23/06/2017
ENTRE AMIGOS I
Na terça-feira, finalmente, alguns vereadores de Gaspar criaram coragem e se uniram contra o recesso de 15 dias de julho, coisa que o relator de matéria assemelhada há quatro anos, o ex-vereador Marcelo de Souza Brick, PSD, teve chance de fazer e não fez. Parabéns! É uma manobra da situação PMDB, PSC e PSDB que encurralou a dita oposição minoritária com o PT, PDT e PSD. Esta, entretanto, pode ser apenas uma cortina de fumaça para esconder uma outra articulação, muito mais ardilosa e surpreendente.
ENTRE AMIGOS II
O presidente da Câmara de Gaspar, Ciro André Quinto, PMDB, devia estar eleito e trabalhando em Brasília. Lá é o mundo da lua para os políticos populistas como ele. Os eleitos e os gestores públicos estão bem longe do ronco e principalmente, sofrimento das ruas e dos trabalhadores, muitos deles, desempregados ou com salários achatados pela crise. Os políticos desafiam à realidade crua da crise econômica e social. Desafiam o descrédito do povo nas instituições, principalmente às feitas ou integradas e manipuladas por esses políticos (partidos, mandatos, executivo, legislativo...). Ciro acha que os vereadores de Gaspar estão ganhando pouco e articula, com cuidado, habilidade e até silêncio, nos bastidores, um aumento real e que pode chegar a 50% sobre os atuais R$5.564,11 (Ciro, ganha ainda, mais R$1.000,00 a título de representação – e que não é reajustado desde 2004 - isto sem falar nas tais diárias onde este ano, como nos anteriores, ele é o campeão disparado: já gastou R$4.340,00). Até março, mesmo só trabalhando dois meses, os vereadores de Gaspar aprovaram para eles mesmos e os funcionários da Casa, o reajuste inflacionário sobre o ganho de R$5.277,04.
ENTRE AMIGOS III
Depois de se negar trabalhar à noite, mas só à tarde; depois de se negar a construir o prédio da Câmara e por isso, devolveu R$700 mil (a ação de raspa do prefeito Kleber Edson Wan Dall, PMDB, era de R$1milhão) do seu Orçamento para a prefeitura; depois de pedir prioridade para os acometidos de câncer na rede pública municipal de saúde de Gaspar a qual não possui serviço de oncologia e está ela própria na UTI para o básico como gripe e dor de barriga; depois de comprar frigobares para as suas excelências darem água gelada ao povo nos seus gabinetes, de reformar o mobiliário da Câmara e agora lançar mais uma licitação para compra de televisores e materiais de informática novinhos; depois de faltar à sessão da própria Câmara que preside uma vez por semana por uma hora e meia em média e preferir fotos com deputados catarinenses na Capital Federal; depois de aumentar a remuneração dos servidores numa jogada de isonomia em erros construídos de propósito no passado; Ciro ensaia nos bastidores esse aumento real de salários para os vereadores. Como se vê: barba, cabelo e bigode. Reconheço: é preciso muita coragem e cara-de-pau.
ENTRE AMIGOS IV
E qual é o pano de fundo para essa patuscada? Qual a justificativa dessa conversa mole para atrair a dita oposição? É um toma lá-dá-cá. É que a tal oposição ensaia, principalmente na imprensa para fazer espuma e sentir o termômetro, uma Lei Complementar para barrar a farra (e negócio lucrativo) do vereador ser eleito e depois, de posse dos votos e diploma, transacionar a vaga por cargos relevantes no governo de plantão e também, pasmem, abertura de vagas para os suplentes. Hoje um secretário municipal ganha em Gaspar R$11.627,94 (R$8.858,50 limpos). Ciro fez as contas e acha que algo como R$9.500,00 brutos está bom para um vereador desistir de ser secretário ou presidente do Samae, que é o caso de José Hilário Melato, PP, o mais longevo deles – o que aumentou o número de vereadores, o que inventou os assessores parlamentares, o que feriu a isonomia dos servidores, o que diminuiu o número de sessões a noite e a única semanal, passou para o meio da tarde....Tudo entre amigos. E eu não faço parte desse círculo. Então...
