Por Herculano Domício - Jornal Cruzeiro do Vale

Por Herculano Domício

10/07/2017

CÂMARA FRACA, CIRO ESPERTO I
Alguns vereadores da base de apoio ao governo do prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, PMDB, e Luiz Carlos Spengler Filho, PP, estão um tanto, digamos, desconfortáveis. Outros grupos dentro do mesmo PMDB e PP, igualmente. Quando instados, abrem o jogo, mas pedem para este colunista não tocar neste assunto, que já é público nas rodas e nas redes sociais. Impressionante. Não querem colocar fogo numa fogueira que já arde. Ela tende repetir os mesmos erros táticos anteriores de ambos os partidos. O último ensaio notório desse tipo e que não deu certo, foi com o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt na aliança do sapo com a cobra. Lá, depois de eleito tramou-se no PMDB à divisão de poder, à sucessão e o enfraquecimento do eleito tanto que ele saiu do PMDB. Deu no que deu. Aliás, é do ex-primeiro-ministro inglês, Winston Churchill, reconhecido com estadista, esta inflexão: “A diferença entre um demagogo e um estadista é que um decide pensando nas próximas eleições e o outro decide pensando nas próximas gerações”.

CÂMARA FRACA, CIRO ESPERTO II
A dita oposição de hoje, apenas acompanha. Em duas oportunidades com movimentos iguais do PMDB e uma delas, com o mesmo PP que está com Kleber, o PT abocanhou o poder em 2000 e 2004. A verdade é que presidente da Câmara, Ciro André Quintino, PMDB, faz três movimentos distintos e arriscados: primeiro enfraquece o Legislativo como poder autônomo, independente e fiscalizador; segundo, coloca-se como o fiador para Kleber, e sinaliza para o prefeito de plantão, que dobre os joelhos, numa interferência indevida; e em terceiro lugar, tenta, ele Ciro, sair-se como opção populista, e salvador do próprio PMDB que ainda não se achou como governo em Gaspar quase sete meses depois da posse. Até um programa na rádio Sentinela do Vale, Ciro criou: não exatamente para a Câmara, ou para os vereadores, mas para a sua auto-promoção.

 

CÂMARA FRACA, CIRO ESPERTO III
Quem foi lá e assistiu a sessão da Câmara do dia 20 de junho, pode perceber o quanto Ciro ficou incomodado com a observação clara e objetiva do novato (mas não bobo e cordeiro) vereador Cícero Giovane Amaro, PSD, de que Ciro estava agindo como um autoritário, para amenizar a palavra ditador, dentro da Câmara. Cícero que no dia anterior à sessão enterrou a sua irmã Círia, professora ACT no município e de 37 anos, é membro da mesa diretora da Câmara (segundo secretário), a responsável entre outras, pela gestão administrativa da Casa e as decisões no encaminhamento das prioridades legislativas. No caso do projeto de lei 19/2017 que devolveu R$ 1 milhão do orçamento da Câmara garantido pelo duodécimo, para ser incorporado de volta ao do Executivo, Ciro no discurso que fez da tribuna, no mínimo, mentiu ao agradecer aos pares da mesa diretora pela decisão favorável ao projeto. Não foi isso que tinha acontecido. Cobrado, Ciro ficou irritado e voltou à tribuna “falando grosso” para se explicar, intimidar e se complicar. Falou de autonomia e independência da Casa; falou que não se furtaria em ajudar o município se ele precisasse do dinheiro dos vereadores; fez demagogia com a saúde Pública de Gaspar e que está na UTI por renegar ações técnica e que os políticos a usam para obter vantagens.

 

CÂMARA FRACA, CIRO ESPERTO IV
Eu poderia ficar aqui escrevendo laudas e laudas sobre a incoerência de Ciro e quanto Cícero, Rui Carlos Deschamps, PT e Roberto Procópio de Souza, PDT, têm razão neste assunto. Contudo, prefiro recordar os passos em falsos que o governo de Kleber, Luiz Carlos, Carlos Roberto Pereira (o que verdadeiramente governa Gaspar) e Ciro deram neste assunto específico, sem misturar com outros parecidos, como foi o caso de tirar a verba das crianças vulneráveis no Fundo da Infância e Adolescência. Primeiro devo explicar que o Orçamento da prefeitura e da Câmara são separados na execução. Não se misturam, nunca. No Orçamento do Município está lá uma parte intocável, repito, intocável para Câmara. É lei. E em todos os municípios. Só a Câmara pode mexer no Orçamento dela. Mas, no final do ano, se a Câmara não gastar tudo, o que sobra, deve devolver ao Município (é lei também), para se incorporar como receita extra à prefeitura. Só, a Câmara, por única decisão (proposta da mesa diretora e com aprovação da maioria dos vereadores no voto formal), a qualquer momento, pode devolver à prefeitura, antes do final do ano, a quantia que julgar possível e não lhe falte. Entendido? Esclarecido? É preciso desenhar? Não é preciso ser contador ou advogado para entender isso.

 

CÂMARA FRACA, CIRO ESPERTO V
Vamos agora, à sucessão de fatos, erros, espertezas e imposições que demonstram como Ciro usa e enfraquece Câmara para si e os seus planos de poder. Quem enviou um Projeto de Lei requerendo este R$1 milhão da Câmara? O prefeito Kleber, cujo secretário da Fazenda e acumulando com Administração e Gestão, é o advogado e presidente do PMDB, o que de fato orienta a procuradoria geral do município, o dr. Pereira. Tudo pré-combinado com Ciro,que deveria conhecer a legislação, ter antes consultado a equipe técnica da Câmara e até os seus pares. Mas, bancou como se tudo fosse a casa da Mãe Joana. Quando o tal projeto chegou na Câmara, bateu na trave da assessoria jurídica da Câmara. Foi aquela correria, bafafá e o vice-prefeito, ex-vereador, Luiz Carlos Spengler Filho, PP, foi lá desesperado para retirar o tal PL antes dele entrar na Ordem do Dia, antes virasse, como virou, troça, que ele fosse rejeitado e trucidado em plenário. E por que? A prefeitura não pode por lei, fazer o que queria por sua iniciativa.  Qual a saída encontrada por Ciro para aquilo que acertou com o PMDB e o prefeito nos bastidores? Um ofício, desta vez, com “humildade”, pedindo à Câmara, que ela tomasse essa iniciativa, oferecesse um projeto, abrindo mão de R$1 milhão do seu Orçamento e destinado à construção da sua sede e devolvesse à prefeitura para pagar as contas da ponte do Vale. Entenderam?

 

CÂMARA FRACA, CIRO ESPERTO VI
Acho que não. O objetivo não era exatamente o de colocar dinheiro na ponte do Vale, como se demonstrou mais tarde. Mas, sim, o de impedir a construção da nova sede da Câmara, e deixá-la refém de aluguéis permanentes, num ambiente inadequado para o exercício das suas funções e para assim, garantir rendas ao senhorio e que é mentor próprio partido e governo de Kleber. Ou alguém tem dúvidas disso? Ciro fez o que pediu Kleber. Fez o tal projeto. Seria aprovado pela base do governo Kleber. Só por ela. E como viu que encontrava resistência dentro da mesa diretora (Cícero e Rui queriam a constituição de um fundo pró-construção do prédio da Câmara), Ciro agiu rápido com Sílvio Cleffi, PSC, o médico e vice-presidente, integrante da mesa diretoria: apareceu então a emenda modificativa que dava dos R$1 milhão, R$700 mil para o moribundo Hospital e só então R$300 mil para a ponte. Primeiro: quem seria contra dar a maior parte do dinheiro para o Hospital? Ciro, demagogo, jogou bem com Cleffi e todos assinaram a tal emenda para ficar bem na foto. Segundo, se a ponte só precisou de R$300 mil, prova-se que era apenas um jogo para inviabilizar a construção da sede da Câmara ao se pedir R$1 milhão inicialmente. Ou seja, os políticos continuam tratando todos como analfabetos, ignorantes, desinformados e trouxas para servir os seus interesses particulares, corporativos e de poder.

