QUANDO O EXECUTIVO DESPREZA O LEGISLATIVO, ENROLA-O E O DESRESPEITA NAQUILO QUE DEVE NA TRANSPARÊNCIA À CIDADE - Por Herculano Domício - Jornal Cruzeiro do Vale

QUANDO O EXECUTIVO DESPREZA O LEGISLATIVO, ENROLA-O E O DESRESPEITA NAQUILO QUE DEVE NA TRANSPARÊNCIA À CIDADE - Por Herculano Domício

08/08/2018

 

SABE-SE BEM O QUE ELE FAZ COM A IMPRENSA QUE A QUER COMO A SUA EXTENSÃO DE SEUS ERROS PARA NÃO MACULAR À ERRÁTICA PROPAGANDA GOVERNAMENTAL E POLÍTICA

Não é de hoje que os vereadores da Câmara de Gaspar, especialmente os da oposição, são feitos de bobos pelo prefeito Kleber Edson Wan Dall, PMDB, e sua equipe. É um jogo.

Isso é proposital. Logo KLeber que se diz um político novo, tendo ainda sido vereador e até presidente da própria Câmara de Gaspar. Trata-se de uma vingança boba, para um erro de gestão política onde a oposição foi competente, e a situação soberba, incapaz e preguiçosa contra ela mesma.

Os vereadores pedem informações - sobre qualquer assunto -, e para os mais "espinhosos" digamos assim, a prefeitura cozinha as respostas e quando as dá, são imprecisas, superficiais e alguns fatos ou dados “esquecidos”. Essas respostas demoram para chegarem aos vereadores autores dos pedidos. E quando elas chegam, num jogo calculado pela esperteza, ou proposital cansaço de quem as espera, ou marcação de território político, elas não suprem os questionamentos. Vergonhoso!

Isso é sério. É repetitivo, e até já rendeu uma ida de alguns dos vereadores  -  entre eles Roberto Procópio de Souza, PDT -, à Justiça para enquadrar o prefeito Kleber, além deles ameaçarem outras tantas vezes. Foi notícia estadual. Rendeu até a vinda ao vivo da NSC TV de Blumenau a Gaspar para tratar desse assunto num link ao vivo direto da Câmara durante o programa Jornal do Almoço. Algo execpecional.
A prefeitura sentiu o golpe e reclamou do estardalhaço. Na avaliação dela foi um exagero. Entretanto, apesar da queixa, não se corrigiu até hoje. Continuou provocando, e na mesma tecla. Vítima, então não é. É arrogância, apesar da exposição que parece não perceber, ainda mais em época de campanha eleitoral, quando os danos são mais pronunciados e utilizados pelos adversários. Resumindo: não há ingênuos!
E tudo porque o poder de plantão foi incapaz na eficiência – uma marca que propaga de gestão-  de governar e neste caso de se relacionar com a Câmara. Errou, se errou, no elementar: o de preservar à estreita maioria da sua base no Legislativo para lhe garantir a governabilidade mínima. E agora, em minoria, está exposto. A nova e recente majoritária oposição, com a faca e o queixo na mão que só Kleber lhe permitiu, faz e exerce apenas o seu papel.


EM MINORIA NA CÂMARA, KLEBER E OS SEUS AINDA NÃO PERCEBERAM QUE A MÚSICA QUE TOCA É OUTRA. IMPRESSIONANTE!


Voltemos. São vários os exemplos de desprezo, enrolação e desrespeito por parte da prefeitura aos vereadores. Todavia, ficarei restrito a um deles; mais recente requerimento, o 128. Ele tenta esclarecer um anterior e precariamente respondido.
A Saúde de Gaspar estava um caos. E para colocá-la sob mínimo controle depois de dois secretários – um técnico, que rifaram por ele ser exatamente um técnico e a escolha de substituto identificado com o grupo político de plantão, que fez o que os políticos queriam e com isso enterrou de vez o governo de Kleber nessa área – o prefeito deslocou o articulador do seu governo, o advogado Carlos Roberto Pereira, MDB, para lá.
Os vereadores da agora majoritária oposição e liderados por Silvio Cleffi, PSC, – médico, funcionário público na área de saúde, que se bandeou para oposição e para isso ganhou os votos do PT, PDT e PSD para ser presidente da Câmara e derrotou a candidata de Kleber-, passaram a questionar os defeitos, dúvidas e procedimentos.
Para a oposição, quer ela apenas “conhecer” o que se faz de errado na área da Saúde municipal e com isso, segundo os vereadores, “melhorar as ações governamentais nessa área”. Exercem, alegam os vereadores, apenas à prerrogativa da fiscalização inerente ao Legislativo sobre o Executivo.
E aí, sem muito a dizer, ou até por birra, a secretaria de Saúde e o prefeito Kleber passaram a esconder o jogo, cozinhar o galo, e dar informações imprecisas ou pela metade. Com essa “técnica” manjada, evitam os questionamentos judiciais – como já foram – e ao mesmo tempo, não atendem e cansam os vereadores interpelantes.
O que aconteceu na semana passada? Mais um requerimento dos vereadores Cícero Giovane Amaro e Wilson Luiz Lenfers, ambos do PSD; Mariluci Deschamps Rosa e dos suplentes Antônio Carlos Dalsochio e João Pedro Sansão, todos do PT; bem como de Roberto Procópio de Souza, PDT e Silvio Cleffi, PSC. E o que eles queriam? Esclarecimentos o que já se pedido, mas não se foi claro nas respostas por parte da prefeitura aos vereadores e aos gasparenses.
Sim, afinal, não são os vereadores os fiscais que o povo elegeu para em nome deles, olhar o que se faz na prefeitura de Gaspar? E o desrespeito, começa aí. Afinal, quem paga essa gente toda – prefeitura e Câmara -, senão os gasparenses?


UM REQUERIMENTO PARA ESCLARECER OUTRO REQUERIMENTO INOMPLETO NAS RESPOSTAS


Reparem só, o que diz o documento sobre as respostas do requerimento 68/2018:

 

“os quesitos 5, 6, 7, 8 e 9 do referido requerimento foram respondidos de forma totalmente omissa, através de evasivas no sentido de que as informações deveriam ser requeridas diretamente ao Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”.
“Ora, as respostas até poderiam ser aceitas, não fosse a vigência do Decreto nº 8.111/2018, firmado pelo Excelentíssimo Senhor Prefeito, que prorroga e regulamenta a intervenção municipal no citado nosocômio, o qual dispõe expressamente que cabe à Comissão interventora [composta de agentes do Executivo Municipal e subordinada, em última análise, ao Chefe de referido Poder] a prática de todo e qualquer ato inerente à administração do hospital [artigo 6º, caput e parágrafos]”.
“No mais, pontua-se que as repostas ao restante dos quesitos também não foram suficientes para esclarecer as situações questionadas”.

“Diante disso, esclarecendo que novas respostas evasivas obrigarão o Poder Legislativo à tomada das medidas legais cabíveis, reiteram as perguntas contidas no requerimento nº 68/2018, quais sejam”:

1- Cópia do livro ponto ou outra forma de registro entre 16/04/2018 à 15/05/2018 do médico José Dantas [aquele que estava suspenso pelo Conselho Regional de Medicina, mas foi pego pela reportagem da NSC TV de Blumenau e o Jornal de Santa Catarina, também de Blumenau, na diretoria técnica e clinicando no Hospital na prática de anestesista e estava em pleno exercício da regulação da secretaria de Saúde].

2- Os serviços realizados pelo referido médico na regulação do município foram apontados?

3- Em caso positivo, quantas e quais regulações foram realizadas pelo médico supracitado durante este período. Encaminhe-se documentos comprobatórios.

4- Em caso negativo, quais foram os critérios utilizados pela Secretaria de Saúde para priorizar: Consultas, Exames ou Cirurgias durante este período de 30 dias.

5- Como Diretor Técnico do hospital, a despeito de existir documentação que comprove a mudança da Diretora Técnica, o referido médico permaneceu trabalhando durante este período liberando exames ou qualquer outra atividade do hospital? Caso afirmativo, encaminhe-se todas as documentações comprobatórias ou relatórios que foram formulados destas ações.

6- Em caso negativo, demonstrar de forma cabal, através de Documentações, Livro Ponto ou outra forma de registro, a presença do médico substituto diariamente no hospital durante estes 30 dias, e comprovação que este realmente substituiu-o na referida função.

7- O médico José Alberto Dantas participou de alguma atividade médica no hospital durante este período?

8- Em caso afirmativo, ele participou, por exemplo, de quantas e quais cirurgias como médico anestesista durante este período?

9- Em caso negativo, quem foram os médicos anestesistas que atuaram durante este período, encaminhando relatório das referidas cirurgias, assinadas pelo cirurgião e médico anestesista no momento em que assistia as cirurgias. Encaminhar relatório de todas as cirurgias neste período.

10- Houve solicitação de parecer do CRM, por parte da Secretaria de Saúde, a respeito do médico José Alberto Dantas reassumir o cargo de Diretor Técnico do hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro?

A COMUNICAÇÃO DAS MUDANÇAS PARA O PÚBLICO ERRADO

Volto. Como se vê, a transparência de tudo isso está comprometida pelos jogos dos gestores públicos, e com algo vital e até sagrado para o ser humano: à prática médica orientada por critérios fora dos padrões técnicos, e até éticos, mas sustentados por esquemas políticos.

A comunicação estratégica da prefeitura de Gaspar é algo que beira ao surrealismo. Emprega fazedores de press releases como se isso bastasse, ou se contrata empresa de propaganda especializada para fazer anúncios fantasiosos. Nem um outro, nem outro se encaixam numa estratégia de sensibilização e resultados. São clichês, antigos, e não tratam do essencial, a transparência.

A prefeitura de Gaspar – com a troca de secretário e processos de gestão -  diz que vem revertendo e alcançando resultados positivos na então combalida área de saúde.

