Por Herculano Domício - Jornal Cruzeiro do Vale

Por Herculano Domício

28/07/2017

OS VULNERÁVEIS, MAIS VULNERÁVEIS I
Quem é leitor e leitora desta coluna, sabe que há muitos anos o tema proteção para a infância e adolescência vulnerável em Gaspar é tema recorrente aqui, apesar das pressões dos políticos no poder de plantão. Muito pela consciência, outro tanto veio com a preocupação da juíza que tratou desse assunto por aqui durante 11 anos, Ana Paulo Amaro da Silveira. Por isso, ela foi perseguida pelos políticos de todos os partidos, especialmente, o PT. Aí você pensa, com tantos anos de aprendizado e diante de realidades tão duras que se vê no dia-a-dia daqui e de outros grandes centros via a mídia, somando-se boas experiências e exemplos, houve então o mínimo de avanço entre nós. Que nada! A administração de Kleber Edson Wan Dall, PMDB e Luiz Carlos Spengler Filho, PP, jovens, vereadores que acompanharam todos os dramas dos outros governos, seguem os mesmos passos do atraso e alienação nesse assunto. Tanto, que nomearam para ser secretário de Assistência Social, Ernesto Hostin, sem qualquer qualificação para o cargo, a não ser, o de ser um assessor político fiel aos chefes. A pior de todas as escolhas. Mas, a secretaria de Educação não fica atrás. Segue no mesmo diapasão.

OS VULNERÁVEIS, MAIS VULNERÁVEIS II
Um experimentado técnico do setor me disse isso há poucos dias: “em poucos meses de governo [Kleber] podemos afirmar que estão tirando a comida da boca das criancinhas de Gaspar!” Começou com a tentativa de eliminar via os vereadores, a obrigação de aportar recursos no Fundo da Infância e Adolescência; pior: com aval do Conselho Municipal de Defesa da Criança e Adolescência, criado exatamente para a proteção dos menores vulneráveis contra a insensibilidade dos políticos no poder de plantão e a aplicação correta das políticas públicas para o setor E este fundo do FIA só não desapareceu como queria Kleber e o presidente do PMDB e secretário da Fazenda, Carlos Roberto Pereira e que acumula a secretaria de Administração e Gestão, porque esta coluna alertou para a manobra que se fazia. Escamoteada espertamente com linguagem essencialmente técnica para não chamar a atenção da cidade, no projeto maroto enviado à Câmara. Escamoteava. Evitava o debate. Ou seja, não havia erro, mas intenção.

OS VULNERÁVEIS, MAIS VULNERÁVEIS III
E de onde vem a falta de comida que minha fonte se referiu? Passou despercebido na imprensa – e aqui também - outra manobra sórdida para “economizar” com crianças vulneráveis. O Centro Educativo Maria Hendricks cortou o almoço dos que vão lá em contra-turno à tarde, exatamente por serem vulneráveis, expostos. Agora, essas crianças saem das suas escolas, vão para casa, se tiverem almoço, almoçam, se tiverem vontade e disposição, vão ao contra-turno. Tanto é verdade que eram cerca de 200 crianças atendidas; hoje, 70. E a situação de vulnerabilidade só piorou em Gaspar. Então por que diminuiu o atendimento no Maria Hendricks? Resumindo, Kleber está economizando com vulnerabilidade alheia. É impossível que o Ministério Público não esteja atento à mais esta manobra dos administradores públicos que inventam dificuldades para se aliviar nas suas obrigações básicas, morais, éticas e até legais.

OS VULNERÁVEIS, MAIS VULNERÁVEIS VI
Quer mais dessa política desastrosa que economiza agora com crianças vulneráveis e se gasta muitas vezes mais futuro com infratores, párias, desassistidos ou bandidos? Outro corte para nossas crianças foram os chamados professor suporte. Anteriormente o médico emitia um laudo, a família apresentava-o e a secretaria de Educação que fornecia o profissional. Atualmente, o médico emite o laudo; depois, a criança e sua família devem passar pelo crivo da equipe gestora da educação especial do município, para finalmente, ter ou não o professor suporte. Justo. E para não enfrentar de frente o Ministério Público, a secretaria arrumou um “jeitinho” para que não precisasse gastar com recursos humanos: juntou várias crianças – de várias localidades num abuso logístico - numa mesma escola e sala, para aproveitar o mesmo profissional. Resultado? Salas superlotadas, professores exaustos, qualidade péssima, crianças malcuidadas, tempo excessivo de deslocamentos e pais revoltados! Mas, vem mais. Está embrulhado! Vão reduzir para apenas meio período, as vagas de zero a três anos na educação infantil a partir de 2018. Como e porquê? A legislação obriga a concessão de vaga, mas não de período integral! Então, vem mais pegadinhas por aí! Acha que não? Quem esteve nas reuniões do Conselho Municipal de Educação e Fundeb entendeu e ficou assustado. Como diz o presidente da Câmara, Ciro André Quintino, PMDB, entrosado nesses assuntos: “estamos economizando”, numa contradição à Reforma Administrativa. Ela está na Câmara. Aumenta empreguismo e custo da máquina pública. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE


Os vereadores de Gaspar estão de férias. Alguns, ainda, com coragem, dizem que recesso não é “férias”. Mas nada se vota, não há sessões. Não há obrigações para presença na Câmara. Todos dispensados.

Os vereadores foram empossados no dia primeiro de janeiro. Ficaram de férias até a primeira semana de fevereiro. Em março, votaram para eles mesmos um reajuste para não perder a inflação, quase toda gerada do ano passado.

Trabalharam uma vez por semana, em média, só uma hora e meia, à tarde, por só cinco meses deste ano. Agora estão cansados demais. Quinze dias de folga “para recuperar as forças”. E tem gente na imprensa amiga, defendendo o aumento dos salários dos nossos nobres edis que já ganham R$5.564,11 por mês.

Quantos gasparenses ganham isso por mês em Gaspar, trabalhando muito mais, ou seja, 40 horas por semana? Eu escrevi que os vereadores estavam engendrando silenciosamente algo em torno de R$9.500,00 mês. Depois que saiu a coluna, amaldicionaram-na com a má repercussão. Mas, para não causar polêmica, topam mais R$2.000,00 sobre o que ganham hoje. Tudo isso em plena crise.

Resumo da ópera. Foram 23 sessões ordinárias neste primeiro semestre, sendo que em 11 delas, ou seja, em metade, não houve votações de projetos. Neste período foram votados 20 projetos de lei (sendo quatro complementares) enviados pelo prefeito.

E vejam só. Outros três projetos aprovados nasceram na Mesa Diretora da Câmara e apenas dois outros aprovados foram feitos por vereadores, todos de autoria do presidente Ciro André Quintino, PMDB. Há 13 vereadores!

Hoje é o último dia da promotora Chimelly Louise de Resenes Marcon, e que cuidava na Comarca de Gaspar da Moralidade Pública. Foi um marco e fez tremer as bases dos políticos e gestores públicos de todos os matizes e ranços ideológicos. Ela irá para a Comarca de Navegantes.

Chimelly será substituída por Andreza Borinelli, que é titular na primeira Vara. Quem pensou em moleza e está comemorando, insinuando, falsamente, que teve força para a mudança, poderá se decepcionar ainda mais. Andreza atuou no Centro da Moralidade Administrativa do MPSC por mais de dois anos. Eu não a conheço, mas seus colegas promotores dizem que é uma “máquina”.

Algumas áreas do Portal da Transparência de Gaspar estão fora do ar. Chama atenção a razão pela qual entre elas está a que mostra as diárias. Gente que entende do assunto, diz que é para esconder e ajustar coisas malfeitas. Hum!

Ilhota em chamas. Os vereadores de Ilhota foram chamados ao gabinete do promotor do Tribunal de Contas do Estado, Diogo Roberto Rigenberg. Receberam uma raspa daquelas. Ele queria saber como os vereadores aprovaram as contas do ex-prefeito Daniel Christian Bosi, PSD. Se não estão coniventes, terão contas para pagar também. Ai, ai, ai.

 

Edição 1811

Comentários

Sidnei Luis Reinert
30/07/2017 20:04
Herculano fazendo papel da esquerda ao malhar Bolsonaro!
Herculano
30/07/2017 19:48
TEMER X SARNEY

Míriam Leitão compara no Globo a situação do governo de Michel Temer com a do governo de José Sarney, encerrado em 1990:

"Quem aposta no cenário 'sarney', um presidente impopular que permanece, tem que lembrar dois pontos.

Primeiro, em janeiro do último ano do governo, Sarney ainda tentou enfrentar a hiperinflação, o grande problema da época, com o Plano Verão. Quando ficou claro que a tentativa havia falhado, o ano já estava quase na metade, e a campanha eleitoral, na rua.

Sobravam apenas alguns meses. Sarney submergiu, e o país passou a ser governado, na prática, pela equipe econômica.

Segundo, a crise fiscal agora é mais grave, e o país pode viver cenas explícitas de desgoverno, neste longo ano e meio que ainda resta."

O Brasil vive cenas explícitas de desgoverno há pelo menos 14 anos.
Herculano
30/07/2017 19:39
AMANHÃ, SEGUNDA-FEIRA, É DIA DE COLUNA OLHANDO A MARÉ INÉDITA PARA OS INTERNAUTAS.
Herculano
30/07/2017 19:38
O DEPUTADO JAIR BOLSONARO QUE SE ELEGEU PELO PP DO RIO DE JANEIRO SAI DO PSC E VAI PARA O PEN. COMO MARINA SILVA, REDE,ELE TEM MUITA DIFICULDADE PARA SE RELACIONAR NOS PARTIDOS E O NOVO NANICO NÃO LHE DARÁ MUSCULATURA PARA DISPUTAR EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES COM OS DEMAIS E MUITO MENOS PARA GOVERNAR COM O MÍNIMO DE ESTABILIDADE.

ESTE RANÇO LEMBRA MUITO DILMA VANA ROUSSEFF COM O CONGRESSO. MESMO TENDO A PROTEGÊ-LA O PODEROSO PT E O ARCO DA ESQUERDA, A INCAPACIDADE DE DIÁLOGO DELA, LEVOU-A AO ISOLAMENTO E A QUEDA

Conteúdo do Instituto Liberal de S. Paulo. Texto de Marcelo Faria. Anunciada hoje e confirmada pelo próprio deputado federal, de acordo com O Antagonista, a filiação de Jair Bolsonaro ao PEN (Partido Ecológico Nacional) levará o político a uma legenda próxima à criadora da Rede Sustentabilidade, Marina Silva.

Fundado e coordenado até os dias atuais por Adilson Barroso, ex-deputado estadual em São Paulo e o político brasileiro com mais seguidores no Facebook, o PEN teve o seu registro aprovado em 19 de junho de 2012 e declara em seu estatuto que "tem como base os conceitos da Social Democracia Cristã, com ações e projetos que estejam voltados a (sic) Ecologia".

Seguindo essa filosofia, o presidente do partido declarou, poucos meses antes das eleições de 2014, que a legenda estava de portas abertas para que Marina Silva fosse candidata pelo PEN: "Eu topo incorporação, topo fusão, eu topo tudo se for com a Marina", disse Barroso. O criador do partido também declarou, na ocasião, que a legenda possui ampla afinidade ideológica com a Rede. O Twitter oficial do partido chegou a afirmar que "Marina Silva é a cara do Brasil".

Marina Silva chegou a participar pessoalmente da campanha da aliança REDE / PSB / PEN em Betim ?" MG nas últimas eleições de 2016. O partido também fez alianças com PT, PCdoB, REDE e PSOL em diversos municípios brasileiros nas eleições de 2016, de acordo com as informações do TSE ?" Tribunal Superior Eleitoral.

A chegada de Bolsonaro ao PEN ?" que deve levar os filhos e políticos Carlos, Eduardo e Flavio a também ingressarem no partido ?" deve levar a legenda a mudar de nome. As opções estudadas são a recriação do PRONA (Partido da Reedificação da Ordem Nacional) ou novos nomes como PAB (Pátria Amada Brasil) ou Patriotras. O PEN possui atualmente 3 deputados federais e 13 deputados estaduais eleitos pelo país.
Herculano
30/07/2017 08:53
O REAJUSTE DO FUNCIONALISMO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

Sindicatos de servidores ameaçam com greve, desconsiderando o delicado momento pelo qual passam as contas públicas

A secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, informou que o governo estuda adiar os reajustes salariais do funcionalismo já aprovados para 2018 e que resultarão em um custo adicional de R$ 22 bilhões. A simples menção a essa possibilidade bastou para que sindicatos de servidores partissem para a ameaça de greve, desconsiderando o delicado momento pelo qual passam as contas públicas. O País não pode continuar refém de corporações para as quais nada interessa senão benesses, em total desconexão com a realidade nacional.

A maior parte dos reajustes ao qual Ana Paula Vescovi se referiu foi concedida pelo presidente Michel Temer em junho do ano passado, quando ainda era interino, durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Compreende-se que, naquela ocasião, na interinidade, Temer se sentisse obrigado a respeitar os compromissos assumidos por Dilma, além de precisar arrefecer a pressão dos funcionários públicos, incitados pelo PT. Uma vez efetivado no cargo, Temer anunciou um severo regime de austeridade de gastos. E hoje, quando a equipe econômica luta para encontrar uma forma de cumprir a meta fiscal e paira no ar a ameaça até mesmo de suspensão do funcionamento de partes da máquina estatal por falta de recursos, está claro que a concessão aos servidores foi um erro.

Durante os governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o quadro de funcionários públicos cresceu exponencialmente. Foram adicionados 131 mil servidores nesse período, um acréscimo de 27%, depois de uma tentativa de enxugamento na administração de Fernando Henrique Cardoso. Além de mais numerosos, esses funcionários, de um modo geral, foram contemplados com generosos aumentos salariais, tornando-se mais bem remunerados, em média, do que empregados com formação equivalente no setor privado.

Em junho e dezembro de 2016, foram concedidos aumentos ao funcionalismo que, somados, representam um custo de R$ 64 bilhões até 2019. Na ocasião, Temer argumentou que esses reajustes haviam sido negociados por Dilma Rousseff. Entre os benefícios estão, por exemplo, o pagamento de bônus de eficiência de R$ 3 mil para auditores fiscais da Receita Federal ?" inclusive aposentados e pensionistas. Dos 45 mil beneficiados, 27 mil já não trabalham, razão pela qual é difícil compreender como se pode falar em "eficiência" nesse caso. Além disso, o vencimento básico inicial de um auditor da Receita foi fixado em R$ 19.211,01. Em 2019, esse valor salta para R$ 21.029,09. Não há nada parecido com esse piso no setor privado.

Assim, é compreensível que um dos primeiros sindicatos a manifestar repúdio à possibilidade de adiamento do reajuste tenha sido o dos auditores fiscais. "Certamente as entidades não ficarão paradas", informou o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Claudio Damasceno. Já a Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP) anunciou que entrará na Justiça para impedir o adiamento. Seu argumento é que, durante a negociação, o governo de Dilma Rousseff não mencionou o estado deplorável das contas públicas. "A outra parte (o governo) tinha de ter colocado o problema na mesa", disse o presidente da CNSP, Antonio Tuccilio. Ou seja, a notória falta de transparência de Dilma tornou-se desculpa para a manutenção de um reajuste que obviamente não deveria ter sido acertado. "Uma vez que o aumento foi decidido, tem de ser cumprido", disse o sindicalista.

Assim, mais uma vez, a incapacidade dos governantes de enfrentar a corporação dos funcionários públicos resulta em prejuízo para o País. Enquanto a maioria dos trabalhadores do setor privado luta para manter seu emprego e para ter um salário ao menos suficiente para pagar as contas, em meio aos efeitos da gravíssima crise econômica, o setor público, beneficiando-se de seu livre trânsito no meio político, mantém privilégios e deles não abre mão.

O adiamento de um reajuste salarial que nem deveria ter sido concedido seria uma rara vitória da sensatez num ambiente em que predomina a irresponsabilidade.
Herculano
30/07/2017 08:50
COMO OS POLÍTICOS E GESTORES PÚBLICOS, ALÉM DE ADMINISTRAREM MAL E DESPERDIÇAREM, ROUBAM AOS BILHÕES O ESCASSO DOS NOSSOS PESADOS IMPOSTOS QUE FALTA À SAÚDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA, ASSISTÊNCIA, OBRAS ESSENCIAIS....

COMO UM AÇOUGUEIRO SE TORNOU O MAIOR EMPRESÁRIO DE CARNES DO MUNDO, COMPRADOR DE POLÍTICOS PARA O PT, GRAÇAS AS SUAS RELAÇÕES COM DILMA E LULA

A REVISTA ÉPOCA, DO GRUPO GLOBO, QUE ESTÁ NAS BANCAS E DISPONÍVEL PARA OS ASSINANTES DA REVISTA E DO SITE TEVE O ACESSO AOS DOCUMENTOS QUE EXPõEM A COMPRA SISTEMÁTICA DE CENTENAS DE POLÍTICOS BRASILEIROS

UM PARÊNTESIS NECESSÁRIO: VOCÊ ACHA QUE ISSO Só ACONTECE COM BRASÍLIA E QUE SANTA CATARINA, GASPAR E ILHOTA NÃO TEM NADA A VER COM ESSE MODELO DE SACANAGEM COM OS NOSSOS IMPOSTOS? E MUITO POR CULPA DA IMPRENSA QUE OU ESTÁ NO ROLO OU SE ACOVARDA. ACORDA, GASPAR!

Conteúdo parcial da reportagem da revista. Demilton de Castro e Florisvaldo de Oliveira estavam suando. No estacionamento da JBS em São Paulo, eles tentavam, sem sucesso, enfiar uma volumosa caixa de papelão num limitado porta-malas de Corolla. Plena segunda-feira e aquele sufoco logo cedo. Manobra para cá, manobra para lá, e nada de a caixa encaixar. Até que, num movimento feliz, ela deslizou. Eles conseguiram. Estavam prontos para desempenhar a tarefa a que Florisvaldo fora designado. E que ele tanto temia. Dez dias antes, Florisvaldo despencava até uma rua na Vila Madalena, também em São Paulo, para fazer uma espécie de "reconhecimento do local" onde teria de entregar R$ 1 milhão em espécie. Seu chefe, o lobista Ricardo Saud, havia encarregado Florisvaldo do delivery de propina para o então vice-presidente da República, Michel Temer. O funcionário, leal prestador de serviço e carregador de mala, não queria dar bola fora. Foi dar uma olhada em quem receberia a bufunfa. Ao subir as escadas do prediozinho de fachada espelhada, deu de frente com a figura inclemente de João Batista Lima Filho, o coronel faz-tudo de Temer. "Como é que você me aparece aqui sem o dinheiro?", intimou o coronel. "Veio fazer reconhecimento de que, rapaz?" Florisvaldo tremeu. "Ele me tocou de lá", comentou com os colegas, ainda assustado. Receoso da bronca que viria também do chefe, Florisvaldo ficou quietinho, não contou a Saud que a entrega não fora feita.

Naquele 1º de setembro de 2014, Saud, o lobista, batia as contas dos milhões em propina que distribuía de lá para cá, para tudo que é político de tudo que é partido - a JBS não discriminava ninguém. "Cadê o dinheiro do Temer?" Florisvaldo admitiu sua falha. "Tá doido, Florisvaldo? Vai entregar esse dinheiro agora!" Lembrando da pinta do coronel, o funcionário replicou: "Só se o Demilton for comigo". Toca Florisvaldo e Demilton a tentar enfiar a caixa com notas de R$ 50 no porta-­malas. Demilton, quatro décadas de empresa, é o planilheiro da JBS. A Odebrecht tinha o drousys, o software de distribuição de propinas. A JBS tem Demilton, exímio preenchedor de tabelas do Excel. Demilton topou ajudar o amigo. Os dois deixaram o estacionamento da JBS ao meio-dia. Florisvaldo, meio nervoso, tocou a campainha. Depois de instantes angustiantes, o coronel Lima apareceu. "Trouxeram os documentos?", perguntou Lima. Florisvaldo já tomava fôlego para carregar a caixa de papelão escada acima, mas o coronel ordenou que o dinheiro fosse depositado no porta-­malas do carro ao lado. "Não tem perigo com essa parede espelhada aí?" Florisvaldo era todo paúra. "Não, fica tranquilo." A transação estava completa.

Aquele 1º de setembro de 2014 era mais um dia intenso na maior compra já promovida no Brasil, segundo as evidências disponíveis, de uma eleição ?" de centenas de eleições. A JBS dos irmãos Joesley e Wesley Batista, maior empresa do país, viria a gastar, ou investir, quase R$ 600 milhões naquela campanha. R$ 433 milhões em doações oficiais, R$ 145 milhões entre pagamentos a empresas indicadas por políticos e dinheiro vivo ?" tudo isso já com a Lava Jato na rua. No raciocínio dos irmãos e de alguns de seus executivos, hoje delatores, os pagamentos, seja pelo caixa oficial, seja por empresas indicadas pelos políticos, seja diretamente por meio de dinheiro vivo, eram um investimento por favores futuros ou uma quitação por favores pretéritos. Favores não republicanos, evidentemente. Ou seja, havia uma relação de troca entre o dinheiro que saía da empresa e o que o político fazia por ela ?" mesmo que essa troca, em alguns momentos, não fosse verbalizada, por tão corriqueira e natural num quadro de corrupção sistêmica. Havia, em muitos casos, uma relação de troca criminosa, que se tipifica como corrupção.

Assim que a delação da JBS veio a público, em maio, a força irrefreável das provas contra o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves, provas de crimes em andamento, assim como a crise política que se instalou imediatamente, escamoteou o poder igualmente destrutivo dos crimes pretéritos cometidos por executivos da JBS ?" e por centenas, talvez milhares, de políticos. As provas apresentadas foram largamente ignoradas. Como os delatores haviam fechado o acordo poucas semanas antes, a empresa ainda não tinha levantado tudo o que poderia e deveria, em termos de evidências para corroborar os crimes descritos nos anexos da colaboração. Agora, a um mês do prazo estipulado para entregar à Procuradoria-Geral da República todas as evidências necessárias, os delatores e a JBS já dispõem de um novo e formidável conjunto de documentos.

