Genro (PSOL), que chegou a liderar a disputa, obteve apenas 12,06% e ficou em quinto lugar.

A ex-presidente preferiu se mandar para a sua terra natal, Belo Horizonte, onde também não teria candidato. Reginaldo Lopes, do PT, teve desempenho de candidato nanico na primeira jornada: 7,27%. Alexandre Kalil (PHS) e João Leite (PSDB) rejeitaram, obviamente, o apoio do PT.

Vamos lá: eu sou contra o voto obrigatório. Acho que tem de acabar. Mas Lula e Dilma são favoráveis. Dois ex-presidentes que deixam de comparecer ao segundo turno porque não têm candidato evidencia que eles só respeitam resultado em que são vencedores. Bem, já sabíamos disso.

Segundo o Inciso II do 1º Parágrafo do Artigo 14 da Constituição, Lula não é obrigado a votar porque já tem mais de 70 anos. Mas Dilma ainda tem 68. Só para lembrar: o voto também não é obrigatório para analfabetos e pessoas entre 16 e 18 anos.

Ocorre que a questão, obviamente, não é de natureza legal apenas. Antes de mais nada, é política. Sendo quem são, deveriam demonstrar subordinação às regras do jogo? Bem, não seria agora que a dupla demonstraria seu amor ao Estado de Direito, não é mesmo?

Fico aqui pensando naqueles, com todo respeito, bobões que ficam fazendo vigília em frente à casa de Lula ou que foram às ruas para defender o mandato de Dilma. Eis o que ganham em troca: uma solene banana.

Ainda que a dupla pudesse argumentar que iria anular o voto, pouco importa. Deveria ter demonstrado que aceita as regras do jogo. Como se vê, não aceita. Para o PT, só um resultado é legítimo: a vitória do partido. Ou eles gritam: "golpe!".
Herculano
30/10/2016 20:27
ELEIÇÕES: DIZER QUE RELIGIÃO E POLÍTICA NÃO SE DISCUTEM É SINAL DE COVARDIA, por Leonardo Sakamoto

Sabe aquele mantra de que "religião e política não se discutem"? Então, é cascata - e das mais grossas. Coisa de covarde.

Pois é exatamente ao não discutir esses dois assuntos fundamentais do cotidiano que sacerdotes e políticos ou sacerdotes-políticos ganham liberdade para fazerem o que quiserem da vida alheia.

Ancoradas em nossa resignação, pessoas tendem a ser eleitas para fazer rir indivíduos, empresas, organizações e religiões que os apoiam.
Sim, em última instância, somos nós os responsáveis por isso porque jabuti não sobe em poste sozinho.

Seja por ter votado neles (reproduzindo o que terceiros disseram sem a devida análise de quem são, o que defendem e com quem estão), seja por não ter votado neles mas também não tentado, ao menos, pautar a discussão sobre eles (quando temos certeza de que não farão um bom governo ou uma boa representação). Ou, pior: não ter se interessado em saber o que faz um prefeito ?" ou se as opções que estão aí cumprem esse papel.

De tanto falar "Nada Adianta", você tem tanta responsabilidade por fazer cumprir essa profecia quanto os representantes de poderes econômico, político e "sobrenatural" que fazem de tudo para que "Nada Adiante" mesmo.

Muita gente simplesmente repete mantras que lê nas redes sociais, ouve em bares ou vê na igreja e não para para pensar se concorda ou não realmente com aquilo. É um Fla-Flu, um nós contra eles cego, que utiliza técnica de desumanização, tornando o outro uma coisa sem sentimentos. Isso é muito útil durante momentos polarizados, com este, mas péssimo para o cotidiano.

Tudo isso já foi dito aqui. Inclusive que eu gosto do cinismo. Bem dosado, cria uma casca que nos protege da insana realidade. Mas sabe o que acontece quando você exagera e diz que não importa nada do que façamos, tudo vai continuar igual? As coisas continuam iguais.

Por fim, duas coisas. Primeiro: é extremamente salutar que todos os credos tenham liberdade de expressão e possam defender este ou aquele ponto de vista.

Mas o Estado brasileiro, laico, não pode se basear em argumentos religiosos para tomar decisões públicas. Já é um absurdo prédios públicos, como o plenário do STF, ostentarem crucifixos, agir em prol deles seriam a derrota da razão. "É cultural", justificam alguns. O argumento é risível, o mesmo dado por fazendeiros que superexploram trabalhadores, defendendo uma cultura construída e excludente.

A humanidade já deveria ter evoluído para deixar as cruzadas de lado, mas os ultraconservadores de várias denominações religiosas, que gritam mais alto que as alas progressistas, botam cada vez mais lenha na fogueira de sua guerra santa, em uma luta contra o ser humano.

Segundo: em momentos de esgarçamento da democracia, o desinteresse pela política pode não ser sinal de isenção ou cansaço, mas da covardia supracitada.

Caso tivéssemos essa necessária sensação de pertencimento da cidade em que vivemos, participaríamos realmente da vida política e perceberíamos o quão importante são dias como hoje em que decisões para as próximas décadas serão tomadas.

Mas a cidade, de fato, não nos pertence. Entregamos ela, há muito tempo, às indústrias de automóveis, às empreiteiras e às empresas de telefonia móvel, às igrejas, entre outras, que sabem do que a gente realmente precisa.

Se concorda com isso, compre todo dia e vote na data de hoje, mas de boca calada. E reze para que seus direitos e sua dignidade não desapareçam nos próximos quatro anos.

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