Não há palavra no mundo que descreva esta doce mulher tão bem quanto o seu antigo apelido, dado pelos pais: Santa. O jeito corajoso com o qual passou por todas as situações da vida e a fé que sempre priorizou são suficientes para que seja reconhecida desta forma.
As memórias dos 87 anos de vida ainda estão muito vivas na mente de Clotilde Reinert, e por isto antes de iniciarmos a conversa, a querida senhora alerta, sorrindo, que sua história é longa e poderia virar um livro.
Sua trajetória teve início no bairro Poço Grande, onde nasceu e viveu por muitos anos, juntamente com a família. Desde muito cedo, começou a trabalhar na roça, assim como os pais e irmãos. Santa ainda se lembra de que, naquela época, a situação era totalmente diferente, e por este motivo trabalhar desde criança era necessário.
Foi neste mesmo bairro que, anos mais tarde, ela conheceu o futuro marido, Vergílio Reinert. Clotilde tinha apenas 18 anos quando encontrou o primeiro grande amor em uma festa da cidade. Rindo, dona Santa recorda que, naquele tempo, as festas eram conhecidas como domingueiras e as moças apenas tinham permissão de ir se estivessem acompanhadas de um parente ou alguém de confiança. No seu caso, esta pessoa era o irmão.
Após namorar por algum tempo, Santa e Vergílio se casaram e deram início a uma grande família. Com muita convicção no olhar e sinceridade na voz, dona Santa afirma que o maior desejo, desde muito nova, era ser mãe. E foi isso que aconteceu logo após se casar. A primeira filha trouxe muita alegria, assim como os outros 15, porém, ao ficar grávida pela segunda vez ela se deparou com uma dificuldade até então desconhecida. O filho havia nascido cego, e isto causou um grande choque em sua vida.
Emocionada, Santa lembra que esta foi uma fase muito difícil e triste, principalmente por não saber o porquê do filho ter nascido sem a visão. A tristeza atingiu novamente o peito quando sua terceira filha também nasceu com deficiência visual.
Mesmo lutando para que as dificuldades dos filhos fossem as menores possíveis, Santa não conseguiu tê-los em sua vida por muito tempo. O segundo filho morreu aos 15 anos e a terceira filha aos três anos de idade. A dor da perda ainda está estampada em seus olhos, assim como a saudade dos pequenos.
Com o passar do tempo, a família cresceu ainda mais. Foram mais treze filhos, sendo que dois nasceram novamente sem a visão. Santa e Vergílio ficaram casados por 23 anos, até que ele faleceu em consequência de uma doença, e ela nunca mais se casou.
Hoje, a simpática senhora vive com três filhos na casa onde mora há mais de 55 anos. Para ela, o motivo de sua alegria está na saúde que lhe permite continuar vivendo e nos filhos, que tanto ama.
?Companheiros de guerra?. É com esta frase que Sebastião, um dos filhos de Santa, descreve a parceria entre ele, a mãe e o irmão José Lindolfo. Estes são dois dos três filhos que vivem com dona Santa, e que até hoje recebem toda a atenção da dedicada mãe. Dom e Zeca, como são conhecidos, são deficientes visuais, porém contam com os olhos de dona Santa para seguirem os caminhos e dar continuidade à vida.
Esta batalhadora mãe não esconde o fato de ter sido muito difícil cuidar de tantos herdeiros, entretanto, destaca que todo o esforço vale a pena quando a recompensa é tê-los por perto.
Além de Dom e Zeca, mais oito filhos, 30 netos, 19 bisnetos e três tataranetos fazem parte desta bela e grande família, para qual Santa tanto se dedica e tanto ama.
Ter todos os filhos vivendo ao lado sempre foi o maior desejo de Santa, que fez de tudo para criá-los da melhor forma, mesmo sem o marido. Mesmo que este desejo não tenha se realizado, os filhos sempre a procuram e a alegria que transmite em seu sorriso ao falar sobre a união da família é visível e contagiante.
Edição 1428
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