Nas últimas semanas, ÉPOCA teve acesso, com exclusividade, a esses papéis inéditos ?" milhares deles. Investigou os principais casos ali presentes e obteve informações, reservadamente, junto a alguns dos envolvidos nos episódios mais relevantes dos crimes apontados nas delações. Há planilhões de propina que perfazem quase dez anos de campanhas ?" da eleição municipal de 2006 à eleição presidencial de 2014. Há comprovantes bancários. Há notas fiscais frias. Há contratos fraudulentos. Há, ainda, depósitos em contas secretas no exterior. Em comum, as evidências corroboram ou comprovam pagamentos ilícitos a políticos, numa escala que, ao menos no Brasil, nem mesmo a Odebrecht atingiu. De 2006 a 2017, a contabilidade da propina da JBS ?" e outras empresas dos irmãos Batista ?" a políticos é espantosa: R$ 1,1 bilhão. Mais precisamente, R$ 1.124.515.234,67. Desse volume extraordinário de pagamentos, R$ 301 milhões ocorreram em dinheiro vivo e R$ 395 milhões por meio de empresas indicadas por políticos. Houve, por fim, R$ 427,4 milhões em doações oficiais.

Da primeira parte dessa investigação, que ÉPOCA publica agora, emergem provas consistentes sobre casos conhecidos por poucos, como pagamentos fraudulentos a empresas indicadas por Temer à JBS, na distante campanha presidencial de 2010. Ou, ainda, dos pagamentos igualmente fraudulentos a empresas indicadas por José Serra em sua campanha presidencial, também em 2010. Há as provas dos famosos extratos das duas contas mantidas por Joesley nos Estados Unidos ?" e não na Suíça ?" com saldo de propina no BNDES, por combinação com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. São aquelas contas cujo saldo, cerca de US$ 150 milhões, serviu para financiar a campanha de Dilma em 2014 ?" e também dos partidos que toparam, por valores altíssimos, aliar-se a ela.

Surgem com especial força, no entanto, casos inéditos, como a propina de US$ 1 milhão paga a Antonio Palocci, em 2010, por meio de uma conta nos Estados Unidos. Ou os pagamentos em dinheiro vivo ao presidente do Senado, Eunício Oliveira, entre outros parlamentares; e a ministros do governo Temer, como Bruno Araújo, Gilberto Kassab, Helder Barbalho e Marcos Pereira. Kassab, por exemplo, também aparece como beneficiário de um valor extraordinário em propinas, recebidas, segundo os documentos, até o ano passado: R$ 18 milhões.

O acervo, sobre o qual os investigadores da Procuradoria-Geral da República vão se debruçar por meses, demonstra que a JBS comprava sistematicamente políticos de todos os partidos. Não havia critério ideológico; o valor do político era proporcional a sua capacidade de proporcionar benefícios à empresa. Em estados como Ceará, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, onde a JBS tinha mais interesses comerciais, a quantidade de propina distribuída era proporcionalmente maior. Como a JBS tinha interesses e vendas em todo o território nacional, os investimentos em políticos alcançavam o país inteiro, com uma capilaridade superior ao esquema da Odebrecht. Enquanto a Odebrecht, uma empreiteira, atuou no atacado, na compra de políticos maiores, a JBS, no comércio de carne, atuava no varejo, em busca não só dos grandes líderes nacionais, como também dos políticos regionais que poderiam remover obstáculos.

O crescimento da JBS é rápido, explosivo. Entre 2006 e 2014, a receita líquida do grupo cresceu cerca de 2.800%, dos R$ 4,3 bilhões de uma grande empresa brasileira para os R$ 120,5 bilhões características de uma gigante mundial, graças em boa parte ao bom relacionamento com o PT, que lhe proporcionou acesso a fartos financiamentos amigos do BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Quanto mais crescia, mais a JBS tinha negócios pelo país, mais seus interesses se diversificavam, mais ela precisava do governo e dos políticos. Por isso, no mesmo período, a propina distribuída subiu junto. Os registros internos mostram um salto de 4.900% nos gastos com corrupção, de R$ 12,5 milhões em 2006, ano da reeleição do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, para R$ 617 milhões em 2014, na reeleição de Dilma Rousseff. Em 2006, a JBS pagou propina para políticos de 11 partidos em seis estados; em 2014 foram beneficiados integrantes de 27 partidos em todos os estados brasileiros.

RECOMENDADO PARA VOCÊ

Tais volumes necessitavam de um acompanhamento cuidadoso e de uma logística afiada. A operação rotineira da propina era artesanal. Em vez de um Setor de Operações Estruturadas e do drousys, como tinha a Odebrecht, a JBS tinha Demilton e Florisvaldo, os dois funcionários dedicados. Os acertos com os políticos eram feitos por Joesley Batista (na maioria dos casos), por seu irmão Wesley (em poucos casos) e pelo lobista Ricardo Saud, todos colaboradores da Procuradoria-Geral da República. Uma vez que o crédito fosse aprovado por Joesley, Demilton era avisado por telefone ou pessoalmente e se encarregava de combinar com quem de direito. Nos casos em que bastava pagar uma empresa indicada pelo político, Demilton só tinha de cobrar as notas fiscais frias; em alguns casos, nem isso: os interessados entregavam os papéis e Demilton entregava dinheiro vivo. Para depósitos no exterior, Demilton acionava um doleiro chamado Chico, baseado no Uruguai. Demilton organizava a conta-corrente do grupo com Chico: os pedidos de pagamento eram feitos por e-mail e nunca falhavam. Para fazer pagamentos próprios de propina no exterior, a JBS tinha duas contas no banco Julius Bär em Genebra, na Suíça, a Lunsville International e a Valdarco Investments ?" aliás, foi de lá que saíram os pagamentos para Palocci e para manter o silêncio do doleiro Lúcio Funaro, entre outros que quiseram receber no exterior.

No Brasil havia facilidades das quais só a JBS dispunha. Com clientes no varejo espalhados por todo o país, como supermercados, atacados e frigoríficos, havia um fornecimento garantido de dinheiro vivo para atender à demanda dos políticos. Assim, boa parte dos pagamentos nessa modalidade era resolvida com uma ligação. Seja no Rio de Janeiro, seja em Minas Gerais, Demilton entrava em contato com o cliente e pedia que separasse um valor. Era comum que empresários e até políticos buscassem valores diretamente, tamanha a despreocupação com a operação ilegal. Foi assim com o senador Ciro Nogueira, do Piauí, o principal líder do PP, partido que apoia o governo Temer; foi assim com Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina pelo PSD, com o suplente de senador Antonio Carlos Rodrigues, do PR de São Paulo, e com o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, do PMDB.

No Nordeste, onde a chaga do voto de cabresto ainda persiste e a facilidade para lavar dinheiro em postos de gasolina ou compra de gado é maior, Joesley Batista encarregou o publicitário André Gustavo, uma espécie de Marcos Valério de Pernambuco, para cuidar de entregas de dinheiro. Quando necessário, Joesley autorizava a contratação de um carro-forte e André recolhia o dinheiro nos clientes da JBS e transportava até o político que deveria ser beneficiado. Foi André quem, segundo a JBS, organizou a entrega de propina em dinheiro vivo ao presidente do Senado, Eunício Oliveira, ao senador Jader Barbalho e a seu filho, o ministro Helder Barbalho, todos do PMDB. André Gustavo foi preso nesta semana na 42ª fase da Operação Lava Jato, acusado de ajudar o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine a chantagear a Odebrecht, obter uma propina de R$ 3 milhões e lavar dinheiro. Como Marcos Valério, André Gustavo está na cadeia.
Herculano
30/07/2017 08:33
O MITO DO BNDES GRÁTIS, por Rodrigo Constantino, na revista IstoÉ

" O governo grátis pode acontecer em qualquer lugar. Basta que as condições políticas e econômicas se tornem propícias ao surgimento de atores que irão organizar seus interesses em torno do domínio das instituições do Estado".

"O governo grátis é o grande adversário da prosperidade e o inimigo número um da ascensão social e patrimonial dos brasileiros".

"A indústria nacional obteve créditos subvencionados, a taxas fixas no então BNDE, muito abaixo do curso da inflação crescente. [?] Os pesados custos do financiamento inflacionário do País foram sendo contornados, pagos e 'apagados' por emissões de moeda escritural nas contas especiais dos bancos oficiais. Poucos se deram conta de que tudo aquilo era obra de uma variante de governo grátis em plena gestação".

"Na década passada, praticamente não houve redução no custo financeiro médio enfrentado pela maioria das empresas. Evidentemente, as mais poderosas têm acesso diferenciado a fontes externas ou a créditos de fontes públicas, especialmente do BNDES, especializado em selecionar as 'maiores e melhores'. Não é o caso da imensa maioria de empresas brasileiras, em geral as de porte médio ou pequeno. Essas têm enfrentado o mesmo patamar de custo financeiro desde o período de crise, no início dos anos 2000".

"[?] o produtor nacional é maltratado dentro do País, com impostos cavalares e burocracia ineficiente; na tentativa de compensar o empresário pelo mau tratamento, o governo grátis vende a ideia de alinhamento com o empresário por meio de medidas de proteção".

"O povo brasileiro quer treinamento e trabalho. Quer aposentadorias e pensões compatíveis com o que cada trabalhador, ao longo da vida, construiu de pecúlio e merece gastar como quiser. O povo quer, daqui para a frente, ser dono de parte do capital do Brasil. O Estado não o representa nisso".

Esses são trechos do excelente livro O mito do governo grátis, escrito pelo economista Paulo Rabello de Castro em 2014. Poucos anos depois, quem diria!, o autor se tornou presidente do BNDES. E mais: em apenas 45 dias no comando, veio a público defender a política do banco nas últimas décadas, inclusive na era petista, até mesmo nas operações com a JBS. Centenas de bilhões em subsídios, sem transparência, direcionados a poucos e grandes grupos: o oposto do liberalismo.

Isso mostra como o poder de minorias organizadas, de oligarquias, realmente corrompe. E comprova a importância de liberais focarem em seus princípios, não em pessoas ?" essas podem decepcionar muito, enterrar tudo aquilo que defenderam ao longo de uma vida em poucos dias dentro do esquema de poder.

É, também, o argumento definitivo de que não basta trocar o comando; é preciso acabar com o instrumento, fechar o banco!
Herculano
30/07/2017 08:29
UMA DITADURA BEM ALI NA ESQUINA, por Clóvis Rossi, no jornal Folha de S. Paulo

A Venezuela dá neste domingo (30) o passo final para a instalação de uma ditadura.

Foi "despacito", para citar um sucesso mundial. Hugo Chávez foi comendo a democracia pelas bordas, pouco a pouco, mas preservou ao menos o centro do prato, na forma de eleições razoavelmente livres.

Sabia que podia ganhá-las porque a bonança petrolífera lhe assegurava recursos para programas sociais que fizeram com que os pobres, pela primeira vez na história venezuelana, sentissem a presença do Estado. Na década passada, que foi a década chavista, entrou nos cofres públicos a impressionante soma de US$ 1 trilhão, o que equivale a quase 2/3 do PIB brasileiro atual.

É verdade que parte importante desse dinheiro foi desviada pela corrupção, mas a maior parte foi mesmo para programas sociais ?"o suficiente para que ainda hoje, em meio a uma devastadora crise, 53% dos venezuelanos tenham opinião favorável de Chávez, segundo o respeitado instituto Datanalisis.

Quando o maná do petróleo secou, foi ruindo toda a construção dita bolivariana, para o que contribuiu enormemente a escolha por Chávez de um total incompetente para substituí-lo.

Nicolás Maduro só fez acentuar os defeitos do modelo econômico chavista e o estímulo à corrupção, a ponto de a revista "The Economist", no número que está nas bancas, inventar o neologismo "thugocracy" (governo de gângsters) para definir o regime venezuelano.

É essa aberração que tenta se consolidar a partir deste domingo. Se conseguir, a América do Sul volta a ter uma ditadura depois que desapareceu a safra anterior, nos anos 1980/90. Triste, ainda mais que a Venezuela foi dos poucos países da região a escapar das ditaduras que a infestaram.

Alguns energúmenos de esquerda ainda acham que seja algo aceitável por se tratar de um "governo popular e anti-imperialista". Rematada tolice. É uma ditadura igual às que dominaram a América Latina em outras épocas.

Maduro não é diferente dos Somoza da Nicarágua ou Alfredo Stroessner do Paraguai. Ou, para ficar na Venezuela, de Marcos Pérez Jiménez, que governou de 1952 a 1958. Todas foram combatidas pela esquerda da época ?"o que só prova que a esquerda atual está esclerosada.

O que torna mais triste a situação é que o mundo assiste impassível à derrocada venezuelana, como vê impassível uma derrocada ainda mais impressionante como a síria.

O que podem os vizinhos, Brasil inclusive, fazer com a Venezuela? Um primeiro passo seria acentuar drasticamente a pressão diplomática para que o regime aceite não instalar imediatamente a Constituinte a ser eleita neste domingo. Se começar a funcionar, será a consolidação da ditadura e um salto no escuro, ante a previsível reação da oposição.

Se, no entanto, houver um intervalo entre a eleição e a instalação da Constituinte, abre-se espaço para um diálogo governo/oposição, que parece ser o único caminho viável para começar a sair do caos.

Para isso, no entanto, é preciso grandeza de parte do regime ?"tudo o que ele jamais mostrou até agora.
Herculano
30/07/2017 08:13
A 'SITUAÇÃO PRECÁRIA" DO BRASIL

Conteúdo de O Antagonista. Embora Michel Temer tente valorizar alguns resultados da economia, outro dado econômico revelado na sexta-feira "mostra como o país está em situação precária", segundo Míriam Leitão.

"A dívida pública continua subindo de forma acelerada e já atingiu 73% do PIB. E não há sinal de melhora alguma no horizonte com a sucessão de déficits primários que o país tem colecionado e a chance cada vez menor de o governo Temer conseguir aprovar qualquer reforma significativa na Previdência.
Herculano
30/07/2017 08:09
DUNQUERQUE, A VITóRIA DA CIVILIZAÇÃO, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

"Dunkirk" é um grande filme e conta o resgate do exército inglês encurralado na praia francesa de Dunquerque em maio de 1940. Barra pesada, mostra com maestria a angústia da operação.

O filme restringe sua narrativa ao que acontecia na praia, no ar e no mar. Vale a pena por si, mas está nas livrarias "Cinco Dias em Londres", do historiador John Lukacs, publicado em 2001. Juntos, são um presente para a alma. Naqueles dias, tudo parecia perdido. Hitler dobrara a França e era senhor da Europa. O povo inglês ainda não sabia, mas 250 mil soldados estavam cercados na praia de Dunquerque. O colapso dessa tropa seria o prelúdio de uma invasão da ilha.

Winston Churchill ainda não completara duas semanas como primeiro-ministro. Era um político mal visto, falastrão e pouco confiável. Seu rival no partido conservador era o ministro das relações exteriores, Lord Halifax, um inglês de anúncio de roupa, amigo do rei. Halifax queria explorar o caminho de uma paz com Hitler, usando os bons ofícios do embaixador italiano em Londres.

"Cinco Dias em Londres" conta o embate desses dois patriotas. Churchill não queria ceder e costurou sua posição no ministério, até que prevaleceu, depois de uma conversa no jardim com Halifax. (Nenhum dos dois escreveu uma só linha a respeito desse passeio.) Churchill achava que só tiraria 50 mil soldados de Dunquerque. No dia 6 de junho, a Marinha e os pequenos barcos ingleses que atravessaram o canal da Mancha resgataram 338 mil soldados, inclusive 125 mil franceses.

Christopher Nolan fez seu serviço de cineasta e é o vermute. John Lukacs, como historiador, é o gim. Quem junta os dois faz o martíni e revisita uma semana que ajudou a salvar a civilização. Naquele 6 de junho, Churchill, terminado o resgate, fez seu famoso discurso do "nós nunca nos renderemos". Cinco anos depois a Alemanha rendeu-se.

Lukacs sustenta que o nazismo foi vencido em Stalingrado e no Dia D, com o desembarque dos Aliados, mas foi em Dunquerque que Hitler perdeu a sua guerra. Ele, e muita gente boa, inclusive no Brasil, achava que os ingleses negociariam uma paz, nos termos de Berlim.

No dia 21 de maio, Getúlio Vargas escreveu em seu diário: "As notícias da guerra são de uma verdadeira derrocada para os Aliados. O povo, por instinto, teme a vitória alemã; os germanófilos exaltam-se. Mas o que ressalta evidente é a imprevidência das chamadas democracias liberais..."

*
ENTRE OS PATOS DE 1972 ESTAVAM OS MILITARES

Um documentário de Stefanie Dodt e Thomas Aders mostrou ao público alemão as relações promíscuas da Volkswagen com o aparelho repressivo da ditadura brasileira. A Volks não foi a única empresa a denunciar trabalhadores, mas é a única que está sendo cobrada no seu país. O problema da Volks era pedir desculpas. Agora surgiu outro: ter que se desculpar por não ter se desculpado.

Essa questão mostra a saudável relação da sociedade alemã com suas grandes empresas. Nada parecido acontece em Pindorama. A Federação das Indústrias de São Paulo, a Fiesp do pato amarelo, jamais pediu desculpas por ter organizado o caixa dois da guarnição militar de São Paulo.

Uma carta do embaixador americano William Rountree ao Departamento de Estado mostra que no início de 1972 os empresários que vinham sendo arrebanhados pela Fiesp tiveram medo de abandonar o esquema. Eles fizeram saber ao embaixador que "tinham ido muito longe para poderem recuar e achavam que, se o fizessem, prejudicariam seriamente suas relações com a Federação das Indústrias". Afinal era ela quem coletava o dinheiro.

A Fiesp financiou a repressão e bajulou os militares até que os ventos mudaram e criaram-se outras caixas, umas coletivas, outras individuais

BARCO FUJÃO

O beato Joesley Batista tem toda razão quando reclama das calúnias que são lançadas sobre sua imaculada pessoa. Ele diz que "mentiram que eu teria fugido com meu barco".

Tem toda razão. O iate Leonardo 100 fugiu sozinho, enquanto ele negociava o seu perdão com o doutor Rodrigo Janot. O barco saiu de uma marina de Itajaí e foi para Miami. A peça está avaliada em US$ 100 milhões.

PATACAS

Não se pode julgar uma pessoa pelo que veste, mas o patacão que Aldemir Bendine usava na presidência da Petrobras e do Banco do Brasil mostrava que havia algo de estranho com o doutor.

No Paraná, Bendine compartilha a cana com Marcelo Odebrecht, que mimava os amigos de sua empresa com relógios Patek Philippe de US$ 20 mil.

Outro colecionador de patacões é o presidente russo Vladimir Putin. Os seus três Patek valem em torno de US$ 100 mil. Donald Trump, mais exibido, lançou sua própria linha de relógios.

CÁRMEN LÚCIA

A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, não tem simpatia pelo aumento de 16,74% pleiteado pelos procuradores.

O pessoal do Ministério Público acha que pode tudo, mas devem se respeitar as leis da aritmética.

Se a ministra endossar o aumento, entrega a biografia.

GLEISI DE CALCUTÁ

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, solidarizou-se com o golpe bolivariano de Nicolás Maduro.

Se o seu discurso em defesa dos pobres e dos oprimidos fosse sério, a comissária faria alguma coisa em favor dos 20 mil refugiados venezuelanos que refugiaram-se em Roraima e vivem em condições precárias de moradia e alimentação.

NÚMEROS E GRIFES

O repórter Filipe Coutinho revelou que entre 2015 e 2016 a empresa de consultoria do ministro Henrique Meirelles faturou R$ 217 milhões, ou cerca de US$ 60 milhões. Em nota, o ministro informou que nesses ganhos estavam incluídos serviços prestados ao longo de quatro anos.

Em 2011, o mundo veio abaixo quando revelou-se que Antonio Palocci faturara R$ 20 milhões com sua empresa de consultoria, num só ano.

Na vida pública, Palocci fora ministro da Fazenda de 2003 a 2006. Sua experiência anterior era a de prefeito de Ribeirão Preto.

Meirelles foi presidente do Banco Central de 2003 a 2011. Ao contrário de Palocci, fez invejável carreira na iniciativa privada, tendo presidido o Banco de Boston.

Uma das mais famosas firmas de consultoria de grife do mundo, a do ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, não revela seus números. Em 1986, quando ele ainda estava no auge da forma e da fama, soube-se que ela faturou US$ 5 milhões.

A empresa de Kissinger tem a sua grife, mas nela estiveram craques como Timothy Geithner, o celebrado secretário do Tesouro de Obama durante a crise financeira mundial.

CARGO VAGO

Estão no mercado dois dos empregos mais prestigiosos do mundo, a presidência da Universidade Harvard e a diretoria do museu Metropolitan de Nova York.

A escolha do museu é feita num mercado restrito, mas Harvard circulou um pedido de indicações. Não é nada, não é nada, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, poderia se oferecer para indicar os nomes de alguns deputados da base governista.
Herculano
30/07/2017 05:19
FRAGA É OPÇÃO TUCANA PARA O LUGAR DE MEIRELLES, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) é uma espécie de último fiapo de credibilidade do governo Michel Temer, mas têm sido insistentes os rumores de sua saída, em razão de supostas desavenças com Eliseu Padilha. Segundo interlocutores, o ministro da Casa Civil acha que o colega deveria ser mais enfático na defesa do presidente. O PSDB já sugeriu o nome de Armínio Fraga, ex-Banco Central no governo FHC.

A FILA ANDA...
Diante de suposta ameaça de Meirelles de sair do governo, a turma palaciana atribui a Padilha o desabafo: "Quer ir, vai! A fila anda..."

FIDELIZAÇÃO
Com a saída de Meirelles, o governo teria a chance de "fidelizar" os tucanos. Em troca, os apoiaria nas eleições presidenciais de 2018.

VALE A PENA?
Armínio Fraga no lugar de Meirelles agrada a alguns governistas, mas a dúvida no PSDB é de que valerá o apoio do governo Temer em 2018.

GRATIDÃO DE TEMER
Temer não quer nem ouvir falar na saída de Meirelles, a quem é muito grato por topar o desafio de comandar o enfrentamento da crise.

