por Sandro Galarça - Jornal Cruzeiro do Vale

por Sandro Galarça

12/12/2008 00:00

Muitas pessoas não entendem como alguém encontra R$ 20 mil escondidos em um casaco e devolve ao seu dono, mesmo sem saber quem é. Não compreendem por que algumas pessoas agradecem ao caixa do supermercado quando este lhes devolve o troco ou quando alguém dá bom dia a quem passa em seu portão logo de manhã, mesmo sendo um completo estranho. Talvez isso se explique pela correria do dia-a-dia, pela necessidade sempre presente de se levar vantagem em tudo, pelo modo cada vez mais competitivo da sociedade. Ou, então, pelo instinto selvagem que temos em nos relacionar em grupos e nos proteger de qualquer tipo de ameaça.
O fato é que gestos como o de Daniel Manoel da Silva, morador que perdeu boa parte da família, a residência onde morava e seu meio de subsistência, ainda causam estranhamento por parte da sociedade. A neta de seu Daniel encontrou R$ 20 mil em dinheiro na manga de um casaco recebido em doação há duas semanas. Sua família fez de tudo para localizar o verdadeiro dono e fazer a devolução do dinheiro, fato que tem gerado comentários em nível nacional, em programas como o de Ana Maria Braga, da TV Globo.
Numa sociedade em que as pessoas são cada vez mais egoístas, esta atitude pode até impressionar. Mas para famílias simples como a de seu Daniel, esse é um gesto obrigatório. No interior do Alto Baú, onde as pessoas se conhecem e constroem relações de amizade baseadas na confiança, essa é a regra. As crianças são ensinadas desde pequenas para não pegar o que não lhes pertencem. Os jovens aprendem a respeitar os bens dos vizinhos e as famílias sabem exatamente onde começa a sua propriedade e onde começa o terreno do vizinho, mesmo sem a existência de cercas ou qualquer outra maneira de limitar os espaços impostos pela propriedade.
Devolver o que não nos pertence deveria ser uma obrigação moral e ética, sobre a qual não pairasse qualquer dúvida ou hesitação. Infelizmente, precisamos de exemplos assim para rever alguns conceitos particulares que mudam a vida em sociedade e nos tornam cada vez menos altruístas. Ainda pesa contra a índole humana o fato de que em momentos de crise e calamidade as pessoas perdem um pouco o senso crítico, os valores éticos e humanos e que fala mais alto o instinto natural de sobrevivência, ainda que, se pararmos para pensar, precisamos de muito menos do que adquirimos ao longo da vida.
Num momento em que muitos perderam bens materiais, alguns ainda se lembram de agradecer porque a sua integridade e de sua família não sofreu qualquer arranhão. Mesmo sem a casa, os bens, os móveis e o emprego, ainda ficou o respeito, uma forte marca que não se apaga mesmo num momento grave como este.

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