 

CÂMARA FRACA, CIRO ESPERTO VII
Outra dúvida que ficou no ar e que demonstrou o jogo de força de Ciro a favor dos poderosos e do próprio governo de Kleber, o qual ficou refém e em dívida com as espertezas de Ciro, mais uma vez. A decisão de fazer o projeto 19/2017 não foi da mesa diretora como deveria ser. Dois foram contra. Ciro bancou com Cleffi. E invocou o parecer técnico do assessor jurídico da Câmara, a quem exaltou e pediu respeito de Cícero. Fez certo, mais uma vez. Afinal, o cara é concursado e foi contratado com essa finalidade. Entretanto, vejam só, a incoerência deste jogo duplo do presidente da Câmara de Gaspar. O mesmo Ciro, que pediu ao vereador Cícero que respeitasse a opinião técnica do assessor jurídico da Câmara, no interesse de Kleber, do PMDB e do poder de plantão, jogou no lixo, literalmente, o parecer do mesmo procurador, que recomendou a não aprovação do Projeto de Lei 01/2017 de origem do Executivo, por vício e inconstitucionalidade, e que deu gratificação ao superintendente da Defesa Civil, o bombeiro militar, Rafael Araújo Freitas. Afinal, quem pede o respeito dos outros, deve antes dar o exemplo e Ciro deu, o do desrespeito ao parecer do seu próprio procurador. Entenderam como funciona? Você pensa que isso s[ó acontece em Brasília ou Florianópolis? É que lá a imprensa divulga mais. Aqui, esconde-se.  E quando aparece coluna, a líder de acessos, todos ficam incomodados. Mas, com o que mesmo? Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Francisco Sola Anhaia, foi filiado e PT até debaixo d’água. Hoje é vereador pelo PMDB. Está discursando indignado com o que o PT fez com o Brasil. Tardio arrependimento.

Mas, perguntar não ofende ao Chico Anhaia: e com o assalto comparsa do PMDB nestes 13 anos de sociedade como se demonstra nas várias denúncias de seus figurões, nada a declarar?

Nada como um dia após o outro. O governo de Pedro Celso Zuchi, PT, deixava na geladeira, por meses, os requerimentos, os mais simples até, dos vereadores. Chegou-se até levar o caso ao Ministério Público e se cogitou de ir à Justiça por conta deste desprezo.

E agora, quem está reclamando do mesmo descaso do governo de Kleber Edson Wan Dall, PMDB, e Luiz Carlos Spengler Filho, PP? Dionísio Luiz Bertoldi, PT, que não teve o requerimento de explicações sobre o postinho de Saúde do seu Gasparinho respondido.

Retrato I. O ambiente de atendimento ambulatorial de um hospital deveria ser de acolhimento, aconchego a quem chega lá frágil, doente e com dores, sabendo que deverá esperar muito para ser atendido.

Retrato II. Mas, não é isso o que acontece no Hospital de Gaspar, segundo constatou e reclamou na Câmara, Cícero Giovane Amaro, PSD. Paredes sujas, cartazes mal colocados e até o aparelho de TV quebrado. Se a recepção é assim, imagina-se o interior do Hospital.

Ato falho I. O vereador Francisco Solano Anhaia, PMDB, falou sobre um tal Hospital Nossa Senhora dos Prazeres como se fosse daqui. Corrigiu. Quis dizer Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O dos Prazeres, foi o da sua infância na gaúcha Garibaldi. Hum!

Ato falho II. Como líder do PMDB, Anhaia, estava incomodado e sem sorte. Fez um convite aos vereadores em nome do presidente do partido, “Roberto Procópio”, para o encontro de lideranças estaduais que aconteceria naquela semana em Gaspar.

Ato falho III. Roberto Procópio de Souza, é vereador do PDT e oposição ao seu PMDB. Na verdade, Anhaia se referia a Carlos Roberto Pereira, o presidente do PMDB de Gaspar.

O vereador Evandro Carlos Andrietti, PMDB, é do tipo “gente boa”, o “amigão”. E por isso, descuidado. Sua dita inocência beira ao perigo.

Ele se diz contra a Lei das Licitações, pois atrasa a vida da cidade com a contratação de empresas e empreiteiras pelo menor preço. Segundo ele, elas não dão conta de executarem as obras que ganham nessas disputas.

Discordo frontalmente de Andrietti. Esta situação reflete a falha do Executivo que contrata, não fiscaliza, não pune e até arma entre os seus. Burocratas, em muitos casos, olham como vantagem essas paralisações para nadar em aditivos e ajeitamentos.

Outra. A Lei da Licitação só existe, porque os políticos e os agentes públicos se mostraram e se mostram ainda lenientes, coniventes e até parceiros das sacanagens e compadrio, com os pesados impostos dos contribuintes.

Com a Lei da Licitação em pleno vigor, bilhões dos pesados impostos dos brasileiros foram roubados pelos políticos e empreiteiros, como bem demonstra a Lava Jato, para citar apenas um caso.

Sem ela, Andrietti, estaríamos todos sem calças. Os políticos, agentes públicos e empresários do mal, os tais campeões, os amigos dos amigos, os patrocinadores de campanha, estariam todos mais ricos, livres para roubar, do que estão hoje em dia. Acorda, Gaspar!

 

Edição 1809

Comentários

Herculano
11/07/2017 07:22
HOJE É DIA DE COLUNA OLHANDO A MARÉ INÉDITA E EXCLUSIVA PARA OS LEITORES E LEITORAS DO PORTAL CRUZEIRO DO VALE
Digite 13, delete
10/07/2017 20:41
Oi, Herculano

A DESCOBERTA DE DILMA: SEM DINHEIRO NÃO É CORRUPÇÃO, por Branca Nunes, na Veja

Ela é do mesmo partido do qual Chico Anhaia já foi filiado. Ambos são gaúchos.
Então porque o espanto?
Sujiro Fuji
10/07/2017 20:31

Juninho do CAR, Bim da Ambulância, Tico da DITRAN, Catatau da Padaria...
Uma cidade que escolhe uma equipe dessa para representa-la e legislar ... o que esperar?
O que eles fazem é a cara do povo que os elegeu.
Paty Farias
10/07/2017 20:24
Oi, Herculano;

O vereador Anhaia precisa saber com urgência que existe alfabetização para adulto.

SOCORRO, é pacaba!
Violeiro de Codó
10/07/2017 20:20
Sr. Herculano;

Ciro tem um programa "na rádia"?
Ele vai fazer propaganda da venda de tacho de cobre ou vai praticar quiromancia?
Herculano
10/07/2017 16:56
O ERRO DE JANOT, por Míriam Leitão (com Álvaro Gribel), no jornal O Globo

Quanto mais o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tenta explicar os termos do acordo da delação de Joesley e Wesley, mais fica inexplicável. A frase de Janot "eles aceitavam negociar tudo menos a imunidade" mostra uma rendição. Ele poderia ter endurecido na mesa de negociação. O céu para um criminoso é a imunidade penal. Os Batista pediram o céu e lhes foi dado.

