É muito raro encontrar um gasparense que não relacione a Praça Getúlio Vargas diretamente à imponente figueira plantada bem ao centro da principal praça da cidade.
O município não possui registros da data em que a árvore símbolo de Gaspar foi plantada, porém, fontes não oficiais afirmam que o primeiro prefeito de Gaspar, Leopoldo Schramm, teria sido o responsável pelo seu plantio, em meados da década de 1930. Desde então, a figueira presenciou protestos, eventos e comemorações, todos realizados sob sua copa, que hoje não está tão exuberante quanto poderia estar.
Em uma análise do biólogo e mestre em ecologia Lauro Bacca, pontos positivos e negativos foram destacados.
O especialista aponta para o estado da copa da figueira, que está débil e afirma que esta debilidade é sinal de que a saúde da árvore não está perfeita, embora não haja aparente infestação de parasitas ou galhos podres que ameacem cair. ?Posso afirmar isto com o conhecimento que tenho na área. Porém, por eu não ser especialista da área que diagnostica doenças em árvores, não tenho condições de dizer se ela está doente. É preciso que um especialista faça uma análise conclusiva do assunto?.
Sobre os cuidados que a árvore recebeu durante os anos, Lauro observa diversas necroses causadas por antigos maus tratos.
?A necrose não mata tecido vivo da árvore, mas pode vir a prejudicar na questão da sustentação a longo prazo?. Bacca comenta que necroses são comuns em árvores urbanas e que algumas espécies podem viver séculos do mesmo jeito. Quanto às podas da árvore, o ecologista afirma que foram feitas de forma errada. Especialista desta área, ele explica que o corte deve ser feito o mais rente possível do caule, sem deixar ângulos, e mostra que foi feito o tratamento correto após a poda em um dos cortes da árvore, em que foi passado algum tipo de substância com cobre.
A árvore cujo diâmetro do caule chega a quase dois metros é um verdadeiro jardim suspenso. Bacca elogia a atitude da prefeitura de não remover as plantas epífitas ? bromélias, barba de velho ? que muitas vezes viu serem arrancadas de outras árvores da região. ?Algumas pessoas acreditam que as plantas epífitas causam a morte da árvore, o que é um erro. O que temos aqui é um belo jardim?.
De acordo com o assessor administrativo do Departamento do Meio Ambiente, Jadson Fernandes, a figueira da Praça Getúlio Vargas encontra-se em perfeitas condições. Ele afirma que não há nada além dos líquens existentes no caule da árvore, que são normais para qualquer planta desta idade. ?Um amigo meu, que é biólogo da FURB, veio no mês passado para Gaspar olhar a árvore e declarou que não havia absolutamente nada de errado com ela?. A pasta responsável por cuidar da manutenção e da poda da figueira é a Secretaria de Obras.
O biólogo Lauro Bacca lembra ainda que há uma onda de doenças de figueiras na região. Um dos casos mais marcantes foi o da figueira que costumava embelezar o paço da Prefeitura Municipal de Blumenau, plantada na Praça Victor Konder, e que foi removida no início deste ano. Diagnosticada com cancro, ela passou a representar risco para todos aqueles que frequentavam a praça. A retirada do caule da planta centenária demandou auxílio de motosserra e guindaste. O trabalho foi executado por funcionários da Diretoria de Serviços Urbanos e da Fundação Municipal do Meio Ambiente e levou dois dias para ser concluído.
Assim como a figueira simbólica da Praça Getúlio Vargas, a sombra da figueira blumenauense abrigou manifestações de funcionários públicos, e por isso será sempre lembrada como palco das paralisações, além de ter gravado sua beleza na memória dos moradores da região.
?Vamos para a figueira?. Esta frase, dita por qualquer membro do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Gaspar, representa a vontade de fazer uma mobilização, uma greve ou paralisação para chamar a atenção da administração pública. A árvore já virou protagonista dos movimentos trabalhistas, abrigando os manifestantes sob sua copa.
