A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Gaspar, ao longo de décadas, desempenha um papel fundamental na sociedade, realizando um trabalho de excelência na área de inclusão para pessoas com deficiência. Seu propósito é garantir direitos, além de promover autonomia e cidadania. Para isso, trabalha três eixos principais: educação, saúde e assistência. Inclusive, a entidade, que com muito planejamento e dedicação prospera, é uma referência nacional na inclusão de educandos no mercado de trabalho.
Você sabia que a Apae de Gaspar é uma das seis Apaes do Brasil que mais proporcionam oportunidades aos seus educandos? Susalin de Vargas Torresani, coordenadora pedagógica, conta que foi a Brasília participar de uma pesquisa. "Em 2022, recebemos um convite da Federação Nacional das Apaes para uma coleta de dados sobre a quantidade de usuários que incluímos naquele ano no mercado de trabalho. No ano seguinte, em março, recebemos outro convite da Federação e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)".
O processo todo incluía questionários; reuniões online; entrevista com usuários, famílias e empresas; e coleta de informações sobre como acontece a inclusão dos usuários no mercado de trabalho. "Apresentamos o que é feito antes, durante e depois; como acontece esse movimento... para servir de base às Apaes que ainda não têm esse trabalho tão bem desenvolvido e até mesmo para outras instituições que possam contribuir com uma sociedade mais inclusiva", destaca a profissional.
Susalin enfatiza que, naquele ano, foram 12 usuários incluídos no mercado de trabalho. Mas essa iniciativa da Apae de Gaspar tem décadas. Portanto, centenas de educandos já tiveram oportunidade de ingressar nas mais diversas áreas, como comércios e indústrias. "Trabalhamos com o Programa de Educação Profissional (Proep), que é divido em dois níveis: iniciação e pré-qualificação".
O primeiro nível é destinado aos educandos que não têm nenhum contato com o mercado de trabalho, ainda estão entendendo quais são as suas habilidades e o que precisam aperfeiçoar. Já o segundo nível é voltado para trabalhar essas habilidades. "Nessa parte, promovemos oficinas em parceria com o Fundo da Infância e Adolescência (FIA). Um exemplo é a oficina de gastronomia, em que os educandos aprendem não só a cozinhar, mas a fazer a gestão de produtos, planejamento de compras, venda, marketing, como lidar com o dinheiro e tudo o que o mundo dos negócios implica", reitera Susalin.
O programa contempla educandos com idade a partir dos 14 anos com diagnóstico de deficiência intelectual e/ou autismo. Além disso, é necessário estar matriculado no ensino regular os educandos com idade inferior a 18 anos. A frequência do programa ocorre no contraturno escolar. Esses são pré-requisitos da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE).
O psicólogo Sérgio Murilo Batista, colaborador da Apae, afirma que o programa de preparação e encaminhamento profissional faz com que a instituição tenha parceria com diversas empresas da cidade. “Assim que elas precisam de um colaborador PCD, fazem contato conosco e vamos até o local. Nós avaliamos qual é o cargo e vemos, dentro dos nossos educandos, quais são os mais adequados para tal função”.
Durante esse processo, a equipe da Apae acompanha o educando na entrevista de emprego, participa de todas as etapas, inclusive com a emissão dos laudos. Esse acompanhamento segue após a contratação. “Os educandos continuam referenciados para nós. Aqui eles têm neurologista, psiquiatra, clínico geral... eles podem pegar suas receitas, renovar suas carteiras de passe livre, etc. Ou seja, têm sempre um vínculo com a gente. Esse é um diferencial do nosso programa”.
Sérgio ainda conta que, nesse primeiro trimestre de 2024, foram encaminhados ao mercado de trabalho oito educandos da Apae de Gaspar. “A tendência é fazer um contato maior com as empresas, visitar, mostrar como funciona o programa e que temos sim educandos capacitados para desempenhar funções no mercado de trabalho para aumentar o número de contratações”.
Outro ponto defendido pelo psicólogo é de que o trabalho tem uma função extremamente importante. “A gente quer que nossos educandos participem de todas as interações sociais. Logo, não podemos esquecer do trabalho, que é o motor da sociedade. É gratificante ver os educandos pedindo para trabalhar, se mostrando interessados em aprender, treinar, se aperfeiçoar, assumir novas responsabilidades e ter representatividade”.
Quem conhece o trabalho da Apae de Gaspar provavelmente sabe o quanto a assistente social Vera Lúcia Stuepp Uessler se dedica pela inclusão. Colaboradora da instituição há 29 anos, ela ainda lembra com carinho do início desse projeto. “Me recordo de levar, em 1995, o nosso primeiro educando para a entrevista na Linhas Círculo. Eram outros tempos e conquistar esse espaço foi uma grande vitória para mim, para a Apae, para os familiares e principalmente para o jovem que deu os primeiros passos da sua trajetória profissional nessa indústria têxtil tão importante”.
Vera destaca que, nesse processo, a família é fundamental! “O nosso trabalho não pode ser feito sem a participação da família. Isso significa que a família é envolvida em todo o processo. Porque o nosso público requer mais orientações e também uma supervisão constante. O que quero dizer é que não basta prepara-los. A família ajuda nesse apoio diário... ver se o trabalhador está vestido adequadamente, se mantém sua higiene, presta orientações quanto aos horários e até mesmo a administração da própria renda”.
Um rapaz comunicativo, empenhado e cheio de sonhos. Aos 17 anos, Luiz Gabriel do Prado Libardoni dá os primeiros passos no mercado de trabalho. Ele é ex-educando da Apae e contou com o apoio da instituição para conquistar seu primeiro emprego. Morador do bairro Margem Esquerda, o jovem trabalha durante a manhã no supermercado Comprão e, à tarde, estuda na Escola Professor Honório Miranda.
Luiz Gabriel tem paralisia cerebral no lado esquerdo, o que afeta sua coordenação motora do braço e perna esquerda. Ele desempenha a função de embalador no supermercado. "Eu gosto muito do meu trabalho. É um serviço muito bom, com ótimo horário e bem flexível. Estou feliz em ter essa oportunidade", conta.
Para o futuro, o jovem já tem planos. "Quero ser professor de Língua Portuguesa e intérprete de Libras, então pretendo cursar Letras na universidade. Mas gosto muito de História e Filosofia, são duas áreas que também me vejo atuando como professor". Porém, seu maior sonho profissional é se tornar um grande chefe de cozinha. "Eu participei da oficina de gastronomia ofertada pela Apae, ministrada pela chef Juliana Deschamps. Gostei muito e quero, um dia, ter a oportunidade de estudar Gastronomia na Le Cordon Bleu, em São Paulo".
Diante de tantas possibilidades, Luiz Gabriel se diz grato por ter em sua volta pessoas que acreditam no seu potencial. "A Apae me acolheu. Tive professores excelentes e fui atendido por uma equipe que sempre me tratou com respeito. Isso me gerou confiança e autoestima, o que é essencial nessa fase da vida, em que estou me tornando adulto e chegando a hora de assumir novas responsabilidades", conclui.
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