Joesley e Wesley são bons negociadores e chegaram na PGR dispostos a vencer. Venceram.

- Se eu não aceitasse, os empresários continuariam na mesma atividade ilícita que sempre tiveram - disse o procurador na entrevista a Roberto D'Ávila.

Ora, cabia ao procurador-geral lembrar-lhes que se não colaborassem eles teriam um destino bem mais duro, mais dia, menos dia. Estavam em curso quatro investigações contra a JBS. Joesley tinha medo delas. Seu pavor era acordar numa manhã com a polícia em sua casa. Por isso preparou sua isca, a gravação do presidente da República. Com ela foi, junto com o irmão, ao procurador-geral. Os dois pediram o máximo, exatamente porque é assim que se faz numa negociação. Janot ficou tão atraído pelo que eles tinham a entregar que se rendeu. Se tivesse endurecido, eles recuariam. Acabariam colaborando em termos mais aceitáveis para o país. "Eles aceitavam negociar tudo, menos a imunidade." Tudo o quê? Depois da imunidade, nada recairá sobre eles. A ideia de que "eles continuariam na atividade ilícita que sempre tiveram" demonstra falta de confiança no próprio Ministério Público, como se a única prova possível fosse aquela oferecida na delação.

Janot concluirá seu tempo de procurador-geral em dois meses. Exerceu seu mandato com coragem. Enfrentou os mais poderosos políticos do país. Mas se rendeu aos irmãos Batista. Ele disse que teve que fazer "uma escolha de Sofia". Errado. Sofia não tinha saída boa na escolha entre a morte de um dos dois filhos. Mas Janot tinha uma terceira opção: endurecer na negociação, conseguir uma colaboração justa para a sociedade brasileira, em que os criminosos tivessem vantagens, redução de penas, mas não a imunidade, e ele teria os elementos para apurar os crimes de altas autoridades. Faltou a ele frieza e firmeza na negociação. Faltou lembrar que ninguém pode se colocar acima da lei ou fora do seu alcance.

O que os empresários poderiam fazer caso Janot dissesse que não aceitaria negociar a esse preço? Iriam para a casa, esperar a manhã em que a Polícia Federal bateria em sua porta com uma ordem de prisão, em alguma das quatro investigações em curso? Não. Eles aceitariam entregar o material por menos, porque tinham muito a perder. O destino de Marcelo Odebrecht era o que mais temiam.

Joesley montou uma armadilha para o presidente da República. Temer caiu nela, mas não como vítima. Ele teve aquela conversa porque quis. Joesley foi lá gravar porque sabia que poderia tirar de Temer flagrantes comprometedores. Essa certeza ele trouxe de contatos anteriores. Não há explicação para aquela reunião do Jaburu. As versões dadas até agora por Temer e por seu advogado Antônio Claudio Mariz são inverossímeis. Mariz repetiu a tese de que Temer recebeu Joesley porque ele é um grande exportador de carne. O teor da reunião os desmente. Nada se falou sobre isso. O centro daquela conversa é a Lava-Jato e o que Joesley estava fazendo para controlar juízes, procuradores e presos. A estratégia de desacreditar as provas é velha, conhecida. A reunião é reveladora, mas não é ela que traz a prova definitiva do crime de que Temer foi acusado.

O centro da acusação de Janot é que Temer era o destinatário final dos R$ 500 mil da mala. E isso, como Janot admitiu, terá que ser provado. Os indícios são fortes: Temer nomeia Rocha Loures seu representante para "tudo". E Loures é flagrado recebendo a mala. A aposta da defesa é que isso não será suficiente juridicamente. Mas agora começa um processo político.

Janot, ao aceitar dar aos irmãos tudo o que pediram, atingiu a alma da Lava-Jato. O que construiu o forte apoio da opinião pública à operação é o combate à impunidade, ou, como prefere o procurador: "Pau que dá em Chico dá em Francisco". Mas ele poupou os Batista. Esse foi o erro de Janot.
Herculano
10/07/2017 12:35
A NAÇÃO SOB O GOVERNO DAS MINORIAS, por Percival Puggina

A crise que jogou o Brasil na mais prolongada e perigosa depressão econômica e social de sua história não pode ser entendida sem que se conheça o peso do patrimonialismo, do corporativismo e do clientelismo na vida nacional. É pelo peso do patrimonialismo que o exercício do poder político se confunde com usufruto (quando não com a posse mesma) dos recursos nacionais. É pelo peso do corporativismo, cada vez mais entranhado e influente nas estruturas do Estado, que os bens e orçamentos públicos vêm sendo canibalizados desde dentro pelo estamento burocrático. É pelo peso do clientelismo que elites corruptas são legitimadas numa paródia de representação política, comprando votos da plebe com recursos tomados à nação.

Na perspectiva do cidadão comum, o que resulta mais visível, lá no alto das manchetes e no pregão dos noticiários de rádio e TV, é o que vem sendo chamado de mecanismo, ou seja, o modo como, nos contratos de obras e serviços, o recurso público é desviado para alimentar fortunas pessoais, partidos políticos e campanhas eleitorais que, por sua vez, garantem, a todos, a continuidade dos respectivos negócios. Com efeito, esse é o topo da cadeia. É o que se poderia chamar de operação contábil que viabiliza e formaliza o patrimonialismo.

O corporativismo, de longa data, se configura como forma de poder exercido com muito sucesso e responde, ano após ano, pela crescente apropriação dos orçamentos públicos e dos recursos de empresas estatais pelas corporações funcionais. É uma versão intestina do velho patrimonialismo. Raymundo Faoro, a laudas tantas de "Os Donos do Poder", escreve sobre a centralização política ocorrida no Segundo Reinado e a singela constatação de que existem duas possibilidades: ou a nação será governada por um poder majoritário do povo ou por um poder minoritário. Era como exercício de poder minoritário que Faoro via o reinado de D. Pedro II. E o entendia à luz da teoria de Maurice Hariou, que fala de um poder formado "ao largo das idades aristocráticas, pelo exercício mesmo do direito de superioridade das minorias diretoras".

Maurice Hariou (1856-1929) reparte com Kelsen o apelido de Montesquieu do século XX. Na sua perspectiva, são as instituições que fundamentam o Direito, e não o contrário. Correspondem ao conceito, as organizações sociais subsistentes e autônomas nas quais se preservariam ideias, poder e consentimento. A isso, dava ele o nome de corporativismo. Após 127 anos de república, é comum vê-lo em pleno exercício quando representantes de outros poderes, de carreiras de Estado, e de seus servidores ocupam ruidosamente galerias dos plenários ou palmilham corredores onde operam os gabinetes parlamentares. Raramente saem frustrados em suas reivindicações. E assim, bocado a bocado, ampliam, além de toda possibilidade, a respectiva participação no bolo dos recursos públicos. Em muitos casos, a soma das fatias já ultrapassa os 360 graus.

Os ônus do corporativismo representam um prejuízo vitalício, que se perpetua através das gerações. Como tal, muito certamente, excede o conjunto das falcatruas operadas pelo mecanismo. O Estado brasileiro poderia ser menor, onerar menos a sociedade e enfrentar adequadamente o drama das camadas sociais miseráveis, carentes de consciência política. Por que iriam os operadores do mecanismo, os manipuladores da miséria e o estamento burocrático interessar-se em acabar com a ascendência que exercem sobre essas vulneráveis bases eleitorais? Os três juntos ?" patrimonialismo, corporativismo e clientelismo ?" põem a nação em xeque. Não sairemos dele se não identificarmos, acima e além dos partidos e seus personagens, estes outros adversários, intangíveis mas reais, que precisam ser vencidos.
Herculano
10/07/2017 12:33
E AS CONTAS DE LULA E DILMA, JANOT?