O presidente do Sintraspug, Sérgio Luis Batista de Almeida, considera a árvore um ponto de referência muito importante, e destaca que não é de hoje que a imponência da planta lhe deu um valor simbólico nas paralisações. O presidente afirma que a figueira de Gaspar no passado já tinha este valor e que outras da região, como a de Blumenau ? removida no início deste ano ? também o possuem. ?É uma árvore histórica, pomposa, que chama a atenção. E além disso oferece uma sombra muito boa para os grevistas?, brinca Sérgio. Em um primeiro momento de negativa por parte do poder público, é a Praça Getúlio Vargas, com sua imponente árvore que aparecem em primeiro lugar como palco das manifestações dos funcionários públicos gasparenses.
A localização da figueira é estratégica, no centro da cidade, o que também faz com que ela seja um palco propício para os diversos eventos culturais que são organizados ao redor da árvore todos os anos. A grande movimentação do centro da cidade e grande quantidade de pessoas que passam pela Praça Getúlio Vargas vêm apenas reforçar as vantagens da realização de atividades no local. ?Desde que eu consigo me lembrar, a figueira existiu e trouxe beleza para este espaço. Os eventos são realizados ali pela localização do espaço, pela sombra que a árvore oferece e pela beleza?, comenta o diretor do Departamento de Cultura, Dayro Bornhausen. Ele dá ênfase ao fato de a árvore já ser uma referência para o povo gasparense que automaticamente liga a praça à figueira.
A falta de outros lugares semelhantes, as poucas praças existentes na cidade, fizeram, na opinião de Dayro, com que a figueira se tornasse um símbolo maior, de muita importância no município. ?Se algum dia a figueira for retirada, sobrará apenas um vazio?.
Para Márcia Regina Pereira Junges e Marcos Roberto Junges ? assim como para muitos outros casais da cidade ? a figueira traz lembranças que vão além de sua beleza. Por cerca de três anos, período em que durou o namoro antes do casamento, a árvore assistiu os desmanches, reates e brigas, e também, é claro, aos beijos e abraços do então jovem casal.
?Se essa figueira fosse fofoqueira, se essa árvore falasse...?, ri-se a diarista, que morava com os tios na juventude e ia todos os dias à noite na praça para namorar. O tio era segurança da prefeitura na época, então ela e a tia o acompanhavam até o final do expediente.
O namoro começou quando ela tinha 16 anos e era vigiado pela tia, que observava o casal se sentar embaixo da figueira ? na época ainda não existiam os bancos ? onde ficavam até o final do horário de trabalho do segurança.
?Sempre que eu passo na frente, lembro daquela época, até já falei para várias pessoas que era ali que eu e meu marido namorávamos?. Márcia observa que ainda hoje vários adolescentes, e idosos enquanto esperam para os bailes, namoram nos bancos da praça.
Por todos os entrevistados, a praça e, consequentemente, a figueira, foram descritos como um ponto de encontro, por ser fácil de achar e se localizar na principal rua da cidade.
Porém, por algum tempo, os encontros não tinham sempre uma razão positiva para acontecer. O consumo de drogas e álcool por parte de jovens costumava acontecer no local.
?Hoje não percebo mais jovens utilizando qualquer tipo de drogas e álcool na praça Getúlio Vargas. A concentração que acontece à noite se deve ao fato de a praça ser o único local público existente para encontro?, comenta Ricardo do CADE.
Ana Maba, da Assessoria de Assuntos da Juventude, afirma que nunca recebeu nenhuma reclamação do uso da praça para estes fins. ?Os jovens costumam usar este local para conversar com os amigos, passar o tempo, acessar a internet, que é liberada pela prefeitura e às vezes até encontro pessoas cantando e tocando violão?, conta.
Ana acredita que os jovens frequentem o local por ele ser tranquilo, ideal para encontro com amigos.
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