RELAÇÃO COM MADURO EXPÕE EMBAIXADOR DO BRASIL
Voltou a Caracas no início do mês o embaixador Ruy Carlos Pereira, chamado de volta a Brasília em setembro de 2016, quando desandou a relação entre os países. Ao retomar contatos com o regime autoritário de Nicolás Maduro, indignou a oposição venezuelana. Mas colegas o respeitam: "Maduro pode achar que ele é confiável. Melhor que pense. Ele é confiável para nós", afirma alta fonte do Itamaraty. "Tenho-lhe horror", diz um embaixador, "mas na guerra eu o quero ao meu lado".

JOGO JOGADO
Ruy Pereira foi chamado de volta quando a Venezuela levou o seu embaixador, no impeachment de Dilma. O venezuelano não retornou.

SEM RUÍDOS
O Itamaraty avaliou que a Maduro ignoraria o pedido de agrément de eventual substituto de Ruy Pereira, só para hostilizar o governo Temer.

TRÂNSITO LIVRE
Com Ruy Pereira, o governo Temer fez opção por um embaixador capaz de fazer chegar suas mensagens ao governo venezuelano.

MONUMENTO À INUTILIDADE
Há uma estatal federal chamada Empresa de Planejamento e Logística, criada para "promover o transporte ferroviário de alta velocidade". Mas só promoveu boquinhas: custa R$ 37,5 milhões ao ano só em salários.

MP DO PDV
Com o fim do recesso parlamentar, o Congresso terá de votar 23 medidas provisórias de Michel Temer, incluindo a MP que cria o programa de demissão voluntária dos funcionários públicos (PDV).

DECANO COMPLETA 23 ANOS
O ministro Celso de Mello completa 23 anos de atuação do Supremo Tribunal Federal no próximo dia 17. Se desejar, ele pode ficar no STF até novembro e 2020 quando, aos 75 anos, terá que pendurar a toga.

ABUNDÂNCIA
Bem situado para governador do Amazonas, na eleição do dia 6, Amazonino Mendes está feliz com o coordenador da sua campanha: o governador cassado José Melo não lhe deixa faltar nada.

SANGUE NOVO
Caio Asfor, primogênito de Cesar Asfor, ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça, estimulado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deve disputar vaga de deputado federal pelo sucedâneo do DEM.

VOLTA AO BATENTE
Após duas semanas de férias, os parlamentares voltam oficialmente ao batente nesta segunda (31), mas só devem aparecer na terça. Na Câmara, quarta-feira, eles votam a denúncia contra Michel Temer.

'IDOSICÍDIO', NOVO CRIME
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado discute no dia 2 um projeto que transforma em crime hediondo o homicídio de maiores de 60 anos: "idosicídio". O projeto é do senador Elmano Férrer (PMDB-PI).

NEM UM CENTAVO A MENOS
Em 1997, eram integrais 12.141 aposentadorias civis do funcionalismo público federal, o que representava 48,2% do total. Em 2016 passaram a 14.723, mas representam 95% do total, segundo o Planejamento.

PENSANDO BEM...
...de tão maduro, o governo venezuelano apodreceu. E já já deve cair
Herculano
30/07/2017 05:12
POLÍTICOS NÃO TÊM INTERESSE EM COMBATER A CORRUPÇÃO, DIZ MORO

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Texto e entrevista de Flávio Ferreira (enviado especial) e Estelita Hass Carazzai, de Curitiba PR

Para o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, falta interesse da classe política brasileira em combater a corrupção.

"Lamentavelmente, eu vejo uma ausência de um discurso mais vigoroso por parte das autoridades políticas brasileiras em relação ao problema da corrupção. Fica a impressão de que essa é uma tarefa única e exclusiva de policiais, procuradores e juízes", afirmou Moro em entrevista concedida à Folha e a outros integrantes do grupo internacional de jornalismo colaborativo "Investiga Lava Jato" ?"o jornal é um dos coordenadores da iniciativa.

Rebatendo críticas sobre o fato de ter fixado benefícios para réus que ainda estão negociando delação premiada, o juiz afirmou que "o direito não é uma ciência exata".

Segundo ele, a prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) mostra que não há investigações seletivas contra o PT.

Moro defendeu ainda o levantamento do sigilo da interceptação telefônica da conversa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff, em 2016. Segundo o magistrado, "as pessoas tinham direito de saber a respeito do conteúdo daqueles diálogos".

Antes da entrevista, Moro disse que resolveu falar ao grupo "para incentivar o trabalho cooperativo de jornalistas investigativos".

Folha - Há sentenças na Lava Jato que não se baseiam apenas em documentos, mas também em outros tipos de provas. Um exemplo é a condenação do ex-presidente Lula, que aponta que os benefícios concedidos ao ex-presidente têm como "única explicação" a corrupção na Petrobras. Qual sua posição sobre o uso de presunções desse tipo?

Sergio Moro - Sobre a sentença do ex-presidente, tudo o que eu queria dizer já está na sentença, e não vou fazer comentários. Teoricamente, uma classificação do processo penal é a da prova direta e da prova indireta, que é a tal da prova indiciária. Para ficar num exemplo clássico: uma testemunha que viu um homicídio. É uma prova direta.

Uma prova indireta é alguém que não viu o homicídio, mas viu alguém deixando o local do crime com uma arma fumegando. Ele não presenciou o fato, mas viu algo do qual se infere que a pessoa é culpada. Quando o juiz decide, avalia as provas diretas e as indiretas. Não é nada extraordinário em relação ao que acontece no cotidiano das varas criminais.

Folha O ministro Gilmar Mendes tem sido um dos principais críticos à Lava Jato no Supremo e afirmou que a operação criou um "direito penal de Curitiba", com "normas que não têm a ver com a lei".

Moro - Não faria réplica à crítica do ministro. Não seria apropriado. Juízes têm entendimentos diferentes. Não obstante, nos casos aqui julgados, não há direito extraordinário. Na Lava Jato, para a interrupção do ciclo de crimes, era necessário tomar algumas medidas drásticas ?"entre elas, por exemplo, as prisões antes do julgamento. E as decisões têm sido, como regra, mantidas.

Folha - O sr. fixou um tempo máximo de prisão a três réus que negociam delações, caso o acordo deles vingue. A medida foi criticada por advogados que entenderam que isso equivalia a um estímulo à delação e que não cabia ao juízo interferir nessa negociação. Por que tomou essa decisão?

Moro - Não ingressei em nenhuma negociação. Naquele caso, houve colaboração mas não havia um acordo final. O próprio Ministério Público pediu que fosse reconhecida a colaboração e dado o benefício.

Folha - Mas o benefício extrapolou um processo específico. O sr. estipulou uma pena máxima para todos os processos a que eles respondiam.

Moro - Eu justifiquei o que fiz na decisão. Agora, é preciso entender que o direito não é uma ciência exata. Às vezes, pessoas razoáveis divergem. Faz parte da aplicação do direito.

Folha - Esse tipo de decisão, sobre benefícios a réus, provas indiciárias, prisões preventivas, não faz parte de uma inflexão que a Lava Jato está trazendo ao direito penal?

Moro - Não, de forma nenhuma. O que a Lava Jato revela é que a impunidade em crimes de corrupção no Brasil não é mais uma regra.

Folha - O que pode representar uma ameaça à Lava Jato?

Moro - Lamentavelmente, eu vejo uma ausência de um discurso mais vigoroso por parte das autoridades políticas brasileiras em relação ao problema da corrupção.

Fica a impressão de que essa é uma tarefa única e exclusivamente de policiais, procuradores e juízes. No Brasil, estamos mais preocupados em não retroceder, em evitar medidas legislativas que obstruam as apurações das responsabilidades, do que propriamente em proposições legislativas que diminuam a oportunidade de corrupção. Vejo no mundo político uma grande inércia.

Folha - Sobre as escutas que envolveram os ex-presidentes Lula e Dilma, o sr. escreveu que o conteúdo revelava tentativas de obstruir investigações. É possível entender que a medida de tornar público esse conteúdo tinha como objetivo proteger a Lava Jato?

Moro - A escolha adotada desde o início desse processo era tornar tudo público, desde que isso não fosse prejudicial às investigações. O que aconteceu nesse caso [dos grampos de Dilma e Lula] não foi nada diferente dos demais. As pessoas tinham direito de saber a respeito do conteúdo daqueles diálogos. E por isso que foi tomada a decisão do levantamento do sigilo.

Um efeito indireto ao dar publicidade para esses casos foi proteger as investigações contra interferências indevidas. Afinal de contas, são processos que envolvem pessoas poderosas, política e economicamente. Na prática, pode haver tentativas. Então, tornar tudo público também acaba funcionando como uma espécie de proteção contra qualquer obstrução à Justiça. E isso é muito importante.

Foi seguida a Constituição. Dentro de uma democracia liberal como a nossa, é obrigatório que essas coisas sejam trazidas à luz do dia.

Folha - Na Lava Jato há mais de 150 acordos de delação premiada e muitos dos colaboradores ficarão presos por dois anos. Logo parte deles vai voltar às ruas. Quando isso acontecer, não pode haver uma sensação de impunidade, de que o crime compensa?

Moro - A colaboração de criminosos vem com um preço: ele não colabora senão pela obtenção de benefícios. Isso faz parte da natureza da colaboração. Muita gente não tem acordo nenhum, continua respondendo aos processos, alguns foram condenados, estão presos. Essas pessoas também vão sair da prisão um dia. Faz parte do sistema. O que acho que tem que ser comparado é que, no passado, como regra, o que havia era a impunidade. As pessoas nem sequer sofriam as consequências de seus crimes. Em muitos casos, nem sequer eram descobertas. A sensação de impunidade era ainda maior.

Folha - Raúl Olmos, da ONG "Mexicanos contra a Corrupção" (México) - No México não há nenhum efeito da Lava Jato. Qual a sua opinião sobre um país em que nada foi feito?

Moro - É difícil avaliar o que ocorre em outros países, não tenho detalhes de tudo. A globalização também acaba levando ao fenômeno da transnacionalização do crime. Se é assim, o combate aos crimes também tem que ser transnacional e envolver cooperação.

Folha - Milagros Salazar, do portal "Convoca" (Peru) - Como fazer quando há quatro ex-presidentes sob suspeita e empresários que pagaram pela corrupção, como é o caso do Peru, para que não haja a suspeita de que só a alguns se investiga?

Moro - Não tenho como avaliar o trabalho da Justiça no Peru. No Brasil, por vezes, há uma crítica de que a Justiça estaria atuando de maneira seletiva. Mas os processos são conduzidos com base em fatos e provas. Por exemplo, apesar das críticas de que há uma intensidade maior em relação a agentes do PT, temos preso e condenado um ex-presidente da Câmara [Eduardo Cunha], que era tido como inimigo do PT. Então, as críticas são equivocadas.

Outra coisa importante: o que as empresas brasileiras fizeram foi reprovável, mas há de se louvar a atitude delas quando resolvem colaborar. Não é correto vilificar as empresas brasileiras como se fossem as únicas no mundo que pagam propinas.

Folha - Adérito Caldeira, do jornal "@Verdade" (Moçambique) - Até a Lava Jato, a Odebrecht e o ex-presidente Lula eram considerados, pelo povo de Moçambique, benfeitores. Como o sr. se sente, de certa forma, desfazendo essa imagem?

Moro - O fato de essas empresas terem pago suborno a autoridades públicas nos países é algo reprovável. Mas isso também não desmerece tudo o que foi feito. Se a empresa de fato se comprometer a mudar seu comportamento, isso vai representar um ganho não só para ela, mas para os países nos quais os investimentos permanecerem. Aí haverá investimentos com uma prática de negócios mais limpa.

Folha - Emilia Delfino, do jornal "Perfil" (Argentina) - A lei argentina não permite que se faça um acordo com as autoridades brasileiras em que se deixe de processar a Odebrecht. Nesse caso, qual é a alternativa das autoridades para buscar as provas no país?

Moro - Não aceitando essa condição, os países vão ter que desenvolver seus próprios casos, com seus mecanismos de investigação, e eventualmente podem ser bem-sucedidos. Eu não sei o que aconteceu na Argentina, mas isso de um país estabelecer condições não é algo incomum na cooperação internacional.

Folha - Lisseth Boon, do site "Runrunes", e Jesús Yajure, do site "El Pitazo" (Venezuela) - Foram usados laranjas para pagar propinas fora do Brasil?

Moro - Não tenho detalhes do que aconteceu em outros países. É um método comum na lavagem de dinheiro utilizar uma pessoa interposta, um "presta nombres", para recebimento de vantagem indevida. A variedade dos procedimentos é inesgotável.
Herculano
30/07/2017 05:00
OS MUDOS FALANTES, por Carlos Brickmann

Um dos sintomas universais de crise é a epidemia de discursos de quem tem por obrigação manter-se calado. Juiz, ensina a tradição de nosso Direito, deve falar apenas nos autos. Aqui todos seguem este princípio: falam nos autos sempre que os repórteres enfiam os microfones pela janela, e só param de falar quando o motorista enfim pisa no acelerador. Generais devem falar nas ordens do dia, e até isso muitas vezes é perigoso; aqui, estão dando entrevista. E, como o general Sérgio Etchegoyen, de primoroso currículo, respeitado dentro e fora do Exército, falam da participação militar na segurança pública. Com um detalhe: ele sentado e o ministro da Defesa atrás, de pé, na condição de papagaio de pirata.

Vazamentos de informação de documentos usados como prova na Justiça têm fontes conhecidas: promotores interessados em punir futuros réus destruindo sua imagem pública, antes mesmo que sejam levados a julgamento. A técnica (a propósito, fora do bom procedimento legal) foi usada na Itália, na Operação Mãos Limpas. E é usada há muito tempo no Brasil, alegando-se informalmente que se não for assim os acusados, "que têm dinheiro para contratar bons advogados", escaparão ilesos após cometer ilegalidades. Elogia-se quem contrata um bom médico, um bom arquiteto, mas quem contrata um bom advogado ?" hummmm, aí tem!

Mudos estão falando. E quando os mudos falam a democracia se cala.

PRIMEIRO OS MEUS...

Cá entre nós, essa história do Ministério Público pedir aumento de 16% não pode passar despercebida. Tem de pegar mal. Para padrões brasileiros, um promotor ganha bem: algo como R$ 30 mil. Mas não fica por aí: com o vale-alimentação, o auxílio-moradia, o auxílio-livro, as duas férias por ano, as diárias, há promotores em São Paulo que ganham R$ 130 mil mensais (a cifra, espantosa mas de fonte oficial, foi levantada pela Agência Pública (http://apublica.org/2016/12/direito-ou-privilegio/) com base na Lei de Acesso à Informação).

Boa parte dos promotores paulistas ganha mais que o teto salarial previsto na Constituição, o salário de ministros do STF. São Paulo gasta com o Ministério Público a soma das verbas destinadas a Habitação e Agricultura. E, considerando-se a ótima (e normalmente merecida) imagem pública dos promotores, que exemplo dão à população neste momento de crise, exigindo mais salários de um Tesouro exaurido?

...E OS MEUS TAMBÉM

Mas não se critique um único grupo. O Senado decidiu alugar 85 carros para Suas Excelências, gastando R$ 8,3 milhões em 30 meses. São 83 Nissan Sentra para 80 senadores, e dois Hyundai Azera para o presidente da Casa - embora não haja nos anais menção a um presidente com duas bundas. O Azera este colunista não dirigiu; o Sentra é ótimo, macio, uma tentação. Mas sempre resta uma pergunta: por que temos de pagar carro aos parlamentares? Carro, casa, passagens ?" não é meio muito? E o motorista, também pago por nós, mas na conta do gabinete de cada parlamentar?

Busquemos um bom exemplo: nos Estados Unidos, há três carros oficiais de representação, um para o presidente de cada poder. Digamos que um juiz do Alasca seja convidado para a Suprema Corte: ele deve viver com seu salário, sem carro oficial, sem apartamento funcional. Ponto final.

...E OS NOSSOS?

Tadinho do Governo Federal, que deve manter o enorme buraco do Orçamento do tamanho em que está, sem aumento? Calma: a verba de publicidade de 2017 foi de R$ 153 milhões, uns 30% mais que em 2016.

UM DIA, TALVEZ

Dentro de poucos dias, 2 de agosto, a Câmara decide se dá autorização para que o Supremo investigue a denúncia apresentada pelo procurador Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer. Temer deve ganhar de lavada: fez o que podia e o que não podia para garantir que entre 250 e 300 parlamentares o livrem da chateação. Miro Teixeira, político experiente, a favor da investigação, jogou a toalha: não há condições de ganhar a parada.

TALVEZ, QUEM SABE

Quanto à lenda de que quem votar por Temer perderá votos, continua sendo uma lenda. Temer tem só 5% de aprovação ?" o menor índice desde o tempo da TV a lenha. O deputado Bonifácio Andrada, velho conhecedor do jogo, diz que basta uma discreta melhora na economia para absolver quem apoiar um presidente tão mal avaliado.

A leve melhora até que está acontecendo: a taxa básica de juros caiu um ponto e deve diminuir de ponto em ponto a cada reunião do Conselho de Política Monetária, a inflação continua abaixo da previsão, há uma levíssima redução no desemprego. Mas os juros do cartão de crédito continuam perto de 500% ao ano. Bonifácio Andrada diz que o eleitor é fraco de memória e, diante de uma pequena melhora, esquece o que está errado.
Mas cadê a pequena melhora?
Herculano
30/07/2017 04:52
CHEGARÁ A HORA DE BRIGAR COM LULA, DIZ DORIA

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Texto e entrevista de Anna Virgínia Bolloussier. João Doria (PSDB) é "candidatíssimo" a presidente. "Do Santos F.C." Já do Brasil F.C. é outra história.
Ainda que mantenha seu discurso de que jamais enfrentaria o aliado Geraldo Alckmin em prévias do PSDB, o prefeito de São Paulo derrapa na oratória de não renunciar ao cargo para concorrer em 2018.

É quando fala de seu antagonismo com Lula (PT), a quem acha que falta "suavidade". "Haverá um momento da disputa em que [rivalizar com o ex-presidente] será inevitável", diz.

E o estilo Doria? "Doce e duro", afirma à Folha em café da manhã com frutas, suco de laranja e dois capuccinos, num hotel de luxo em Shenzhen, para onde viajou a convite do governo chinês.

*

Folha - Alckmin disse categoricamente que o sr. não disputará prévias no PSDB com ele. Tem a mesma certeza?
João Doria - Se houver prévias no PSDB para indicação ao candidato à Presidência, e delas o governador participar, eu não participarei. Não vou disputar com Alckmin, a quem devo respeito, solidariedade e amizade.

Folha - Deseja ser presidente?
Doria - Do Santos Futebol Clube sou candidatíssimo.

Folha - E do Brasil F.C.?
Doria - Tem que combinar com a CBF, né?

Folha - Parte do PSDB o vê como o forasteiro que não reza muito pela cartilha do partido. Isso o incomoda?
Doria - O PSDB é um partido com grandes cabeças, e todas não têm o mesmo pensamento e nem deveriam ter. É um partido que respeita a democracia, e eu respeito o PSDB.

Folha - Sua oratória contra Lula não se restringe a ele, mas aos seguidores. Não teme alienar mais de 30% do eleitorado que se diz disposto a votar nele?
Doria - Não escondo minhas posturas, principalmente no antagonismo ao PT. Mesmo que isso contrarie uma parte do eleitorado a favor do Lula, faço questão de ficar do outro lado.

Folha - Isso não acirra ânimos num país já tão polarizado?
Doria - Quem acirra os ânimos é o PT e o Lula, ele que gosta de fazer isso.

Folha - Mas se um não quer, dois não brigam.
Doria - Haverá um momento da disputa em que isso será inevitável, por causa do estilo Lula de ser e de fazer campanha. Ele tem uma forma de conduzir principalmente sua vida política que não é suave. Haverá um momento na campanha em que essas circunstâncias serão ainda mais marcadas.

Folha - E o estilo Doria é suave?
Dória - Doce e duro.

Folha - Como pessoa privada, como era sua relação com Lula?
Doria - Nunca foi uma relação afetuosa e simpática, mas ele já esteve num almoço no Lide [grupo empresarial de Doria], no primeiro mandato. A minha posição em relação ao Lula, distante e adversa, é antiga, não foi cultivada agora.

Folha - O ex-presidente disse que "o Doria tem que se provar. Por enquanto, ele não é nada. É só o João trabalhador que não trabalha".
Doria - Lula tem memória curta e seletiva. Minha primeira prova eu já demonstrei: ganhei a eleição do candidato dele no primeiro turno.

Folha - Por falar no ex-prefeito Haddad, sua relação com ele começou amistosa. Agora o sr. vira e mexe o ataca...
Doria - Não vou omitir a verdade. Mas tenho respeito pelo ex-prefeito. É uma das raras pessoas honestas no PT.

Folha - Se não for a Presidência, especula-se que o sr. concorra ao governo do Estado.
Doria - Meu horizonte é continuar sendo um bom prefeito.

Folha - José Serra renunciou após jurar que não o faria, e isso o assombra até hoje. Assinaria um documento dizendo que não fará o mesmo?
Doria - Você deve ser a 37ª pessoa que me lembra disso, e eu pela 37ª vez volto a dizer: sou prefeito eleito para cumprir quatro anos de mandato.

Folha - Pode firmar isso em cartório? Que, mesmo se o "povo quiser", não sai candidato?
Doria - Ainda não tenho a capacidade de ler o futuro, ler o presente já está difícil.

Folha - O sr. era comparado a Donald Trump, outro empresário que apresentou um reality, e agora com o francês Emmanuel Macron. Vê elo com algum?
Doria - Com Macron, sim. Com Trump, não. Respeito ambos. Mas, se tivesse que fazer uma opção, sem hesitação seria o Macron. Ele tem uma postura mais liberal, é inovador, sintonizado com o mundo digital. Trump radicaliza muito o seu discurso.

Folha - O Congresso discute a reforma política. Macron lançou seu próprio partido para virar presidente. Acha que o Brasil ganharia com candidaturas independentes ou de fora do círculo partidário tradicional?
Doria - O movimento na França foi democrático e natural. Não estou certo se no Brasil se aplicaria. Mas, dentro daquilo que a democracia permitir, não vejo mal nenhum.

Folha - Após ir a Emirados Árabes, Qatar, Coreia do Sul e, agora, China, o sr. viajará a Cingapura. Por que tanta Ásia?
Doria - É onde você tem o capital através de fundos, bancos de investimento, fora os investidores direto. E nós vamos em busca de onde o recurso está.