Conteúdo de O Antagonista. Sonia Racy, do Estadão, publicou as seguintes notas neste domingo:

"A PGR de Rodrigo Janot deve estar para lá de atolada de trabalho. Desde a delação dos irmãos Batista, quando Joesley revelou que havia movimentado US$ 150 milhões em nome de Dilma e Lula para campanhas do PT, o MP suíço não recebeu qualquer pedido de informação da Procuradoria sobre o caso JBS."

"Essas contas foram fechadas após o banco Julius Baer informar aos administradores do dinheiro que não o manteria na instituição, segundo revelou Jamil Chade, do Estado, há mais de um mês. Desde então, o assunto, de acordo com os procuradores da Suíça, está empacado."

O próprio Estadão publicou entrevista com Janot no sábado, mas nenhuma pergunta foi feita sobre o assunto.
Herculano
10/07/2017 11:30
TUCANOS SE REÚNEM HOJE EM SP PARA DEFINIR SE DESEMBARCAM DO GOVERNO TEMER

Conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo. Texto de Pedro Venceslau. A cúpula do PSDB vai se reunir nesta segunda-feira, 10, a partir das 19h30, no Palácio dos Bandeirantes, sede do executivo paulista, para definir se desembarca do governo do presidente Michel Temer (PMDB). O encontro, classificado como reunião de emergência e previsto para começar horas depois da leitura do parecer de Sérgio Zveiter, relator da denúncia contra o presidente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deverá reunir o presidente de honra da sigla, Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Gerado Alckmin, o governador de Goiás, Marconi Perillo, o prefeito da Capital, João Doria, além de outras autoridades da sigla e parlamentares.

Neste domingo, chamou atenção a declaração de Alckmin, anfitrião da reunião desta segunda. O governador adiantou não ver motivo para o PSDB participar do governo depois da votação da reforma trabalhista, prevista para esta terça-feira, no Senado.

A iniciativa de convocar o encontro foi tomada em um momento de acirramento do racha entre os tucanos. O senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do partido, disse na semana passada que o País "beira a ingovernabilidade" e o senador Cássio Cunha Lima (PB) afirmou que a gestão Temer "pode estar diante do início do fim". Além disso, existe o temor que a impopularidade de Temer possa contaminar o PSDB nas eleições de 2018.

Na avaliação de Alckmin, os tucanos devem ajudar o Brasil, "mas sem precisar participar do governo". Questionado sobre se este é o momento certo para o PSDB sair da base aliada que dá sustentação ao governo Temer, Alckmin respondeu que por ele encerraria a aliança, mas ponderou que o partido tem responsabilidade com o País, ajudando na aprovação das reformas.
Herculano
10/07/2017 11:26
O NECESSÁRIO PRUMO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

Todos os motivos que levaram o PSDB a apoiar em 2016 o governo Temer permanecem intactos, em especial a necessidade imperiosa de aprovar as reformas previdenciária e trabalhista

A atual situação econômica e política exige responsabilidade, especialmente de quem pode exercer influência direta sobre os rumos do País. São, portanto, descabidas as recentes declarações do presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), flertando com um possível desembarque de seu partido do governo federal, como se os tucanos não estivessem umbilicalmente vinculados ao atual ocupante do Palácio do Planalto.

Segundo Tasso, o Brasil "caminha para a ingovernabilidade" e "não dá para viver cada semana uma nova crise", estando "na hora de buscar alguma estabilidade" para o Brasil. Ora, não cabe a Tasso reclamar de uma suposta falta de governabilidade, já que, se o seu partido se aprumar e deixar de questionar a cada dia a adesão ao governo de Michel Temer, parte substancial da governabilidade requerida se restabelecerá imediatamente. No momento, os únicos que não podem se queixar da instabilidade do governo são justamente os tucanos, pois são eles também responsáveis por tal situação.

O flerte de algumas alas do PSDB com o desembarque do governo, por mais que se queira apresentá-lo com cores de indignação com a corrupção, manifesta a fragilidade do compromisso desses grupos com o interesse nacional. Todos os motivos que levaram o PSDB a apoiar em 2016 o governo de Michel Temer permanecem intactos, em especial a necessidade imperiosa de aprovar as reformas previdenciária e trabalhista. O que tem mudado é a disposição de parte do tucanato.

Se o acirramento do clima político causado pela denúncia de Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer faz com que o PSDB pense em abandonar o governo, a legenda comete sério equívoco. Em primeiro lugar, haveria uma gritante disparidade de tratamento dado pelos tucanos a Michel Temer e ao presidente licenciado de seu partido, senador Aécio Neves (MG), também alvo das denúncias do procurador-geral da República. Tal atitude indicaria que, se os membros do partido merecem uma completa indulgência, os estrangeiros dele não podem esperar senão uma apressada condenação. Ou seja, demonstrariam ao mundo que não têm palavra, não são confiáveis.

"Nem Lula nem Dilma tiveram esse tratamento de nossa parte quando éramos oposição", lembrou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), ministro das Relações Exteriores, em vídeo em defesa do presidente Michel Temer. Ao estourar a crise do mensalão em 2005, o PSDB foi bem cordato com o então presidente Lula. Agora, quando se trata de um governo do qual faz parte desde o primeiro dia, a legenda deseja encarnar uma acintosa belicosidade?

É de reconhecer que o novo padrão de comportamento do partido denotaria, mais do que um compromisso com a moralidade pública, um apego a certos ventos da opinião pública. Não poucos poderiam apontar que, mais do que por supostas provas irrefutáveis contra o presidente Michel Temer - que até o momento não foram apresentadas pelo procurador-geral da República -, o PSDB estaria a abandonar o barco do governo em razão dos baixos índices de aprovação do Palácio do Planalto. O mesmo raciocínio serviria também para explicar a inexplicável compreensão com que a legenda tratou Lula na crise do mensalão. Na época, o petista gozava de massivo apoio popular. Ou seja, eventual desembarque do PSDB reforçaria a maldosa tese de que a legenda evita atuações corajosas, manuseando seus princípios em troca de aplausos momentâneos.

Diante das turbulências atuais, não é fácil posicionar-se com acerto a respeito dos inúmeros desafios nacionais. Justamente por isso, o que se espera do PSDB é um firme compromisso com as reais prioridades do País. Mais do que acenos populistas ou de oportunidade, que desfiguram sua identidade, a maior contribuição que o PSDB pode dar ao País é manter-se no governo, na atitude firme e equilibrada de não transigir com qualquer tipo de corrupção e, ao mesmo tempo, não abandonar o caminho capaz de tirar o Brasil da crise. Afinal, é o que se espera de todo grande partido - ter olhos para o País e para o futuro.
Herculano
10/07/2017 11:21
EXISTEM DOIS TIPOS DE POPULISTAS; UM DELES PODERÁ SER O PRóXIMO PRESIDENTE, por Luiz Felipe Pondé, filósofo, no jornal Folha de S. Paulo

Como serão as eleições de 2018? Temo que 18 seja uma festa do populismo. Os sinais estão no ar: horror à política profissional, apelos ao Poder Judiciário como Batman do Brasil, sonhos de pureza, ressentimento por toda parte. A única forma de garantia contra o vírus do populismo é não esperar muita coisa da política. Na política, menos é mais.