Muito bem. Entretanto, até aqui, ela não está conseguindo comunicar isso ao distinto público, o usuário, o pobre, o doente, o que está na fila e que deveria ser o foco dessa comunicação. Basta esse assunto bater nas redes sociais, que as pancadas de queixas são enormes e recheadas de exemplos que ampliam o problema. 

A prefeitura reclama e diz que há exageros. Mas a prefeitura, a sua área de saúde, a de comunicação e a agência de propaganda, parecem que nunca ouviram falar em percepção. E a maioria foca a comunicação para gente que não usa o sistema: veículos de comunicação, políticos da situação e até adversários, amigos do poder...

Por conta da teimosia, ignorância, jogos e até economia orçamentária dos gestores públicos, criou-se, naturalmente, e não é de hoje e deste governo, para os doentes a percepção de que a saúde pública em Gaspar não funciona. É algo local. É algo ampliado pelo caos estadual e nacional. 

O que ia mal, piorou. E piorou na percepção dos usuários e doentes porque havia a promessa de campanha eleitoral de todos os candidatos e do eleito, de se colocar tudo ao nível satisfatório para os cidadãos. Havia uma esperança. E a promessa não se concretizou. Simples assim! Isso é difícil de entender, compreender e a partir dar soluções, inclusive na comunicação?

Resultado. Estão gastando muito mais dinheiro dos gasparenses –e daquilo que supostamente mal economizaram e erraram tentanto colocar à casa minimamente em ordem. E vão gastar muito mais, se continuarem a esconder o jogo, perseguirem gente que denuncia as falhas do serviço – e que na verdade ajuda apontando fragilidades -, se não se estabelecer prioridades para os gargalos e mudanças; uma estratégia para lidar com a escassez de recursos; e se a comunicação continuar pífia, antiga, sonegando o mínimo e o básico da essencial transparência neste ambiente de crise. 

Quando essa gente teimosa que está no poder em Gaspar e prometeu mudar a gestão, vai entender isso? Como dizia o político mineiro Tancredo de Almeida Neves, PSD, quando a esperteza é demais, ela come o dono. E não há pior coisa para um político, do que alimentar o seu erro com desculpas ou reafirmação de que é ele quem manda, mesmo que para isso precise se reafirmar no erro que lhe prejudica. 

No fundo, a prefeitura e secretaria de Saúde de Gaspar estão alimentando o discurso da oposição. Tem uma solução, não compartilha e se desgasta no enfretamento político para sinalizar que é ela quem manda no pedaço. Quem mesmo orienta esse pessoal da prefeitura de Gaspar? Acorda, Gaspar!

TRAPICHE


Na segunda-feira, escrevi aqui: O Ministério Público e o juizado que cuida da Infância e Adolescência na Comarca de Gaspar precisam ficar atentos. O poder político de plantão está espalhando que o fechamento e a reabertura da Casa Lar Sementes do Amanhã, com o enfraquecimento proposital e troca da Ong GAIAA que a administrava, foi tramado todo ele no Fórum e que a prefeitura só seguiu um script. Ai, ai, ai.

Diferente da prefeitura de Gaspar, tanto o MP e o Tribunal de Justiça agiram rápido e esclareceram a questão levantada na coluna e que ela ouviu direta e pessoalmente no sábado do círculo do poder “Ao juízo da comarca de Gaspar, coube a missão de decidir sobre o processo de transição e rescisão do convênio entre a Prefeitura Municipal e a ONG Grupo de Apoio à Infância e Adolescência Abrigada (GAIAA), cujos termos foram devidamente ratificados pelo Ministério Público”. Ou seja, apenas decidir e ratificar o que foi apresentado pela prefeirura.

Tanto o MP e o Tribunal de Justiça por suas assessorias de imprensa asseguraram que “não houve, de forma alguma, qualquer tipo de 'trama’ entre os poderes públicos para destituir a referida ONG do comando da instituição dedicada ao acolhimento de crianças e adolescentes em situação de risco”, até porque, segundo a Justiça e o MP foi o GAIA quem pediu para sair da Casa Lar.

Dois pontos para encerrar essa questão. Primeiro: a Ong GAIAA assegura que foi levada a desistir da gestão da Casa Lar Sementes do Amanhã, devido aos desgastes de relacionamentos para quem ela prestava os serviços. 

Segundo: também ficou claro, mais uma vez, que os políticos de Gaspar terceirizam as obrigações exclusivas das suas decisões – ou responsabilidades - quando elas são desgastantes do ponto de vista de resultado, com repercussões políticas ou comunitárias. 

E como políticos, eles não se sustentam nas suas argumentações e desculpas. São logo, desmascarados. Acorda, Gaspar!

 

Edição 1863

Comentários

Herculano
09/08/2018 14:26
BOLSONARO REPRESENTA RISCO À DEMOCRACIA, ESCREVE THE ECONOMIST

Publicação destaca fragmentação no cenário eleitoral brasileiro

Conteúdo do jornal Folha de S.Paulo - Sob a chamada "Brazilia, we have a problem" (Brasília, temos um problema), a revista britânica The Economist publicou editorial em que afirma que Jair Bolsonaro (PSL), candidato à presidência, é um risco à democracia.

Segundo a revista, Bolsonaro seria um presidente desastroso.

A publicação, que se define como defensora do livre mercado, afirma que o candidato já demonstrou ter pouco respeito a vários grupos de brasileiros, incluindo negros e gays.

Além disso, há pouca evidência de que ele conheça os problemas econômicos do país bem o suficiente para resolvê-los, afirma a revista.

A publicação destaca que, dois meses antes da eleição, ninguém é capaz de prever o que irá acontecer, já que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro nas pesquisas, está preso e deve ser considerado inelegível e nenhum outro candidato supera os 20% de intenção de votos no primeiro turno.

A revista descreve Bolsonaro como alguém que, até recentemente, era um parlamentar obscuro, cuja principal habilidade demonstrada havia sido a de ofender os outros.

Sobre isso, cita declarações controvérsas, como a de que ele prefereria ter um filho morto a um filho gay e que já disse a uma congressista que ela merecia ser estuprada.

A The Economist destaca que Bolsonaro vem adotando táticas baseadas em provocação e uso ábil de redes sociais.

Para a revista, o avanço da candidatura de Bolsonaro é resultado dos traumas que o Brasil enfrentou nos últimos quatro anos.

Ela lembra que, além da grave recessão econômica da qual o Brasil sai lentamente, em 2016 foram registrados 62,5 mil assassinatos, índice recorde para o país, e casos de corrupção envolvendo os principais partidos políticos foram expostos pela Operação Lava Jato. A exposição dos crimes minou a confiança nas instituições políticas do país.

Para a The Economist, Bolsonaro soa como um anti-político, o que atrai os desiludidos com o sistema atual. Ele também consegue atenção de empresários, em especial devido a sua guinada em direção à defesa de uma política econômica liberal.

Entre as ideias de Bolsonaro citadas pela revista estão a de que um policial que não mata não é um policial, a defesa da redução da maioridade penal para 14 anos. A The Economist aponta que, durante a votação do Impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados em 2016, Bolsonaro dedicou seu voto ao general Alberto Brilhante Ustra, responsável por unidade policial a qual a publicação atribui 500 casos de tortura e 40 assassinatos durante a Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil.

"Este punho de ferro pertence a uma visão de mundo autoritária", escreve a revista.

Ações como essa e também a nomeação do general da reserva Hamilton Mourão (que disse no ano passado que o exército poderia resolver questões que outras instituições não solucionavam) como candidato a vice-presidente em sua chapa indicam que, para Bolsonaro, a ditadura é o antídoto contra a corrupção, escreve a The Economist.

Apesar dos alertas, a revista vê poucas chances de Bolsonaro vencer.

A publicação afirma que, mesmo bem posicionado no primeiro turno, 60% dos eleitores dizem que não votariam nele. Esse índice de rejeição dá maior chances ao candidato que competir com Bolsonaro em um eventual segundo turno.

Mesmo assim, segundo a revista, chegar lá já seria muito. "Ele não merece ir tão longe".
Herculano
09/08/2018 12:21
TUDO A VER. QUANDO UM CANDIDATO A PRESIDENTE DA REPÚBLICA ESTÁ PRESO E OS INSTITUTOS DE PESQUISAS DIZEM QUE A MAIORIA DOS ELEITORES O LEVARIAM AO PLANALTO PELO VOTO LIVRE E DEMOCRÁTICO, ESTA MANCHETE ABAIXO, NÃO DEVIA SURPREENDER NINGUÉM.

BRASIL BATE RECORDE DE ASSASSINATOS: 63.880 EM 2017

Conteúdo de O Antagonistas. O Brasil registrou 63.880 mortes violentas em 2017, o maior número de homicídios da história.

É o que mostram os dados divulgados hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, segundo o G1.

"Sete pessoas foram assassinadas por hora no ano passado, aumento de 2,9% em relação a 2016. Os estupros aumentaram 8,4% de um ano para o outro.

O Rio Grande do Norte registrou a maior taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes: 68, seguido por Acre (63,9) e Ceará (59,1). As menores taxas estão em São Paulo (10,7), seguida de Santa Catarina (16,5) e Distrito Federal (18,2).

As capitais com as menores taxas são Rio Branco (AC), com 83,7 por 100 mil habitantes, Fortaleza (CE), com 77,3, e Belém (PA), com 67,5."
Herculano
09/08/2018 08:04
da série: quem vai pagar esta conta são os mais de 13 milhões de desempregados e os trabalhadores de salários rebaixados e salário mínimo.

SUPREMO IGNORA PRIVILÉGIOS E LAVA AS MÃOS PARA A CONTA DE R$ 3 BI, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

Tribunal reforça bolha corporativista ao aprovar reajuste com efeito cascata

O sinal verde do Supremo ao aumento de salário de seus ministros reforça a bolha corporativista do Judiciário. A corte menospreza a crise fiscal dramática do país, ignora os penduricalhos que engordam a remuneração de juízes e age como se apertar os cintos fosse um sacrifício, e não um dever.