Folha - O sr. estima ter conseguido R$ 10 milhões em doações de empresas chinesas como Huawei. E também as convida para disputar parcerias público-privadas (PPPs). Elas não podem: a) se sentir coagidas a doar, para ter chances numa futura licitação, b) serem privilegiadas em relação a concorrentes?
Doria - Nem coação nem privilégio: doação. O que nós fazemos é propor, eles têm a opção de aceitar ou não. Não há nenhum tipo de constrangimento em que eles não possam dizer não. Mas eu tenho argumentos que proporcionam razoável chance de sucesso. Eu até aqui não ouvi nenhum não em nenhuma das solicitações que fiz.

Folha - Mas se eu sou o prefeito de São Paulo e anuncio uma PPP, chego passando o chapéu, posso fazer a empresa se sentir desconfortável em me negar um pedido.
Doria - No mundo do business isso não existe.

Folha - A China é um 'case' de evolução tecnológica, mas também um país que desrespeita regras básicas da democracia. O sr., que costuma bradar contra "esquerdistas", se sente à vontade em viajar a convite de um governo sob controle do Partido Comunista?
Doria - Não. Na China nós vamos buscar sempre os bons exemplos. O maior parceiro comercial do Brasil, além dos EUA, e exerce um poder de influência na economia do planeta. Você não pode negar nem deixar de estar presente.

Folha - Mas até que ponto a evolução chinesa não se deve à falta de transparência de seu governo, por exemplo, em licitações?
Doria - Sem querer ser impertinente, pergunta para eles.

Folha - Costumam dizer que o sr. é mais marketing do que resultado
Doria - Eu sou marketing e resultado. Tudo que faço é filmado primeiro por um processo de transparência, depois de comunicação. É importante que a população saiba o que seu prefeito faz e pretende fazer. Há os que se sentem incomodados. Eu lamento muito, mas vamos continuar fazendo exatamente o que estamos realizando.

Folha - O sr. visitou cidades como Shenzhen, com os mesmos 12 milhões de habitantes que São Paulo e menos da metade de carros. Já sua gestão é acusada de privilegiar o automóvel.
Dória - Não vamos fazer um programa contra o automóvel, mas a favor de outras formas de transporte. Queremos estimular bastante no Brasil o uso de ônibus elétricos [populares na China], movidos a baterias que não poluem o meio ambiente nem a sonoridade, são mais eficientes e têm maior durabilidade.

Folha - É um tabu mexer no carro do brasileiro? Porque é o que se faz em muitas das grandes cidades do mundo.
Doria - Tabu ou não, nós não vamos fazer nenhuma restrição ao automóvel, vamos estimular opções a ele.

Folha - O sr. nomeou um secretário que é ex-vice-presidente da Cyrella, uma das construtoras donas do terreno do parque Augusta. Isso não causa desconforto?
Doria - Nenhum, é até prova de transparência. Se eu tivesse algum desconforto, não haveria nem razão para nomear [Cláudio Carvalho de Lima, secretário especial de Investimento Social]. Quem não tem nada a atender nem a temer não tem nenhum problema.

Folha - Não dá para viver só de doações. Quais as soluções a médio e longo prazo para equilibrar as contas da prefeitura?
Doria - Temos R$ 7,5 bilhões num rombo orçamentário, não é uma situação confortável. Mas também [a prefeitura] não está quebrada, está sendo administrada. É possível reduzir despesas e aumentar receitas.

Folha - Privatização era um grande tabu, vide a pecha de privateiro colada por anos em FHC. Por que agora seu discurso de vender São Paulo daria certo?
Doria - Não se trata de vender São Paulo, mas de apoiar programas de desestatização. Isso é ser moderno, nunca um governo gordo e ineficiente.

Folha - Sua visita à Coreia do Sul rendeu a polêmica proposta de mudar o nome do Bom Retiro para Bom Retiro Little Seul.
Doria - Não era mudança do nome, era criar, como os americanos usam, um "nickname" [apelido]. Nem faria sentido mudar o nome, aquilo faz parte da memória do bairro, da comunidade judaica que ali se estabeleceu. Era apenas complementarmente, havendo interesse de empresas coreanas em ajudar a revitalizar a área.

Folha - Em sete meses no posto, qual o maior erro que cometeu?
Doria - Ser prefeito é sempre um aprendizado constante. É preciso ter discernimento e humildade sempre para reconhecer erros e, mais do que isso, reagir rapidamente para que sejam superados.

Folha - Mas quais erros?
Doria - O conjunto deles ajuda a crescer e aprimorar.

Folha - O sr. não deu um exemplo.
Doria - Preferia não citar um especificamente. Mas todo dia há aprendizados, pequenos, médios e grandes.
Herculano
30/07/2017 04:26
NUNCA UM GOVERNO GORDO E INEFICIENTE

Conteúdo de O Antagonista.A Folha perguntou a João Doria por que seu discurso de "vender São Paulo daria certo" agora, já que "privatização era um grande tabu, vide a pecha de privateiro colada por anos em FHC".

A resposta é simples:

"Não se trata de vender São Paulo, mas de apoiar programas de desestatização. Isso é ser moderno, nunca um governo gordo e ineficiente."
Herculano
29/07/2017 09:39
TEMER VIROU UM PRISIONEIRO PALACIANO, SEM CONDIÇÕES DE ANDAR PELAS RUAS, por Ronaldo Caiado, médico, pecuarista e senador da República, pelo DEM de Goiás, para o jornal Folha de S. Paulo

Em política, como em tudo o mais, as oportunidades não se repetem. O presidente Michel Temer, lamentavelmente, perdeu a sua.

Quando assumiu, antes mesmo de consumado o impeachment, não soube captar a expectativa de mudança que moveu a sociedade e levou multidões inéditas às ruas de todo o país.

O Brasil pedia uma mudança radical nos padrões morais e administrativos.

Tirar Dilma Rousseff sem remover todo o aparato predatório que a cercava ?"39 ministérios, mais de 100 mil cargos comissionados, além de toda a prática fisiológica da Era PT?" foi trocar seis por meia dúzia.

A população não caiu no engodo.

E eis que, um ano depois, e não por acaso, o presidente Temer exibe a mesma impopularidade que sua antecessora: rejeição de 95% da população. E os motivos são os mesmos: corrupção, má gestão do Orçamento, insensibilidade à agenda da sociedade.

É impossível governar o país cedendo às corporações e ao apetite voraz de uma base parlamentar de 26 partidos. Não há como atendê-los e, simultaneamente, atender às verdadeiras prioridades do país.

Foi, porém, o que o presidente fez desde o início, quando cedeu à pressão corporativa, dando aumento à cúpula dos três Poderes, que, além de desfrutar de estabilidade, aufere os maiores salários do Estado. Enquanto isso, o contingente de desempregados passou de 12 milhões para 14 milhões em um ano.

E o enredo se repete: falta dinheiro até para o combustível dos veículos da Polícia Rodoviária, mas o presidente, cuja prioridade é manter-se no cargo, libera, em menos de um mês, nada menos que R$ 3,8 bilhões em emendas parlamentares.

Precisa afagar sua base para rejeitar a denúncia de corrupção passiva da Procuradoria-Geral da República.

Até nisso, lembra os dias finais de Dilma, quando Lula fez-se operador da presidente, distribuindo verbas e cargos, na tentativa de impedir o impeachment. Se Temer tivesse assumido a agenda da sociedade, teria a legitimidade que só ela é capaz de proporcionar. Optou, porém, por outra maioria: a congressual.

E selou o seu destino. Sem dinheiro em caixa para as concessões que continua fazendo, compromete o único segmento que ainda exibia resultados razoáveis: a economia. Já não exibe, e isso o leva a ações nefastas, como as mais recentes.

Em uma, pressionou o STF a que restabelecesse as contribuições do Funrural, punindo o agronegócio, setor sustentáculo da economia; em outra, aumentou impostos.

Não conseguindo cumprir a meta orçamentária de 2017 ?"um deficit de R$ 139 bilhões?", aumentou o PIS e o Cofins dos combustíveis, desprezando o prazo legal de 90 dias para que entrasse em vigor.

Mais uma vez, o povo paga a conta, sem a garantia de que ela será efetivamente paga, já que o governo não descarta novos aumentos de impostos.

O presidente não percebeu que, para impor sacrifícios ao povo, carece de autoridade moral. Ao optar pela maioria congressual, tornou-se refém de sua base. Não cumpriu o compromisso de enxugar a Esplanada dos Ministérios, reduzindo-a a 15 pastas, ocupadas por gente qualificada moral e tecnicamente. Manteve a máquina inchada e aparelhada.

A excelência que buscou na área econômica comprometeu-a com a desqualificação de seu entorno político, em grande parte investigada na Lava Jato.

O resultado aí está: denunciado pela PGR por corrupção passiva e associado a figuras execráveis como os irmãos Batista, tornou-se um prisioneiro palaciano, sem condições de andar pelas ruas do país.

A resposta virá pelas urnas, se o povo tiver paciência de aguardá-las. Infelizmente, 2018 está muito longe
Herculano
29/07/2017 09:36
MEIRELLES RICO

A esquerda do atraso descobriu que o ex-banqueiro e investidor Henrique Meireles, hoje ministro da Fazenda do Brasil é rico. Queria que ele fosse falido para assim falir também o Brasil? Queria que ele fosse um pobre e como todos do PT e da esquerda do atraso roubassem os brasileiros para ficar rico como fizeram e eles e alguns deles estão tendo que explicar ou devolver o que surrupiaram dos nossos pesados impostos?
Herculano
29/07/2017 09:29
PROCURADOR CONTA: JOESLEY SUBIU O SAIOTE, EXIBIU O TORNEOZELO, E JANOT AGIU COM "TESON Y VOLUNTAD", por Reinaldo Azevedo, na Rede TV

Carlos Fernando, procurador da República, braço esquerda e mais destrambelhado de Deltan Dallagnol na Lava-Jato, concedeu uma entrevista à Folha. Já deveria ter comentado. Felizmente, tenho coisas mais urgentes a fazer, o que não quer dizer que vá me dispensar do que considero ser uma tarefa civilizatória. Não há nada de errado com as perguntas feitas por Fábio Zanini e Wálter Nunes. O que choca são as respostas do doutor. Para lembrar: é aquele senhor que resolveu contestar as evidências de que Deltan ingressou no MPF contra o que dispunha a me xingando de velhaco e de cachorro. A entrevista evidencia que a cultura jurídica do doutor não suporta muito mais do que a ofensa.

De mais notável em suas considerações, há o fato de que ele admite que a patuscada armada pela Procuradoria Geral da República com Joesley Batista causou danos à imagem da Lava Jato. Mas, diz o doutor, ele faria o mesmo. E usou, Santo Deus!, uma estranha metáfora sexual para se referir à relação entre Joesley Batista e Rodrigo Janot. Como diria o procurador-geral, só de pensa fiquei "nauseado", "vomitei três vezes".

Segue a entrevista e o respectivo comentário. A coleção de bobagens do procurador é assombrosa. Percebo que nem mesmo sabe o que quer dizer "indício"

Folha ?" O sr. passou a se manifestar de forma mais enfática nas redes sociais, inclusive em temas políticos. Por quê?
Carlos Fernando ?" Nós mudamos um pouco a forma de fazer a comunicação. No começo, falávamos da nossa investigação em Curitiba e tínhamos até restrição do CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público]. Agora, estamos falando sobre o geral, a corrupção como fenômeno. O que descobrimos é que o sistema do PT é orgânico, por isso prendemos tantos tesoureiros. Lá [refere-se ao governo Temer] é a mesma coisa, mas um modo de atuação diferente, de forma mais atomizada, baseada em caciques. Uma das coisas que me deixa mais indignado são os falsos apoiadores. O exemplo é o [senador peemedebista Romero] Jucá fazendo coraçõezinhos nas manifestações pró-Lava Jato na avenida Paulista.
COMENTÁRIO. É evidente que o sr. Carlos Fernando está fazendo o que não pode fazer: comentando a investigação. Não! Ele não tem essa prerrogativa. O que vai acima nada tem a ver com o trabalho de quem tem de investigar, de produzir provas para, então, oferecer a denúncia. O que se lê ali é uma tese. Quem "fala sobre o geral", a "corrupção como fenômeno", são os estudiosos, os jornalistas, os políticos. Não é tarefa de procurador. Note-se que, na verdade, ele fala como juiz.

A reação à Lava Jato mudou?
[Hoje] É mais sofisticada, baseada na política. Na destruição das Dez Medidas [propostas da força-tarefa contra a corrupção], na tentativa de aprovar leis. Há um sufocamento econômico da Lava Jato. Não há como negar que a PF sofreu isso.
COMENTÁRIO Jamais alguém disse tanta inverdade com tão poucas palavras.:
- quatro das dez medidas eram fascistas (quase extinção do habeas corpus, ampliação absurdamente abusiva das possibilidades de prisão preventiva, teste aleatório de honestidade e admissão em juízo de provas ilícitas);
- o projeto que muda a lei que pune abuso de autoridade é bom e não toca nas faces rosadas da Lava Jato;
?" sufocamento econômico uma ova! Que o doutor diga o que está faltando à operação.
Ademais, deve é estrar sobrando recursos ao MPF, não?, ou o Conselho não teria aprovado um reajuste para aos procuradores de mais de 13%. Carlos Fernando já protestou?

Como o sr. vê a relação atual entre PF e Procuradoria?
A relação sempre foi conturbada pelos limites de cada competência. Procuramos deixar essas questões em segundo plano. Quando há uma crise a gente chama uma reunião, sentamos e conversamos. Infelizmente existem momentos em que você não consegue superar isso. Por exemplo, colaborações. Nós entendemos que só o Ministério Público pode fazer acordos. É constitucional, não podemos abrir mão.
COMENTÁRIO Carlos Fernando é um fanfarrão! É sobre Constituição que ele quer falar? Que tal indicar, então, em que parte da Carta está escrito que o Ministério Público Federal deve exercer papel de polícia, como exerce hoje. Se a Carta for cumprida, os doutores têm de parar de fazer investigações. A verdade que é o MPF reivindica hoje a condição de Poder dos Poderes.

Houve recente relatório da PF sobre o áudio do [ex-senador] Sergio Machado que não viu obstrução por peemedebistas.
Cada instituição deve se ater à sua atribuição. Nesse caso eu vou ser bem crítico. Não cabe a um delegado fazer considerações sobre a delação, essa é uma atribuição nossa, e a homologação é do juiz. Qual a vantagem para um delegado fazer isso? Acirrar uma briga institucional à toa. Só serve para a defesa.
COMENTÁRIO Esse rapaz é um pândego. Procurem no Artigo 129 da Constituição onde está escrito que cabe ao Ministério Público se comportar como polícia. Essa é mais uma das prerrogativas que o MPF outorgou a si mesmo. Se não cabe a um delegado fazer comentários sobre delação, como quer Carlos Fernando, onde está escrito que lhe cabe fazer investigação? Na votação da PEC 37, que especificava e limitava os poderes do órgão, os senhores procuradores conseguiram fazer tal alarido que o texto foi rejeitado na Câmara por esmagadora maioria. Os políticos acharam que, assim, os procuradores teriam por eles um pouco mais de consideração. Não há o menor risco de isso acontecer justamente porque, hoje, eles disputam o poder.

Ah, sim: no caso em tela, a Polícia Federal só constatou, ao encerrar o inquérito, que os peemedebistas não havia obstruído a investigação, como qualquer um podia constatar ouvindo as gravações.

Outro revés foi a decisão do TRF-4 de absolver Vaccari [ex-tesoureiro do PT].
É mais grave. Existem provas [contra Vaccari]. Dizer que inexistem é um equívoco dos juízes. O que eles poderiam dizer é que não foram convencidos. Nossa tradição jurídica diz que indícios veementes são suficientes para condenar. No caso do Vaccari, ele não usa métodos bancários, ele usa a mochilinha. Você vai ter produção do dinheiro pela empresa, fotografia dele entrando. Isso tudo são indícios que corroboram o depoimento de um colaborador. Dizer que não há provas é desconsiderar isso, porque indícios no Brasil são provas.
COMENTÁRIO Vejam Carlos Fernando a fazer o que ele disse que não faz e reconhece que não pode: está a discutir o processo e ousa dar bronca em juízes. Eu posso fazê-lo. Você pode fazê-lo. Ele não! Suas considerações sobre indícios são toscas. Com efeito, encontra-se o seguinte no Artigo 239 do Código de Processo Penal: "CONSIDERA-SE INDÍCIO A CIRCUNSTÂNCIA CONHECIDA E PROVADA, QUE, TENDO RELAÇÃO COM O FATO, AUTORIZE, POR INDUÇÃO, CONCLUIR-SE A EXISTÊNCIA DE OUTRA OU OUTRAS CIRCUNSTÂNCIAS." O indício é a circunstância CONHECIDA E PROVADA que tem relação com o fato investigado e permite que se conclua que há outras circunstâncias. Como é? Então um ou mais delatores dizem que Vaccari carregava propina na mochila, e o MPF apresenta foto do ex-tesoureiro do PT carregando uma mochila, e isso basta para que se conclua que, dentro dela, havia dinheiro de propina? Ah, eu não tenho dúvida de que Vaccari era um dos homens da grana do PT. Mas como é que o TRF iria condená-lo com uma prova porca como essa? Isso não é indício, é feitiçaria.

Muitos no meio jurídico discordam, dizem que indício é indício, prova é prova.
Não é assim nossa tradição. Nossa jurisprudência é de que indícios convergentes e diversos são suficientes para condenação. Não está dizendo que precisa de uma prova no sentido clássico, de divisão entre indícios e provas. Agora, sempre vai ter o jurista de plantão, o advogado de criminalista defendendo as teses.
COMENTÁRIO Faço aqui um ajuste ao registro dos entrevistadores. Não se trata de indagar se indício é prova ou não. O indício tem de ser uma situação CONHECIDA E PROVADA que guarde relação com o caso e induza a uma conclusão em favor da denúncia. Aquilo a que Carlos Fernando chama "nossa tradição" é só uma invenção da sua turma. De resto, se o indício se choca com a realidade material do caso, ou indício não é, ou se desqualifica a realidade material. Essa coexistência é impossível. Esse cara fala o que dá na telha.

Lembremos aqui, claro!, do tríplex que seria de Lula e da batata quente que o MPF, por intermédio de Sérgio Moro, largou no colo do TRF4. Os "indícios", segundo os procuradores (e com a concordância do juiz), apontam que o imóvel pertence ao ex-presidente. Muito bem! Para que eles se sobreponham aos documentos de fé pública que atestam que o apartamento é propriedade da OAS, tais documentos deveriam ter sido desqualificados. Não foram. Mais: a denúncia do MPF aponta que o dito-cujo seria fruto de propina de três contratos. Os procuradores não apresentaram essa evidência. Prefeririam apontar como "indício" o fato de que Lula era, afinal, o responsável pela nomeação dos diretores da Petrobras.

O que fará o TRF4? Não sei. Mas estamos, em matéria penal, diante de mais um trabalho porco, malfeito, da acusação. Até acho que Lula é dono do tríplex, como deve ser mais ou menos dono de muita coisa, dado que o PT não distingue o público do privado. Mas esse é outro assunto, e, quando menos, essa investigação é outra e corre no Supremo. A verdade é que o MPF de Carlos Fernando e amiguinhos trabalhou mal, fez serviço de quinta categoria. E Moro só não absolveu Lula porque, afinal, tem de honrar também a personagem.

Qual o risco de a condenação do Lula ser derrubada no TRF como no caso Vaccari?
Qualquer que seja o processo sempre vai ser arriscado. Mais arriscado nem é o mérito, mas uma daquelas bobagens que plantam durante o processo para virar nulidade num escalão superior. Na nossa tradição, advogado não lida com o mérito, sempre luta pela nulidade.
Bem, dizer o quê? Um sujeito que desrespeita o decoro que seria próprio a um procurador não iria ser decoroso com os advogados de defesa. O doutor se esquece de que estes só existem nas democracias. Já os Carlos Fernandos são frequentes nas ditaduras. Observem que aqueles que contraditam o MPF, na sua cabeça, só podem fazê-lo por "bobagens". Logo, se os desembargadores do TFR4 fizerem o que ele não quer, estarão fazendo? bobagem!

É o momento de maior contestação da Lava Jato?
Temos dois fenômenos: a partir do momento em que as investigações passaram para o PMDB, as pessoas perguntaram: espera aí, não é só o PT? Começamos a explicar que não é uma questão partidária, é uma questão de crime. E segundo, a JBS, que realmente em termos de comunicação foi muito complicado para o Ministério Público. O acordo é muito mal compreendido pela população. Isso é um erro nosso. Seja porque o benefício talvez tenha sido deferido de uma forma muito leniente, seja porque [o MP] não se preparou adequadamente para comunicar.
COMENTÁRIO Nunca ninguém disse que a corrupção no Brasil era monopólio do PT. Isso é uma farsa. Incompreensível é que o MPF tenha negado a centralidade do PT no esquema criminoso e posto, em seu lugar, ora vejam!, Michel Temer e Aécio Neves. Quem, com um mínimo de discernimento, acreditaria que esses dois políticos exerciam tal papel? Ele diz que os benefícios "talvez" tenham sido excessivos? Talvez??? Ora, trata-se apenas do benefício absoluto: a imunidade como sinônimo da impunidade. Não pode ter boa explicação o que é inexplicável, a menos que uma agenda secreta, desconhecida dos brasileiros, esteja em curso. As evidências de que se agiu de forma deliberada para derrubar Michel Temer são abundantes. Olhem: se eu tivesse a concepção que tem Carlos Fernando dos "indícios", Rodrigo Janot deveria ir para a cadeia, depois de devidamente condenado por golpismo.

