por Herculano Domício - Jornal Cruzeiro do Vale

por Herculano Domício

11/11/2008

Subserviência
Resquício da campanha e para a reflexão de todos nós. Num país onde a expressão "senhor" é sinônimo de subserviência e não um tratamento de respeito, muita coisa ainda tem que mudar na relação dos cidadãos e cidadãs com os seus "líderes" e principalmente os políticos. Acordem políticos. Acordem assistencialistas e que precisam de pobres e ignorantes para ter sobrevida de poder, política e assim ter palcos e dar espetáculos. Um dia isso pode não dar certo. Acorde Gaspar.

Saúde
Quando se tem emprego e renda, as exigências se aperfeiçoam. E isto é bom. O tema saúde, por exemplo, incomodou, alavancou ou derrotou candidatos em Gaspar, Blumenau, Florianópolis, São Paulo e nos Estados Unidos. Exemplifico só para mostrar a universalidade do tema. Então é de se perguntar: quando é que educação será o tema da vez por aqui?

Educação
Parece que vai demorar. Com a crise financeira batendo as portas, tudo voltará, penso, à estaca zero da subsistência: emprego, renda, bolsa família etc e tal. Acordem cidadãos e cidadãs. A maioria dos políticos (incluindo os da esquerda) que temos, precisa que você mendigue para eles e viva nas trevas, na ignorância e se possível manipulado pelas bravatas, informações e a propaganda oficial deles. Assim você é mais útil para eles. Acordem cidadãos e cidadãs. É o seu futuro e dignidade que estão em jogo.

Incomodado I
Tem médico incomodado com as fotos que são mostradas por aí e que testemunham o estado deplorável do Hospital de Gaspar e que obrigou o seu fechamento. Agora, irresponsavelmente, faz lobby para escondê-las da comunidade, como se pudesse passar uma borracha em algo que ainda prejudica milhares de gasparenses. Pois eu acho que elas deveriam ser mostradas mais e repetidas vezes para a comunidade com uma única intenção: para que servissem de exemplo (do mau exemplo) e alerta, impedindo que tal cenário jamais voltasse a acontecer entre nós. Acorda Gaspar...

Incomodado II
Quem não contribuiu para tal resultado macabro por certo também não tem culpa; então nada deve temer e nem pedir; não precisa dissimular, arrumar culpados e fazer campanha nos bastidores para que se escondam provas e a antiga realidade. Se ele tem tempo e energia para gastar com futricas, devia antes empregá-las para reconstruir e dar exemplos. Ou seja, bons exemplos, exorcizando as velhas práticas políticas, administrativas, irresponsáveis e assistencialistas que contribuíram para o caos. Está na hora do velho dar espaço ao novo, à mudança. Os jovens dos Estados Unidos acabaram de fazer isso. Se vai dar certo, é outra história. Mas, antes é preciso tentar e se dar a chance. Ah, isso é absolutamente necessário. Acorda Gaspar.

Reflexão
Entre as dezenas de e-mails que recebo semanalmente, este veio do empresário da comunicação, Joel Reinert (proprietário da arrendada rádio Nativa FM). É de uma pessoa acordada. E tem tudo a ver com as notas anteriores. "Veja este texto de 1979. Não lhe parece bastante atual????", escreve-me o Joel. Então repasso a oferta, tomo emprestada a opinião (de 29 anos atrás) do jornalista, endosso-a. Jovens, desafiem o sucesso. Façam história. Não se conformem. Não sejam expectadores das mazelas dos que tomam de assalto a sua comunidade. Quebrem os paradigmas, sem perder o respeito pelos mais velhos e à memória da sua cidade. Acorda Gaspar.

O medo causado pela Inteligência
por José Alberto Gueiros. (Jornal da Bahia, em 23/9/1979)

Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: " Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta."
E ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil. A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas são medíocres e tem um indisfarçável medo da inteligência. Isso na Inglaterra. Imaginem aqui no Brasil. Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa: " Há tantos burros mandando/ Em homens de inteligência/ Que às vezes fico pensando/ Que a burrice é uma Ciência."
Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder. Mas é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.
Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.
Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdam, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer na vida.
É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social. Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota automaticamente a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.
Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender. É um paradoxo angustiante.
Infelizmente temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida.
Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues: " Finge-te de idiota e terás o céu e a terra. " O problema é que os inteligentes gostam de brilhar...

 

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