O desabafo de Leonel Pavan - Jornal Cruzeiro do Vale

O desabafo de Leonel Pavan

18/12/2009

dsc0240800532MD.jpgEm entrevista exclusiva à Adjori/SC, o vice-governador fala do processo, do futuro politico e faz um alerta aos aliados: é equívoco pensar que Pavan ferido vai ser bom para alguém da tríplice aliança.

Recluso por vários dias, e alguns quilos mais magro, o vice-governador Leonel Pavan (PSDB) resolveu desabafar. Entre abatido e inconformado, por ver sua ascendente trajetória ser atropelada pela denúncia pelo Ministério Público estadual ao Tribunal de Justiça por suspeita de advocacia administrativa, corrupção passiva e quebra de sigilo funcional, Pavan está certo que vai vencer essa batalha, provando sua inocência. Diz que faz parte de sua vida pública passar por isso em períodos eleitorais, sempre que quer dar um passo à frente.

Lamenta ter que perder tempo em se defender quando tinha uma infinidade de projetos para por em prática, tão logo assumisse o governo de Santa Catarina, interinamente no próximo dia 5 de janeiro, e definitivamente em 1º de abril, conforme acordado com o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) que deixa o comando do Estado para se candidatar ao Senado.

Apesar de admitir o sério prejuízo político com essa situação, o vice-governador faz um alerta aos seus próprios aliados, repetindo um mantra que é de Luiz Henrique. Juntos, a eleição é morro abaixo, desunidos, é morro acima. Intrigado com o suposto contentamento de alguns, vaticina: é equívoco pensar que Pavan ferido vai ser bom para alguém da tríplice aliança.

Acompanhe os principais momentos da entrevista, concedida com exclusividade à Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina.

Adjori/SC: O processo o pegou de surpresa? Por que o sr. foi tão despreparado (sem advogado) ao seu depoimento na PF?

Pavan: Eu fui convidado a depor e ao chegar lá me deparei com o grau da investigação. Fomos sem advogado porque sabíamos plenamente de que se tratava de um processo bom para o Estado, sabíamos que era um investigação sobre o ramo de combustíveis e nós fomos inclusive pensando em colaborar e fomos sem advogado; aí é que sentimos que nós éramos o investigado e que havia uma investigação contra o Estado também.

Adjori/SC: O procurador-geral de Justiça disse que o senhor poderia ter ficado em silêncio...

Pavan: Porque eu iria ficar em silêncio em um assunto em que eu não me sinto envolvido e em que eu não cometi crime? Claro que qualquer um sabe que pode ficar em silêncio e eu não fiquei porque eu tinha que dizer o que eu sempre disse, dos fatos realmente verdadeiros.. É a tal história, quem não deve não teme.

Adjori/SC: Seu advogado já teve acesso a todo o processo - inclusive o que estava sobre segredo de Justiça?Ele já se manifestou sobre qual será a linha de defesa?

Pavan: Sim, o processo está todo com o dr. Gastão e alguns colaboradores e a linha de defesa está a cargo deles e eles estão tomando algumas providências; eu não sou advogado e muito menos criminalista, sou advogado do povo de Santa Catarina, eu advogo os interesses de Santa Catarina, defendo os seus pleitos, os projetos para o bem-estar da sociedade catarinense. Eu estou separando a questão judicial das questões administrativas.

Adjori/SC: E eles já lhe informaram como vão derrubar o que o procurador considerou um conjunto consistente de provas?

Pavan: Que provas? Ilações? Conversas entre as pessoas? Agora, aquilo que eu conversei referente ao atendimento das pessoas, eu repito: eu irei continuar de portas abertas atendendo as pessoas. E mais: todas as pessoas que me procuram, para tratar de Educação, eu ouço, encaminho e acompanho o processo até a sua solução. Se pode ou não pode, se deve ou não deve. Na Saúde é a mesma coisa. E quando a questão é Fazendária, eu encaminho à secretaria da Fazenda. Eu atendo as pessoas, no gabinete, no carro, na rua... Em Balneário Camboriú, eu sento num banco da Avenida Atlântica e marco com as pessoas, para despachar ali; atendo num bar, num restaurante, num jogo de bocha..É a minha forma de ser. E eu sei separar o ato lícito do ilícito. Neste caso, as pessoas que me procuraram, me procuraram porque disseram que estavam sendo perseguidas, que precisavam retirar a inscrição para continuarem a trabalhar; por outro lado, o Estado disse que não poderia ser dada a inscrição porque havia débitos, e que para liberar a inscrição teria que ter uma penhora e parcelar os pagamentos. Foi isso que foi discutido durante todo esse tempo.. foi lá em março essa discussão e veio estourar agora..