Seria um aumento "modestíssimo" de 16,38%, segundo Ricardo Lewandowski. Os vencimentos do STF podem subir de R$ 33,8 mil para R$ 39,3 mil. O custo é de R$ 2,8 milhões no Supremo, mas o efeito cascata projetado passa de R$ 3 bilhões.

De fato, a categoria está sem aumento desde 2015, período em que a inflação galopou a dois dígitos, mas a hora não poderia ser mais inoportuna. Além do rombo bilionário nas contas públicas, o tribunal se recusa a derrubar o injustificável pagamento de auxílio-moradia a magistrados.

Para fundamentar seu voto a favor do aumento, Marco Aurélio Mello ainda apontou o risco de retirada da ajuda de custo para o pagamento de aluguéis - como se o corte desse penduricalho explicasse o reajuste.

Dias Toffoli ressaltou que não haverá ampliação de despesas. "Estamos tirando dos nossos custeios", afirmou. Se era tão simples enxugar os gastos, por que não houve esforço para fazê-lo antes do aumento?

Luís Roberto Barroso ponderou que o pedido de reajuste já está em tramitação no Senado. "Não gostaria de impedir que o Congresso Nacional deliberasse sobre uma proposta que já está em discussão", explicou. É bom lembrar que o Supremo já teve menos pudores em interferir nas ações do Legislativo.

O efeito cascata é outro retrato do corporativismo. A bondade será replicada em todo o país porque o Conselho Nacional de Justiça entende que não é necessário aprovar leis estaduais para autorizar o aumento.

No fim, a proposta foi adiante e o Congresso decidirá se aprova o reajuste. Em seu voto, Celso de Mello destacou "a clara escassez de recursos" do país. Embora dissesse que a corte enfrentava uma "escolha trágica", o decano foi contra o aumento.
Herculano
09/08/2018 08:01
BOLSONARO INTRODUZ O IMPONDERÁVEL NO 1º DEBATE, por Josias de Souza

Vai ao ar na noite desta quinta-feira, na TV Bandeirantes, o primeiro debate presidencial de 2018. A ausência de Lula e o nanismo de Alckmin fizeram desaparecer o pano de fundo que decorou o estúdio da emissora nas últimas seis disputas presidenciais: a polarização tucano-petista. Desfeito momentaneamente o velho Fla-Flu, o centro das atenções tende a ser Bolsonaro. Novidade com cheiro de naftalina, o líder das pesquisas é um típico político brasileiro - grosso modo falando. Por isso, seu protagonismo injeta no debate o imponderável. Se for cutucado com o pé, Bolsonaro vai morder.

A corrida presidencial está envolta numa conjuntura que estimula o debate. Três contingências eletrificam a atmosfera: 1)Quem dita o rumo da disputa é o eleitor sem candidato. A dois meses da eleição, o pedaço desalentado do eleitorado soma um terço. Coisa inédita. 2) Caiu a taxa de marquetagem. A Lava Jato enxugou o caixa dois; 3) Com Lula na cadeia, não há candidatos favoritos na praça. Quem quiser conquistar a poltrona de presidente da República terá de molhar a camisa.

Alckmin tem todas as razões para alvejar os calcanhares de vidro de Bolsonaro. O capitão rouba-lhe votos até em São Paulo, berço do tucanato. O problema é que o ataque nunca foi o forte do candidato tucano. E a defesa passou a ser o seu ponto fraco. Alckmin toca trombone sob um imenso telhado de vidro. Constrangeria Bolsonaro se tivesse a oportunidade de inquiri-lo sobre temas como economia, saúde e educação. Mas se arriscaria a ouvir uma réplica sobre Dersa, Rodoanel e Odebrecht.

Marina e Ciro também têm interesse em expor os pés de barro de Bolsonaro. Enxergam o rival no para-brisa. E adorariam começar a vê-lo pelo retrovisor. De resto, os ex-ministros de Lula participam do debate como candidatos favoritos a herdar um pedaço do eleitorado órfão do PT. Adorariam transformar-se em beneficiários do voto útil - aquele que o eleitor entrega a um candidato que considera ruim para evitar o triunfo de outro bem pior.

Sem menções na Lava Jato, Marina e Ciro dispõem de uma margem de manobra maior que a de Alckmin. Mas nem irmã Dulce estaria imune aos efeitos das reações atípicas do imponderável. No caso de Ciro, há um risco adicional: a autocombustão. Seu adversário mais temível nesta campanha é, novamente, a própria língua. Marina também precisa contornar uma peculiaridade que costuma arruinar sua capacidade de comunicação: a barafunda retórica. A candidata se expressa em marinês, um idioma que aproveita do português tudo o que ele tem de mais complexo.

A participação de Henrique Meirelles deve propiciar ao telespectador que conseguir ficar acordado momentos de grande diversão. Nada será mais engraçado do que observar o malabarismo retórico a que o ex-ministro da Fazenda terá de recorrer para tentar se livrar do contágio que a radioatividade de Michel Temer transmite. Meirelles planeja defenderão o ex-chefe, mas a agenda econômica que tentou colocar em pé. O mais provável é que Temer apanhe indefeso.

Os governos petistas também devem ser surrados sem ter quem os defenda. Condenado a assistir ao debate pela TV instalada em sua cela especial, Lula poderia ter plantado seu poste no centro do debate. Mas preferiu manter Haddad num constrangedor "estágio probatório", confinando-o na chapa tríplex, com Manuela D'Ávila no andar de baixo. Lula também poderia terceirizar sua defesa ao companheiro Boulos. Contudo, o representante do PSOL talvez prefira falar bem de si mesmo.

Haddad deve comparecer ao estúdio da Bandeirantes. Será acomodado na plateia. Nos intervalos e no encerramento do debate, representantes da "mídia golpista" decerto entrevistarão o poste de Lula. Eventuais contrapontos soarão longe dos refletores. Excetuando-se o PT, Lula pensou em tudo, sobretudo nos seus próprios interesses.
Herculano
09/08/2018 07:50
SE TUDO DER CERTO, SENADO PODE SER 90% RENOVADO, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Além de dois terços das cadeiras do Senado (54 de um total de 81) estarem em jogo nas eleições deste ano, a renovação pode chegar a 73 vagas (90%): há 17 senadores no meio do mandato disputando governos estaduais, uma senadora tentando ser vice e outros dois na briga pela presidência e a vice-presidência da República. Poderá ser a Casa legislativa com o maior índice de renovação em todo o País.

VASTA MAIORIA
No total, 73 dos 81 senadores podem deixar o cargo este ano, o que representa 90,1% de todos os membros da Casa Alta do Legislativo.

RENOVAÇÃO SERÁ MAIOR
Na eleição anterior, de 2010, em que dois terços das vagas no Senado foram disputadas, a renovação foi de 45,6%. Só 17 se reelegeram.

PRESIDENCIÁVEIS
A senadora Ana Amélia (PP- RS) será candidata a vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB). Álvaro Dias (Pode) é candidato a presidente.

ZONA DE REBAIXAMENTO
Enrolados nas investigações da Lava Jato, Aécio Neves (PSDB-MG) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), tentarão vaga na Câmara.

PRESIDENTE MAIS JOVEM DO STF, TOFFOLI NÃO VOLTARÁ
Eleito o 48º presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) aos 50 anos, o ministro Dias Toffoli permanecerá na Corte, se quiser, pelos próximos 25 anos, mas não voltará a presidi-la. É que a prioridade será de quem ainda não ocupou o cargo, e no STF cinco ministros ainda não o presidiram. Sem contar os futuros nomeados para vagas a serem abertas. Haverá sempre um ou mais ministros à frente de Toffoli.

CINCO NA FILA
Ainda não presidiram o STF os ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

O MAIS JOVEM
A partir de 13 de setembro, Toffoli será o mais jovem presidente da História, incluindo o Império, quando era Supremo Tribunal de Justiça.

EXPECTATIVA BOA
A expectativa do STF e entre advogados é de que será marcante a gestão de Dias Toffoli, assim como ganhou elogios ao presidir o TSE.

CORPORAÇÃO SE MANIFESTA
A dois meses das eleições, os deputados não deram quórum no Conselho de Ética da Câmara para votar a cassação de Nelson Meurer (PP-PR), condenado no STF por receber R$29 milhões em propina.

ASSUNÇÃO, DIA 15
O presidente Michel Temer prometeu ir à posse do novo presidente do Paraguai, dia 15, e vai mesmo. Temer foi o primeiro presidente do continente a receber o convite pessoal de Mário Abdo Benítez.

DEZ É POUCO
O fiasco provocado pela desconstrução no Congresso do projeto das Dez Medidas Contra a Corrupção, de iniciativa popular, levou um grupo de entidades a apresentar outro pacote com 70 medidas.

PRIMEIRA IMPRESSÃO NA BAND
Os candidatos a presidente estão afinando o discurso para o primeiro debate da campanha, promovido pela na Band nesta quinta (9), a partir das 22h. É que, para muitos, a primeira impressão é a que fica.

ALô, POLÍCIA
Lojas do aeroporto de Brasília seguiram a política criminosa da Petrobras de reajustes diários dos combustíveis: alegando que estão sujeitos a "preços internacionais", cobram R$8 por uma água tônica.

ATUALIZAÇÃO DA LEI DE DROGAS
Comissão presidida pelo ministro Ribeiro Dantas (STJ) apresentará em 120 dias à Câmara um anteprojeto para atualizar a Lei de Drogas e o sistema de Políticas Públicas sobre o assunto. O juiz federal Walter Nunes da Silva Jr, ex-presidente da Ajufe, integra a comissão.

FECHAMENTO POLÊMICO
Pesquisa da Toluna QuickSurveys revela que 45% dos brasileiros não concordam com o fechamento da fronteira com a Venezuela, contra a opinião de 30% dos entrevistados. Outros 25% não têm certeza.