ENTRE AMIGOS V
A pergunta que não quer calar é: o prefeito Kleber vai bancar mais esta? Explico: apesar da suposta independência de poderes, só os seus sete votos da base apoio, incluindo além do PMDB, o PSC e o PSDB, serão capazes à aprovação e repetir as vitoriosas polêmicas votações anteriores onde Ciro foi o voto de minerva. Kleber vai sofrer mais um desgaste dos muitos que já vem tendo nestes seis primeiros meses de governo? Como nos testes anteriores em que se esperava mobilidade dos cidadãos, todos os gasparenses ficaram em casa, Ciro possui um palpite: “isso só aparece na coluna do Herculano”. Para ele, o povo manso de Gaspar e que já foi alfabetizado, não a lê, então esse clima meu de esclarecimento, desaparece ao longo do tempo. Para Ciro, na conversa com os seus, o gasparense é da paz, prefere pagar e não se incomodar com as manobras dos seus políticos. Para Ciro, até a eleição do ano que vem ou em 2020, ninguém mais se lembrar de frigobares, aumentos marotos dos servidores, contrações, a não construção do prédio, as verbas tiradas do FIA e aumento dos vereadores. Acorda, Gaspar!
Continuando. Ciro, talvez tenha razão nesse intento que articula e que agora, pelo constrangimento, pode dar água. Basta lembrar que no dia primeiro de janeiro de 2006, um vereador em Gaspar ganhava R$2.914,00.
E de reajuste em reajuste para engolir apenas a inflação ou merrecas reais, concedidos aos servidores públicos municipais, aproveitou-se e se chegou aos R$5.564,11 de hoje.
Naquele idos de 2006 não se tinha assessor parlamentar para cada vereador, a estrutura era bem menor. E os vereadores trabalhavam em duas sessões deliberativas ordinárias por semana, à noite.
Hoje a Câmara de Gaspar é uma estrutura complexa, política, cara e que tende a inchar cada vez mais como aconteceu em outras, onde os cidadãos estão longe e alienados das manobras que são feitas nos bastidores e nas votações entre os amigos do poder de plantão.
Você sabe quanto a Câmara gastou com comissionados só em cinco meses deste ano: R$285.268,46. E com os funcionários efetivos? Pasmem: R$489.369,65. E com os vereadores? R$433.279,31.
Ou seja, do jeito que está vai beirar os R$3 milhões por ano. E se for aprovado o aumento, vai superar essa cifra.
Numa Câmara onde o Portal da Transparência é um desastre na funcionalidade, navegabilidade e disposição das informações mínimas ou essenciais, e isso, está sob obrigação de sentença judicial a pedido do Ministério Público - e que não é cumprida -, possui hoje dois assessores de imprensa. Desculpe-me, só se for para esconder notícias.
E quando você pede alguma informação formalmente, eles invocam de cara, a Lei de Acesso da Informação para lhe negar os dados de pronto e pedir os 20 dias para lhe repassar.
Vergonha pelo que se ganha e não se faz. Indecoroso para aquilo que a lei obriga estar disponível e não está, e em nome dos políticos, seus chefes, escondem ou cozinham os dados.
Um poço sem fundo e concorrência pública. Está em curso de Licitação nº 46/2017 por inexigibilidade. Para que? Contratação de "Serviços Hospitalares" como prestação de serviços de assistência à saúde para atendimento ambulatorial (urgência/emergência, diagnóstico e tratamento) e para internações hospitalares ao usuário do Sistema Único de Saúde.
Quem é o “contratado”? O Hospital de Gaspar. E quando vai custar esse “contrato” aos cofres municipais? R$ 6.689.545,74.
Há pouco a prefeitura repassou outros R$1.373.248,58 para as despesas de maio e junho do Hospital. Enquanto isso, os postinhos, a policlínica e as farmácias básicas deixando na mão milhares de pobres e doentes.
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