Embora a vida tenha lhe proporcionado muitas surpresas e momentos difíceis, Dulce Lenfers, 92 anos de idade, nunca se deixou abalar e conseguiu enfrentar, com muita garra e coragem, todos os desafios. Ao lado do grande e único amor, ela construiu aquilo que acredita ser sua maior conquista e seu grande presente: a família. Hoje, dona Dulce vive com disposição e vontade de seguir em frente para acumular ainda mais ensinamentos, lições e carinho.
Contar a trajetória de vida é tarefa simples para Dulce Lenfers. As lembranças dos longos anos de vida estão muito bem guardadas na mente e no coração. Elas são sempre relatadas com muito carinho e orgulho. Nascida em 24 de março de 1921, no bairro Poço Grande, em Gaspar, a simpática senhora ainda se recorda da infância, época muito marcante de sua vida.
Ao lado dos quatro irmãos e dos pais, José Jacó e Olívia Wan-Dall, Dulce cresceu trabalhando na roça diariamente. Devido ao trabalho no campo, ela estudou apenas até a terceira série, em uma pequena escola que ficava no centro da cidade, onde hoje é a Praça Getúlio Vargas. Neste mesmo bairro em que nasceu e cresceu, a senhora de 92 anos de idade conheceu seu grande amor, Francisco Lenfers, o responsável por grande parte dos sorrisos, alegrias e emoções vivenciados até hoje.
Francisco era carpinteiro e acabou indo trabalhar em uma casa que o pai de Dulce estava construindo. Nesta época, ela trabalhava em Blumenau e quando o viu, ao chegar para visitar a família, foi amor à primeira vista. Mostrando pela primeira vez um grande sorriso, ela diz que se apaixonou no instante que o viu, assim como aconteceu com ele. A partir daí, eles iniciaram o namoro.
Como ela trabalhava no município vizinho, eles se viam apenas em alguns finais de semana. Como não se encontravam com muita frequência, o futuro marido lhe enviava cartas para mostrar que constantemente pensava nela. O brilho nos olhos de Dulce ao falar sobre essas cartas é visível, assim como a emoção que transmite no tom de voz. Elas foram tão importantes para ela que seguem preservadas com carinho até hoje.
Após um ano e meio de namoro e um ano e meio de noivado, eles se casaram e logo em seguida se mudaram para a Margem Esquerda, onde deram início à construção da família. Dulce e Francisco tiveram cinco filhos, que, mesmo entre todas as dificuldades enfrentadas, cresceram da melhor maneira possível, recebendo todo o amor e carinho necessários para se tornarem adultos tão exemplares quanto os pais.
Durante os 10 anos em que ficaram casados, Dulce continuou trabalhando na roça e Francisco como carpinteiro. Dessa maneira, eles construíram uma casa no mesmo bairro. Apesar disso, ele não morou neste novo lar por muito tempo. Emocionada, ela conta que o marido descobriu que estava muito doente e morreu pouco tempo depois. A saudade que sente do primeiro e único amor ainda está estampada em seu rosto, assim como a inconformidade em tê-lo perdido tão rapidamente. Dulce usou apenas roupas pretas durante cinco anos e nunca mais se casou. Para a querida senhora, marido é um só e igual ao seu ela nunca encontraria. Apesar desta época difícil e da ausência do marido durante todo este tempo, ela encontrou nos cinco filhos, 19 netos, 24 bisnetos e cinco tataranetos todo o apoio e companheirismo necessários para seguir em frente.
A dedicação para o trabalho é algo que dona Dulce carrega desde muito nova, quando começou a ir para o campo ajudar a família. Ela revela que sempre gostou muito de trabalhar. Quando jovem, foi morar em Blumenau para trabalhar como doméstica. Por lá ficou durante algum tempo, até mesmo depois de se casar. Quando retornou ao município, continuou trabalhando na roça, já casada.
Após a morte do marido, a vida de Dulce sofreu uma grande reviravolta. Ela se lembra desta época com certa tristeza no olhar e muita seriedade na voz. Sem a companhia de Francisco, ela teve que cuidar dos quatro filhos, sendo que estava esperando pelo quinto. Como havia muitas dívidas a serem pagas, ela não pode deixar de trabalhar. Foi então que começou a trabalhar na fazenda da Sulfabril, onde passou por momentos cansativos e difíceis. Depois de cerca de dois anos, retornou a Blumenau para trabalhar novamente como faxineira. No município vizinho, ela trabalhou até se aposentar, aos 60 anos de idade.
Hoje, Dulce vive com uma das filhas no bairro Coloninha e ainda encontra muita disposição para preencher cada dia. Todas as dificuldades pelas quais passou são lembradas com muito carinho, já que foram responsáveis por torná-la quem é hoje: uma mulher de garra e muita força.
Edição 1446
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