UMA ÁFRICA, Só QUE NÃO
Atual cônsul-geral em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, José Augusto Silveira de Andrade Filho será embaixador do Brasil na Namíbia, país surpreendente que motivou uma gafe de Lula: "Nem parece África".

PENSANDO BEM...
...o debate desta noite, na Band, vai distinguir as candidaturas de mentirinha, inclusive pela ausência, daquelas que são para valer.
Herculano
09/08/2018 07:38
ELEITORES NÃO VOTAM EM IDEIAS, por Mariliz Pereira Jorge, para o jornal Folha de S. Paulo

Pleitos são mais ou menos decididos no 'cara ou coroa'

A declaração de Jair Bolsonaro (PSL) de que cabe à mulher a decisão de abortar deveria ter causado um rebuliço entre seus eleitores, por razões óbvias, mas o que se viu foi só negação. Fake news, disseram, sem ler o conteúdo da reportagem, porque é algo que seu candidato não falaria.

Mas foi o que Bolsonaro disse, ainda que não tenha mudado sua posição como parlamentar: votaria contra a legalização. É no mínimo incoerente. Na vida privada, vale uma coisa. Na pública, Bolsonaro acha que pode decidir por milhões de mulheres. Esse episódio deixa evidente que, para o eleitor que já decidiu seu voto, pouco importa que seu candidato seja coerente.

O mesmo vale para os que vão de Ciro Gomes (PDT), alternativa da esquerda ao PT, preferido inclusive por parte da classe artística. Ele acaba de indicar como vice a senadora Kátia Abreu, que defende o porte de armas e se opõe a alterar a lei do aborto. Duvido que perca muitos votos apesar da contradição nas pautas.

Certos estavam os autores do livro "Democracia para Realistas", Christopher Achen e Larry Bartels, ao mostrarem que os cidadãos, na hora de votar, não tomam decisões conscientes, baseadas em dados e evidências. Estão ocupados com suas vidas e não têm quase nenhuma informação útil sobre política e suas implicações. Eleições são mais ou menos decididas no "cara ou coroa".

As escolhas acabam sendo coletivas, seguindo o que seus grupos sociais determinam. A única "ideia" na qual os eleitores do PT votam é no seu improvável candidato, Lula. Assim como os de Bolsonaro acham graça quando ele diz que vai perguntar no Posto Ipiranga (como se referiu ao seu guru Paulo Guedes) sobre economia, sem se importar com o plano de governo.

Teremos um novo presidente, mas a maioria dos brasileiros não faz a menor ideia do que ele pretende fazer de concreto, independentemente de quem seja.
Herculano
09/08/2018 07:33
SENADO DA ARGENTINA REJEITA, POR 38 VOTOS A 31, LEGALIZAÇÃO DO ABORTO; DECEPÇÃO MAIOR É AQUI, ONDE O PROCEDIMENTO INSTITUCIONAL É DESONESTO,por Reinaldo Azevedo, na Rede TV

O projeto de legalização do aborto na Argentina, aprovado pela Câmara, não conquistou a maioria dos votos dos 72 senadores argentinos. Foi recusado nesta madrugada por 38 votos a 31, com uma ausência e duas abstenções. E difícil saber onde a decepção é maior: se nos meios ditos "progressistas" do país vizinho ou entre os nossos militantes pró-legalização ou pró-descriminação. A propósito: entre nós, fazem questão de estabelecer a diferença entre uma coisa e outra, como se a descriminação pudesse ser algo mais suave do que a legalização. Trata-se, obviamente, de uma falácia. Fosse o caso de escolher uma coisa ou outra, a legalização seria preferível porque haveria, ao menos, regras, marcos, limites. A simples descriminação pode ser a porta aberta ara o vale-tudo. Não é crime comer um hambúrguer na rua. Quem o faz pode fazê-lo à sua maneira. Interromper uma gravidez há de ser algo mais complexo do que comer um hambúrguer?

Todos os que leem este blog conhecem a minha posição. Já a expressei também no rádio e na TV. Defendo a lei como está hoje - e sem aquela interferência do STF, que emendou por conta própria o Código Penal, que trata do assunto entre os Artigos 124 e 128 e só exclui o crime em caso de risco de morte da mãe ou gravidez decorrente do estupro. O tribunal acrescentou por conta própria os fetos anencéfalos. E não! Não acho que se deva submeter a questão a plebiscito porque rejeito a "plebiscitização" da democracia. Mas não vou me ater a esses aspectos agora. Quero chamar a atenção para outra coisa.

Assim que a Câmara dos Deputados da Argentina votou em favor da legalização do aborto, no dia 14 de junho, houve um verdadeiro frenesi entre os militantes brasileiros em favor da causa, a começar da esmagadora maioria da imprensa, ambiente em que se opor à interrupção voluntária da gravidez pode ser mais feio do que chutar a canela da mãe. Poucos atentaram para o fato de que, naquela Casa do Legislativo, a aprovação se deu por muito pouco: 129 votos a 125, com uma abstenção. Eram necessários 128. Como se vê, a coisa estava longe de ser um consenso. Não fosse a rejeição no Senado, a Argentina se juntaria à, se me permitem, esmagadora minoria de países da América Latina em que o aborto é legal: Cuba, Guiana e Uruguai. Na Nicarágua e em El Salvador, é proibido em qualquer caso. Nos demais países, a legislação é parecida com a do Brasil.

A pauta da imprensa brasileira foi imediatamente tomada pela militância pró-aborto. Tinha-se a impressão de que era uma urgência, que estava em todos cantos e todos os becos. Bem, a questão é falsa como nota de R$ 3. A esmagadora maioria da população continua a ser contrária a que o aborto deixe de ser crime. Pesquisa do Datafolha de janeiro deste ano indica que 57% opõem-se à mudança da legislação. Defendem a descriminação 36%. No Congresso, a proposta não seria aprovada.

E é exatamente nesse ponto que setores do Judiciário e das esquerdas, sob a liderança do ministro Roberto Barroso, tentam dar um passa-moleque na população e no Congresso. Na Argentina, ao menos, faz-se um debate institucionalmente honesto. Lá como cá, os defensores da legalização do aborto são identificados com causas progressistas, humanistas, civilizatórias, verdadeiramente iluministas. Os contrários são apontados como verdadeiros ogros do reacionarismo. Em alguma instância do pensamento definiu-se que eliminar um feto humano é uma prática que nos conduz a um mundo melhor, mais humano e mais justo. Mas volto ao ponto.

Na Argentina, ainda que com todas as distorções no debate, coube ao Congresso decidir. Não ocorreu a ninguém obter a legalização do aborto no tapetão da corte suprema do país, como se tenta fazer por aqui. O STF foi transformado num verdadeiro palco da militância abortista e no que chamo de um circo da agressão à ordem legal e à independência dos Poderes. Para registro e para que se não se diga que a rejeição à legalização do aborto foi uma obra dos homens do Senado da Argentina, cumpre destacar: 30 dos 72 senadores são mulheres: 14 votaram a favor; 14 votaram contra, uma senadora se ausentou, e outra se absteve.
Herculano
09/08/2018 07:29
NO JOGO DO MERCADO FINANACEIRO, FAKE NEWS É REAL MONEY, por Roberto Dias, secretário de redação do jornal Folha de S. Paulo

Boato eleitoral sempre existiu, mas atualmente há agravantes

"Boato/rumor: sinônimos de informação não confirmada. Só publique quando sua propagação se tornar notícia. Exemplo: o boato da destituição do presidente do BC provoca a queda da Bolsa. Nesse caso, deve-se noticiar a queda da Bolsa e deixar claro que a informação sobre a destituição no BC não está confirmada."

Esse trecho do "Manual da Redação" da Folha é ótima releitura. Pois a campanha eleitoral promete testar ao limite o sentido dessa orientação, como mostra a semana em curso.

Na terça (7), um boato dava conta de que seria feita uma delação contra Geraldo Alckmin. Não comprovar a veracidade desse tipo de rumor não significa desmenti-lo - por ser impossível atestar que alguém (não se sabe quem) não vai (algum dia) afirmar algo (qualquer coisa).

Outro boato especulava sobre pesquisa do instituto MDA. Aqui, a Lei Eleitoral, tão ciosa de tutelar tudo, deixa lacuna pró-confusão, pois determina o aviso sobre o levantamento com cinco dias de antecedência, mas não dá prazo para divulgação.

Também na terça, um terceiro rumor versava sobre o Datafolha indo registrar uma pesquisa. O que leva a novo problema. Enquanto os institutos de renome têm de cumprir vários requisitos de publicidade, outros tantos levantamentos são feitos na moita, em prol de grupos restritos.

Boato eleitoral sempre existiu, e quem viveu a campanha de 2002 sabe o nível de nervosismo que ele traz. Só que há dois agravantes agora. Primeiro, é mais fácil espalhar qualquer coisa. Segundo, a maluquice do noticiário brasileiro recente tem um efeito terrível: tudo e o oposto de tudo se tornaram críveis.

A montanha-russa eleitoral faz mal a quem procura emprego. Para o mercado financeiro, a campanha é uma grande oportunidade. A banca vive sob regras próprias; quem participa dela influencia o debate público, mas não precisa demonstrar compromisso público. Tem zero obrigação de dizer a verdade. Nesse jogo, fake news é real money.
Herculano
08/08/2018 11:44
SEM LULA, ALCKMIN FICA EM 2º EM SÃO PAULO

Conteúdo do BR 18. A pesquisa CNT/MDA divulgada nesta quarta, 8, mostra Jair Bolsonaro (18,9%) e Geraldo Alckmin (15%) na frente entre os eleitores de São Paulo, no cenário estimulado com Fernando Haddad na chapa do PT em vez de Lula. Quando o ex-presidente aparece entre as opções, sai na frente com 21,8% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro com 18,4% e Alckmin com 14%.