Adjori/SC: É sobre esse fato a acusação de advocacia administrativa?

Pavan: Segundo a Justiça, eu estaria pleiteando pela empresa, mas, veja bem, você acha que eu, vice-governador do Estado e por várias vezes no cargo de governador do Estado, vou ligar para funcionários e pedir algo ilícito? A primeira conversa minha foi com o secretário da Fazenda, a segunda com o diretor geral da Fazenda, que são as pessoas responsáveis pelo setor. Você acha que eu iria cometer uma bobagem de ficar amarrado eternamente a pessoas que muitas vezes nem as conheço? Seria um absurdo pedir ilicitamente a algum funcionário. Como essas pessoas iriam trabalhar depois se eu pedisse algo ilícito?. Se tivesse feito, teria me amarrado, ficado na mão de funcionários, me subordinando a eles num governo meu no futuro... Essa questão de corrupção é ilação, pela conversa das pessoas, pelo que elas falavam entre elas...

Adjori/SC; O senhor é amigo pessoal de algum desses empresários?

Pavan:  Essa coisa de dizer que é amigo é muito relativo.Tem pessoas que vem falar comigo e dizem: eu estive com o Serra, com o Aécio Neves, .. é uma forma de se mostrar que é importante. Desses dois empresários, um eu me recordo bem, que é o Eugênio, que nós passamos a conversar em vários lugares. Eu não me recordo do outro, nem da fisionomia. Então essa história de dizer que são super amigos é ilação pura...

Adjori/SC: Qual a expectativa de seguimento do processo. Quanto tempo isso pode levar?

Pavan: Lamentavelmente, eu tenho que ficar trabalhando para dizer que sou inocente. Estava me preparando para o dia 5 de janeiro com as ações, com as modificações que iríamos implementar, com as mudanças que iríamos fazer, sobre o que nós iríamos propor. Eu trouxe o Giulianni (ex-prefeito de Nova York). Nós íamos implementar um trabalho fortíssimo na questão da Segurança, estávamos nos preparando com equipamentos de ponta, de alta tecnologia, trabalhar o relacionamento com as polícias, a Segurança em alguns municípios onde é preciso investimentos. A questão da Saúde. Veja só, tão logo eu saí do meu depoimento (à Polícia Federal), eu fui falar com o Gersino (procurador geral de Justiça) para propor a ele achar um meio de desenvolver um projeto para acabar com as filas nos hospitais, que têm filas enormes, pois faltam profissionais, faltam anestesistas, médicos e teríamos que fazer concurso público, que demora dois anos, além do mais não há vagas, as vagas estão ocupadas por profissionais que estão de licença a prêmio, ou de férias, ou doentes, e com isso não há como repor esses profissionais e o povo fica nas filas para cirurgias de cataratas e outras tantas mais. Tínhamos que tomar uma atitude forte, estava buscando caminhos e tive que paralisar essas ações todas, todo um trabalho de equipe, para me defender. A quem interessa me sangrar? Por que essa questão ferrenha por causa de um indiciamento?. Segundo a Justiça, existem milhares de indiciamentos e de denúncias...Eu me senti execrado. Por duas vezes, um grande ênfase por ocasião do indiciamento, e depois na denúncia,  como se uma coisa fosse caminhar fora da outra. Uma sempre vem depois da outra. Foi tudo muito explorado.. para me sangrar. 

Em período de eleição, vou dar um passo, vem um trovão.

Adjori/SC: O PSDB-SC vivia um momento de grande otimismo, quase euforia, com as perspectivas de 2010. Como essa situação impactou entre seus correligionários?