Como diz o filósofo inglês Michael Oakeshott (1901-1990), quase desconhecido aqui, um líder de governo deve ser alguém muito modesto e quase sem "visão de mundo". Quanto menos acreditar em si mesmo, melhor. Só assim a prudência (maior de todas as virtudes políticas) brotará na alma de alguém fadado à vaidade -como todo mundo que detém poder.

Existem dois tipos básicos de populistas. Um dos dois poderá ser nosso próximo presidente. Podem existir outros tipos, mas esses tendem a deixar a maior parte do eleitorado com tesão. Entretanto, é importante lembrar que todo populista chega ao poder navegando no ressentimento, que é o elemento essencial de todo eleitor que tem tesão por populistas.

O primeiro é o mais conhecido: o populista de extrema direita. O ressentimento nele é evidente, porque ele é o mais comum dos dois tipos de populistas. Sempre movido pelo ódio por um grupo social, ainda que disfarçado.
Normalmente, esses grupos são identificados com alguma forma de "degeneração". Do ponto de vista da imagem, esse tipo tende a ter o cabelo cortado de forma careta.

No contexto brasileiro, a imagem mais clássica é de alguém que admira a "retidão" militar. Tem uma certa nostalgia da ditadura e é visto como malvado, por exemplo, por artistas, jornalistas e intelectuais. Aqueles entre os artistas, jornalistas e intelectuais que tiverem mais repertório o dirão anti-humanista.

Um novo estereótipo da sua imagem, no contexto mais recente, é o de um evangélico contra gays. Um fanático religioso com ares de resposta ao "horror esquerdista".

Afora jovens raivosos e com dificuldade de sociabilidade, esse tipo tende a atrair o mercado clássico dos eleitores populistas de extrema direita: gente com mais idade, mais fracassos acumulados na vida profissional e afetiva, e com mais experiência no impasse que é a vida, em grande parte dos casos.

No caso de homens, tende a atrair aqueles que pegam menos mulheres.

O outro tipo de populista é menos óbvio, mas nem por isso menos perigoso. Um representante "chique" dessa linha é o novo líder do trabalhismo inglês, Jeremy Corbyn, que ganhou o "voto jovem" nas últimas eleições britânicas.

Prometendo dar tudo de graça, esse novo ícone do populismo de esquerda mundial quase ganhou as eleições. Sorte dele, porque ia fracassar como todo mundo que promete tudo para o povo.

Os jovens são um capítulo à parte no que se refere a esse tipo de populista, o populista do bem, o de esquerda. Jovens têm vocação natural ao populismo, por acreditarem que o mundo é simples como uma teoria qualquer. Todo movimento político estudantil tende ao populismo; basta assistir a uma de suas assembleias.

No contexto brasileiro, esse populista deverá vir dos grupos considerados "vulneráveis" para ser ideal, como nosso ex-operário sindicalista. Virá carregado pelos setores "progressistas" da sociedade e abraçado por artistas (que, normalmente, entendem de política tanto quanto um bebê entende de física quântica), intelectuais e grupos dos "sem alguma coisa". Ele vai prometer tudo o que o PT prometeu e não cumpriu. A começar pela vingança contra a elite.

A esquerda está à caça de seu populista. Alguns candidatos a esse posto já aparecem por aí. Não está fácil. A extrema direita já tem o seu. Ninguém sabe se ele resiste ao mundo fora das redes sociais, mas já está, de alguma forma, mais à frente em sua campanha populista.

A esquerda está desorientada; depois de comer na mão de nosso ex-operário sindicalista por anos, encontra alguma dificuldade em achar seu novo "pai do povo".

Dois mil e dezoito será populista, como o 18 de Brumário foi. Você não sabe o que foi o 18 de Brumário? Olhe no Google
Herculano
10/07/2017 11:19
DODGE ASSUMIRÁ SEM PODER REVER ATOS DE JANOT, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

A reunião do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de 13 de junho, presidido pelo procurador-geral Rodrigo Janot, chama a atenção dos meios jurídicos pela aprovação de um "Enunciado 14/2017", que limita a prerrogativa de futuros ocupantes do cargo, como Raquel Dodge, que assumirá em setembro, de rever ato de procuradores-gerais ou delegatários, como gestores e ordenadores de despesa.

SEGURANÇA GARANTIDA
Entre as decisões que não podem ser revistas é a de disponibilizar uma equipe de seguranças para Rodrigo Janot, após sua saída da PGR.

PRESIDENTE DO MP
A equipe de segurança ficará à disposição de Janot por 36 meses, de acordo com a Resolução 169/2017, do CNMP.

'SIMETRIA CONSTITUCIONAL'
Ao definir segurança, o CNMP equiparou o futuro ex-PGR a presidente do Supremo Tribunal Federal. Chama isso de "simetria constitucional".

NA CONTA DO CONTRIBUINTE
A decisão de garantir segurança para Janot por três anos foi tomada com base na "Política de Segurança Institucional do Ministério Público".

GOVERNO ESTÁ OTIMISTA SOBRE REJEIÇÃO DA DENÚNCIA
Um dos cinco principais articuladores do impeachment de Dilma na Câmara, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) não tem dúvida de que não será admitida a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. Ele garante que o governo tem votos suficientes na Comissão de Constituição e Justiça e que o plenário vai rejeitar a denúncia "até sexta (14) ou segunda (17), no mais tardar".

VOZ DA EXPERIÊNCIA
Experiente, já em seu sexto mandato de deputado federal, Darcísio Perondi diz que não há como o governo Temer perder essa votação.

CAMINHÃO DE VOTOS
Não há a menor possibilidade de a oposição reunir 342 votos para aprovar a denúncia da PGR, segundo avalia Perondi.

PALAVRA DE FÃ
Perondi também não acredita em traição de Rodrigo Maia, de quem é fã confesso. "Ele é um político por excelência, jamais faria isso".

RITO DO PROCESSO
A análise da denúncia contra Michel Temer começa nesta 2ª-feira (10) às 14h30, com a leitura do relatório na Comissão de Constituição e Justiça. A votação pode ser realizada já na quinta-feira (13) à noite.

INDENIZAÇõES S/A
Estimulados por sentenças às vezes abusivas da Justiça do Trabalho, 16 milhões dos 100 milhões de brasileiros empregados moviam ações trabalhistas em 2008. Somente em 2016, o Brasil concentrou 98% das reclamações trabalhistas de todo o planeta. Mais de 3,1 milhões.

DOIDOS POR UMA FOLGA
A Comissão de Orçamento deve mesmo votar a LDO a toque de caixa para garantir o recesso. Presidente da comissão, senador Dário Berger (PMDB-SC) disse que 2.598 mudanças serão votadas até 17 de julho.

PROBLEMAS À FRENTE
Além do presidente, os ministros de Relações Exteriores, Fazenda, Agricultura, Indústria e Planejamento, membros da Camex, estão sujeitos a ações populares responsabilizando-os pelos prejuízos ao País com a importação de álcool podre dos EUA sem pagar impostos.

O RETORNO
Após o agrupamento da força-tarefa da Lava Jato com a da Carne Fraca, ex-integrantes da operação, delegados Márcio Anselmo e Luciano Flores, da PF no Espírito Santo, vão apoiar o novo grupo.