Os pesquisadores ouviram 2.002 entrevistados, distribuídos em 75 municípios de todas as regiões do Estado. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. Os registros da pesquisa são, no TSE: BR-05911/2018, e no TRE/SP: SP-04729/2018.
Herculano
08/08/2018 11:41
SERIA ESTA A DIFERENÇA ENTRE PARTIDO POLÍTICO E FACÇÃO CRIMINOSA?

Manchete do portal Uol (Folha de S. Paulo) desta manhã de quarta-feira: PCC NÃO TEM DONO. É UMA FRATERNIDADE DO CRIME, DIZ SOCIóLOGO QUE ESTUDA A FACÇÃO

Que os políticos são todos eles individualistas, já se sabia por suas práticas, que tem partidos para serem donos e deles fazerem o escritório dos negócios, também se revelou no mensalão, no petrolão e tantos outros casos...

Como na máfia, o termo família é algo que não está bem relacionado às afinidades de sangue, a não ser aquele que se derrama na guerra e confrontam as "irmandades".

Tudo apodrecido, inclusive os dicionários que contém as palavras com seus significados. Wake up, Brazil!


Herculano
08/08/2018 11:33
COMEÇA UMA ELEIÇÃO DIFERENTE, por Upiara Boschi, no jornal Diário Catarinense, da NSC Florianópolis SC

Cada eleição constrói sua história e ao final dela todos os erros dos vencedores são esquecidos e os acertos dos derrotados ignorados. Não será diferente nesta disputa pelo governo estadual que tem início agora e que promete ser diferente das que os catarinenses se acostumaram a acompanhar - e votar - nos últimos tempos. Alguns pontos de partida dessa história já podem ser apontados. Duas poderosas máquinas eleitorais polarizam a disputa, um partido tenta ser a terceira força e surpreender, uma multidão de figurantes busca nas redes sociais a chance de virar protagonista. Esse é um resumo do quadro inicial, com a chapa de 15 partidos que apoia Gelson Merisio (PSD), o grupo de nove siglas que endossa Mauro Mariani (MDB), a candidatura isolada de Décio Lima (PT) e os azarões Coronel Moisés (PSL), Leonel Camasão (PSOL), Rogério Portanova (Rede), Ingrid Assis (PSTU) e Angelo Castro (PCO).

Isso sabemos desde a noite de domingo. Neste momento, em meio às últimas definições sobre divisões internas da chapas e nomes de candidatos a suplente de senador, as coligações começam um processo de curar as feridas causadas pelo traumático processo de afunilamento de candidaturas que levou Esperidião Amin (PP) e Paulo Bauer (PSDB) a desistirem de disputar o governo e aceitar vagas de senador na chapas de Merisio e Mariani, respectivamente. As bases ainda assimilam as decisões, embora os candidatos a deputado estadual e federal respirem aliviados.

As últimas três eleições catarinenses fugiram da regra histórica de eleições imprevisíveis, com blocos semelhantes se enfrentando em disputas de muita rivalidade. Foi a concertação de Luiz Henrique da Silveira, que uniu emedebistas, tucanos e pessedistas (pefelistas, demistas) e isolou o PP e o PT. Nesse período, aprendemos a olhar o ponto de partida eleitoral mais pelo número de candidatos a deputado e número de prefeituras de cada partido coligado do que pelo percentual dos candidatos nas pesquisas. No fim, a estrutura vencia sempre.

O fim do casamento entre PSD e MDB - litigioso, como temos visto - encerrou esse capítulo. Merisio e Mariani construíram exércitos eleitorais de porte semelhante e Santa Catarina parece estar prestes a viver a mais equilibrada eleição estadual desde 1994. Na época, quatro candidaturas de peso encararam o primeiro turno e, no segundo, Paulo Afonso Vieira (PMDB) venceu Angela Amin (PPR, atual PP) por escassos 41 mil votos.

Muita coisa mudou em 20 anos. Na história que esta eleição começa a escrever para si, existem novas condições - algumas inéditas. Com o eleitor arredio à classe política, muda a forma de pedir votos, de engajar as pessoas para um projeto. A campanha na televisão foi esvaziada pela nova legislação eleitoral quase ao mesmo tempo em que as anárquicas redes sociais se tornaram o principal meio de se inteirar sobre política. A eleição presidencial, mais fragmentada que a nossa, parece ter pouco poder de influir nos resultados locais como aconteceu outras vezes. Prepara-se, leitor, para uma eleição diferente este ano. Ao contrário de 2006, 2010 e 2014, é difícil dizer de antemão quem vai ganhar essa disputa.
Herculano
08/08/2018 11:30
TUCANOS SEM PENAS EM SANTA CATARINA

No whatsapp, um conhecido, tucano metido a orientador estratégico e com acesso a cúpula do PSD catarinense, estava inconformado com a minha opinião profissional sobre o desfecho de domingo.

Segunda-feira, mandei esta mensagem. E de lá para cá, o silêncio nos acompanhou.

Pois é. Ainda bem que toda a unanimidade é burra. Então ainda há chance d todos nós consultores e analistas estarmos errados.

Não consegui ler até agora nesta segunda-feira uma opinião apontando algum acerto do PSDB nessa submissão e que chamaram de coligação e para um monte de reconhecidos bandoleiros da política.

Acabo d ler a análise cômica do [Carlos) Tonet [e que a republiquei neste espaço]. Até ele decidiu ficar sério... Putz
Herculano
08/08/2018 11:24
LULA JÁ CONSTRóI SUA "CANDIDATURA" A CABO ELEITORAL, por Josias de Souza

O PT ensaia uma coreografia grandiosa para o registro da candidatura de Lula na Justiça Eleitoral. Será na próxima quarta-feira (15). Nesse dia, haverá manifestações nas principais capitais. Três marchas de movimentos sociais devem chegar a Brasília no início da semana. A multidão gritará 'Lula livre'. Mas o PT já não cultiva a ilusão de que a cela de Curitiba será aberta antes da eleição. Embora seus dirigentes não admitam publicamente, o que está em curso é a montagem da 'candidatura' de Lula ao posto de cabo eleitoral, não mais à Presidência da República. O enquadramento de Lula na Lei da Ficha Limpa é tratado internamente como fava contada.

Para vitaminar o poder de transferência de votos de Lula, o petismo aposta na comoção. Na noite desta terça-feira, o PT levou às redes sociais um vídeo que insinua o que está por vir (assista acima). O mote para a elaboração da peça foi um conjunto de frases pronunciadas por Lula defronte do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo em 7 de abril, dia em que se entregou à Polícia Federal. "Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia misturada com as ideias de vocês", disse o condenado, antes de ser conduzido para a cela especial de Curitiba. "Minhas ideias já estão no ar? Agora vocês são milhões de Lulas".

Lula e seus operadores mantêm em pé o plano de empurrar a impugnação da candidatura presidencial para uma data tão próxima do dia da eleição quanto possível. Consumado o indeferimento do registro no TSE, o partido recorrerá - primeiro à própria Corte eleitoral; depois, ao Supremo. Assim, a golpes de barriga, o PT espera esticar a corda até meados de setembro. Nesse intervalo, enverniza-se a pose de vítima de Lula.

Simultaneamente, alimenta-se o noticiário com matéria-prima para a mistificação do preso. Coisas como o estado de saúde dos seis militantes que dizem fazer greve de fome em Brasília e as evoluções da chapa tríplex (Lula?"Fernando Haddad?"Manuela D'Ávila), a ser convertida em chapa convencional (Haddad?"Manuela) depois que a Justiça interromper, finalmente, a pantomima.

O poder de transfusão de votos de Lula será aquilatado pelas próximas pesquisas eleitorais. Em sua última sondagem, divulgada em junho, o Datafolha informara o seguinte: 30% do eleitorado dizia que votaria com certeza em um nome apoiado pelo pajé do PT. Outros 17% afirmavam que talvez votariam. Uma terceira fatia do eleitorado, estimada em 51%, declarava que não votaria num poste de Lula.

Além de elevar o índice dos eleitores que se deixam influenciar por Lula, o PT tenta reduzir as taxas de migração de votos do seu líder preso para candidatos de outros partidos. Segundo esse Datafolha de junho, 17% dos eleitores de Lula manifestavam a intenção de votar em Marina Silva se a candidatura do petista fosse barrada. Outros 13% prefeririam Ciro Gomes. Fernando Haddad, o poste de Lula, herdaria apenas 2% do eleitorado do padrinho. Até Jair Bolsonaro beliscaria uma fatia maior do cesto de votos de Lula: 6%.
Herculano
08/08/2018 11:22
NÃO HÁ MAIS MEIA SOLA QUE DÊ JEITO NAS CONTAS PÚBLICAS, por Alexandre Schwartsman, economista, e ex-diretor do Banco Central, no jornal Folha de S. Paulo

Ideia de que haveria alternativa para contornar as reformas significaria jogar mais combustível na fogueira

No começo da semana, o Pravda, perdão, Valor Econômico publicou reportagem divulgando trabalho do Ibre que aponta para as dificuldades para o cumprimento do preceito constitucional que limita o crescimento do gasto federal à inflação passada, alertando para a possibilidade de que isso leve à paralisação da administração já em 2019, primeiro ano do novo governo.

Em que pese o escarcéu, no qual surfaram os oportunistas de sempre (por exemplo, Nelson Barbosa), trata-se de prato requentado.

Explorei esse assunto algumas vezes, notando que a emenda constitucional 95, que criou o chamado "teto dos gastos", era o primeiro passo do ajuste fiscal, mas em si insuficiente para evitar a deterioração fiscal, pois requereria medidas adicionais, das quais a mais importante e urgente ainda é a reforma previdenciária.