O benefício foi excessivo?
Eu faria o acordo? Faria, se eu estivesse na mesa [negociando]. O material é mais do que suficiente. O problema é o quanto você quer o acordo e em quanto tempo. É mais ou menos como o relacionamento amoroso. Você deseja muito uma pessoa e a pessoa percebe. Ela passa a exigir, dizer: eu quero só casamento.
COMENTÁRIO Xiii? Ele desconfia que pode ser excessivo, mas faria o mesmo. E recorre a uma metáfora de caráter sexual. QUE NOJO! Deixem-me ver se entendi. Janot não podia ver Joesley, e sua excitação cívica logo se fazia notar. O próprio Janot afirmou, em palestra em Washington, que o outro provocava a sua libido de denunciador com trechos de gravações. Eu tinha recorrido a uma imagem menos sensual para tratar dessa relação: Joesley estava para Pavlov como Janot para o cachorro babão. Segundo Carlos Fernando, a coisa foi diferente: o açougueiro de casaca ficava mostrando o tornozelo para Janot, depois a panturrilha, depois o joelho? E o procurador-geral ali, querendo tudo, com "tesón y voluntad", como se diria em espanhol. Joesley, à moda das moças casadoiras, fazia, então, sua "coquetterie", e Janot loucão? Um dia ele gritou: "Eu caso, eu caso?" Era a hora do filé mignon. E se criou, então, o casal "J&J": Janot e Joesley!

Que modo edificante de ver as coisas! Joesley é do tipo que só se casa com comunhão de bens ?" alheios, claro! Ah, sim: a concepção que Carlos Fernando tem dos relacionamentos amorosos só não é pior do que a concepção que tem de direito.

Faltou ser mais blasé?
Exatamente. É o truque. Faltou um pouco disso. E depois ter uma percepção clara de como a população encaras as coisas. Você [Joesley] vai para Nova York? Não, você não vai. Desculpe, você não vai ser filmado.
COMENTÁRIO Huuummm? Malandrinho! Você, que já sonhou em dar em cima de Carlos Fernando; você, que não consegue resistir àquele coquetel de charme, virilidade e picardia, bem, saiba: se ele estiver na linha "nem te ligo"; se estiver, como diz um amigo gay, "fazendo a egípcia", saiba: ele estará escondendo o jogo.

Ah, sim: ele acha, também, que não se cuidou direito do marketing da coisa. Era para enganar os trouxas, e tudo acabou ficando às claras?

Se o sr. estivesse negociando, teria ido com mais calma?
Eu falo isso, mas tenho respeito muito grande pela mesa [os negociadores da PGR]. A mesa é que sabe as suas próprias circunstâncias.
COMENTÁRIO Eu continua a achar que tudo depende de "teson y voluntad".

Houve dano à Lava Jato?
Houve um dano de imagem a toda a investigação, que contamina tudo. De repente, aqui no Paraná, nos vimos tendo que responder sobre isso.
COMENTÁRIO Que absurdo, não?, terem de responder "sobre isso". Ora, se o doutor admite que se tornou um pensador da corrupção, por que não haveriam de lhe fazer perguntas?

Outro ponto polêmico é o do Marcelo Miller [procurador que foi contratado pelo escritório de advocacia que representa a JBS].
Até onde eu sei ele não participou do acordo. Mas realmente é outro problema que deveria ter sido percebido. [?] Esse era um caso para que houvesse esse tipo de questionamento, e não era conveniente que ele participasse. Teria sido uma decisão acertada se ele tivesse se negado a fazer.
Que coisa! Miller era braço-direito de Janot, deixou o MPF e, três dias depois, estava trabalhando no escritório que cuidava do acordo de leniência da J&F, sem obedecer à quarentena, que é de três anos. Atenção! Trabalhando no escritório e no caso. Mas notem como ele é respeitoso com Miller? Já com os advogados de defesa?

Voltando à sua atuação nas redes sociais, há uma proibição de que procurador se manifeste?
Eu sou proibido de me manifestar sobre os processos. [?] Estou falando de um problema político como cidadão. Estou exercendo meu direito. Não posso ser castrado.
COMENTÁRIO Vale dizer! É proibido fazer o que faz nesta entrevista. Essa divisão entre o procurador e o cidadão é uma farsa. Até porque o doutor goza dos benefícios de ser membro do MPF, incluindo a segurança, 24 horas por dia.

O procurador que manifesta posição na rede social tem isenção para investigar?
Se eu estivesse fazendo consideração político-partidária, eu estaria realmente vinculado a certos posicionamentos. Se você defende princípios que estão na Constituição, esse argumento é absurdo. Eu vou falar. Não posso deixar de falar. Eu tenho uma obrigação de falar.
COMENTÁRIO Ainda que assim fosse, quem disse que a militância político-partidária é a única vedada a procuradores? Uma ova! Eles também não podem sair por aí a condenar pessoas que, muitas vezes, nem mesmo são oficialmente investigadas. E Carlos Fernando faz isso. E Deltan Dallagnol faz isso. E Janot faz isso.

A Lava Jato vai até onde?
Aqui no Paraná está na meia idade caminhando para a velhice. As investigações acabam por dois motivos: porque o assunto se esgotou ou porque não existem recursos mais para você trabalhar. Creio que temos os dois fenômenos. Estamos caminhando para o esgotamento do assunto Petrobras. Mas também estamos sofrendo com falta de recursos. Estamos ficando velhos e com reumatismo.
COMENTÁRIO O pensamento lógico de Carlos Fernando é pior do que as suas concepções de direito e de amor. Como é? As investigações morrem ou porque o assunto se esgotou ou porque faltam recursos? E ele diz que, no caso, acontecem as duas coisas, é isso? Ora, mas se já não motivos, por que deveria haver recursos? Para financiar o nada?

Essa entrevista explica muita coisa. Eis a cabeça de um dos homens mais poderosos da República.

OS: A imagem de Joesley erguendo a saiotinho para mostrar o tornozelo a Janot vai povoar meus pesadelos.
Herculano
29/07/2017 09:02
LÍDER DAS BANCADAS DO BIFE, TEMER NÃO CAI POR CAUSA DE SUA HEGEMONIA, por Mário Ségio Conti, no jornal Folha de S. Paulo

Por que o presidente não cai? Motivo haveria: flagrantes gráficos de patifarias, com áudio e vídeos sulfúricos; aumento de impostos; 13,5 milhões de desocupados; destruição de direitos de quem trabalha; degradação do Estado; índices de rejeição jamais vistos.

Drácula mal pode sair da tumba planaltina, tal o desprezo que inspira. Para as câmeras, insiste na burlesca dança de dedos, na retórica ridícula de rábula provinciano, no esgar de autossatisfação demente. Sorrindo, oferece mais do mesmo infortúnio. E não cai. Por quê?

Porque ele é um hegemon, palavra que nem o Aurélio nem o Houaiss registram. Um caminho suave para entender o seu significado é "The H-Word", fascinante exercício de filologia histórica que acaba de ser publicado no Reino Unido.

O livro de Perry Anderson capta o nascimento da noção de hegemonia e a acompanha por nove culturas, da Grécia do século 5º a.C. à China de hoje. O Brasil aparece numa só frase, que fala de "financeirização, especulação patrimonial e mania por produtos de luxo".

Estudar a hegemonia não é futilidade de eruditos, ainda que o livro seja farto ?"mas fluido?" em referências históricas, filosóficas e políticas, feitas em meia dúzia de idiomas. Anderson descobriu que "hegemonia" aparece no título de cinco livros lançados nos anos 1960.

A progressão foi geométrica desde então. Na década seguinte, foram 16 títulos. Na primeira década e meia do século 21, surgiram 161 livros com hegemonia na capa.

Criado por Aristóteles, o conceito cada vez mais se aplica ao mundo atual.

No Ocidente, ele originalmente serviu para descrever a aliança de cidades-estados gregas contra a invasão persa. Uma entre elas era escolhida para o papel de líder, a hegemonia ?"a liderança baseada no consentimento e no consenso.

O caráter militar da aliança fez com que a concordância derivasse para o exercício da autoridade: na guerra, ordens são ordens. E havia a hegemonia interna às cidades, oscilando entre democracia e ditadura. Uma coisa era o hegemon ser de Atenas; outra, de Esparta.

Há uma continuidade entre convencimento e coerção. Entre a escolha do mais capacitado para ser hegemon e a força que ele aplica para submeter os recalcitrantes. De Confúcio a Maquiavel e a Gramsci, os teóricos da hegemonia registram a ambivalência.

Veja-se o domínio americano. Ele é "hard power" porque os EUA detém o maior poder militar do mundo. É "soft power" porque Hollywood, seriados, hip-pop & rap, jogos eletrônicos, modas e modos de vida são cobiçados globalmente (e ambos os poderes desembocam na expansão do capital).

A China foi o único país do mundo que teve a hegemonia como pedra angular da sua política, a ponto de Mao botá-la na Constituição. Foi ele quem definiu que o país deveria liderar a aliança contra os Estados Unidos e a União Soviética. Deveria ser hegemônica entre os pobres.

Tal sentido foi sepultado pelas reformas capitalistas que vieram depois. A China não quer mais hegemonia. Quer ter poder em todo o mundo. Pela primeira vez no comércio entre os países, no ano passado a China comprou 25% de todas as exportações brasileiras, quase tudo em matérias primas ?"soja, minério de ferro, petróleo.

Há apenas dez anos, os Estados Unidos eram nosso maior comprador. Hoje é a China. É simplismo, pois, ficar deblaterando contra o imperialismo ianque, ainda que ele exerça o poder incontrastável sobre nós. Porque o mundo e o Brasil ficaram mais complexos.

A hegemonia de Temer é produto dessa nova configuração. Ele é líder das bancadas do bife, da bala e da Bíblia. Ou seja, expressa as necessidades do agronegócio, da indústria do armamento e das igrejas-empresas evangélicas.

Talvez até dos interesses do Partido Comunista da China. Aliás: os Brics não fizeram nada contra a derrubada de Dilma.
Herculano
29/07/2017 08:57
A REDUÇÃO DO DESEMPREGO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

Ainda que muitos estejam na informalidade, mais brasileiros estão encontrando uma fonte regular de rendimento. É mais estímulo para a produção e o consumo

O mercado de trabalho, que sempre reage lentamente à retomada da atividade econômica, vem mostrando uma animadora recuperação nos últimos meses. A taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) caiu de 13,7% para 13,0% entre o primeiro e o segundo trimestres de 2017. Trata-se, como lembrou o IBGE, do primeiro recuo estatisticamente relevante do desemprego ?" queda de 0,7 ponto porcentual ?" desde o fim de 2014, quando eclodiu a crise provocada pela desastrosa política econômica do governo Dilma Rousseff.

Do fim do primeiro mandato presidencial de Dilma até os três primeiros meses deste ano, de fato, o desemprego vinha crescendo de maneira ininterrupta, até alcançar seu auge no período janeiro-março. De abrangência nacional, a Pnad Contínua é divulgada mensalmente e mostra as flutuações do mercado de trabalho nos três meses anteriores ao da data de divulgação. No trimestre móvel encerrado em abril, o desemprego havia caído para 13,6%; no encerrado em maio, para 13,3%. O dado mais recente acentua a tendência de queda.

No segundo trimestre do ano, 1,289 milhão de brasileiros encontraram uma ocupação, elevando para 90,2 milhões a população empregada. A população desocupada, de sua parte, diminuiu 4,9% em relação ao trimestre móvel anterior, na primeira redução do total de desempregados desde o último trimestre de 2014. O rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas no segundo trimestre de 2017, de R$ 2.104, ficou praticamente estável na comparação com o do primeiro trimestre (R$ 2.125) e com o de igual período de 2016 (R$ 2.043). Também a massa de rendimento real habitual ficou estável nessas comparações.

A reação do emprego na indústria, segmento mais afetado pela crise, também é um dado relevante da Pnad Contínua. A indústria foi um dos setores que mais contrataram, com a abertura de 375 mil postos de trabalho na comparação com o total empregado no primeiro trimestre deste ano. Esses são, em geral, empregos que exigem melhor qualificação dos trabalhadores e oferecem remuneração mais alta do que a dos demais setores da economia e melhores condições de trabalho.

Analistas do comportamento do mercado já veem nesses números uma indicação de que, pelo fato de o emprego reagir tardiamente à atividade econômica, a recessão está chegando ao fim. A comparação com outros dados sobre produção e vendas poderia fortalecer essa interpretação. O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, no entanto, vê os dados da Pnad Contínua do segundo trimestre com mais cautela.

Há motivos para a precaução do técnico do IBGE. Apesar de expressivo, o aumento do número de ocupados no segundo trimestre ainda é insuficiente para compensar o que se perdeu em um ano. Os dados mostram alguma força do mercado de trabalho, mas ainda insuficiente para caracterizar a recuperação. O total ocupado é 0,6% menor do que o de um ano antes, o que significa 562 mil vagas a menos. A construção, com o corte de 683 mil postos de trabalho em um ano, é um dos principais responsáveis pelos resultados negativos apurados pela Pnad Contínua.

A preservação da renda real, de sua parte, é assegurada mais pela queda brusca da inflação nos últimos meses do que pela efetiva recuperação dos rendimentos dos trabalhadores ocupados. A qualidade média da ocupação caiu, visto que, em um ano, o País perdeu 1,093 milhão de vagas com carteira assinada. Os ganhos em termos de ocupação foram assegurados pelo aumento de 5,4% do emprego sem carteira assinada no setor privado em um ano. A deterioração do mercado de trabalho em termos de qualidade da ocupação tem impacto fiscal, visto que o emprego informal não recolhe impostos e contribuições.

A despeito dessas restrições, é inegável que, ainda que muitos estejam na informalidade, mais brasileiros estão encontrando uma fonte regular de rendimento com que não contavam até há algum tempo. É mais estímulo para a produção e o consumo.
Herculano
29/07/2017 08:54
EX-PRESIDENTE LULA CULTIVA O PRAGMATISMO EM GRAU MÁXIMO

"Eles vão perceber que não dá para nadar teoricamente. Entra na água e vai nadar, porra". Isso aí, o trecho da entrevista consagrado às "frescuras do PSOL" (Folha, 20/7), é puro Lula. O ex-presidente cultiva o pragmatismo em grau máximo, devotando solene desprezo tanto à ideologia quanto a valores e princípios. Foi assim que ele nadou ?"e, no percurso, afogou a esquerda brasileira.

Lula, o Pragmático, opera segundo as circunstâncias. No primeiro mandato, diante das desconfianças do mercado, conservou-se fiel à política econômica ortodoxa herdada de FHC, completando-a com a política social de agressivas transferências de renda, que se destinava a enraizar o lulopetismo no eleitorado pobre. A fórmula bifronte seguia as receitas do Banco Mundial. Não era "de esquerda" e nem mesmo social-democrata. Mas a esquerda brasileira, um organismo lulodependente, celebrou-a como uma revolução de emancipação popular. "Quando Lula fala, o mundo se ilumina", disse Marilena Chaui.

O sucesso do primeiro movimento, associado à evolução do ciclo internacional de commodities e ao trauma político da crise do "mensalão", provocou a substituição da fórmula econômica. O nado peito, lento e constante, deu lugar ao esforço extremo do nado borboleta. No segundo mandato, Lula convocou Guido Mantega et caterva para soldar uma santa aliança entre o Estado e o alto empresariado. Configurou-se, ali, o capitalismo de Estado lulopetista, uma versão modernizada do programa econômico moldado por Vargas e, mais tarde, aprofundado por Geisel.

"Quando Lula fala...". A esquerda interpretou a mudança como a revolução verdadeira: uma aurora de ruptura. Dilma, a sucessora indicada pelo "dedazo", tingiu a escolha pragmática com as tintas de suas obsessões ideológicas. Do teclado irresponsável de seus assessores econômicos nasceu a expressão "Nova Matriz Macroeconômica". Eike Batista definiu o BNDES como o "melhor banco de investimento do mundo", uma opinião certamente compartilhada por Marcelo Odebrecht e Joesley Batista.

A história da ascensão e declínio do capitalismo de Estado lulopetista é contada em dois registros diferentes, mas complementares. A narrativa econômica de uma depressão mais funda que a dos anos 30 evidencia o curto horizonte do nado borboleta. A narrativa policial e judicial da Lava Jato ilumina uma falência ética calamitosa. Lula, o pragmático oportunista, foge das implicações de ambas, escondendo-se atrás da pobre Dilma, no caso da primeira, e desviando os holofotes para o PT, um de seus sacos de pancada prediletos, no caso da segunda. O gato de sete vidas continua à tona, apoiando-se nos cadáveres que boiam ao seu redor para não afundar.

Luiza Erundina reclamou das críticas lulistas ao PSOL, instando o ex-presidente a atacar os "parceiros de direita que o traíram". Mas ninguém traiu Lula. O PMDB, tão pragmático como ele, foi fiel a si mesmo, agarrando-se ao mastro do poder. Marcelo Odebrecht resistiu o quanto pôde, até o chão afundar. Já Joesley Batista mantém a antiga parceria, selecionando politicamente os alvos prioritários de sua delação. O que Erundina recusa-se a enxergar são os frutos podres de uma política econômica que forma o denominador comum da esquerda brasileira.

A pátria de Lula é Lula, e nenhuma outra. Ele calcula o que fala ?"e fala exclusivamente aquilo que interessa à sua carreira política. Mas, num ponto específico, tem razão: "não dá para nadar teoricamente". O PSOL, alternativa esquerdista a um PT dizimado pelo lulismo, repete incansavelmente as orações ideológicas de uma bíblia encanecida e ajoelha-se diante das lápides de seus estimados tiranos, que se chamam Castro, Che ou Chávez. O legado de Lula é uma esquerda prostrada, de olhos fixos no passado. Do ponto de vista da nossa democracia, eis um desastre ainda maior que os outros.
Herculano
29/07/2017 08:50
EX-BB E PETROBRAS, BENDINE ERA 'HOMEM DE DILMA', por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Tratado por "Dida" pelos amigos mais íntimos, como Dilma Rousseff, Aldemir Bendine assumiu a presidência da Petrobras cheio de moral: a própria ex-presidente o anunciou para o cargo como alguém capaz de "resolver o problema" da estatal dilapidada nos governos do PT. Na ocasião, a operação Lava Jato estava em curso havia 11 meses, e já havia revelado grande parte da extensão do roubo bilionário na estatal.

BENDINE E PT, TUDO A VER
Ao escolher Bendine, no Alvorada, em reunião que varou a madrugada, Dilma fixou-se em seu nome "palatável ao PT" e ao mercado.

DILMA GOSTA DELE
Bendine não era tão "palatável". Quando alguém queria saber por que foi o escolhido, ministros tinham única resposta: "Dilma gosta dele".

JÁ FOI ENROLADO
No BB, o sedutor Bendine financiou um Porsche para a amiga íntima Val Marchiori. E levou Daniela Mercury para festa no banco.

ATUAÇÃO AGRESSIVA
Anunciado por Dilma como "salvador" da Petrobras, Bendine acabaria conhecido por sua atuação considerada "agressiva" nos negócios.

'FATOS NOVOS' FORAM MAIS FAVORÁVEIS AO GOVERNO
Enquanto a oposição torce para que a Procuradoria-Geral da República apresente "fatos novos" para convencer deputados a votarem a favor da denúncia contra Michel Temer, o recesso acabou com "fatos novos" apenas favoráveis ao presidente. Além da menor inflação dos últimos 10 anos e juros de um dígito pela primeira desde 2013, a redução do desemprego ajudam na tentativa de Temer de escapar da denúncia.

#PARTIURECESSO
Além dos indicadores da economia favoráveis, Temer contou com a desarticulação da oposição, que "vazou" de Brasília no recesso.

NA CAÇA A DEPUTADOS
Para entrevistar os oposicionistas de sempre, em defesa da denúncia da PGR, emissoras de TV tiveram de recorrer a imagens pela internet.

480 DEPUTADOS
O presidente da Câmara soterrou a esperança da oposição de negar quórum à votação de quarta. "Teremos 480", apostou Rodrigo Maia.

INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA
Os cariocas ficaram felizes com o Exército atuando na segurança pública no Rio de Janeiro. Mas especialistas militares advertem que apenas a tropa não resolverá o problema, sem atuação integrada de todos os órgãos nos âmbitos federal, estadual e municipal.

HÁ QUEM GOSTE
Aprovação do jeito de governar do presidente Michel Temer dobra de 11% para 22% entre as famílias com renda acima de cinco salários mínimos. E no interior a confiança no presidente sobe de 7% para 11%.

ESTOCANDO VENTO
Dilma fez sua melhor expressão de anta para reclamar da intimação para depor na ação de corrupção contra Gleisi Hoffmann (PT-PR). Ela parecia não saber que foi intimada a pedido da própria Gleisi.

I LOVE ETHANOL BY USA
O ministro Fernando Filho (Minas e Energia) continua alheio ao drama de produtores nordestinos de etanol, diante da concorrência predatória de distribuidores, inclusive americanos, que importam álcool podre dos EUA com imposto zero. O ministro tem certa queda por termelétricas.

SEM Dó DO ERÁRIO
Os adversários do ministro Helder Barbalho (Integração), um dos recordistas em viagens com jatinhos da FAB, garantem que teve como destino o Pará, a maior parte dos seus espantosos 90 voos em 2017.

BRASIL A VER NAVIOS
A empresa Advanced Marine Services terá que ir à Justiça para ficar com as 4 toneladas de ouro brasileiro, avaliadas em R$400 milhões, se estiverem no navio nazista afundado perto da Islândia, que a empresa achou. A única certeza é que o ouro não será devolvido ao Brasil.

CHIFRES PESAM
Um morador da cidade de Cáceres (MT) decidiu procurar a delegacia porque "não aguenta mais tomar chifre na cabeça". O Boletim de Ocorrência foi registrado na Delegacia de Polícia do município.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
O sistema Watson, da gigante IBM, é aposta de empresas brasileiras, como Bradesco e SulAmérica. O sistema usa inteligência artificial para responder questões e fazer análise prévia para tomada de decisões.

PERGUNTA NO TRIBUNAL
A denúncia sobre uso de aplicativos que destroem mensagens significa que será obrigatório produzir e acumular provas contra si mesmo?
Herculano
29/07/2017 08:47
ESTABILIDADE N O SERVIÇO PÚBLICO DEVERIA SER REVISTA. ESTRUTURA INADEQUADA DE INCENTIVOS, por Nelson Marconi, professor de macroeconomia da FVG-SP, para o jornal Folha de S. Paulo

A estabilidade dos servidores foi criada com o intuito de protegê-los de pressões e arbitrariedades políticas que poderiam restringir a sua atuação ou levar à demissão em virtude de orientações profissionais ou políticas.