MARATONA
Raquel Dodge vai ser sabatinada para o cargo de Procurador-Geral da República no Senado, na quarta-feira (12). A sabatina de Janot em 2015, durou dez horas. A última sabatina, de Alexandre Moraes, 11h.

REFORMA TRABALHISTA
Após quase três meses de deliberação, o projeto de lei 38/2017, que faz alterações na legislação trabalhista, deve ser votado no Senado nesta terça (11). Foram apresentadas um recorde de 864 emendas, mas todas têm parecer pela rejeição. E devem ser votadas em bloco.

MP INSPIRADA NA JBS
Será instalada nesta terça (11) a comissão para analisar a Medida Provisória 784, tornando mais rigorosa a fiscalização e sanções do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários em casos de fraudes. Também prevê acordo de leniência para bancos.

PENSANDO BEM...
...as revelações da Lava Jato reforçam há anos a certeza de que o diabo ajuda a fazer, mas não ajuda a esconder.
Herculano
10/07/2017 11:15
ALCKMIM VÊ RODRIGO MAIA VÊ COMO RIVAL PARA 2018, por Josias de Souza

A convite de Geraldo Alckmin, a cúpula do PSDB se reúne na noite desta segunda-feira em São Paulo para discutir o que fazer diante do derretimento da Presidência de Michel Temer. Candidato ao Planalto, o governador paulista enxerga a eventual substituição de Temer como uma prévia de 2018. Receia que, alçado ao trono, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, vire um candidato automático à reeleição.

Alckmin e os apologistas do seu projeto político preferiam que Temer se arrastasse até o final do mandato. A opinião contrasta com a de outros bicudos do ninho. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, já defendeu publicamente a renúncia de Temer. Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB, disse que Temer produz "ingovernabilidade". E apoiou a ascensão de Rodrigo Maia.

Especialistas na arte de lamentar depois do fato, os grão-duques do tucanato começam a ser desligados da tomada por suas próprias bancadas. Dos sete tucanos com assento na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, seis votarão a favor da abertura de ação penal contra Temer no Supremo. Dos onze membros da bancada do PSDB no Congresso, sete defendem que o partido deixe o governo.

Para Tasso, os dirigentes do PSDB não podem ignorar as evidências que tornam a permanência do partido no governo um fator de desgaste. Mas pelo menos dois dos quatro ministros que representam o tucanato na Esplanada ?"Aloysio Nunes Ferreira e Antonio Imbassahy?" ameaçam permanecer no governo mesmo depois de um eventual rompimento formal da legenda.

Neste domingo, Alckmin declarou que o PSDB deveria aguardar pela aprovação das reformas antes de pensar em desembarque. Ecoando a posição da infantaria da legenda, o tucano Cássio Cunha Lima, vice-presidente do Senado, disse que o generalato deve permanecer ao lado dos soldados que pegam em lanças contra Temer no front da Câmara.

Num instante em que Alckmin, investigado na Lava Jato, frequenta as pesquisas presidenciais no rodapé, alguns dos seus correligionários acham que, antes de se preocupar com Rodrigo Maia, o governador deveria enxergar uma ameaça doméstica chamada João Doria. Afilhado político de Alckmin, o prefeito de São Paulo lança sobre Brasília olhares de cobiça que colocam em dúvida sua lealdade ao padrinho.
Herculano
10/07/2017 11:13
SE O PMDB TRAIR TEMER, REAFIRMARÁ A VOCAÇÃO DE ALIADO DE TODOS OS GOVERNOS, sociólogo, no jornal Folha de S. Paulo

Nos últimos dias da semana passada ganhou força o movimento para substituir Temer por Rodrigo Maia na Presidência da República. Não chega a ser um embate que empolgue as massas. A maior parte dos brasileiros gostaria que o voto decidisse o substituto de Temer. Mas ninguém se importa com o que os brasileiros querem.

Assistiremos, portanto, nas próximas semanas, a uma disputa pela Presidência entre dois marmanjos que não venceriam eleições para presidente do Bangu.

Temer ainda tem aliados de peso. Muita gente no empresariado ainda o defende. A máquina peemedebista é poderosa, e joga pesado. Ainda é possível achar editoriais de jornais importantes defendendo Temer. Dilma não tinha nada disso em sua fase terminal.

Mas, justamente porque Maia não representa qualquer mudança substancial, o custo de abandonar Temer é muito baixo. Maia não está parado por não querer fazer campanha contra Temer. A campanha dele é ficar parado e prometer permanecer nessa posição por um ano e meio, enquanto tudo ao redor continua exatamente como está. Seu slogan é "o outro cara está caindo, eu sei ficar parado em pé". Maia quer deixar de ser vice, mas aceita sem problemas continuar decorativo.

Nesse ponto, Temer é mais frágil do que Dilma. Mesmo setores de esquerda que disputavam com o PT a hegemonia na esquerda (PDT, PSOL etc.) foram contra o impeachment, porque Temer já havia apresentado "Ponte para o Futuro" como seu programa de governo. Se o vice de Dilma fosse outro esquerdista, a esquerda não petista teria abandonado Dilma sem maiores remorsos.

E todos sabem que Temer está prestes a ser atingido pelo tsunami das delações de Cunha e Funaro. Vai ficar mais difícil conceder benefício da dúvida ao presidente da República nos próximos meses. Faz tempo que já não é fácil.

A favor de Maia estão parte do PSDB e, o que é muito mais importante, do mercado. Ninguém imagina que o sujeito que só teve 3% para prefeito do Rio de Janeiro porque sua vice era Clarissa Garotinho seja um grande líder. Mas Maia tem um convívio razoável com a base de Temer e defende as reformas. As acusações contra Maia não devem chegar no ponto de lhe colocar na cadeia tão rápido quanto as que atingem Temer. E os investidores não se importam se as reformas tiverem que ser feitas trocando o corrupto conservador na Presidência anualmente.

Se não tem muita consequência para o cotidiano dos brasileiros, uma eventual substituição de presidente da República neste momento mudaria a relação de forças dentro da centro-direita para a eleição do ano que vem.

Com o impeachment, o PMDB passou a liderar o campo liberal-conservador. Se Maia vencer a disputa em curso, o equilíbrio anterior, em que essa turma era liderada pela aliança PSDB/DEM, começaria a ser restaurado (talvez como DEM/PSDB). Em especial, se o PMDB trair Temer, seus parlamentares reafirmarão a vocação do partido de ser o aliado de todos os governos, sem nunca ocupar a Presidência.

Você sorriu imaginando o PMDB traindo Temer, eu vi daqui.

Encerro a coluna com um exercício para o leitor: se você quisesse ganhar (ou manter) o apoio do empresariado para se tornar (ou se manter) presidente da República, o que você faria na disputa atual no BNDES? Eu sei, o certo seria decidir isso por outros critérios.
Herculano
10/07/2017 11:07
ALIADOS, INOCENTES ÚTEIS E OPORTUNISTAS DO GOLPE QUE AS ESQUERDAS QUEREM DAR EM TEMER, por Reinaldo Azevedo, na Rede TV

Lá vou eu. O diabo é diabo porque velho, não porque sábio. O mesmo vale para os patriarcas. Aos 55, não sou, assim, um Matusalém, mas há muito perdi o direito à inocência. Aliás, meus caros, nem é preciso chegar tão longe. A moçada que anda aí pela casa dos 20, 20 e poucos, já têm a obrigação de saber os respectivos nomes do que pratica e do que se pratica. Se puder fazê-lo com o concurso de alguns livros, melhor!

