23/11/2012
HOSPITAL
Sinceramente, estou cansando de ouvir tantas queixas sobre o Hospital de Gaspar. E não é de hoje. Já faz tempo, como os leitores já sabem. Já cansei de fazer reportagens e matérias de pacientes reclamando de nossa Casa de Saúde. Quase todos os dias os pacientes ligam para o jornal reclamando do péssimo atendimento, da falta de médico, disso ou daquilo. Às vezes até recebo alguns elogios, inclusive já publiquei. Mas nos últimos dias está demais. Algo tem que ser feito. É na hora da doença que a pessoa precisa de uma atenção toda especial, e em Gaspar, os doentes estão levando chute no traseiro. Ou seja, salve-se quem puder. Para não me alongar, vou publicar mais uma carta de uma mãe desesperada. Tomara que seja a última reclamação sobre o hospital, mas sei que é utopia. A Theani Marinho, moradora da rua Itajaí, diz o seguinte:
Estive quarta-feira no Hospital de Gaspar com meu filho, que bateu a cabeça. Ele estava com nariz sangrando, vomitou no hospital e estava sonolento. Após horas de espera, decidi dar um basta e chamar por um socorro mais urgente. Foi quando me colocaram em uma sala dentro do hospital. Mas continuei esperando. Notei que havia pessoas nos corredores lá dentro que eu tinha visto lá fora. Fui falar com eles e vi na sala ao lado todas as pessoas que entraram antes de mim (10 ou 15 pessoas). Perguntei o que estavam esperando e elas disseram que ainda não haviam sido atendidas pelo médico.
Perguntei pelo médico e a enfermeira, quem e quantos eram. Ela me informou que havia só um médico de plantão. E esse médico atendia a internação de todo o hospital e o pronto socorro ao mesmo tempo. Pergunto eu: seria humanamente possível um só médico conseguir atender a todos os pacientes que ali estavam, com o mínimo de atenção que precisavam? Acredito que não. Tanto que lá fora não havia mais cadeiras para sentar, havia pessoas em pé. E lá dentro uma sala lotada, sem atendimento. E toda a internação de um hospital. Acredito que até a noite este médico ficou doente do excesso de trabalho. Vi pessoas indo embora sem atendimento porque estavam com fome e cansadas. Ou simplesmente olhando para o número de pessoas esperando já desistiram de tentar uma ajuda no hospital.
Tentei ligar para a Prefeitura, mas como era tarde, não havia ninguém. Liguei para a Polícia Militar e eles informaram que nada podiam fazer, mas sugeriram que eu reunisse pessoas e fosse ao Fórum fazer uma denúncia contra o hospital. O juiz certamente tomaria uma atitude sobre o que estava acontecendo. Mas como eu poderia fazer isto naquele momento? Meu filho ainda não havia sido atendido. Todos que estavam lá estavam doentes e tinham um acompanhante. Chamei um táxi e fui para Blumenau procurar atendimento no centro pediátrico Celp.
Nesta história toda, cheguei ao hospital às 13h e consegui atendimento somente às 18h, em Blumenau. Graças a Deus meu filho está bem. Mas se tivesse sido mais sério, o que teria acontecido? Meu filho teria morrido esperando pelo atendimento do único médico de plantão? E as outras pessoas com dores, crianças com febre, tosse, pessoas com feridas, taxa de glicose alta, pessoas idosas que nem conseguiam ficar em pé? Minha decepção é tão grande que fica impossível escrever o que realmente deveria dizer sobre tudo isto que aconteceu.
Havia uma moça que trabalhava na Rádio Sentinela do Vale que ligou várias vezes para a rádio informando o que estava acontecendo no hospital. Ligou para o jornal Cruzeiro do Vale também. Disse a ela, antes de sair dali, o que a Polícia Militar havia dito para fazer. E falei para todos os que estavam presente no pronto socorro que lá dentro, todos os que haviam dado entrada ainda não haviam sido atendidos. Fui lá fora e falei para todos os que estavam esperando para entrar que todas as pessoas que entraram estavam sentadas em uma sala esperando atendimento. As pessoas que saíram foi porque haviam desistido de esperar. Este é o meu relato da situação do hospital de Gaspar.
Theani Marinho
Edição 1443
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