Dois exemplos para justificá-la são clássicos: o servidor pode ser pressionado para executar uma atividade, sob uma determinada orientação, que fere os interesses públicos ou ser demitido para dar lugar a um correligionário de algum governante.

Em ambas as situações, justifica-se a criação de um mecanismo que proteja os servidores de forma adequada. A estabilidade, entretanto, pode ter efeitos negativos: a acomodação e o desempenho insuficiente (ainda que esse não pareça ser o caso geral).

Como solucionar esse impasse? A reforma constitucional de 1998, definida no âmbito da chamada reforma do Estado daquele período, criou dois mecanismos possíveis para a demissão de servidores.

Um deles está associado ao excesso de despesas com pessoal. Os órgãos devem, neste caso, primeiro demitir uma parcela dos comissionados, depois os não estáveis e, por fim, os estáveis -estes últimos, somente a partir de critérios muito objetivos e impessoais, em que não se inclui a avaliação de desempenho.

As respectivas vagas devem ser extintas e não podem ser reocupadas por quatro anos, inibindo assim a ação de governantes que queiram nomear seus eleitores.

O outro mecanismo, que entendo como mais importante, é a possibilidade de demissão por insuficiência de desempenho, com as devidas garantias de defesa do funcionário.

O grande problema é que essa avaliação aguarda há 18 anos a sua regulamentação para ser implementada no governo federal. Minas Gerais, por exemplo, já regulamentou esse processo há aproximadamente dez anos.

Portanto, as possibilidades de demissão existem, estão previstas na Constituição. Falta a vontade política para implementá-las. Podem não ser perfeitas, mas o fato é que lá estão, criadas e aprovadas.

Merecem, na verdade, ser aprimoradas. Um dos problemas é o efeito, sobre a eficiência do serviço, da impessoalidade da regra associada à demissão por excesso de despesas.

Por exemplo, desligar primeiro os estáveis mais jovens ou com um número menor de anos de serviço público não significa que os servidores menos dedicados serão afastados.

Tratar todos os funcionários da mesma forma, independentemente de suas atribuições, também não parece ser a melhor solução.

O servidor que desempenha atividades intituladas como típicas de Estado, aquelas em que ele está imbuído do chamado poder extroverso -que o Estado lhe atribui para decidir sobre o cotidiano do cidadão comum com base no que estabelece a legislação, como a fiscalização, o policiamento, a formulação de políticas estratégicas, a taxação, dentre outras-, precisa contar com maior proteção.

Outra boa opção seria estabelecer mecanismos de contratação por tempo determinado para um número maior de atividades. A administração pública necessita dessa flexibilidade.

É possível melhorar as regras de estabilidade sem eliminar a proteção ao servidor. As sugestões aqui listadas ajudariam a amenizar os maiores problemas da gestão de recursos humanos no setor público: a estrutura inadequada de incentivos ao desempenho e a falta de planejamento sobre a força de trabalho necessária.
vlad
29/07/2017 08:03
Henrique Meirelles mantém 217 milhões de reais em contas no exterior e sua fortuna é estimada em cerca de um bilhão, além de ter sido mencionado na delação da Odebrecht. É muito fácil para ele dizer que precisamos apertar o cinto e pagar mais impostos.
Herculano
28/07/2017 20:02
HENRIQUE MEIRELLES: EXPLOSÕES NO FRONT ECONôMICO

Conteúdo de Luiz Lima e Marcos Coronato, da revista ÉpocA (Globo). Parece fazer 1.000 anos que se considerava aposta certa: Henrique Meirelles, no governo Michel Temer, percorreria o caminho aberto por Fernando Henrique Cardoso no governo Itamar Franco ?" o de ministro da Fazenda que cumpre uma missão difícil e chega à Presidência da República. Continua possível apostar no sucesso de Meirelles, mas ele se torna mais difícil a cada dia. Muita coisa precisará dar muito certo num período muito curto, para que o brasileiro sinta que a atual política econômica o salvou da crise. E, nos últimos dias, não foi nessa direção que as coisas caminharam.

Na semana que passou, Meirelles precisou manter o discurso de sempre ?" perseguição obstinada da meta das contas públicas, corte de gastos, reforma da Previdência ?", enquanto ruídos variados soavam mais alto. Ele integra agora o governo mais impopular de que se tem registro. Houve boato no mercado financeiro de que ele sairia do governo. Um site divulgou os milhões de reais que ele recebeu por seu trabalho no setor privado nos últimos anos e acrescentou que ele manteve parte do dinheiro no exterior ?" nenhuma acusação de ilegalidade, mas um constrangimento para um homem público que prega confiança no Brasil. Ao mesmo tempo, Temer coloca a própria sobrevivência política como prioridade máxima, acima do reajuste de contas.

Às vésperas da votação, na Câmara, da denúncia que o acusa de corrupção passiva, num governo que precisa desesperadamente encolher e economizar, Temer criou mais cargos de confiança ?" foram 500 adicionais desde maio, segundo a ONG de fiscalização Contas Abertas. Ele também acelerou a liberação de dinheiro de emendas que deputados e senadores fazem ao Orçamento. O valor total empenhado (cuja liberação de recursos foi prometida) aumentou de R$ 102 milhões, entre janeiro e maio, para R$ 4,1 bilhões, entre junho e 19 de julho, um salto de 40 vezes. De acordo com a Contas Abertas, que fez o levantamento, os parlamentares que devem defender Temer no julgamento esperado para o próximo dia 2 de agosto receberam, em média, R$ 1 milhão a mais. Essas emendas são recursos previstos no Orçamento, cuja aplicação é indicada pelo parlamentar. Geralmente são destinadas a pequenas obras nas bases eleitorais dos parlamentares e ganham impulso em anos pré-eleitorais, como o atual.

Essas promessas de gasto ocorrem num momento em que o mercado de trabalho, a atividade econômica e a arrecadação ainda não reagiram com força. O ajuste, prioridade absoluta de Meirelles, continua seriamente ameaçado. A resistência da crise política fez a votação da reforma da Previdência, principal pilar para o equilíbrio das contas públicas, ser adiada para data indeterminada. Por se tratar de uma emenda à Constituição, precisa do aval de três quintos dos 513 deputados, ou 308, um número ainda distante de ser consolidado. Sem ela, o teto de gastos ?" uma solução emergencial criada por Meirelles ?" será rompido até 2022, segundo o cenário traçado pela Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão do Senado. Antes disso, porém, a combinação entre o descontrole do Orçamento e o limite imposto pelo teto total de gastos levará os serviços públicos a uma paradeira geral, enquanto o governo registra recordes seguidos de pior desempenho fiscal da história. No primeiro semestre, o descompasso entre receitas e despesas resultou em um rombo de mais de R$ 56 bilhões, o maior em 21 anos, desde que o Tesouro Nacional começou a organizar os dados.

CHUMBO DE TODO LADO
Tem sido difícil para o ministro pensar no médio prazo, porque os problemas emergenciais se acumulam. Já em 2017, está difícil conter o saldo primário (receitas menos despesas, sem contar o gasto com juros da dívida pública) num déficit de até R$ 139 bilhões. Para atingir esse objetivo, a equipe econômica vem cortando investimentos e deslocando verba de uma Pasta para outra. Meirelles se recusa a mudar a meta e sabe que seu cumprimento depende de mais de R$ 57 bilhões em receitas incertas, extraordinárias, a entrarem até o fim do ano. O cálculo da trajetória do déficit foi atrapalhado por outros reveses sofridos pelo ministro nas últimas semanas. Diante de um governo vulnerável, os congressistas não se dispõem nem a preservar medidas que garantam aumentos de receita. Os deputados desfiguraram um projeto que parcela dívidas de grandes devedores com a Receita Federal, o Refis, e adiaram para o ano que vem o retorno da cobrança sobre a folha de pagamentos para dezenas de setores, a chamada reoneração. A solução encontrada por Meirelles e sua equipe para remendar as contas foi velha e imediatista: elevar tributos. Subiram PIS e Cofins sobre combustíveis. Em uma ação complementar e mais estratégica, na semana passada o governo anunciou também um Plano de Demissão Voluntária (PDV) de servidores federais, o primeiro desde Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de economizar R$ 1 bilhão por ano. O efeito é pequeno e não imediato, mas indica a direção correta, em meio à guerra que se tornou a proteção do Tesouro Nacional.

A crise será longa. Os atos de Meirelles e os resultados obtidos por ele terão efeito para muito além do governo atual

Assim como diminuem as chances de o ministro conseguir construir um legado sólido apoiado no tremelicante governo Temer, o cidadão vê encolherem as expectativas de fim da crise econômica. Meirelles, como face mais visível da política econômica, tornou-se alvo fácil de críticas da oposição, da ala política do próprio governo e de parte do empresariado. Após o anúncio do aumento do PIS e Cofins sobre combustíveis, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, reagiu com "indignação" e botou para desfilar, em Brasília e em São Paulo, o pato gigante que se tornou símbolo da luta contra os impostos altos. Skaf classificou como "muito devagar" o ritmo de corte da taxa básica de juros, que caiu em mais 1 ponto, para 9,25%, na quarta-feira, dia 26. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, disse que a alta tributária punirá as empresas. Outras entidades, como a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), também condenaram a medida.

Meirelles enfrenta condições de trabalho péssimas e alheias a sua vontade. Em parte, porém, o próprio ministro contribuiu com a criação desse ambiente. A equipe econômica se concentrou demais em apenas duas reformas impopulares, a da Previdência e a trabalhista. Por comparação, pareceu pequeno o empenho em outras frentes, como reformar a administração pública perdulária, reduzir a burocracia para as empresas (o que facilitaria a retomada da atividade) e corrigir falhas do mercado de crédito, que trabalha com juros dos mais altos do mundo. O brasileiro deve torcer pelo sucesso da política econômica de Meirelles, a única rota de saída da crise. A dificuldade na implementação dessa política, porém, fará com que seus resultados, na melhor hipótese, demorem a aparecer ?" e isso facilitará, na campanha de 2018, o surgimento de propostas alternativas irresponsáveis. Os atos de Meirelles e os resultados obtidos por ele terão efeito para muito além do governo atual ?" esteja o ministro ou não entre os postulantes à Presidência no ano que vem
Herculano
28/07/2017 19:53
MAIA ELOGIA MEIRELLES E CRITICA TENTATIVA DE REVISAR META FISCAL

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Texto de Thais Bilinky. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que assumirá a Presidência se Michel Temer for afastado, disse que a pauta das reformas econômicas não pode ser refém da crise política e tem de avançar para se superar o deficit fiscal.

"Com as reformas é que a gente vai conseguir superar esse deficit fiscal, que não é de apenas R$ 139 bilhões, é maior, estamos tratando do deficit primário", afirmou nesta sexta-feira (28), na Prefeitura de São Paulo.

"A gente não pode nem deve mexer sem motivo na meta fiscal que foi apresentada no início do ano. Já temos um rombo fiscal gravíssimo no Brasil, então a gente precisa votar a denúncia [contra Temer] exatamente para que a gente possa votar ao tema das reformas", defendeu.

Temer tem sofrido pressão de aliados para revisar a meta fiscal do governo, hoje de R$ 139 bilhões. Segundo a colunista Mônica Bergamo, parlamentares já se articulam para apresentar projeto de lei aumentando o rombo em R$ 30 bilhões.

Ele elogiou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que foi criticado pelo aumento de impostos sobre combustíveis. "Para que a gente possa avançar com uma carga tributária menor, a gente precisa que o Estado brasileiro custe menos."

Maia defendeu a redução no número de estatais e o "fim de privilégios", porque o "gigantismo do Estado beneficia poucos".

"Talvez a gente não precise de tantas estatais, nem do BNDES financiando grandes conglomerados, talvez financiando o empresário pequeno e médio, que as desonerações garantam efetivamente o emprego", afirmou.

"Que a Previdência possa garantir a aposentadoria no futuro de todos nós que estamos contribuindo e que a gente não passe pelo que Portugal e Grécia passaram."

O presidente da Câmara afirmou que "a reforma da Previdência é a mais importante, mas temos muita esperança também de que a gente possa simplificar o sistema tributário brasileiro e dando essas respostas a gente possa evitar de forma muito contundente qualquer vontade de meta fiscal para o Brasil, porque isso vai fazer muito mal ao país"
Herculano
28/07/2017 19:48
PORTADORES DO NOVO, por Cristóvam Buarque, senador pelo PPS -DF, ex-ministro de Educação do governo de Luiz Lula da Silva, PT.

A política brasileira sofre de apego ao passado. Até mesmo as forças progressistas deixaram de ser portadoras do novo. Mas nunca foi tão urgente imaginar o futuro desejado e como construí-lo.

O novo está mais no dinamismo decorrente da coesão social do que na disputa de interesses de grupos, corporações e classes: empresários precisam entender que há um interesse nacional comum a todos brasileiros; os trabalhadores precisam perceber que a luta sindical não deve sacrificar a estabilidade nacional nem o bem-estar do conjunto do povo. Ser moderno é servir aos interesses do público, seja com instrumentos estatais, privados ou em parceria.

O novo exige que a economia seja eficiente, que a moeda seja estável e que seu excedente seja usado para cuidar dos serviços públicos com qualidade e respeito aos usuários. O novo está na educação de qualidade, capaz de construir uma sociedade do conhecimento, da ciência, da tecnologia, da inovação, da cultura.

O novo não é mais a proposta da igualdade plena na renda, que, além de demagógica, é autoritária, ineficiente e não respeita o mérito, o empenho e as opções pessoais. O novo está na tolerância com uma desigualdade na renda e no consumo dentro de limites decentes, entre um piso social que elimine a exclusão e um teto ecológico que proteja o equilíbrio ambiental. Entre esses limites, é preciso que a escada social da educação permita a ascensão das pessoas, conforme o talento e o desejo de cada um.

O novo não está mais na ideia de uma economia controlada sob o argumento de ser justa, mas no entendimento de que seu papel é ser eficiente sob regras éticas nas relações trabalhistas, no equilíbrio ecológico e na interdição de produzir bens nocivos. O novo está na definição ética do uso dos resultados da economia eficiente para construir a justiça, com liberdade e sustentabilidade, especialmente garantindo que os filhos dos brasileiros mais pobres tenham escolas com a mesma qualidade dos filhos dos mais ricos.

O novo não está na riqueza definida pelo PIB, pela renda e pelo consumo, mas na evolução civilizatória, por exemplo; não está no número de carros produzidos, mas na eficiência como funciona o transporte coletivo. O novo não está na velocidade como se destroem florestas e sujam-se os rios, mas na definição de regras que permitam oferecer sustentabilidade ecológica e monetária. O novo não está na segurança de mais prisões para bandidos, mas na paz entre os cidadãos.

O novo não está mais no excesso de gastos e de consumo, mas na austeridade que permita sustentabilidade e bem-estar. A política nova não está apenas na democracia do voto, mas também no comportamento ético dos políticos, em eleições com baixo custo, espírito público sem corporativismo e na apresentação de propostas para o futuro, mesmo que isso implique suicídio eleitoral, porque, em tempos de mutação, os portadores do novo correm o risco de solidão. Mesmo assim, é preciso dizer: o novo está na educação
Herculano
28/07/2017 19:46
CONFIRMADO MORO E LULA CARA A CARA OUTRA VEZ
Conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo. Texto de Fausto Macedo e Julia Affonso

O juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, confirmou para o próximo 13 de setembro novo interrogatório do ex-presidente Lula, desta vez na ação penal em que o petista é réu por suposto recebimento de propinas da empreiteira Odebrecht. Pela segunda vez, Moro e Lula vão ficar cara a cara.

Moro havia sugerido que o novo depoimento de Lula fosse realizado por videoconferência ?" o ex-presidente prestaria depoimento na Justiça Federal em São Paulo, evitando seu deslocamento a Curitiba, onde fica a 13.ª Vara Federal, de titularidade de Moro, responsável pelos processos da Lava Jato em primeira instância judicial.

O juiz alegou que a medida poderia evitar 'gastos indesejáveis', referindo-se ao formidável aparato de segurança pública mobilizado da primeira vez em que ele e o petista se encontraram ?" em maio passado, Lula foi interrogado por Moro pela primeira vez nos autos da ação penal do caso triplex.

Na ocasião, milhares de manifestantes tomaram as ruas de Curitiba, em apoio a Lula.

Apesar da sugestão do juiz, Lula abriu mão da videoconferência. Por meio de seus advogados, o ex-presidente comunicou que é seu desejo depor pessoalmente a Moro.

"Diante da recusa, o interrogatório será presencial", decidiu nesta sexta-feira, 28, o juiz da Lava Jato.

Moro também resolveu que a audiência será gravada da mesma forma como já foi feito em ação penal conexa.

Neste processo, segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Lula é acusado de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro em razão de contratos firmados entre a Petrobrás e a Odebrecht.

A acusação aponta que parte das propinas pagas pela Odebrecht foi lavada mediante a aquisição, em benefício do ex-presidente, do imóvel localizado na Rua Dr. Haberbeck Brandão, 178, em São Paulo, em setembro de 2010, que seria usado para a instalação do Instituto Lula.

A força-tarefa da Lava Jato afirma que o acerto do pagamento da propina supostamente destinada ao ex-presidente foi intermediado pelo então deputado federal Antonio Palocci (ex-ministro de Lula e Dilma), com o auxílio de seu assessor parlamentar Branislav Kontic, que 'mantinham contato direto com Marcelo Odebrecht, auxiliado por Paulo Melo, a respeito da instalação do espaço institucional pretendido pelo petista'.

De acordo com os procuradores do Ministério Público Federal, valores destinados a Glaucos da Costamarques ?" primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula -, por sua atuação na compra do terreno para o Instituto Lula, foram repassados para o ex-presidente na forma da aquisição da cobertura contígua à sua residência em São Bernardo de Campo.

A denúncia aponta que R$ 504 mil foram usados para comprar o apartamento vizinho à cobertura de Lula, em São Bernardo.

A nova cobertura, utilizada pelo ex-presidente, foi adquirida no nome de Costamarques, 'que atuou como testa de ferro de Luiz Inácio Lula da Silva'.

As investigações indicam 'que nunca houve o pagamento do aluguel até pelo menos novembro de 2015'.
Os advogados de Lula negam taxativamente que ele tenha recebido propinas da Odebrecht.
Herculano
28/07/2017 11:38
QUANDO ATÉ A INDIGNAÇÃO É CORROMPIDA, por Percival Puggina

Um grupo de atores e artistas liderado por Caetano Veloso, criou o blog "342 Agora" e produziu um vídeo convocando a sociedade para mobilizar congressistas a aprovarem o processo contra Michel Temer. Com estudada indignação, proclamam frases como:

- Ele merece ser julgado pelos crimes que cometeu;
- Qualquer cidadão que está sob suspeita tem que ser investigado, por que teria que ser diferente com o presidente da República?
- Eu posso ser investigada, você pode ser investigado, ele tem que ser investigado;
- Um presidente ser acusado de corrupção passiva, formação de quadrilha e obstrução da justiça, não dá!
- Agora é deixar de lado nossas diferenças e se juntar por uma causa que é importante: o Brasil.
- O futuro do Brasil depende de você.

Tudo muito certo, mas não recordo de ter ouvido qualquer desses senhores e senhoras expressando indignação com os bilhões de reais desviados para contas privadas, para operadores partidários, para dirigentes de estatais com rateios previstos entre partidos, sempre cabendo ao PT a maior quota-parte. Não ouvi um murmúrio sequer que pudesse ser entendido como decepção com o Bolsa Magnatas distribuída a figuras como Eike Batista e os irmãos Wesley e Joesley, com as contas-correntes nas grandes empreiteiras, com o conteúdo das delações que nominam pessoalmente dirigentes do PT, do PMDB, do PP (todos com 13 anos de serviços prestados ao governo petista). Nem um pio deram quando a Petrobras, tendo Dilma Rousseff como presidente do Conselho Deliberativo, fez a negociata de Pasadena, ou quando o BNDES jogou bilhões de reais nossos no poço sem fundo dos comunistas cubanos e venezuelanos, e de ditadores companheiros mundo afora. Uma cortina de silêncio parece encobrir de seus ouvidos o que as delações berram quase todo dia.

Muito oportunista, portanto, essa empolgação moral. Sobreviveram sem qualquer incômodo através de uma década inteira de falcatruas, de inusitadas fortunas que luziam ante os olhos mais distraídos, de famílias inteiras, como a Da Silva, que saíram do subemprego para o mundo dos grandes negócios. Agora, que a acusação recai sobre o odiado Michel Temer - o primeiro a sentar na cadeira que tinham como sua para sempre - retomam o discurso golpista que grita "Fora!" a qualquer um que apóie o traseiro onde querem sentar.

Quando o Congresso Nacional, em constitucional e prévio juízo político assim decidir, responda Temer por todos os crimes que tenha cometido. Celebrarei o evento! Mas não venham os irados do blog "342 Agora" com essa indignação de meia boca, hipócrita, corrompida, cuja exclusiva finalidade é atender suposta conveniência de quem comandou o maior esquema de corrupção política da história nacional.
Herculano
28/07/2017 11:33
O DIDA DO GUIDO, DA DILMA, DO LULA

Conteúdo de O Antagonista. A Lava Jato prendeu Aldemir Bendine, que presidiu as duas maiores estatais do país: o Banco do Brasil e a Petrobras. Foi, portanto, o burocrata mais bem sucedido da Orcrim petista. Sua queda expõe todo o poder de Guido Mantega.

MOCHILINHA

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, criticou em entrevista à Folha a absolvição de João Vaccari pelo TRF-4.

Ele disse ao jornal o seguinte...

"Existem provas [contra Vaccari]. Dizer que inexistem é um equívoco dos juízes. O que eles poderiam dizer é que não foram convencidos. Nossa tradição jurídica diz que indícios veementes são suficientes para condenar. No caso do Vaccari, ele não usa métodos bancários, ele usa a mochilinha. Você vai ter produção do dinheiro pela empresa, fotografia dele entrando. Isso tudo são indícios que corroboram o depoimento de um colaborador. Dizer que não há provas é desconsiderar isso, porque indícios no Brasil são provas."

Os "juristas" vão fazer um escarcéu, mas a mochilinha do Moch é mais do que indício ou prova. Já é símbolo.