De forma bem mais elaborada, a Instituição Fiscal Independente publicou em maio do ano passado estudo que chegava a conclusões muito próximas das descritas acima: na ausência de reformas que alterassem a dinâmica do gasto obrigatório, categoria em que se inclui a despesa previdenciária, não seria possível conter a despesa do governo sem comprometer ainda mais a baixa qualidade dos serviços públicos.

O curioso é que a situação é apresentada como um dilema: ou escolheríamos preservar o teto (implicando o colapso dos serviços) ou manteríamos o governo funcionando, mas teríamos que revogar o limite de gastos. Isso é simplesmente falso.

Temos, na verdade, um trilema: podemos manter o teto e ignorar as reformas, mas aí a administração entra em colapso; podemos evitar o colapso e as reformas, mas o teto se torna insustentável; por fim, podemos manter o teto e a administração funcionando, mas teremos que encarar as reformas.

É justamente a terceira alternativa que parece ausente não só da análise mas, de forma muito mais importante, do mundo político, que segue ignorando solenemente a marcha da insensatez das finanças públicas.

Tenha em mente que a trajetória de ajuste que resulta da aplicação do teto (caso não se torne inviável) é extraordinariamente gradual. O resultado primário federal, negativo na casa dos R$ 100 bilhões nos últimos 12 meses, só sairia do vermelho no fim do próximo governo, prazo similar ao requerido para que a despesa retornasse aos níveis (ainda elevados) registrados em 2014.

Já a dívida aumentaria relativamente ao PIB possivelmente por mais alguns anos (de dois a cinco, pois depende crucialmente do ritmo de crescimento no período), atingindo algo na faixa de 85% a 90% do PIB, sempre sob a suposição de que seja possível manter a atual estratégia.

Falamos, portanto, de um ajuste espalhado ao longo dos próximos seis a nove anos, com certa dose de boa vontade, em torno de 0,4% a 0,5% do PIB por ano.

O abandono do teto significaria, portanto, um ajuste ainda mais lento, que, se levado a cabo, implicaria uma dívida certamente mais alta do que a sugerida acima e, consequentemente, um risco de instabilidade bem maior do que o experimentado hoje.

A ideia, portanto, de que existiria uma alternativa relativamente indolor que permitiria contornar as reformas e fazer um ajuste ainda mais gradual do que o proposto pode até parecer sensata e equilibrada, mas significa, na prática, jogar mais combustível numa fogueira que arde bem mais do que seria prudente permitir.

Não há mais meia-sola que dê jeito nas contas públicas.
Herculano
08/08/2018 11:18
da série: eles estão no mundo da lua, bastavam vir a Gaspar e conhecerem como o governo Kleber, avisado, conseguiu perder a tal governabilidade numa eleição da Câmara que ele jurava estar ganha com gente que nem afinidade tinha com ele.

JÁ EXISTE MELô-TEMA DE UM EVENTUAL GOVERNO DE BOLSONARO: "EI, VOCÊ AI, ME DÁ UM DINHEIRO AI"... A BOBAGEM MONUMENTAL DITA POR PAULO GUEDES, por Reinaldo Azevedo, na Rede TV
Paulo Guedes: guru de Bolsonaro diz uma bobagem assombrosa sobre política. Nada ficou a dever ao chefe!
Aos poucos, vai se configurando aquilo que ainda é um grande enigma: com seria um governo de Jair Bolsonaro? Se o candidato do PSL vencer a disputa, chegará ao Palácio do Planalto sem base de apoio no Legislativo. Para lembrar: da redemocratização a esta data, dois presidentes perderam o apoio do Congresso. Atendem pelos nomes de Fernando Collor e Dilma Rousseff. Caíram.

Bolsonaro diz ter seu "Posto Ipiranga" para a economia: é o financista Paulo Guedes. Qualquer coisa que as pessoas queiram saber sobre a área, procurem o doutor. O candidato não fala sobre o assunto. Prefere discutir o combate ao marxismo nas escolas, o fim da ideologia de gênero e o armamento da população, que considera essencial para garantir a segurança pública no país de 63 mil assassinatos, 80% deles praticados por intermédio de arma de fogo.

É natural que um sábio do porte de Guedes não se atenha à área da economia, não é mesmo? O "Posto Ipiranga" decidiu deixar claro que vende produtos diversos. Ele também resolveu ter ideias políticas.

Na quinta passada, Bolsonaro decidiu fazer uma transmissão ao vivo pelo Facebook, com a participação de Guedes. O economista, então, resolveu dar uma resposta para a questão: "Como governar sem a maioria necessária no Congresso?" A resposta é um mimo da tolice:

"O sujeito que for eleito lá em São Paulo, vai precisar conversar com o Jair. É daí que vem a governabilidade. Seja o [Paulo] Skaf, seja o [João] Dória, vai sentar com ele e falar: '?" Jair, eu estou lá em São Paulo, é como se fosse uma Alemanha. Me dá um recurso aí para eu atacar o problema de saneamento, saúde, educação'. O Jair vai: 'Então me apoia aqui também. Me dá governabilidade. Apoia o meu programa. Se eu fizer essa reforma, economizar aqui, cortar aqui, etc, eu consigo mandar recurso para você'".

Entendi. Se alguém me disser a diferença entre isso e chantagem, ganha um Chicabon de presente. Mas esse nem é o ponto principal. Que papel os tais governadores teriam na governabilidade? Por acaso, eles mandam nas bancadas federais de seus respectivos Estados ou nos três senadores da unidade que governam? A resposta é "Não!".

Guedes tem ainda uma outra ideia para o modelo que chama de "governabilidade orgânica", seja lá o que isso queira dizer. Ele resume: com a descentralização dos recursos da União. Entendi: ao descentralizar, mantém-se a tal unidade, embora esta não esteja, então, vinculada nem a partidos nem a cargos no governo. A União soltaria o dinheiro. Com as burras cheias, prefeitos e governadores fariam no Congresso exatamente o quê? Não está claro! Não está claro porque isso que Guedes diz nem errado consegue ser.

Mas o otimista Posto Ipiranga, agora da política, delira:

"Como ele [Bolsonaro] vai ter governabilidade? Como ele vai ter apoio? Ora, até o prefeito do PT vai querer votar nele porque ele está precisando de dinheiro para hospital, para a saúde, educação, segurança. Essa descentralização de recursos é o eixo da governabilidade. Não vamos votar nele porque ele está dando cargo na Caixa Econômica Federal. Vamos votar nele porque a classe política vai finalmente se reaproximar do povo".

Sabem o que isso quer dizer?

Nada!

Porque essa descentralização de que fala Guedes requer, ora vejam!, aprovação prévia do Congresso.

A coisa é delirante! Segundo estudo do Tesouro Nacional de março deste ano, nada menos de 93,7% do total de despesas de 2017 foram gastos de realização obrigatória. E isso só pode ser mudado com autorização do? Congresso Nacional, aquele que seria substituído ou cooptado pela adesão de governadores e prefeitos.

Paulo Guedes pode até conhecer a mecânica celeste da economia. Mas, definitivamente, não entende nada de política. Imaginar que se compra a governabilidade com recursos da União e que se pode substituir o Legislativo transferindo dinheiro para os entes federados, é de uma tolice abissal. Não fosse o fato de que algo assim precisa contar com o apoio do Parlamento, cumpriria indagar: Guedes iria às compras com os menos de 7% da grana efetivamente gasta e que o governo pôde movimentar mais ou menos livremente?

Bolsonaro pode se dar por satisfeito. Ele não é o único a falar bobagens na sua campanha. Seu guru também é capaz de dizer coisas assombrosas quando se mete a tratar daquilo que está fora do seu quadrado.
Herculano
08/08/2018 11:11
DEBATE SOBRE EXCESSOS DE JUÍZES E INVESTIGADORES BROTA NA CAMPANHA, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

Até políticos que defendem Lava Jato admitem que é hora de discutir abusos

Entre tramas ardilosas e exaltações desmedidas, a campanha eleitoral começa a arranhar um debate sobre o trabalho de órgãos de investigação. Quatro anos após a estreia da Lava Jato, até políticos que sempre apoiaram a operação admitem que é hora de falar de excessos.

Em entrevista à Folha, a senadora Ana Amélia (PP) disse que, embora se considere uma "defensora intransigente" das apurações, é preciso evitar arbitrariedades. "Não pode haver supremacia. Temos que trabalhar nos limites das nossas competências e responsabilidades", afirmou a vice de Geraldo Alckmin (PSDB).

Ana Amélia se notabilizou por advogar fervorosamente a favor da Lava Jato no Congresso e votou contra o projeto que cria punições para abusos de autoridade. Agora, diz que é preciso ter "muito cuidado", citando o ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier, que se suicidou após ser alvo de uma investigação controversa.

"O que aconteceu é um sinalizador. Chama atenção para não incorrermos no abuso de autoridade, porque isso é prejudicial à democracia", diz.

O tema é espinhoso, mas aparece até quando menos se espera. Jair Bolsonaro (PSL) criticou excessos de promotores em um ato com prefeitos. "Fazem um bom trabalho? Em parte, sim, mas tem problemas. Qual prefeito aqui não fica com medo, preocupado com o Ministério Público? [...] Temos que mudar isso."

Mais previsíveis são declarações como as de Ciro Gomes (PDT) sobre devolver o Judiciário e a Procuradoria para suas "caixinhas", além da proposta do PT de mudar a forma de escolha dos integrantes de órgãos de fiscalização dessas instituições.

Alvaro Dias (Podemos), que não larga a bandeira da Lava Jato, disse a empresários que há risco de injustiças. "É inevitável aqui e acolá, mas certamente o resultado final interessa ao país", afirmou.

