20/08/2020
Nenhum político – com ou sem mandato por aqui - com quem falei a respeito do tema quer que eu escreva sobre ele. “Prá que se queimar?”, perguntam-me, invariável e conclusivamente. “Você não vai consertar o mundo; só vai arrumar mais encrenca e inimigos”, advertem-me. E foi exatamente aí que começou, há semanas, à minha determinação para escrever esta coluna. Esse negócio de mordomias, privilégios, salários milionários de políticos é manchete recorrente na mídia nacional. Ao mesmo tempo, tem-se a impressão que é algo tão distante de Gaspar e Ilhota. E proporcionalmente, não é! Os valores e as manchetes se escondem do debate público, exatamente, não apenas para não se arrumar encrencas. Então em nome do medo e do comodismo engana-se o eleitor, o pagador de impostos, desrespeita-se à cidadania, aumentam-se as desigualdades e alimenta-se à vulnerabilidade social. Só por isso, “vale a pena me queimar”, mais uma vez.
É doentio, sistemático e aético. É tão familiar que se acha natural. Também não sou nenhum ingênuo e incapaz de entender que o político deveria ser remunerado pela sociedade ao trabalhar pelo bem-estar dela. Contudo, isso deveria se estabelecer no equilíbrio dos assalariados, dos que vivem de bicos, ou os micros e empreendedores individuais, que sustentam os políticos com os seus pesados impostos, muitas vezes, sem retorno. Simples assim! Dou-lhes dois exemplos caseiros daqui de Gaspar. O alto salário de R$27.356,67 do prefeito Kleber Wan Dall, MDB. Ele é bem maior do que de muitas cidades maiores e complexas em nosso entorno, como Blumenau, por exemplo, onde durante a pandemia o próprio prefeito de lá, não só reduziu o salário dele, mas também dos seus secretários, como um sinal de compreensão do sacrifício do poder público diante da perda de empregos, queda de negócios e falências daqueles que lhes sustentam, em decorrência da Covid-19. Kleber fingiu que isso tudo não era com ele e os seus. Entre eles, armaram uma proteção com justificativas. Nem as promessas de não nomear substitutos às vagas de secretários que saíram para fazer campanha política, mais uma vez, foi capaz de cumpri-las.
Na Câmara de Gaspar o governista Roberto Procópio de Souza, PDT, tentou contrariar à insensibilidade dos que mandam e orientam Kleber. No dia sete de abril protocolou dois Projetos de Resolução. Um retirava apenas 20% e só por dois meses dos salários dos vereadores e os transferiam para o Fundo Municipal de Saúde para ajudar no combate à Covid. O outro, impedia os vereadores e funcionários acessarem as diárias até o final do ano. Mal-estar! Ora, se Kleber estava irredutível em não reduzir seu salário e de seus secretários, como um apoiador – de última hora e seu ex-ferrenho adversário - levaria uma ideia destas para a Câmara? É que se aprovada, obrigaria Kleber a rever os seus e ficaria mais exposto. Por outro lado, Procópio também descobriu que a má vontade estava entre os seus pares. Além da inveja por não terem esta iniciativa, eles não querem reduzir ou doar nada dos seus salários. “Não acho justo abrir mão de 20% para colocar esse dinheiro no FMS, onde há de tudo, inclusive falta de transparência”, disse-me um deles. Discordo. Se “há de tudo” e dúvidas, o vereador está falhando – e gravemente - no seu próprio papel. E não merece receber sequer o que está recebendo. “Se fosse para fazer uma ‘vaquinha’ para cobrir uma lista de necessitados, aí sim”, sugeriu. Errado mais uma vez. Isso é assistencialismo fora da lei. É compra de votos e não política pública.
Então ficou assim. Prefeito continua com o seu alto salário. Os mesmos vereadores que em seis dias aprovaram cinco Projetos de Lei para reajustar os salários do prefeito, vice e vereadores e em ano de eleições, deram 1% de aumento real aos servidores em ano eleitoral, estão há 150 dias cozinhando os dois PRs que mexem nos seus bolsos. Agora, eles dizem serem inconstitucionais. Mas os PRS vieram de um advogado, que os alardeou quando os protocolou, que tem o voto decisivo na Comissão de Legislação para libera-los para a decisão em plenário ou engaveta-lo na Comissão, onde dormem. E sobre as diárias? Circula uma lista dos que mais acessaram nesta legislatura. E mais uma vez, o presidente Ciro André Quintino, MDB, lidera-a. E os memes solapam à sua imagem colocada a serviço de Kleber. “É inveja. Olha só a quantidade de verbas que eu trouxe para Gaspar?”, rebate nervosamente.
Errado! Isso não é justificativa. Ciro é cabo eleitoral. O deputado precisa mais do vereador, não o contrário. E o deputado de Ciro para ir ou voltar de Florianópolis, passa por fisicamente, por Gaspar todas as semanas. E no programa eleitoral de Ciro no rádio, ele aparece por telefone, não fisicamente. Então Ciro não precisa ir à Capital para falar com ele e seus assessores. Ciro desconhece o mundo ambiente digital? Não! Até sessões da Câmara que comanda, são realizadas desse modo. Os que lhes pagam nos impostos vendem, compram, ganham dinheiro e se reúnem pela internet. Tudo sem diárias, passagens, motoristas, restaurantes.... E para encerrar. Diária não é comissão ou taxa de sucesso ao político na obrigação do deputado e do vereador de verbas em favor da sua comunidade. E as altas diárias de Ciro – um direito dele e do vereador – não é um ponto fora da curva, mas uma rotina. Em tempos de eleições, explicar isso é se complicar com eleitores cada vez mais exigentes. E Ciro sabia dos riscos que corria há anos. Agora... Acorda, Gaspar!
Bolsonaro será candidato a prefeito de Gaspar em 15 de novembro? Na quarta-feira um outdoor da esquerda apareceu espinafrando Bolsonaro. Sérgio Almeida, PSL, fez um vídeo “desmoralizando” os autores. Na mesma quarta, a turma do Aliança pelo Brasil, liderada pelo Demetrius Wolf, DEM, com vídeo comemorativo nas redes e aplicativos de mensagens emplacou outdoor endeusando Bolsonaro.
O ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, sem partido, está atuando como poucos nos bastidores e a favor da reeleição de Kleber Edson Wan Dall, MDB.
Os conservadores que lideram ou estão de passagem PSL, Patriotas, DEM e PL em Gaspar ainda não perceberam que fazem o jogo da reeleição de Kleber e abrem espaços para o crescimento da candidatura do ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, quando brigam entre eles próprios e por coisas comuns no campo ideológico da direita. Impressionante.
Sempre escrevi: não há seis candidaturas. Extraoficialmente, o MDB anunciou em reunião por internet que o vice será Marcelo de Souza Brick, PSD. Então serão cinco. Com boa vontade serão quatro, quando o ideal seriam três para dar o mínimo respiro à tal terceira via.
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