Há uma tentativa de golpe no Brasil. Une extrema-esquerda, esquerda, Globo (as razões dessa adesão certamente merecem ser pensadas calma), parte considerável dos tucanos, especuladores disfarçados de jornalistas e até uma franja ou outra que foi à rua pedir o impeachment de Dilma. À falta de palavra melhor, chamemo-la "direita", embora lhe faltem leitura e experiência social para merecer tal epíteto. O PT e as esquerdas, e ninguém mais, serão os beneficiários da eventual queda de Michel Temer.

Ora, quem fala "golpe", então, tem de defini-lo, a menos que esteja querendo enganar o leitor. E eu defino. É a ação que busca derrubar um governo por meio de instrumentos que não estão previstos na ordem legal. Assim, golpes podem ser dados, atenção!, nas democracias e nas ditaduras que, ainda assim, sejam "de direito", vale dizer: sejam exercidas com base em diplomas legais. Nota à margem: obviamente, golpes desferidos em regimes democráticos têm uma natureza necessariamente distinta daqueles desfechados contra tiranias. No primeiro caso, sempre estaremos diante de um retrocesso político; no segundo, não necessariamente.

Foi um golpe que derrubou Dilma? É evidente que não! Ela cometeu crime de responsabilidade, e a lei 1.079 prevê, para casos assim, o impedimento, que seguiu, rigorosamente o rito legal. Tanto é assim que os esquerdistas não conseguiram apontar uma só agressão no terreno jurídico. Escolheram, então, o caminho da retórica: depor um presidente eleito seria, em si, um golpe, o que é uma tolice, dado que o crime de responsabilidade cometido é que golpeou a ordem legal.

E contra Michel Temer? É um golpe o que se tenta? É! O pedido de instauração da investigação, feito por Rodrigo Janot, não encontra respaldo na lei, uma vez que ele deixava claro que pedia a Edson Fachin autorização para investigar um crime que, assegurava, seria ainda cometido. As licenças concedidas por Fachin igualmente não encontravam respaldo na lei. A gravação feita por Joesley Batista de sua conversa com Michel Temer constitui prova ilícita.

Os benefícios concedidos ao açougueiro de instituições não atendem aos requisitos da Lei 12.850, a das delações. Ainda que o Supremo não tenha dado a Edson Fachin o poder absoluto, como queria o inefável Roberto Barroso, é evidente que a maioria dos ministros escolheu o caminho da omissão. As exceções, no caso, foram apenas Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski. E ainda se pode avançar um pouco mais: a denúncia apresentada por Rodrigo Janot é inepta. Ele próprio admite que não conseguiu reunir as provas. Pior de tudo: o procurador-geral resolveu dividir uma mesma investigação em duas, talvez três denúncias, o que é um escracho. Há uma cruzada evidente de Janot contra Temer.

Ora, desde a ascensão do presidente e da pauta que lançou de, atenção!, mera modernização do país, as esquerdas se levantam para denunciar o falso "golpe" ?" no caso, contra os supostos interesses populares. Então ficamos sabendo que déficit fiscal cavalar, legislação trabalhista atrasada e que leva ao desemprego e Previdência quebrada atendem aos? interesses do povo! É uma piada. Não perderei tempo com a pauta hipócrita, mentirosa mesmo, das esquerdas.

O fato é que o país caminhava para sair do atoleiro, com um presidente legítimo, sim, mas impopular ?" em parte porque os desatinos cometidos pelo petismo se sentem também em sua gestão ?", que, tudo indicava, seria bem-sucedido em fazer o necessário até em razão dessa impopularidade, dado que não iria se candidatar reeleição. O MPF de Rodrigo Janot e da Seita de Curitiba, não custa lembrar, já havia se manifestado contra as reformas, contra a lei de terceirização, contra, em suma, o mundo contemporâneo!

Eis que veio, então, a bomba Joesley, com todos os rigores de um flagrante armado, jogada nas cidadelas de Temer e do PSDB: no caso, o alvo foi o senador Aécio Neves (PSDB-MG), grotesca e ilegalmente afastado de seu mandato. E Janot, na própria denúncia que oferece contra o senador, não se vexa de fazer proselitismo político, afirmando que aquele que se apresentava como alternativa em 2014 não se distinguia dos adversários que buscava vencer.

Ou seja: Janot decretou que todos eram iguais. E isso, obviamente, era tudo o que Lula e o PT sempre quiseram ouvir.

Temer deve vencer o primeiro round do golpe. A denúncia em curso não deve passar na Câmara. Mas, abusando da heterodoxia legal, outras virão, derivadas daquele mesmo suposto crime, só que, espera o procurador, embaladas pelas denúncias de Cunha. Ou de Lúcio Funaro. Ou de ambos. Não parece que Rodrigo Maia tenha cedido até agora aos apelos dos que o elegeram para ser o Kerensky da "Revolução de 2017". Mas a pressão é grande.

Kerensky, como se sabe, era um revolucionário moderado, que assumiu interinamente o governo da Rússia, com a queda de Nicolau II, entre 21 de julho e 8 de novembro de 1917. Foi derrubado pelos bolcheviques de Lênin e teve de deixar o país. Kerensky, coitado!, não tinha entendido ainda qual era a da turma da pesada: ditadura comuna.

Que Maia jamais se esqueça: apesar das boas relações que mantém com elas, as esquerdas têm reservado para ele não a cadeira de Temer, mas um lugar na fila da guilhotina
Herculano
10/07/2017 11:01
ESTE É O VERDADEIRO PMDB: UMA FEDERAÇÃO DE INTERESSES PARTICULARES E ESCUSOS TRAMANDO CONTRA O PRóPRIO PARTIDO, PARCEIROS, O PODER, O PAÍS E OS BRASILEIROS PAGADORES DE PESADOS IMPOSTOS QUE SUSTENTAM TODA ESSA FARRA IRRESPONSÁVEL. GIGOLô SEM PUDOR. VOCÊ PENSA QUE ISSO SE DÁ Só EM BRASÍLIA. SANTA CATARINA NÃO É DIFERENTE. A COLUNA DE HOJE DÁ PISTAS POR AQUI

"O GOVERNO TEMER JÁ FOI; MAIA PODE SER UMA SAÍDA", AFIRMA RENAM CALHEIROS

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Texto de Talita Fernandes, da sucursal de Brasília. Líder da bancada do PMDB no Senado até o final de junho, Renan Calheiros (AL), 61, diz que "ninguém aguenta mais o governo" e aponta o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como possível condutor da "inevitável travessia".

Apesar de ser do partido do presidente Michel Temer, o senador bate de frente com o correligionário e é um dos principais críticos da reforma trabalhista.

"Querem tirar de qualquer forma o piloto porque a turbulência está cada vez mais insuportável, ninguém aguenta mais", afirma o senador, em sua primeira longa entrevista após deixar o comando da bancada.

Renan é alvo de mais de dez investigações e uma denúncia na Lava Jato, além de ter renunciado em 2007 ao comando do Senado sob a suspeita de ter despesas privadas bancadas pela empreiteira Mendes Júnior.

Em uma das primeira críticas a Temer, em abril, ele comparou a gestão peemedebista à seleção do Dunga.

À Folha disse que gostaria de se retratar: "Dunga foi um vencedor, não é oportunista, é sério, foi tetracampeão e, como treinador, conquistou vários títulos. Dunga não merecia, sinceramente, essa comparação".