Espera-se que o senador e seus colegas não tratem essas falhas como algo incontornável. Um Estado responsável deve ser implacável com a corrupção, mas também precisa ter coragem para corrigir seus erros.
Herculano
08/08/2018 11:08
BRASIL ABRE AS FRONTEIRAS AO TRÁFICO E CONTRABANDO, por Cláudio Humberto na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

A ligação da cidade brasileira de Foz do Iguaçu (PR) a Puerto Iguazu, do lado argentino da tríplice fronteira, foi abandonado pelo governo do Brasil. Até há instalações, mas sem funcionários. A passagem é livre, como atestou esta coluna, apesar de abrir as portas ao tráfico de drogas e contrabando de armas, origens da criminalidade que avança. O Ministério da Segurança Pública nem se dá ao trabalho de explicar, nem reconhece o problema, passando a bola para a Polícia Federal.

TODOS SUMIRAM
Repórter da coluna teve de identificar-se a autoridades argentinas, como em qualquer fronteira. Mas, no lado brasileiro, não há vivalma.

VIROU ESTACIONAMENTO
No lado brasileiro com a fronteira argentina, guichês de identificação de fronteira viraram estacionamento. E são vistos "fiscais" trabalhando.

DESCONTROLE GERAL
Há denúncias de falta de controle ou de serviço muito deficiente em postos que deveriam controlar fronteiras com os países do continente.

QUEM É RESPONSÁVEL?
A Polícia Federal encaminhou nosso questionamento sobre fronteiras à Coordenação de Polícia de Imigração, o "setor responsável". Lá ficou.

MOURÃO VICE DESAGRADA ATÉ ALIADOS DE BOLSONARO
A escolha do general Hamilton Mourão como vice desagradou a maioria dos aliados mais próximos do candidato Jair Bolsonaro (PSL). Generais que torcem pelo sucesso do capitão da reserva acharam sua escolha um erro grave. "Ainda bem que eles só terão alguns segundos de TV pra falar m****", reclamou um deles, que torcia pela escolha de uma mulher ou jurista admirados para a posição. Até aliados que foram cogitados para vice de Bolsonaro estão inconformados com a escolha.

EXTERMINADOR DE VOTOS
Escolher Mourão vice não acrescentou votos a Bolsonaro. Ao contrário. Ainda tira votos, quando liga negro à malandragem e índio a preguiça.

HIERARQUIA ATÉ NA RESERVA
Amigos de Bolsonaro dizem que ele não se sente à vontade para enquadrar Mourão. Afinal, general não bate continência para capitão.

GARANTIA DE ESTABILIDADE
Há quem considere positivo Mourão como vice porque inibe iniciativas de impeachment. Afinal, se Bolsonaro for eleito e cair, ele assumiria.

AMEAÇA FASCISTA
O plano de governo do presidiário Lula, "O Brasil feliz de novo", retoma proposta de inspiração fascista. Chama a legislação sobre a imprensa de "anacrônica" e promete "regular" o setor, inclusive as redes sociais.

MEMóRIA CURTÍSSIMA
A construção civil abusa do ?"leo de Peroba como loção pós-barba. O Brasil tem sido implacavelmente roubado por empreiteiras, como mostram o Mensalão e a Lava Jato, mas em vez de fazer haraquiri e pedir perdão, promove "sabatinas" com os candidatos a presidente.

BRASIL ALHEIO
O governo de Roraima acha que a decisão que obrigou a reabertura da fronteira com a Venezuela, "reforça o quanto o Brasil está alheio à tragédia social e sanitária". É a mais pura verdade.

SENADORES CANDIDATOS
Álvaro Dias (Pode-PR) e Ana Amélia (PP-RS) são os únicos senadores nas presidenciais. Os demais disputam o governo de seus estados ou, como Aécio (PSDB) e Gleisi (PT), downgrade para deputado federal.

O BRASIL NOS TRILHOS
À exceção do governo Dilma, "um grande retrocesso", a economista- chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, identifica legados importantes de FHC, Lula e Temer. "O Brasil está de volta aos trilhos", diz, otimista.

ESCULACHO NA PAPUDA
Familiares e a defesa do ex-senador Luiz Estevão andam preocupados com seu estado de saúde. As "regalias" que motivaram seu isolamento na Papuda teriam sido substituídas pelo mais genuíno "esculacho".

FRANQUIAS LUCRATIVAS
A desconexão entre os interesses regionais e as candidaturas a presidente de vários partidos levou o cientista político Murilo de Aragão a rebatizar diretórios regionais de "franquias partidárias".

SHOW DE GENTE GRANDE
Para o megashow deste sábado (11) em Brasília, às 21h, no Estádio Mané Garrincha, o astro Roberto Carlos caprichou nas acomodações para sua equipe: reservou 53 apartamentos e suítes no Hotel Meliá.

PENSANDO BEM...
...que Libertadores que nada, o Brasil anseia mesmo pelo mata-mata entre políticos.
Herculano
08/08/2018 11:00
DE MINISTRO DA JUSTIÇA A "XERIFINHO" DE CURITIBA: O QUE PRESIDENCIÁVEIS FALAM SOBRE MORO, por Rodrigo Constantino, no site da Gazeta do Povo, Curitiba PT

Candidatos à Presidência já falaram em nomear o juiz da Lava Jato para o Ministério da Justiça, em devolver o magistrado para sua "caixinha" e até em nomeá-lo para o STF

Em um ano eleitoral em que a Lava Jato é uma das pautas da campanha à Presidência, os candidatos a uma vaga no Planalto não deixam de falar sobre o símbolo maior da operação: o juiz federal Sergio Moro, que conduz as investigações em primeira instância, em Curitiba. Já teve de tudo, de críticas pesadas ao magistrado à promessa de nomeá-lo ministro da Justiça a partir de 2019.

O presidenciável que falou mais recentemente sobre Moro foi o senador Alvaro Dias (Podemos). Na convenção que confirmou o nome de Alvaro como candidato, no último sábado (4), o senador prometeu nomear o juiz da Lava Jato como ministro da Justiça, caso eleito. Moro não quis comentar a declaração do presidenciável, que admitiu durante a convenção nunca ter falado sobre esse assunto com o magistrado.

O ex-presidente também já criticou Moro porque o magistrado recebe auxílio-moradia, mesmo tendo imóvel próprio em Curitiba. "Agora aprendi uma nova: o povo brasileiro que não tem aumento de salário, por favor, façam como juiz Moro e requeiram auxílio-moradia", disse Lula em entrevista à "Rádio Jornal", de Pernambuco.

Em um evento em São Paulo, um dia depois da condenação de Lula em segunda instância, o presidenciável Guilherme Boulos (PSOL) criticou os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), que aumentaram a pena de Moro para Lula para 12 anos e um mês de prisão. Ele chamou os desembargadores de "anões morais" e aproveitou para criticar Moro, que chamou de "xerifinho de Curitiba".

De volta para a caixinha
Recentemente, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) também causou polêmica ao se referir ao juiz. Ciro afirmou em entrevista a uma TV no Maranhão que Lula só teria chance de ser solto se ele fosse eleito. "Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político", afirmou o candidato. Ciro precisou de retratar dias depois e disse ter sido mal interpretado.

Em 2017, Ciro Gomes já havia provocado o juiz. Em março, ele gravou um vídeo no qual desafiava Moro a prendê-lo. Gomes afirmava que, se isso viesse a acontecer, ele receberia a "turma" de Moro "na bala". "Hoje esse Moro resolveu prender um blogueiro. Ele que mande me prender, eu recebo a turma dele na bala", dizia o pedetista no vídeo. As declarações foram gravadas no dia em que a Polícia Federal cumpriu, em São Paulo, mandados de busca e apreensão e de condução coercitiva contra o blogueiro Eduardo Guimarães, que edita o Blog da Cidadania.

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Herculano
08/08/2018 10:52
ESTA É A ÉTICA DA POLÍTICA E QUE ENGANA ANALFABETOS, IGNORANTES, DESINFORMADOS E ALIMENTA OS FANÁTICOS PARA SE TER O PODER A QUALQUER CUSTO E DELE HUMILHAR OS PAGADORES DE PESADOS IMPOSTOS

Em Alagoas, o jogo de alianças resume a grande barafunda nacional. Alckmin discursa contra a corrupção e apoia Collor. Lula ataca os golpistas e pede votos para Renan
Herculano
08/08/2018 10:50
PARTIDO DO GOVERNO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

Qualquer que seja o desfecho das eleições, novo governo deverá atrair siglas fisiológicas

Já foi dito que não se governa sem o MDB, outrora PMDB, como também se disse que é impossível governar com a sigla. A depender do que se entenda por governar, as duas afirmativas estão corretas.

Se considerada a capacidade de exercer o poder, o que envolve do mais comezinho cotidiano legislativo à conclusão do mandato presidencial, o apoio emedebista de fato tem se mostrado decisivo. Mandatários que entraram em confronto com o partido, casos de Fernando Collor e Dilma Rousseff (PT), conheceram o impeachment.

Se, entretanto, falamos das condições de levar adiante uma agenda programática mais ambiciosa, o custo do partido em geral se torna proibitivo - nunca haverá endosso convicto e integral a nenhuma plataforma, nem cargos e verbas suficientes para todas as barganhas envolvidas no processo.

Da mesma forma pode ser descrita, decerto, a relação do governo com outras legendas fisiológicas de menores porte, capilaridade e grau de profissionalização.

É ilustrativo, nesse sentido, um levantamento conduzido pelos pesquisadores André Borges, Mathieu Turgeon e Adrián Albala, da Universidade de Brasília, sobre as alianças partidárias montadas tanto para a disputa de eleições como para a sustentação do Executivo.

Conforme noticiou esta Folha, os dados apontam que MDB, PP e PTB constituem as legendas mais governistas desde o restabelecimento do voto direto para presidente, em 1989. O feito implica a participação em administrações tão diferentes quanto as de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de Dilma Rousseff pré-deposição.

Desde o malogro de Collor ficou patente o imperativo de montar amplas bases de apoio congressual, no que veio a ser batizado de presidencialismo de coalizão.

Note-se, porém, que arranjos abrangendo mais de 300 dos 513 deputados não bastaram para que FHC e Lula obtivessem mais que avanços parciais em suas plataformas - e ao custo de concessões dispendiosas, nomeações infelizes e escândalos de corrupção.

