Processos contra a TBG chegam ao Fórum - Jornal Cruzeiro do Vale

Processos contra a TBG chegam ao Fórum

10/07/2009

img7MD.jpgOs primeiros processos das famílias atingidas pelos deslizamentos registrados durante a tragédia de novembro contra a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil, TBG, serão protocolados no Fórum da Comarca de Gaspar nos próximos dias.
A documentação foi preparada por uma equipe de quatro advogados da cidade de Blumenau, representados pela advogada Lenice Kelner. Segundo a profissional, o grupo representa 80 famílias moradoras das localidades do Belchior Alto, em Gaspar,  e do Baú, em Ilhota. "Já temos 30 processos finalizados e vamos dar entrada no Fórum nos próximos dias. Os demais estão sendo finalizados e serão protocolados em breve", explica a advogada.
Aos processos, os advogados anexaram o resultado de uma análise feita por uma equipe técnica especializada em engenharia do solo.
A equipe é formada por cinco especialistas que após diversas análises concluíram que a explosão do gás influenciou nos deslizamentos registrados nestas duas regiões.
"O que os especialistas apresentaram é que se não tivesse ocorrido a explosão do gás os deslizamentos teriam sido muito menores e, consequentemente, os prejuízos também. Muitas daquelas casas não teriam caído sem a influencia da explosão", explica a advogada.
Lenice entrou em contato com os moradores das localidades atingidas semanas após o ocorrido em novembro do ano passado. A advogada justifica a demora na elaboração dos processos devido à complexidade do caso. "A perícia foi muito bem feita e por isso demorou um certo tempo. Retiramos amostras de solo dos locais onde houve deslizamentos e mandamos para análise. Esta análise demorou três meses. Só agora, com a conclusão desta perícia, é que conseguimos dar início a elaboração dos processos. Estamos muito otimistas quanto ao resultado", destaca a advogada, que bancou todas as despesas da perícia junto com sua equipe.

O que diz a empresa
A assessoria de comunicação da TBG revela que a empresa ainda não foi comunicada sobre a abertura deste processo e por isso não irá se manifestar sobre o assunto. Segundo a assessoria não houve explosão do gás, mas sim um rompimento.

Análises do Estado
A Defesa Civil Estadual também contratou uma equipe que está fazendo a análise nos locais onde foram registrados deslizamentos. Como a equipe estuda o solo de diversas cidades, o trabalho tornou-se bastante complexo e, segundo o diretor geral da Defesa Civil do estado, major Márcio Luis Alves, por isso o trabalho ainda não pode ser finalizado.
O professor Fernando de Aquino, da Fundação de Apoio à pesquisa Científica de Santa Catarina, Fapesc, responsável pelos estudos contratados pelo Estado, explica que a análise feita por toda a equipe não visa apontar causas, mas sim estudar os acontecimentos para criar uma política pública de prevenção de desastres naturais no estado.
"Temos até o mês de setembro para apresentar nossos resultados, mas nosso foco está na prevenção e não em apontar as causas destes deslizamentos em toda a região do Vale do Itajaí", explica o professor.

Saiu no Cruzeiro
img21MD.jpgA notícia de que as famílias atingidas entrariam com ação na Justiça contra a TBG foi publicada pelo Jornal Cruzeiro em meados de dezembro do ano passado. Na época, a advogada pretendia entrar com as ações naquela semana, porém, após a análise dos fatos, Lenice concluiu que seria importante anexar uma perícia ao documento e por isso a advogada se reuniu com outros profissionais para dar andamento ao caso de forma adequada.

"Sabemos que foi o gás"
Marli Krause é uma das moradoras que está entrando com ação judicial contra a TBG. A casa de Marli fica na rua José Schmitt Sobrinho, no Belchior Alto, e está situada a 800 metros do local onde o gás explodiu. A moradia não foi destruída, mas está interditada pela Defesa Civil. "Não saímos daqui porque não temos para onde ir, mas estamos correndo risco. Precisamos de uma casa nova", justifica a senhora, que espera conseguir a indenização.
O ocorrido naquela madrugada de novembro está marcado para sempre na memória de Marli. Ela conta que estava em casa quando ouviu um estouro muito forte e quando olhou pela janela viu as labaredas de fogo vindo do meio da mata. "Depois disso as terras começaram a deslizar. Não temos dúvidas de que foi a explosão que fez com que tudo caísse por terra abaixo", opina.

"Achei que estava pegando fogo no mundo"
Por causa dos deslizamentos de terra Olandina Maria Tesch ficou três semanas sem poder produzir em sua empresa de carvão, situada no Belchior Alto. Além da empresa, a senhora teve prejuízos em seu terreno, onde os deslizamentos provocaram uma grande cratera, fazendo com que o local perdesse seu valor. "A gente vê tantas reportagens sobre indenizações na televisão, acho que vamos conseguir a nossa também. Não é justo com nosso povo. Esta empresa ganha tanto dinheiro explorando o gás e nós vamos ter que nos recuperar sozinhos? Espero que eles vejam o que estamos sofrendo por causa desta explosão", comenta a senhora.
Olandina conta que nunca imaginou que um dia veria o que viu naquela madrugada de novembro. "Estava em casa e não conseguia dormir, pois estava preocupada com as pessoas que estavam sofrendo com a enchente. De repente vi um clarão e parecia que a energia elétrica tinha voltado. Quando levantei, olhei pela janela e vi que parecia dia. Estava tão claro que aprecia ser meio dia. Fiquei muito assustada. Quando vi o fogo, saí gritando para todos: tá pegando fogo no mundo. Jamais imaginei que seria o gás", conta.
Segundo Olandina, sua casa só não foi atingida porque uma barreira segurou o barro e as árvores.  "Não morremos porque não era a nossa hora. Esta terra é muito firme, tem muita pedra aqui e elas jamais teriam caído se não fosse o estouro  do gás", destaca a moradora.

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