Seu Cobrinha: lembranças de um sapateiro aposentado de 106 anos de vida - Jornal Cruzeiro do Vale

Seu Cobrinha: lembranças de um sapateiro aposentado de 106 anos de vida

25/10/2024
Seu Cobrinha: lembranças de um sapateiro aposentado de 106 anos de vida

Nesta sexta-feira, 25 de outubro, é celebrado o Dia do Sapateiro, uma data especial para reconhecer o trabalho desses profissionais que, com suas mãos habilidosas, moldam não apenas calçados, mas também histórias e tradições. Em Gaspar, um nome ressoa com carinho e respeito: Pedro João de Souza, conhecido como 'Seu Cobrinha', um sapateiro aposentado que, em 2024, completou impressionantes 106 anos de vida. Gasparense de coração, ele simboliza a dedicação e o amor por um ofício que atravessa gerações e marcou a vida de muitos moradores da cidade.

A trajetória profissional de seu Cobrinha começa em 1938, quando aos 18 anos chegou a Gaspar junto com seu irmão para dar início à jornada no mundo dos calçados. Naquela época, a cidade ainda era pequena e carente de comércio formal. Portanto, a sapataria que abriram se tornou uma referência na região. "Trabalhamos em algumas sedes, mas a última foi aqui mesmo na minha casa. Naquela época, não havia lojas e as pessoas gostavam mesmo era dos calçados feitos a mão. E modéstia à parte, eu sempre fui muito caprichoso", conta o simpático senhor com brilho de orgulho nos olhos.

Seu Cobrinha relembra com satisfação os tempos áureos da sapataria artesanal. “Era um trabalho muito detalhado, feito com carinho. As pessoas valorizavam a qualidade e eu sempre fiz questão de entregar o melhor possível”, destaca. A atenção aos detalhes e a paixão pelo ofício tornaram seu Cobrinha conhecido por sua habilidade e criatividade, elementos que, segundo ele, são essenciais para um bom sapateiro: "Para ser um bom sapateiro é necessário ser criativo, ter facilidade em trabalhos manuais, saber administrar seu tempo para cumprir os prazos dados aos clientes e também lidar com pedidos inusitados".

Entre as muitas histórias que coleciona... uma, em especial, marcou profundamente sua carreira. "Certa vez, um cliente chegou à minha sapataria bastante triste, dizendo que não conseguia achar calçados no seu tamanho. Ele me perguntou se eu tinha forma no número 49. E eu não tinha... Mas fiz questão de criar uma exclusiva para esse rapaz. Medi os pés dele, fiz o desenho, desenvolvi um molde no formato que mais lhe agradava e então fiz o tão sonhado sapato. Pensa em um homem feliz, me agradeceu muito. Eu guardo essa história com carinho, pois ganhei um cliente e um amigo", relembra.

Essa dedicação ao cliente era a essência do trabalho de seu Cobrinha. Ele sabia que não se tratava apenas de fazer sapatos, mas de entregar soluções para as pessoas, muitas vezes personalizadas e exclusivas. Isso o tornava um verdadeiro mestre no ofício, capaz de atender às necessidades mais específicas de seus clientes e, assim, conquistar sua confiança e amizade.

Mesmo aposentado há décadas, Pedro João de Souza continua sendo uma figura querida na cidade. Os amigos e vizinhos ainda o procuram, seja para uma conversa ou para ouvir suas histórias sobre os tempos em que sapatos eram feitos sob medida, com dedicação e paciência. “Hoje em dia tudo é muito rápido e industrializado, mas eu ainda acredito no valor do trabalho manual. Acho que é isso que me mantém ativo por tantos anos”, reflete ele.

Aos 106 anos, seu Cobrinha continua com a mente afiada e um sorriso no rosto. Ele se orgulha do impacto que teve na vida de tantos. Neste Dia do Sapateiro, sua história se destaca como um exemplo de dedicação ao ofício e de amor ao que se faz. Em uma época em que os sapateiros eram fundamentais para o cotidiano das cidades, Pedro João de Souza construiu um legado que vai muito além de calçados: uma vida pautada pela ética, pela criatividade e pelo respeito ao cliente.

A data

O Dia do Sapateiro é comemorado em 25 de outubro, em homenagem a São Crispim e São Crispiniano, padroeiros dos sapateiros. Segundo a tradição, ambos foram mártires cristãos e, durante suas vidas, trabalhavam como sapateiros enquanto pregavam o cristianismo. A data é uma celebração do trabalho desses profissionais que com suas mãos hábeis transformam couro e material bruto em peças que acompanham as pessoas em suas caminhadas diárias.

 

 

 

 

 

 

Edição 2176
 

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