Há expressiva possibilidade de que a disputa ao Planalto deste ano seja vencida por uma aliança de pequenas dimensões - dos principais candidatos, apenas Geraldo Alckmin (PSDB) reuniu em torno de si um arco amplo de partidos.

Ainda assim não parece provável que o padrão das coalizões interesseiras possa ser rompido sem crises após o desfecho do pleito. O vitorioso buscará o amparo dos fisiológicos; estes estarão atraídos pelo condão da caneta presidencial.

Há, contudo, pressões de intensidade inédita por reformas do processo político, a começar, claro, pelo esgotamento da paciência da opinião pública. Acrescente-se o protagonismo assumido pelos órgãos de controle interno e investigação, aparentemente irreversível.

Por fim, o gigantesco rombo orçamentário e as disfunções acumuladas nas políticas de governo demandam mais que os remendos temporários negociados à base do toma lá dá cá dos últimos anos.
Herculano
08/08/2018 10:47
O VENTO SABE A RESPOSTA, por Carlos Brickmann

Tudo muito simples: o PT lançou Lula, sabendo que não pode ser candidato, e pôs Haddad de vice, mas para ser candidato a presidente. O PCdoB retirou a candidatura de Manuela d'Ávila à presidência e nada lhe deu em troca, mas ela sabe que será a vice de Haddad que é o vice de Lula.

Ciro namorou o Centrão mas pôs na vice uma esquerdista que, até há pouco, era ruralista e conservadora das que não comem tomate porque é vermelho. Boulos é candidato do PSOL mas apoia Lula que não pode ser candidato mas finge que é. Alckmin afirma que sabe poupar, e é verdade: sobrou-lhe o suficiente para conquistar o apoio do melhor bloco que o dinheiro pode comprar. Alckmin corre um risco: escolheu uma vice melhor do que ele. Ana Amélia é, de verdade, tudo aquilo que Alckmin diz que é.

E temos um caso curiosíssimo: pelo PMDB, maior partido do país, com apoio do presidente da República, há Henrique Meirelles, o candidato que é sem nunca ter sido. Meirelles tem dinheiro, pode pagar sua campanha, e isso é suficiente para explicar como chegou a candidato. Mas Meirelles não tem sorte: o presidente que o apoia é menos popular até do que Dilma, os caciques do maior partido do país foram cada um para seu lado, cuidar de seus superiores interesses, e a economia, que corria nos trilhos, desandou de tanto que foi ordenhada para alimentar um Congresso faminto, que queria devorar um presidente. Meirelles tem hoje só seu carisma - e é zero.

HOJE QUEM PAGA....

Há, no total, 16 candidatos à Presidência, já descontado Lula, que finge que é mas não é, e acrescido Haddad, que é candidato a vice mas vai mesmo é sair no comando da chapa. Desses, três têm chances: Bolsonaro, o líder nas pesquisas (mas que tem pouquíssimo tempo de TV), Alckmin, que montou uma grande coligação e fica com quase metade do tempo total de TV, e Haddad, por ser o candidato de Lula. Os outros estão é brincando de candidatos.

Eles podem: dinheiro é o que não falta. O nosso dinheiro.

...SOMOS NóS

Quanto? Há a ponte aérea Curitiba-Brasília que todos os esquerdistas percorreram antes de decidir independentemente seu caminho, há a grande festa da convenção, com passagem, hotéis e refeições para os participantes, e com boa bebida. Há as viagens para discutir quem é que cada partido vai apoiar ?" tudo por conta do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário. Ou seja, de novo vão mergulhar nos nossos fundos.

COMEÇANDO!

Amanhã, quinta, o primeiro debate entre os candidatos à Presidência. Como sempre, a pioneira é a Rede Bandeirantes de Televisão. Lula quis participar, mas o TRF-4, Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, ignorou o pedido. A TV não é obrigada a convidar o vice para debater na ausência do titular. Se Haddad participar, fica claro que o vice não é vice.

MAIS TARDE, MAIS TARDE

Lula sabe que não pode ser candidato, tanto que escolheu Haddad para substituí-lo. Por que tanto luta para adiar a declaração de inelegibilidade? Talvez por cálculo: em 15 de setembro, foto e nome do candidato entram nas urnas (a eleição é em 7 de outubro). Se Lula não tiver sido impugnado, seu nome e foto aparecerão na urna na hora da votação, mesmo com outro candidato em seu lugar.

Gente menos informada pensará que vota nele, quando estará votando nesse outro candidato, embora indicado por ele.

DILMO

É melhor calar, e deixar no ar a possibilidade de que o achem tolo, do que falar e acabar com a dúvida. O general Mourão, vice de Bolsonaro, na primeira declaração como candidato, afirmou que os brasileiros herdaram a indolência dos índios e a malandragem dos negros. Em seguida, garantiu que não é preconceituoso. Talvez não seja; talvez apenas ignore o sentido exato das palavras. Eventualmente, pode pensar que, como Mourão, seja um Moro grande. Não é: mourão é apenas um poste para firmar a cerca.

PROTEÇÃO

A presença de Mourão na chapa, dizendo o que diz, certamente reduzirá as críticas a declarações estranhas de Bolsonaro, como a de que os militares não tomaram o poder em 1964, Vladimir Herzog pode ter cometido suicídio, ou que a ditadura não hostilizou a imprensa. Ignorar a censura ao Jornal da Tarde, a O Estado de S.Paulo e a O São Paulo, jornal da Arquidiocese de São Paulo, esquecer-se do fechamento do Correio da Manhã e da Rede Excelsior, omitir que o regime militar deu apoio a novos meios de comunicação que lhe fossem incondicionalmente fiéis é demais.

O VETO À MENIGITE

Este colunista conviveu com a censura prévia. E assistiu à censura da epidemia de meningite, para que ninguém culpasse o Governo. Só que era proibido divulgar também as precauções para evitar o contágio.
Herculano
08/08/2018 10:40
ROSA WEBER É DURA COMO PEDRA, por Élio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

A ministra mandou reabrir a fronteira com a Venezuela, chegou a hora de prestar atenção nessa gaúcha que não fala

Em 2011, quando a juíza gaúcha Rosa Weber foi nomeada para o Supremo Tribunal Federal, ninguém fazia fé naquela senhora calada, vinda da Justiça do Trabalho. Ela sofreu na sabatina do Senado, massacrada pelo doutor Demóstenes Torres, que depois viria a ser cassado pelos seus pares. Mesmo tendo um filho jornalista, cultiva distância da espécie.

Não fala, não comenta, não brilha, simplesmente vota. Em geral, como a colega Cármen Lúcia, veste uma toga fosca, contrastando com as capas acetinadas de outros ministros. Quando chama a atenção, é porque trocou a cor da armação dos seus óculos. Contam-se pelo menos cinco, uma branca.

De certa maneira, ela lembra a juíza Sandra O'Connor, a primeira mulher nomeada para a Corte Suprema dos Estados Unidos. Ninguém dava nada por ela, era uma rancheira republicana e acabou tornando-se o pêndulo do tribunal, para desconforto do brilhante Antonin Scalia que fez a besteira de menosprezá-la.

Foi Rosa Weber quem detonou a ordem de um juiz de primeira instância de Roraima que mandou fechar a fronteira para bloquear a entrada de refugiados da ruína venezuelana. Seu primeiro argumento, essencial, foi o de que a competência para julgar a questão estava no Supremo Tribunal Federal. Lateralmente, lembrou que "fechar as portas" seria o mesmo que "fechar os olhos" à questão social que já levou 40 mil venezuelanos a buscar abrigo no Brasil.

Felizmente, Pindorama nunca passou por ruína semelhante. Contam-se nas centenas os brasileiros humilhados pela política de Donald Trump, mas, mesmo assim, eles foram para a fronteira com os Estados Unidos sabendo que tentavam uma entrada ilegal. Esse não é o caso dos venezuelanos. Ademais, o Brasil já teve um imperador (D. Pedro 2º) e dois presidentes (Washington Luiz e João Goulart) obrigados a viver em terras onde não canta o sabiá.

Alguns milhares de brasileiros viveram no exílio, e centenas foram protegidos pelo instituto do asilo diplomático. Mesmo durante a ditadura, nos anos 70, o Brasil abrigou milhares de fugitivos chilenos, argentinos e uruguaios.

A crise dos refugiados venezuelanos cria problemas para o povo de Roraima, mas quando se defende o fechamento da fronteira está embutida a noção de que país é este. É a Hungria de hoje, ou mesmo o Brasil do Estado Novo, que negou entrada a um navio de refugiados judeus? Ou o Brasil que no século 19 acolheu americanos escravocratas que fugiram dos Estados Unidos depois que o Sul perdeu a Guerra da Secessão?

Na semana que vem Rosa Weber assume a presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Um atento observador de seu trabalho avisou: "Ela é dura que nem pedra, não dá confiança."

Numa época em que o juiz Sergio Moro é conhecido também pelas suas camisas pretas, e tantos ministros do Supremo Tribunal são famosos pelo que fazem fora do gabinete ou pelo que dizem fora dos autos, Rosa Weber é um refrigério.

Parece um magistrado de antigamente, daqueles que saíam andando pela avenida Rio Branco sem serem reconhecidos e sem receio de serem insultados ou aplaudidos. Se hoje há ministros que têm assessor para colocar suas maletas no compartimento de bagagens de mão dos aviões, isso é um sinal dos tempos, e dos egos.

O ministro Gilmar Mendes não gosta que se façam paralelos com a corte americana, mas certo dia um casal de turistas preparava-se para fotografar o belo prédio do tribunal, quando viu um senhor que vinha andando e atrapalharia o enquadramento. Pediram que parasse, e ele atendeu. Não sabiam que era o juiz John Paul Stevens, na sua caminhada habitual.

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