Pavan: Nós aqui estamos recebendo telefonemas de pessoas que nem imaginávamos, de pessoas que achávamos até que eram contrários. Temos tido uma solidariedade muito grande de todos eles porque acreditam em nós. É claro que há um prejuízo político. E por que que isso acontece ? Cada vez que eu vou dar um passo na minha vida, um passo a mais, surge uma tempestade na minha vida. Ilações, denúncias, invenções, factóides. Toda vez. Muitas coisas que fizeram comigo, sequer tomaram encaminhamento na Justiça. E em todas as que fizeram fui absolvido. Tive que provar minha inocência. Em período de eleição, vou dar um passo, vem um trovão. Acabam as eleições, passa tudo. Foi um prejuízo forte esse processo, mas nós vamos ganhar. Tenho certeza absoluta. Mesmo que tentem impedir de todas as formas a minha caminhada, nós vamos ganhar. Em um mês, em um ano, ou em muitos anos. Acontece que o tempo da politica é um e o da Justiça é outro. E vou citar o caso da Escola Base, de São Paulo, quando denunciaram os proprietários; um deles até morreu, de dor, massacrado pela mídia e pela Justiça, que os condenaram moralmente e depois foram absolvidos, destruídos e absolvidos. E também o (deputado) Ibsen Pinheiro, que levou dez anos para voltar a ser alguma coisa na vida. O tempo da política é um e o da Justiça é outro.

Adjori/SC: O calendário para transmissão de cargo está mantido?

Pavan: O Luiz Henrique já disse diversas vezes que eu vou assumir e estamos nos preparando para o dia cinco. Eu, particularmente, quero falar com o meu partido. Sobre a data da minha posse e sobre a condução política. Eu não posso, mesmo sendo injustiçado, atrapalhar um projeto do partido. Então é seguinte, vamos ter que definir caminhos, metas, estratégias e o que nós realmente teremos que fazer. Em 1º de abril, assumo o governo definitivamente. É outro caminho, outra história, outra vocação. Todas as questões que vem daqui pra frente, inclusive o dia 5, até o o dia 1º de abril, vou discutir com o meu partido. Nós tínhamos grandes projetos, decretos, leis; tínhamos reformas a serem implementadas, tínhamos principalmente o compromisso de dar sequência aos projetos do Luiz Henrique, dentro de suas ideias; isso é um compromisso que o governo dele não termina com a saída dele; este é um governo em conjunto até o último dia do nosso mandato. Luiz Henrique tem afirmado sistematicamente sua posição, do dia 5 (de passar o cargo) pois sabe da minha competência, da minha lealdade; nós nos conhecemos bem; ele sabe da minha inocência, está sofrendo comigo. E não pensem que com o Pavan ferido, vai ser bom para alguém da tríplice aliança, não. Todos precisamos estar saudáveis. Todos saudáveis. Uma eleição, juntos, é uma eleição de morro abaixo; uma eleição dividida é uma eleição de morro acima. Nós precisamos estar saudáveis. Alguns podem estar se vangloriando, porque as pesquisas nos apontavam em situação privilegiada, e alguns que sequer fazem parte do nosso conceito político, que podem estar cantando grito da vitória, estão equivocados. Nós, para vencermos uma eleição temos que estar os três saudáveis.

 Adjori/SC: O senhor se disporia a uma corrida solo, ou pelo menos com outros aliados, caso a tríplice aliança não se consolide?

Pavan: Minha vida pública foi marcada por desafios. Neste momento, qualquer passo a ser dado eu tenho que ter primeiro o respeito do meu partido; segundo, o respeito ao governador Luiz Henrique da Silveira. Então, eu tenho desafios, maravilha; porém eu tenho que respeitar. Não vou fazer nada por jogo pessoal. Não farei o jogo pessoal. Meu projeto, ele vem com o meu partido e com o respeito ao governador Luiz Henrique da Silveira.

Comentários

Simone
22/12/2009 08:42
Casa em ordem? Novamente??!? Entra e sai gente e esta casa juntamente c/ a população só sofre...
Carlos
20/12/2009 10:26
Estão de brincadeira. Assumir o cargo mais importante do estado numa situação destas, tenham respeito pelo eleitor e principalmente pelo povo catarinense. Já não bastam as cagadas em Brasília com milhões nas cuecas e meias no escandalo do Arruda/mensalão do DF e do DEM. Por que será que o Sr. Luiz Henrique da Silveira quer botar esta batata quente nas mãos do Sr. Pavam? Aí tem. Coitado daquele que assumir este governo em 2011, vai ter que se virar nos trinta pra por a casa em ordem novamente.

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