Na entrevista à Folha, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima também falou sobre o risco de o TRF-4 anular a condenação de Lula por Sérgio Moro:

"Qualquer que seja o processo sempre vai ser arriscado. Mais arriscado nem é o mérito, mas uma daquelas bobagens que plantam durante o processo para virar nulidade num escalão superior. Na nossa tradição, advogado não lida com o mérito, sempre luta pela nulidade.

Carlos Fernando dos Santos Lima também falou à Folha sobre o acordo de delação premiada da JBS. Ele disse que teria feito o acordo, mas com mais calma - e que houve dano à imagem da Lava Jato, com a força-tarefa de Curitiba tendo de responder sobre uma iniciativa de Brasília:

"Temos dois fenômenos: a partir do momento em que as investigações passaram para o PMDB, as pessoas perguntaram: espera aí, não é só o PT? Começamos a explicar que não é uma questão partidária, é uma questão de crime. E segundo, a JBS, que realmente em termos de comunicação foi muito complicado para o Ministério Público. O acordo é muito mal compreendido pela população. Isso é um erro nosso. Seja porque o benefício talvez tenha sido deferido de uma forma muito leniente, seja porque [o MP] não se preparou adequadamente para comunicar."
Herculano
28/07/2017 11:17
DECIDIDAMENTE, O PT É UM PARTIDO DE E PARA BANDIDOS. SE SUA EMPRESA NÃO PAGA IMPOSTOS, O GOVERNO TOMA OU ELA QUEBRA E VOCÊ FICA MARCADO PARA A VIDA TODA ENQUANTO NÃO QUITÁ-LA. JUSTO.

OLHA MAIS ESSA, DE QUEM JÁ TEVE A CARA DE PAI DE PROPOR O FUNDO PARTIDÁRIO COM R$ BILHÕES PARA OS POLÍTICOS FAZEREM CAMPANHA ENQUANTO OS POBRES MORREM NAS FILAS DO SUS E MAIS RECENTEMENTE, COLOCOU NO PROJETO DE LEI DE QUE NENHUM POLÍTICO NÃO PODE SER PRESO OITO MESES ANTES DA ELEIÇÃO, TUDO PARA VIABILIZAR O SEU PADRINHO, LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA.

VICENTE CÂNDIDO QUER TIRAR EXIGÊNCIA DE REGULARIDADE FISCAL DE CLUBES DE FUTEBOL

Conteúdo de O Globo. Texto de Guilherme Amado, na coluna de Lauro Jardim.

Vicente Cândido não cansa de legislar em prol do bem comum - quando não o de Lula, o bem dos clubes de futebol.

O petista apresentou um projeto de lei que propõe revogar a exigência de regularidade fiscal dos clubes, um dos marcos do Profut, o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro.

No projeto, Cândido pede que não sejam mais exigidas dos clubes as certidões negativas de débito para a participação em competições. A exigência tem como objetivo estimular o saneamento das contas dos clubes.

Volto. Os clube sonegam, nadam em transações de milhões e bilhões, poucos ganham (cartolas, empresários, intermediários, "investidores" e jogadores) e a socialização desse ganho não pode ser distribuído para à sociedade em forma de tributos, para melhorar a saúde pública, educação, segurança, assistência social...

Agora, você, paga Imposto de Renda por ganhar pouco mais de um salários mínimo em decorrência da não há atualização da tabela do Imposto de Renda
Vigilante das Leis
28/07/2017 08:40
Sugestão ao nobre colunista:

Que tal publicar um ranking de indicações, requerimentos, moções e projetos de lei apresentados até agora no primeiro semestre pelos nossos Vereadores???

Acredito que o resultado será de arrepiar... decepcionante... é claro...
Herculano
28/07/2017 07:53
RECALL QUÍMICO, por Tati Bernardi, redatora, roteirista, escritora, no jornal Folha de S. Paulo
Anel foi o primeiro a perder o sentido. Pra que vou meter argolas nos dedos? Por que enfeitamos mãos, pescoços, pulsos, salas, conversas? Logo parei de cortar e pintar as unhas. Brotaram cabeças de peles afiadas nos cantos que serviam, entre outras dores, para distrair os dentes. Sapatos, quando representantes supremos do "para caminhar como uma fêmea", foram para o fundo do armário. Eu queria passar o resto da vida com essas botinas sujas e pesadas. Banho eu mantive por uma questão de respeito ao outro, mas que horinha macabra. Se os pensamentos não andam solares fora da água, dentro eles se tornam profundamente, "uterinamente", primitivamente sombrios. Aquilo que você não suporta a seco, encharcado tende a pesar infinitamente.

Pessoas que lhe indicam meditação, balinhas de plantas ou massagens sei lá das quantas, quando seu cérebro clama por um recall químico, são como fadinhas mal desenhadas por alguma criança pequena ainda conquistando o domínio motor.

Em algum momento, com alguma reserva que seu espírito guardou para se submeter a qualquer que seja a apreciação, você vai se maquiar. Doze camadas de bege saúde e o cinza da sua cara segue imperando. Cinco pinceladas de corretor milagroso de olheiras e o fundo do poço persiste longínquo abaixo dos olhos. Superfícies tentam, em vão, proteger uma centena de camadas que gritam: por favor não encoste em mim, pelo amor de Deus encoste em mim. E nas ruas todos caminham engordando, aguentando, esquentando, se contando, coloridos.

Meu amor, você está deprimida. Eu me dizia, bastante cínica mas também muito materna. E tudo bem. Você já fez a engraçada, a querida, a gatucha, a esforçadinha, a panicada, tudo bem descansar um pouco na tristeza. Vem. Deita aqui comigo no chão do banheiro. Dorme mais um pouco, ainda são só onze e meia da manhã. Vem ficar bem arrasadinha: olha que delícia. Eita que um mês de férias é pouco. Pare um ano. Ou mais. O celular descarregou: olha que maravilha. Ninguém. Apenas você emoldurada pelo sofá e a manta com cheiro de autodescaso. Apenas você e os fluidos de um azedo macambúzio, "eau" de enxofre borrifado pelas orelhas, os poros soltam a fumaça do inferno.

Ah, como são tristes as roupas penduradas, as plantas na varanda, o pacote de biscoitos pela metade fechado com uma presilha infantil. Como são infelizes os ácidos rejuvenescedores, o Instagram dos outros, as tão éticas discussões virtuais de pessoas cuja chatice deveria ser o pior de todos os crimes.

Com esforço, você bota a roupinha de existir mas a sua cabeça insiste. Perceba como seus amigos são falhos, frívolos e não gostam de você. Perceba como seu trabalhos darão errado. Você não queria escrever mais uma comédia idiota para ser detonada. Você não quer escrever uma "amargura-cabeça" sem dinheiro que ninguém vai assistir. E os pagamentos continuarão atrasados e os "criativos" declamarão livros técnicos e estudantes cheios de mesada e certezas dirão "perdi duas horas" e você perdeu dois anos. E essa coluna? Os mesmos solitários cuspindo misoginia e fracasso no espacinho que lhes cabe: a opinião do leitor. As mesmas malas doutoradas em pau-brasil com seus blogs e ódios sem público, disfarçando arrogância com desculpa ativista. Tudo, meu amor, é uma grande e imensa bosta. Vem, descansa na tristeza. Desiste bem gostoso. Olha que delícia.

Não.
Herculano
28/07/2017 07:50
PRIVATIZAÇÃO DE CEMITÉRIOS DE BLUMENAU É LEI, por Alexandre Gonçalves, no Informe Blumenau.

Era o projeto mais polêmico do programa Blumenau Cidade Jardim, lançado pela Prefeitura em abril. Na sessão da Câmara Municipal desta quinta, 27 de julho, ele foi aprovado e virou lei.

São três cemitérios públicos da cidade ?" nas ruas João Pessoa, Bahia e Progresso. Segundo a Prefeitura, o custo anual para os cofres públicos é de R$ 1 milhão.

Resta saber quanto a população pagará, principalmente a mais pobre. O Município garante que os carentes, em vulnerabilidade social, permanecem com direito a gratuidade, desde que os nomes constem no cadastro único social.

As demais famílias que enterram os seus entes nestes locais pagavam uma taxa. Quanto ela vai subir?

Quanto os eventuais interessados cobrarão? De qual montante de negócio estamos falando?

Parece meio mórbido e é. Mas precisamos ter a dimensão de valores, sempre com foco no menor custo para população.

Agora Blumenau saberá isso na prática, pois o projeto foi aprovado.

Teve dois votos contrários, do Professor Gilson(PSD) e de Bruno Cunha (PSB), este em tese alinhado com a administração tucana.

Bruno disse que votou contra por não ter gostado da forma como foi conduzida a proposta. Disse que o Executivo deve comunicar melhor seus projetos, com tempo e não como agora, quando o secretário de Conservação e Manutenção Urbana, Marcelo Schrubbe (DEM), fez uma visita surpresa na Câmara para conversar com os vereadores, fato inclusive que suspendeu a sessão por alguns minutos.

Bruno Cunha e Professor Gilson são favoráveis a concessão, mas cobram uma justificativa melhor da administração municipal.

Já o vereador Adriano Pereira toma mais uma vez posição dúbia. Se absteve.

Ou seja, a partir de agora, cemitério em Blumenau é com a iniciativa privada.

Vamos acompanhar os interessados e o que oferecerão para os mais pobres
Herculano
28/07/2017 07:45
ELITES, ENTES DO ESTADO E ATÉ IMPRENSA SOLAPAM BASES DA GOVERNANÇA, MAS RECLAMAM DE TEMER, por Reinaldo Azevedo, no jornal Folha de S. Paulo

Passou a febre "Rodrigo Maia presidente". Por enquanto ao menos. Se outro Rodrigo, o Janot, da Procuradoria Geral da Deposição de Michel Temer (é a quinta dimensão do Ministério Público da União), tiver a bala de prata que seus acólitos traficam pelos corredores, mas sem mostrar o bagulho, Temer será deposto. E o que virá depois é bem mais escuro do que supõem os selenitas.

A leitura de certa crônica política, que pretende se passar por análise, tem uma graça intelectualmente trágica porque não chega a síntese nenhuma, tornando-se mero bordado a ornar o nada. O horizonte desses cronistas é a Terra do Nunca, localizada em Lugar Nenhum.

É estupefaciente que se possa apontar o dedo contra Temer, acusando-o de incapaz de conduzir as reformas, quando entes do Estado ?"como o Ministério Público Federal e alguns togados no STF?" e quadros relevantes das elites, incluindo setores da imprensa, atuam de forma deliberada para lhe tirar os instrumentos de governança.

Queriam o quê? Dada a força estrutural que tem o Congresso, não se põe a prêmio a cabeça de um presidente sem que se criem severas dificuldades para aprovar, por exemplo, uma reforma impopular e necessária como a da Previdência. Não há mágica. Ainda assim, em muitos aspectos, a agenda no Legislativo avançou como nunca.

Na turbulência, tolos passaram a alimentar a fantasia de que, com Maia, o reformismo avançaria com mais celeridade. É mesmo? Uma única pergunta faz o incauto descer do mundo da Lua: Maia seria ou não elegível em 2018? Qualquer resposta esfarela o futuro. Tanto o "sim" como o "não" significariam transformar a Presidência num balcão. E, acreditem, isso dependeria pouco do agora presidente da Câmara. Processos políticos são dotados de lógica interna. Ou seriam meras feitiçarias.

As elites políticas estão divididas, com exceções aqui e ali, entre o bovarismo e o oportunismo. No começo de junho, o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) afirmou que o PSDB não deixaria o governo porque não é Madame Bovary, numa referência à personagem central do romance homônimo de Flaubert. Nunes pertence à safra em extinção dos políticos que foram apresentados aos livros.

Na leitura ignorante, ele estaria a dizer que o partido não trairia o presidente, como Madame traiu o marido. Besteira! Em política, o "bovarismo" consiste em ignorar a realidade em nome de uma prefiguração ou de um anseio impossíveis. Ele falava é disso. Mas uma ala do partido quer ser a Madame é naquilo mesmo...

Que saudade dos "bons tempos" em que Marilena Chaui fazia pastiche de "A Ideologia Alemã", de Marx, e torrava a nossa paciência com a ladainha de que o saber era um instrumento de dominação, rebaixando-o a mero "discurso competente", a ser combatido pela sociedade organizada... Dona Marilena, a exemplo de todo esquerdista perturbado, ainda via o potencial redentor do rebelde primitivo.

Hoje, o verdadeiro porrete da opressão é a ignorância que se alastra nas redes sociais, ciosa da própria truculência, orgulhosa da própria burrice, satisfeita com a própria vulgaridade. À esquerda, ao centro e à direita.

UMA NOTA CURTA

Informei em meu blog que Deltan Dallagnol se fez procurador contra a letra da lei, a cavaleiro de uma liminar cujo mérito nunca foi julgado. Foi confirmado no cargo em razão do "fato consumado", repudiado pelo STF em matéria de concurso público. O rapaz ficou furioso e me acusou, que surpresa!, de ser inimigo da Lava Jato.

No Facebook, Carlos Fernando, seu braço esquerdo, contestou meu artigo com argumentos tecnicamente irrespondíveis: chamou-me de velhaco, decadente e cachorro.

São estrelas do MPF. Estão acostumados a aterrorizar os políticos e tentam me intimidar. Comportam-se como chefes de milícia ou de bando.

Marx está mesmo morto. Essa é "A Ideologia do Complexo do Alemão"
Herculano
28/07/2017 07:40
AS LIÇÕES DE UM PÉ DE FEIJÃO, por Leonardo Glass

As histórias infantis, mais do que entreter crianças (e adultos, também, por que não?), tem o objetivo claro de ensinar lições para a vida cotidiana. Lições como: honestidade, obediência, perseverança? Curiosamente, uma das mais famosas histórias infantis, "João e o pé de feijão", não tem uma lição de moral direta. Para aqueles que não se lembram deste clássico publicado pela primeira vez, por Benjamin Tarbat, em 1804. De forma extremamente resumida, eis a história:

João era um menino pobre que vivia com a sua mãe. A única fonte de renda da família era uma vaquinha velha e debilitada que a cada dia dava menos leite. Quando finalmente cessou de dar leite, a mãe decidiu vender a vaca no mercado da cidade, mas como não podia ir até a cidade, pediu que João fosse e vendesse a vaca.

No caminho, João encontra um vendedor que também estava indo ao mercado. Ele estava indo vender alguns feijões mágicos que encontrara. João, querendo evitar a fadiga de ir até o mercado, troca ali mesmo a velha vaquinha por um punhado de feijões. Ao voltar pra casa e contar à mãe a sua troca, ela fica furiosa e joga os feijões pela janela.

No dia seguinte, um pé de feijão gigante nasceu no quintal de João. O pé ia até o céu, por entre algumas nuvens. Curioso, João sobe pelo pé de feijão e lá em cima descobre um castelo. No castelo, mora um gigante. Enquanto explora o castelo, João ouve o gigante se aproximando e se esconde. Após jantar, o gigante cochila e João aproveita para fugir, não sem antes levar algumas moedas de ouro que o gigante deixara sobre a mesa. João volta pra casa e conta para a mãe e sucedido. Ambos se alegram pela boa sorte e vivem bem por um tempo com as moedas roubadas por João.

Tempo depois as moedas acabam e, para evitar nova penúria, João sobre novamente no pé de feijão e novamente vai ao castelo com o fito de roubar algumas moedas. Porém desa vez João descobre uma ganso que colocava ovos de ouro (algumas versões dizem uma harpa de ouro que tocava sozinha). E mais uma vez, enquanto tentar fugir, o gigante chega, janta e acaba cochilando. Desta vez, ao tentar sair do castelo com o ganso, este grasna e acorda o gigante. Vendo que está sendo roubado ele persegue João.

João desce pelo pé de feijão, e enquanto o gigante descia, ele corta o pé de feijão que cai, derrubando o gigante, matando-o. João então vive feliz para sempre com seu ganso que coloca ovos de ouro.

São inúmeras as variações desta história, em algumas João invade o castelo três vezes, em outras há uma galinha ao invés de um ganso; algumas dão conta que João rouba, além do dinheiro e de uma galinha, uma harpa que toca sozinha. Porém, o ponto em comum em todas estas histórias é que, ao contrário das fábulas tradicionais, não há uma lição de moral direta. Porém, podemos traçar inúmeras as analogias aqui, que ilustram a realidade do pensamento de esquerda no Brasil e no mundo: desde a falácia keynesiana de que imprimir dinheiro é a solução para todos os males econômicos, passando pelo conceito de propriedade privada e até mesmo a noção historiográfica de que a história oficial é escrita pelos vencedores.

Antes, contudo, duas importantes observações: 1) Obviamente que o autor da história não a escreveu pensando em tais lições. Mas aqui cabe o conceito de parábola, onde uma história simples tem a capacidade de ilustrar uma realidade mais complexa. 2) "Ah, mas é só uma história, e nas histórias coisas incoerentes acontecem e?" OK, mas repito o que escrevi antes, histórias, ainda que simples, podem nos fazer refletir sobre situações complexas. E este será o exercício aqui.

A história começa com uma perfeita ilustração do conceito de nacionalismo barato uma ideia tola que só atrasa ao invés de desenvolver. João e sua mãe eram pobres e se contentavam em vender o leite de sua única vaca. Não havia um planejamento maior! Não havia uma poupança, um excedente que lhes permitisse adquirir novas vacas. Não havia trocas nem busca por novas alternativas de renda. Eles se contentavam com uma única vaca e eram reféns de uma mentalidade arcaica (e isso ficará ainda mais claro mais adiante na história). Ao ver que a produção de leite diminuía dia após dia não houve nenhum projeto pensado a longo prazo. Por que não agregar valor ao leite, vendendo-o na forma de manteiga, por exemplo?

Mas ignoremos esse pano de fundo e nos concentremos nas atitudes de João e de sua mãe. Quando finalmente decidem mudar ?" após uma crise, e não por vislumbrar novas oportunidades ?" João e sua mãe bolam um plano; um bem ruim, é verdade, mas ainda assim, um plano: vender a vaca. E o plano só piora quando a mãe manda que o garoto, uma pessoa inexperiente, venda a vaca. João, além de parvo é preguiçoso e decide tomar o caminho mais fácil: iludido com uma promessa mágica, troca a vaca por um punhado de feijões. A analogia aqui com a questão da indústria nacional fala por si só.

Não se sabe como, mas incrivelmente os feijões eram mágicos e nascem. João acertou ?" pelo motivo errado, mas acertou. As commodities valorizaram apesar de tudo, abrindo caminho para aquela família a um novo reino, com novas possibilidades. João resolve explorar o reino e qual a primeira coisa que ela faz? ROUBA (voltarei a este verbo mais à frente) algumas moedas e as traz para casa. Como sai incólume desse crime, João pensa que está tudo bem, aplacando a sua consciência, e pensando que, se tudo der errado, ele pode voltar a subir no pé de feijão.

A sorte sorriu para João. João tem uma quantidade incrível de ouro. E o que ele faz? Investe? Compra mais vacas, já que pelo menos entende de leite? Explora o pé de feijão como atração turística? Usa o dinheiro para comprar mais casas e viver de aluguel? Ao menos especula no mercado futuro do leite? Nenhuma dessas alternativas. João e sua mãe simplesmente gastam o dinheiro sem se preocupar com o dia de amanhã. Afinal, basta subir no pé de feijão de novo, não é? Isso mostra que a mentalidade de João e de sua mãe era atrasada. Não buscavam melhorar de vida, senão apenas enriquecer. E esse era o maior pecado de João e sua família e, provavelmente, a verdadeira causa de sua pobreza.

A realidade não é diferente da história. Gastar, consumir, não são sinônimos de riqueza. Nunca foram (antes são sinônimos de mera ostentação). Diversos países, e o exemplo mais latente é a Venezuela, acharam muito ouro (ou petróleo) e ao invés de usar esse dinheiro de forma inteligente, ostentaram medidas populistas. Crédito à rodo, subsídio fácil? Nenhum incremento na poupança, nenhuma fonte de renda. Apena só consumo de crédito.

Quando o dinheiro acaba (e ele SEMPRE acaba), João, tranquilo, sobe de novo no pé. Dessa vez, o inteligentão do João tem uma ideia melhor: E se ao invés de roubar as moedas, eu roubar a impressora de moedas (no caso, o ganso dos ovos de ouro). João adentrará de vez no keynesianismo.

O plano de João funciona, e ele consegue roubar a impressora de dinheiro do gigante. Como a história acaba no "felizes para sempre" tem-se a impressão que o segredo do sucesso é imprimir dinheiro. Ledo engano.

Basta um pouco de imaginação e concluiremos, sem muitas dificuldades, que com o passar dos dias, o ouro se tornaria tão comum na aldeia de João, que logo as pessoas teriam uma percepção errada de valor. Coisas simples, como pães e leite, passariam a ser valorados em gramas de ouro, não mais em moedas de cobre ou prata.

Assim, se no curto prazo, imprimir dinheiro (ou botar ovos de ouro, você escolhe) parece uma boa ideia, no médio e, principalmente no longo prazo, o desastre é inevitável. João logo se tornaria como um Zimbábue com suas notas de 100.000.000.000.000 (cem trilhões, caso você tenha se perdido nos zeros) de dólares Zimbábues ?" e que não valem nada.

Mas as lições da não acabam aí. João invade o castelo do gigante, rouba e mata o gigante. No final, é pintado como herói da história. Ainda se casa com uma princesa. Recompensa justa para alguém que praticou roubo e homicídio? Até tentaram tornar o gigante em alguém malvado que comia carne humana (embora comesse outras coisas também). Porém, em momento algum o Gigante ameaça João ou sua família, ou sua aldeia, sequer o seu mundo. É João quem sobe no pé de feijão, não o contrário; é ele quem primeiro invade a propriedade do Gigante, que acaba perseguindo João com fito unicamente de recuperar seus bens e repelir uma injusta agressão.

O ponto é, o gigante estava lá "de boas" em seu castelo. João é quem invade o reino e agride o modo de vida do gigante com o intuito de manter intacto o seu modo de vida (que lembremos, era preguiçoso e perdulário). Mais uma vez, a analogia aqui fala por si só. Como será que os outros gigantes do reino contaram para seus filhos e netos o que sucedeu com o dono do castelo? E mais, será que houveram imensas marchas entre os gigantes pedindo a integração entre gigantes e os humanos, dizendo que os humanos são uma raça de paz e que só uma minoria extremista é que faz mal; que não se deve julgar toda uma raça, por causa da atitude de alguns? Jamais saberemos.