Folha - Governistas dizem que as suas críticas ao Planalto se dão por sua situação eleitoral difícil em Alagoas. O senhor vai ser candidato ao Senado em 2018?

Renan Calheiros - Deverei sim disputar mais um mandato de senador. Não acredite nessas notícias plantadas de que tenho dificuldades para reeleição. Isso é o que o governo gostaria que acontecesse. Mas as pesquisas, as verdadeiras, mostram o contrário.

Folha - Especula-se que o sr. articula aliança para apoiar possível candidatura de Lula em 2018. O sr. vai apoiá-lo? Há inclusive a possibilidade de ele ser preso.

Renan - Na política não se dá o direito de descartar ninguém que partilha do mesmo objetivo. Eu acompanho essas coisas pelo noticiário e já foi mais fácil condenar o Lula. Não vai ser tão fácil como alguns esperavam. Para que se possa olhar o cenário futuro com mais nitidez, precisamos saber quem será candidato, quem estará na presidência da República e, falando do quadro atual, por mais pavoroso que seja, quem estará solto. Vivemos, como disse o ministro [do STF Luís Roberto] Barroso, tempos fora da curva.

Folha - O sr. não teme ser preso?

Renan - Não. Eu fui citado por delatores presos que sequer me conheciam. Não há uma prova contra mim. Em função do cargo que eu representava, a chefia de um Poder [o Legislativo], circunstancialmente passei a ser multi-investigado. Eu não temo nada. Medo só atrapalha nessas horas.

Folha - Por que o sr. critica o governo dizendo que Temer se deixou levar pelo mercado?

Renan - Foi o maior equívoco defender uma agenda unicamente do mercado. O presidente, pela circunstância, foi colocado na cadeira de piloto de um avião sem plano de voo, sem saber de onde estava vindo nem para onde estava indo. Lá atrás os passageiros estavam aguardando sinais do comandante. Ele disse: 'Fiquem calmos, temos um rumo, devemos chamá-lo de ponte para o futuro e vamos rapidamente, sem sobressaltos, chegar lá.' Num primeiro momento, foi alívio e alguma esperança. Aí acontece um desastre: o avião entra numa tempestade e um raio fora do radar atinge as duas asas. O avião fica sem asas e sem turbina, o comandante passa a navegar por instrumentos e quem tenta alertá-lo passa a ser considerado inconveniente. Ele continua com a mão no manche, pisa cada vez mais fundo, e os passageiros começam a perceber que o comandante não tem noção do que acontece fora da cabine e o que querem fazer é tirar de qualquer forma o piloto porque a turbulência está cada vez mais insuportável. Ninguém aguenta mais.

Por isso esse sentimento de que o governo já foi. Não devemos descartar o Rodrigo Maia como alternativa constitucional e como primeiro e decisivo passo para essa inevitável travessia que nós deveremos ter de fazer.

Folha O nome de Rodrigo Maia tem aparecido como sucessor de Temer. O sr. o apoia para essa transição?

Renan - Em regra geral, independentemente de partidos, quase todos apoiam uma saída. Porque a turbulência está insuportável. O Rodrigo parece um bom político. Tem sido fundamental nos últimos anos pelo equilíbrio e responsabilidade que demonstra. Acho que ele não pode ser descartado. Talvez nós tenhamos que contar com sua participação nessa travessia.

Folha - Após ameaças de que seria destituído do cargo, o senhor deixou a liderança do partido. O que pesou para isso?

Renan - O PMDB é o maior partido do Brasil, mas tem se fragilizado com o estilo de Temer. Às vezes o presidente lida com o partido como se fosse uma imobiliária, como se pudesse ter dono. Eu jamais seria um líder de aluguel. Nunca tive e nunca terei senhorio. Por isso resolvi sair.

Folha - O senhor já sugeriu a renúncia de Temer, mas ele não dá sinais de que fará isso.

Renan - É preciso construir uma saída. O problema de Temer é que ele sempre foi a ponta mais vistosa, mais diplomática de um iceberg. As investigações implodiram a parte que ficava abaixo da linha d'água. Na hora que a parte debaixo se desintegra, a de cima naufraga. O governo nasceu com uma razão questionável do ponto de vista político, que era reanimar a economia e estabilizar a política. Mas a política nunca esteve tão caótica e a economia continua desfalecendo. O governo parece um filme de terror. As pessoas foram ver um entretenimento e estão saindo desesperadas com um filme pavoroso. Foram ver o Batman e o Charada dominou a cena.

Folha - Sobre o iceberg, o sr. se refere a pessoas como o ex-deputado Eduardo Cunha?

Renan - Acho que o papel do Eduardo Cunha na política brasileira foi deletério. Tinha uma visão completamente distorcida da política e da representação. Isso foi terrível do ponto de vista do abuso do poder, da chantagem com atores econômicos. Michel, que era o líder dessa facção, foi alertado em vários momentos.

Folha - E o senhor teme ser alvo de uma delação de Cunha?

Renan - Não acredito, porque nunca tive relação com ele. Cuidadosamente não permiti jamais que ele se aproximasse de mim.

Folha - O sr. é alvo de mais dez inquéritos no Supremo, mas nega as acusações. Não entende que errou em algum momento?

Renan - Apesar de suposições e o que dizem as delações a meu respeito, sigo absolutamente tranquilo e prestando todas as informações à Justiça. A primeira [investigação] já foi arquivada e as demais certamente terão o mesmo desfecho. Não há nenhuma prova contra mim. Eu nunca recebi caixa dois nem propina. Nesses anos em que estive no Parlamento sempre resisti a isso.

Mas é fundamental que nós façamos uma mudança profunda na política. Entendo que numa circunstância que o país não tem dinheiro para emitir passaporte, a sociedade entenderá melhor um financiamento privado com regras que impeçam o doador de se tornar dono das campanhas e partidos do que financiamento público.

Folha - A indicação de Raquel Dodge para a PGR é vista como possibilidade de mudança da Lava Jato num antagonismo ao rigor do procurador-geral, Rodrigo Janot?

Renan - Com mais de 20 anos no Senado, participei de inúmeras apreciações de nomes para PGR e vou me comportar como sempre: de maneira institucional. Acho que ela será aprovada e fará uma brilhante sabatina. Qualquer procurador-geral vai ter que participar de um processo para regulamentar e ampliar a segurança jurídica da própria operação, sob pena de produzir problemas junto ao STF. Pela liderança que demonstra, ela tem condições de cumprir um excepcional papel.

Folha - Como vê a denúncia contra Temer e o fato de um aliado dele ter sido flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil?

Renan - Não vou entrar na denúncia, nessa agenda, porque eu entendo que todos os governos, em algum momento, sofrem esse tipo de acusação em algum grau. Eu sei que é isso que mais indigna a população, mas se eu quiser fazer uma análise mais distante, mais isenta, com mais vontade de colaborar, a minha obrigação é de olhar as coisas com um distanciamento histórico. Portanto, nunca convivi com fatos tão graves. Com tantas pessoas presas, outras desesperadas se oferecendo para delatar. Pela gravidade, esse parece ser um caminho sem volta. Essa denúncia é séria. Vai ser entendida como tal pela Câmara dos Deputados.

RAIO-X

Nascimento
16.set.1955, em Murici (AL)

Formação
Direito pela Universidade Federal de Alagoas

Carreira política
Líder do governo Fernando Collor na Câmara dos Deputados (1990)
Ministro da Justiça do governo FHC (1998-1999)
Presidente do Senado por dois mandatos (2005-2007, 2013-2015)

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