Mãe acusa médica de negligência em unidade de saúde em Gaspar - Jornal Cruzeiro do Vale

Mãe acusa médica de negligência em unidade de saúde em Gaspar

04/04/2019
Mãe acusa médica de negligência em unidade de saúde em Gaspar

A luta pela vida começou cedo para Isadora da Costa Vergutz. Com um ano e três meses, a pequena enfrenta uma doença chamada Cardiopatia Congênita com hiperfluxo pulmonar e sobrecarga hemodinâmica, além de sopro cardíaco. Hoje, seu problema de saúde está em estágio avançado. Mas, se descoberto antes, poderia ter sido resolvido com um tratamento. Com a atual realidade, a menina precisa passar por uma cirurgia arriscada. Agora, a família acusa a médica que iniciou os atendimentos da criança de negligente.

Quem conta a história é a mãe da menina, Ana Paula da Costa. “Sempre levei a Isadora para fazer exames de rotina no posto do bairro Santa Terezinha e eu pedia que a médica prestasse atenção no chiado que eu e meu marido ouvimos no peito da minha filha”. Segundo a mãe, porém, o pedido não era atendido pela médica Thais Paiva de Rezende. “A doutora dizia que a menina não tinha nada e que eu era do tipo de mãe que queria achar defeito nos filhos. Insistia em não examinar corretamente e nunca levantou da cadeira para colocar o estetoscópio no peito dela”.

Com o tempo, o barulho que vinha do peito de Isadora aumentou. “Quando ela completou oito meses, a levamos de novo com um chiado bem alto. Passaram para uma enfermeira, que falou que ia desvincular a nossa família do posto, para não recebermos mais atendimento ali, se eu insistisse num problema que não existia”, relembra Ana Paula.

No começo de 2019, quando a criança completou seu primeiro ano, precisou voltar à Unidade de Saúde. “A médica [Dra. Thais] só olhou pra mim e disse que ia transferir o caso, porque a menina estava abaixo do peso”.

Denúncia

A médica e a enfermeira que atenderam a família no Santa Terezinha não trabalham mais naquele local. Porém, Ana Paula decidiu que o caso deveria ser denunciado e registrou a reclamação na Ouvidoria do Município. “Depois de eu fazer barraco e me chamarem de louca, resolveram se mexer. Se a Secretaria de Saúde existe, é pra dar um suporte pra gente, principalmente às crianças e idosos. Se ela estava sendo paga com o nosso dinheiro, por que não fazia o certo?”, indaga Ana Paula.

Caso foi para a Policlínica e é tratado em Joinville

Após encaminhamento para a Policlínica, a médica Sheyla Mello Rosmam assumiu o atendimento da criança. “A doutora só colocou a mão no pé da minha filha e já percebeu que ela tinha algum problema cardíaco. Então, solicitou um raio x, um eletrocardiograma e um ecocardiograma. Fizemos exames em Blumenau, trouxemos os resultados para cá e depois, para evitar ficar numa fila, o nome da bebê foi colocado na lista de Joinville, onde a situação se resolveu de um dia para o outro”. Toda essa situação deixou os pais da criança assustados. “Me desesperei. Com um ano, ela está só com sete quilos. O médico que nos atendeu em Joinville até pediu para que eu e meu marido assinássemos um termo que fala do risco da cirurgia”.

A mãe compara o atendimento recebido em Joinville com a forma com que foi tratada pela médica Thais. “Ele nos passou até o seu telefone particular para acompanhar cada detalhe. E disse que se o problema fosse descoberto antes, não seria necessária a cirurgia, apenas um tratamento”.

Isadora deve retornar a Joinville no dia 17 de abril para uma nova bateria de exames, todos acompanhados do médico Luciano Bender, quem assumiu o caso. “Tem um buraco de 12 milímetros no coração dela. E o órgão continua inchando. Estamos esperando para saber se vai dar para operar logo”.

Devido a situação financeira da família, Isadora vai precisar fazer o cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O que diz a Secretaria de Saúde

De acordo com o Supervisor da Atenção Básica, Arnaldo Gonçalves Munhoz Junior, a Secretaria de Saúde tomou conhecimento da situação no dia 8 de fevereiro, quando Ana Paula da Costa registrou a reclamação. Sobre a situação da criança, o supervisor afirma: “ainda não tem um diagnóstico firmado e por isso não é possível dizer que o tratamento é apenas cirúrgico”. A fala vai na contramão do que dizem os pais da criança.

A profissional denunciada, Thais Paiva Rezende, trabalhou em Gaspar vinculada ao Programa Mais Médicos entre 16 de maio de 2016 e 28 de fevereiro de 2019. Nesse período, segundo a Secretaria de Saúde, apenas a reclamação de Ana Paula foi recebida. Quanto ao desligamento da médica, Arnaldo afirma que este foi um pedido da mesma, após aprovação em uma Residência Médica.

Outro ponto levantado pela família diz respeito ao cancelamento do registro de Thais para atuação em Santa Catarina. O supervidor explica: “se deu devido a profissional passar seu CRM para outro estado. Sendo assim, o anterior é cancelado e a profissional recebe um novo”.

A reportagem do Cruzeiro do Vale entrou em contado com o Conselho Regional de Medicina do Estado de Santa Catarina (CRM-SC), que informou que médicos podem ter registros vigentes em dois estados diferentes. Portanto, a mudança da profissional não cancela automaticamente seu registro no território catarinense, a menos que ela tenha solicitado. De acordo com o portal online do Conselho Federal de Medicina, a atual situação da médica está regular em São Paulo.

 

Edição 1895

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