Nunca um pé de feijão pode nos ensinar tantas e tão atuais lições de vida. Obrigado, Benjamin Tarbat. Embora, a história original, não traga nenhuma lição de moral, ainda assim ela é capaz de nos ensinar muito.
Herculano
28/07/2017 07:35
"CONTA DE LULA" PAGOU APARTAMENTO, BARCO E ATÉ CASAMENTO DE JOESLEY, por Mônica Bergamo, no jornal Folha de S. Paulpo

O empresário e delator Joesley Batista, dono da JBS
O dinheiro da tal "conta de Lula", que na verdade estava em nome de uma offshore controlada por Joesley Batista, foi gasto pelo empresário na compra de um apartamento em Nova York, de dois barcos e até mesmo na cerimônia de seu casamento, em 2012. O dono da JBS repatriou o patrimônio em 2016. Pagou mais de R$ 20 milhões de Imposto de Renda.

CONTABILIDADE
Depois da confusão por causa da "conta", revelada em sua delação, Joesley explicou que, na verdade, depositava nela recursos destinados a pagar propina ao PT no governo Lula. Quando tinha que financiar o partido, ele desembolsava dinheiro no Brasil e apenas "descontava" contabilmente do que já tinha poupado no exterior. Os recursos seguiam lá fora.

TODO OUVIDOS
E Joesley está ouvindo de novo os áudios das conversas que gravou com políticos para tentar descobrir quais delas estavam no gravador em que registrou seu diálogo com Temer. Os demais tinham sido transferidos para um computador e apagados do aparelho. O gravador, no entanto, foi entregue à Polícia Federal para perícia. E ela recuperou o conteúdo de outros sete encontros.

MISTÉRIO
Uma das conversas registradas na época se deu entre advogados e executivos da JBS porque o gravador de Joesley ficou ligado por engano. É possível também que haja diálogos com Paulinho da Força (SD-SP), João Bacelar (PR-BA) e Gabriel Guimarães (PT-MG). O mistério é grande e a JBS já pediu à Justiça que mantenha o sigilo do conteúdo recuperado
Herculano
28/07/2017 07:30
OS JUROS E O JOGO DA INCERTEZA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

Novos cortes poderão ocorrer, mas falta saber se consumidores, empresários e investidores sentirão segurança para movimentar com mais vigor os negócios

Com mais um corte de juros, desta vez de 10,25% para 9,25%, o Banco Central (BC) continua fazendo sua parte no esforço para reativar a economia, criar empregos e, ao mesmo tempo, reduzir o peso da dívida pública. Novos cortes poderão ocorrer, mas falta saber se consumidores, empresários e investidores sentirão segurança para movimentar com mais vigor os negócios. Por enquanto, a queda de confiança gerada pela crise política teve efeitos limitados, nem inflacionários nem desinflacionários, segundo nota do Comitê de Política Monetária (Copom), formado por diretores do BC. Talvez haja uma pitada de otimismo nessa avaliação, divulgada logo depois da reunião de quarta-feira passada. As pressões inflacionárias parecem continuar moderadas, apesar da piora de humor ?" tanto de compradores como de vendedores ?" detectada em várias sondagens desde junho. Mas faltam dados, ainda, para dizer se a mudança de expectativas interferiu, e quanto, nas atividades industriais e comerciais.

Mesmo o aparente otimismo dos membros do Copom é contrabalançado com sinais de cautela. As palavras "aumento da incerteza" aparecem três vezes no comunicado ?" no primeiro, no terceiro e no oitavo dos nove parágrafos.

Não há referência explícita, no texto, à crise iniciada em maio com a denúncia dos irmãos Batista, criminosos confessos e controladores do Grupo J&F, contra o presidente da República. Só se menciona um "aumento da incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia". Mas é evidente o vínculo entre o jogo político e a insegurança quanto à execução do programa de governo. A expressão "queda de confiança" também é usada no comunicado.

Por enquanto, o Copom mantém a projeção de uma tendência favorável dos preços, com inflação em torno de 3,6% em 2017 e de 4,3% em 2018, com base nas trajetórias de juros e de câmbio apontadas na pesquisa Focus, conduzida semanalmente no mercado. A mesma pesquisa indica inflação de 4,25% em 2019 ?" coincidindo exatamente, portanto, com a nova meta fixada, recentemente, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

A nota reitera, no entanto, a importância do processo de reformas e ajustes "para a queda das estimativas da taxa de juros estrutural". Essa taxa vale como um limite para a política monetária. Levar os juros básicos a um nível inferior à taxa estrutural comprometeria o esforço de controle da inflação. Este detalhe é especialmente importante. Indica a pouca disposição dos membros do Copom, especialmente de seu presidente, Ilan Goldfajn, de baixar os juros de forma voluntarista.

Uma política desse tipo foi aplicada entre o dia 31 de agosto de 2011, quando a Selic passou de 12,50% para 12% ao ano, e meados de abril de 2013. A inflação disparou nesse período e a credibilidade do BC desmoronou. Em 17 de abril de 2013 a taxa básica foi finalmente elevada de 7,25% para 7,50% e depois a alta continuou até o nível de 14,25%, atingido no fim de julho de 2015, no começo do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Ao insistir na importância dos ajustes e reformas, o Copom reafirmou o risco econômico embutido na crise política. Os efeitos da crise podem ter sido limitados, até agora, mas seria irrealista apostar num efetivo descolamento entre a economia e o jogo político.

A decisão do Copom foi anunciada pouco depois das 18 horas de quarta-feira. No meio da tarde o Tesouro havia divulgado as contas do governo central, com os números de junho e do primeiro semestre. O déficit primário (sem juros) acumulado na primeira metade do ano chegou a R$ 56,1 bilhões, um recorde sinistro. Chegar a dezembro com um déficit primário no limite de R$ 139 bilhões, meta fixada para o setor federal, continua sendo um desafio formidável. Se for vencido, a continuação do programa ainda dependerá de apertos e reformas até agora incertos.

Pelo menos um dado positivo foi confirmado ontem. O BC informou que o saldo das operações de crédito aumentou 0,4% em junho e atingiu R$ 3,08 trilhões. Mas ainda houve um recuo de 1,6% em 12 meses. O caminho da recuperação é longo e por enquanto enevoado
Herculano
28/07/2017 07:28
VENDA DA PETROBRAS ARGENTINA VAI PARAR NA LAVA JATO, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Após a prisão de Aldemir Bendine, chama atenção na Lava Jato a venda da Petrobras Argentina a preço de banana, em 13 de maio de 2016, dia seguinte ao impeachment de Dilma, quando ele presidia a Petrobras. A Pampa Energia, de Marcelo Mindlin, levou 30 blocos exploratórios, quase 300 postos, e parte de térmica, hidrelétrica e petroquímicas, por apenas US$897 milhões em "negociação exclusiva".

PREJUÍZO BILIONÁRIO
A Justiça Federal do Rio de Janeiro acatou em outubro ação popular para apurar o prejuízo à Petrobras, estimado em R$ 3,2 bilhões.

AUDIÊNCIA PÚBLICA
A Câmara dos Deputados marcou para 16 de agosto audiência pública para discutir a venda suspeitíssima da Petrobras Argentina.

ARGENTINA INVESTIGA
A Pampa Energia foi alvo, em maio, de busca e apreensão por ordem da Justiça argentina, que também investiga a venda dos ativos.

O COMPRADOR
Marcelo Mindlin, da Pampa, é muito ligado a Cristina Kirchner, ex-presidente argentina muito amiga de Dilma Rousseff.

GANHAVA BEM, MAS PARECIA VICIADO EM PROPINA
A propina exigida da Odebrecht por Aldemir Bendine era falta de vergonha misturada com ganância. Ele recebia R$62,4 mil do Banco do Brasil, como aposentado, e mais R$ 123 mil para presidir a Petrobras, mas decidiu cobrar propina da empreiteira antes mesmo de assumir o cargo. Após sair do comando da petroleira, o ambicioso Bendine ainda levou mais R$ 750 mil pela infame quarentena. Esse valor equivale a seis meses de salário do cargo ocupado durante o governo Dilma.

TESTEMUNHAS NÃO FALTAM
Vários executivos delataram os achaques de Bendine, e até um ex-motorista, que revelou a rotina de leva-e-traz de malas de dinheiro.

PRISÃO ESPERADA
A prisão Aldemir Bendine era uma das mais sólidas certezas, no âmbito da Lava Jato, em razão do estilo agressivo, no submundo de Brasília.

DILMA ERA FÃ
Quando o escolheu para presidir a Petrobras, a então presidente Dilma o anunciou como uma espécie de "salvação". Quase quebrou a estatal.

A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM
Ex-diretor da Funasa no governo do PT, Ruy Barreira reassumiu a direção de Engenharia e tem tudo para virar presidente. Pelo menos é o que ele próprio espalha, segundo servidores da instituição.

EFEITOS DA CRISE
Segundo o ranking dos mais ricos da América Latina, no "Top 100 Billionaires 2017" da revista Latin Trade, o dono de O Boticário, Miguel Krigsner, teria perdido 25% (um quarto!) de sua fortuna no último ano.

APESAR DA CRISE
A lista dos bilionários da Latin Trade destaca a recuperação de fortunas como a de Maria Helena Scriptilliti, uma das controladoras do grupo Votorantim, que triplicou de US$1,1 bilhão, para US$3,9 bilhões.

O QUE UNE LULA E SOCRATES
Reportagem da correspondente do site Diário do Poder em Portugal, Silvia Caetano, lembrou que após o lançamento de um livro do então primeiro ministro português José Socrates, que seria preso por corrupção, Lula foi com ele a uma festa patrocinada... pela Odebrecht.

EDUCAÇÃO MANDA BEM
Apesar da rejeição que chega a 70%, segundo a pesquisa Ibope/CNI, o governo Temer tem a melhor aprovação na área de Educação, onde 22% dos entrevistados avaliam como positiva a atuação do governo.

RUIM PARA O GOVERNO
A decisão do governo de aumentar impostos impactou na pesquisa Ibope/CNI: em geral, 87% dos entrevistados desaprovam as medidas de Michel Temer e sua equipe econômica.

MAMATA CONTINUA
Ministros da Camex adiaram por 1 mês a decisão de cancelar ou não imposto 0% para importar etanol podre dos Estados Unidos. A mamata foi obtida no governo Dilma pelo lobby das distribuidoras, inclusive americanas, que controlam o negócio de combustíveis no Brasil.

LICITAÇÃO É DETALHE
A Câmara dos Deputados volta ao trabalho semana que vem, após o recesso, e a gastar sem licitação. Só no primeiro semestre foram mais de R$104 milhões de dispensas, inexigibilidades e convites.

PENSANDO BEM...
...a popularidade de Michel Temer no Congresso não precisa ser alta, basta ser maior que a da oposição.
Herculano
28/07/2017 07:26
COMO FUGIR DO FANATISMO, por Cláudia Costin,Como fugir do fanatismo, professora-visitante de Harvard, foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração, para o jornal Folha de S. Paulo

Em livro publicado em 2006, Amartya Sen, economista indiano detentor de um Prêmio Nobel, defendia que temos múltiplas identidades e que a violência ocorre quando permitimos que uma delas se torne hegemônica e sufoque as outras. Somos seres plurais, em diálogo constante com o mundo que nos cerca, e vamos, num processo de homeostase, incorporando novas vivências e ideias, o que nos leva eventualmente a adquirir novas identidades.

A análise de Sen parece convergir com a de Amós Oz, escritor israelense que esteve recentemente no Brasil para lançar seu livro "Mais de uma Luz". No livro, o autor se pergunta como surge o fanatismo que, num certo sentido, envolve alienar-se de si mesmo e viver a vida de outrem ou um sistema de vida que elimine a difícil tarefa da vida adulta que é fazer escolhas e constituir identidades.

O fanático bloqueia o processo de contato com o meio em que vivemos e opta por seguir as prescrições de um líder, de uma celebridade ou de um mestre, sem reflexões ou elaborações próprias. Ele é incapaz de empatia genuína, pois, não se percebendo como pessoa independente, não consegue tampouco entender as motivações e sentimentos do outro.

Parece haver também a impossibilidade do humor, particularmente o ato de rir de si mesmo. Como há uma certa sacralização das condutas, inspiradas por um líder genial das massas ou um mestre inquestionável, o humor dirigido a si próprio torna-se quase uma heresia.

Mas não vamos confundir as coisas. O fanático, segundo Oz, pode ser um altruísta: ele genuinamente pode acreditar que, ao massacrar pessoas ou perseguir quem pensa diferente, está lutando pelo bem do outro. Trata-se de uma estranha forma do que Jonathan Sacks chama de altruísmo do mal: para o seu bem nesta ou em outra vida, vou lhe agredir.

Quando a escola não ensina a pensar, não se propõe a promover a autonomia do aluno, infelizmente se torna parte dessa engrenagem de produção de fanáticos. E, na adolescência, dadas as inseguranças naturais da etapa, é mais fácil atuar nessa direção, afinal é mais confortável se o professor dá respostas fechadas para todas as minhas perguntas, e os fanáticos, diz Oz (e, num certo sentido, alguns adolescentes também), odeiam respostas abertas.

E qual o antídoto, no ambiente escolar, para o fanatismo? Certamente a formação para a autonomia e para o pensamento independente fazem parte da solução, mas dois elementos devem integrar essa forma de instrução, a curiosidade e a imaginação, meios poderosos de compreensão do mundo, de si mesmo e do outro.

Não por acaso, integram também o receituário de Amós Oz para evitar o fanatismo
Herculano
28/07/2017 07:24
A MÁQUINA DE GASTAR, por Fernando Gabeira, no jornal O Estado de S. Paulo

Não são apenas os 43 centavos por litro, toda uma forma de governar está em jogo

Ao decretar o aumento do imposto da gasolina, Temer rompeu com uma das mais importantes expectativas criadas pelo impeachment de Dilma. Na época em que ela caiu não se discutiam apenas as pedaladas, razão formal, mas todo o conjunto do movimento da bicicleta: uma dispendiosa máquina de governo pesando insuportavelmente nas costas da Nação.

Verdade que Temer conseguiu aprovar a lei que impõe limite aos gastos públicos. Mas a a vida real está mostrando que uma simples lei não resolve se não houver mudança no comportamento do governo. Temer, por exemplo, decreta aumenta de impostos e libera verbas para deputados, algo que não é essencial no Orçamento. Ele vive uma contradição paralisante: governar para a sociedade ou para o Congresso?

Sua cabeça depende de ambos. Mas no momento ele teme mais os deputados, que têm o poder de cortá-la, aceitando a denúncia de corrupção passiva. A decisão de aumentar impostos não o enfraquece apenas na sociedade, mas também no próprio Congresso, que está em recesso, portanto, teoricamente mais próximo da vida real.

A escolha de usar um decreto, driblando uma decisão congressual, vai desgastá-lo. Está implícito na escolha que nem o Congresso aceitaria esse caminho. Mas as contradições não param aí. Embora não aceite o aumento de imposto, o próprio Congresso, no jogo de trocas com Temer, não trabalha com reduções nos gastos.

As contradições estendem-se ao projeto de demissões voluntárias. É um movimento legítimo, mas toca funcionários concursados. Economiza R$ 1 bilhão depois de aumento de salários que chegam a R$ 22 bilhões. Os próprios procuradores, cujo trabalho apoiamos, querem mais 16% em 2018 . Aqui, na planície, quem tem a sorte de trabalhar se contenta apenas em não perder para a inflação.

O departamento de cargos em comissão continua de vento em popa. Em especial neste momento em que o Congresso tem o destino de Temer nas mãos.

Ao dizer que o povo iria compreender o aumento do imposto, Temer acabou expressando um desejo. Nesse campo prefiro a Dilma, com seu desejo de não ter meta e dobrá-la ao atingir esse intraduzível marco.

Todo mundo sabe que paga imposto. Ainda mais quanto incide sobre a gasolina. Mesmo os habitantes do interior do Nordeste que trocaram os jegues por motocicletas compreenderam imediatamente que foram atingidos.

O aumento de impostos tem força no imaginário histórico brasileiro: luta pela independência, derramas coloniais, Tiradentes esquartejado. Nos últimos anos os empresários acharam no pato amarelo uma versão pop de sua luta contra a pesada carga tributária.

Depois de tantos escândalos de corrupção, do espetáculo de políticos de costas para o povo, as pessoas começam a perceber que tudo isso é financiado por seu trabalho. E para simbolizar a revolta quando ela chega ao cotidiano, o pato é pinto. As coisas podem ser muito mais graves.

Temer arriscou tudo nesse aumento. Tenta o suicídio numa hora em que sua energia está concentrada em sobreviver.

Não houve, depois do impeachment, um esforço sério para conter os gastos da máquina. O déficit orçamentário previsto já era generoso, em torno dos R$ 130 bilhões. Neste momento, muitos se perguntam: por que financiar a máquina oficial, corrupta e incompetente na entrega dos serviços essenciais?

Quem se lembra das manifestações de 2013 reconhece nelas uma aspiração a serviços decentes em troca dos impostos pagos. Os serviços pioraram de lá para cá. E os impostos aumentam. Isso não quer dizer que estejamos às vésperas de manifestações do tipo de 2013. Mas quem autoriza os estrategistas de Temer a supor que o decreto não trará sérias consequências?

Estrategistas podem até pensar em jogar todas as cartas no Congresso, subestimando a reação da sociedade. Mas têm de levar em conta que há um momento em que o próprio Congresso salta do barco se a pressão social o empurrar.

É um exercício retórico falar em estrategistas. A máquina tem uma lógica própria. Ele não pode mudar o rumo porque nela está ancorado um sistema político-partidário.

O desdobramento da máquina é cruel para os que pagam impostos e ao mesmo tempo é autodestrutivo. Temer apenas deu mais um passo na direção do abismo, não necessariamente pessoal, mas do próprio sistema político, em degradação. Mas é um passo que enfraquece as perspectivas de soluções políticas com mudanças em 2018. E favorece a entrada numa zona de turbulência perigosa para a própria retomada econômica.

Mas como definir outro caminho? A máquina tem seus desígnios, ela se desloca como um iceberg que se desprende do continente. Temer já era impopular. Pode-se tornar detestável. Como um iceberg que se respeita, a máquina de governo quer fazer do Brasil o seu próprio Titanic.

Ultimamente, porém, o degelo é mais rápido. Um aumento de impostos como o da gasolina terá poder pedagógico e vai aquecer muito as aspirações por um reforma política que reflita diretamente nos rumos da máquina de gastar.

Nunca se pagou tanto por espetáculo tão desolador. Os atores contam com a tolerância da plateia, clichês como a cordialidade do brasileiro. Creio que o futuro próximo vai desvendar a natureza da máquina. O que funciona hoje como marcha da esperteza pode revelar-se amanhã a marcha da estupidez: um sistema político em extinção.

A opção de aumentar impostos abriu uma nova conjuntura, sem os lances sensacionais de uma delação premiada, mas com potencial corrosivo tão ácido como ela. Piores dias levando a melhores dias: está chegando a hora de a sociedade ajustar as contas não só com a máquina de gastar, mas com o sistema político que a anima.

Não é apenas pelos 20 centavos, dizia-se nos protestos de 2013. O aumento da gasolina representa R$ 11 bilhões por ano. Ainda assim, não serão apenas 43 centavos por litro. É toda uma forma de governar que está em jogo.
Herculano
28/07/2017 07:20
ESQUELETOS ESTATAIS, editorial do jornal Estado de S. Paulo

Dados o número e as dimensões dos desvios descobertos na Petrobras, não deveria causar estranheza que um ex-presidente da empresa esteja na mira das autoridades.

Entretanto a prisão de Aldemir Bendine, que comandou a petroleira de fevereiro de 2015 a maio de 2016, relaciona-se a acusação de pedido de propina iniciado nos tempos em que estava à frente do Banco do Brasil (de 2009 a 2015).

O empresário Marcelo Odebrecht relatou, em delação premiada, que Bendine lhe cobrara, por meio de emissários, R$ 17 milhões para facilitar a renegociação de dívidas com a instituição financeira federal. De acordo com a versão, o pleito só foi parcialmente atendido (em R$ 3 milhões) quando o executivo ascendeu à Petrobras.

Faça-se a ressalva de que testemunhos do gênero não constituem prova, e a própria prisão temporária suscita dúvidas ?"entre suas justificativas está uma alegada possibilidade de fuga por meio de uma viagem para Portugal; a defesa apresentou nesta mesma quinta-feira (27) o bilhete de volta.

Fato é que se joga nova luz sobre um personagem importante e controverso das administrações petistas, tido como homem de confiança dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

No BB, Bendine participou da política de forte expansão do crédito dos bancos públicos, com a qual se procurava enfrentar os efeitos da crise internacional.

Chegou à Petrobras quando Dilma tentava salvar a empresa da bancarrota sem retirá-la do jugo do Palácio do Planalto.

Entre uma coisa e outra, envolveu-se em episódios constrangedores como a compra de um imóvel em dinheiro vivo ?"mais espantosa em se tratando, na época, do presidente do maior banco do país.

Os esqueletos nos armários das estatais, de todo modo, parecem inesgotáveis e suprapartidários. Há três semanas, por exemplo, a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima avivou as suspeitas que pairam sobre a atuação do PMDB na Caixa Econômica Federal.

Em maio, o BNDES foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga o apoio da instituição federal de fomento à JBS, dos irmãos Wesley e Joesley Batista.

Este último, em sua ofensiva delatora, gravou em março conversa em que prometeu favores ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) em troca da indicação de Bendine ?"ele mesmo?" para um posto na Vale ?"empresa privatizada há 20 anos.

Ainda que tudo esteja em fase de apuração, são abundantes os vestígios do patrimonialismo, ou da promiscuidade entre interesses políticos e empresariais.

A modernização do capitalismo brasileiro passa, sim, pela profissionalização e venda de estatais. Superar vícios da intervenção espúria do Estado na economia, no entanto, é processo mais complexo.

Deixe seu comentário


Seu e-mail não será divulgado.

Seu telefone não será divulgado.