IGNORÂNCIA - Jornal Cruzeiro do Vale

IGNORÂNCIA

12/10/2010 03:11

Sócrates, o grande filósofo grego, dizia que um ser humano só poderia estar aberto ao conhecimento, se tivesse consciência da sua própria ignorância. Trata-se do princípio da ironia: você só aprenderá se for ignorante.

Podemos relacionar o paradigma socrático, com preceitos da escola de Frankfurt, mais precisamente com a teoria crítica do também filósofo e sociólogo alemão, Max Horkheimer. Ele propõe em suas teorias, uma reflexão sobre a própria razão, diante dos conceitos que adotamos e aceitamos como verdade, baseado tão somente na informação. Uma autocrítica do nosso próprio esclarecimento.

Trocando em miúdos, não devemos acreditar em tudo que falam, principalmente no que é veiculado por meios de comunicação de massa, que seriam ferramentas para perpetuação das ideologias pré-existentes. Ou seja, se você acha que sabe tudo, só porque se mantém bem informado, está correndo o risco de apenas reproduzir as ideias que lhe foram sugeridas e, sobretudo não está pensando por si mesmo.

Sociologia, fisosofia, são ciências que exigem muita reflexão e dão margem a várias interpretações. Particularmente, não tenho nenhuma formação acadêmica sobre o assunto, muito menos a presunção de querer ensinar algo tão complexo. Sou apenas um curioso que está sempre querendo entender as coisas. E como me deram a liberdade de escrever neste espaço o que eu quiser, arrisco por estas veredas, se acho pertinente.

Então vocês devem estar se perguntando. O que esse professorzinho de Português está querendo com essa conversa? Ainda mais se ele mesmo confessa que não tem gabarito para tanto?

Calma eu explico! O que me fez discorrer sobre este assunto tão melindroso, foi a acusação de estar fazendo campanha política em plena sala de aula.

Logo eu?! Eu que faço questão de ficar no ponto mais alto, possível, do muro. Na segura e suiça neutralidade, que me garante (ou não) isenção de julgamento, mantendo-me acima do bem e do mal.

Nesta fatídica ocasião, falava eu que, diante das informações veiculadas nesta época onde o vale-tudo da campanha usa de toda e qualquer arma para nos persuadir e convencer devemos desconfiar de tudo e de todos. Se já é difícil identificar a verdade em tempo de paz o que dirá com a guerra eleitoral.

Enfim, apenas reiterava que princípios de certo e errado são tão relativos e dependem diretamente de fatores extremamente pessoais como educação, situação financeira, entre outros tantos valores abstratos, mas principalmente das experiências de vida de cada um, que são únicas e intransferíveis.

Desta forma, é a maior das imbecilidades achar que alguém pode ser detentor da verdade absoluta. Ainda mais quando o discurso nem se quer é nosso; apenas mera reprodução. Passando recibo. Fiador da idéia alheia.

Todavia por sorte, entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Sobre a acusação feita a mim só mais um puxão de orelhas, mesmo que de forma injusta; ou nem tanto. Os alunos interpretaram a minha intenção de forma errônea e interpretação de texto é competência da área de Português. Conclusão, eu mereci mesmo.

De qualquer forma eu sinceramente agradeço ? e quando digo sinceramente não é só retórica vazia ? a oportunidade que estes estudantes deram a ?nós?. Segundo Herkheimer é justamente através do método dialético, da troca da discussão, é que poderemos entender todos os fenômenos sociais e a própria sociedade como um todo.

Acima de tudo valorizo muito mais a amizade e o carinho que tenho por meus alunos, do que qualquer divergência de opinião, ainda mais se tratando de política.
E como já foi dito por Voltaire, posso até não concordar com o que disseram, mas lutarei pelo direito de dizerem, enquanto ainda tiver voz.

 

Michel Jaques

 

 

edição 1237

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