A travessia é perigosa. Com um pequeno passo de cada vez, as crianças e outros moradores que residem no bairro Belchior cruzam a ponte improvisada com cautela. A antiga travessia foi levada pela correnteza das águas que invadiram a rua José Schmitt Sobrinho no último dia 28 de setembro, segunda-feira, e ainda não foi substituída. Apenas um tronco faz a ligação entre as margens do ribeirão.
Desde a última semana, as mais de 20 famílias da região estão sem o serviço de transporte coletivo e sem coleta de lixo devido à ausência do acesso principal às suas moradias. "Tenho de percorrer um trajeto com sete quilômetros a mais com os caminhões da minha empresa por causa da falta de acesso e eu não sou o único a ter prejuízos", explica Elimar José Theiss, referindo-se às mais de dez pequenas empresas que estão instaladas na região e que também precisaram mudar o trajeto.
A moradora Olandina Tesch conta que os problemas começaram em novembro do ano passado, com a tragédia que atingiu o Vale do Itajaí. Ela destaca que a ponte construída no local após a catástrofe estava suprindo as necessidades da comunidade, mas que depois das chuvas do dia 28 ficou impossível utilizar a passagem. "Nosso bairro está esquecido. Soube até de uma empresa que vai embora daqui porque faltam incentivos", revela.
Olandina enumera os problemas e destaca que a comunidade já está cansada de ficar à própria sorte, pois além da ponte, a rua sofre com alagamentos constantes. "Bastam cinco minutos de chuva forte para nossa rua virar um verdadeiro rio. Não dá nem para sair de casa porque a correnteza é muito forte", acrescenta.
Quando as nuvens estão carregadas e as primeiras gotas começam a cair, a moradora Daniela Murceski ergue os olhos para o céu e recorre à fé em busca de segurança. "Não tem mais nada que possamos fazer quando a rua fica alagada, só pedir pra que Deus nos ajude. Isso sempre nos lembra da tragédia de novembro. É muito triste", lamenta Daniela, que reside há sete anos na localidade.
Dificuldades
A estudante Mayara Back cursa o terceiro ano da escola Frei Godofredo e já contabiliza dezenas de faltas porque frequentemente fica sem ter como ir à escola. Ela conta que alguns professores entendem sua situação e a ajudam a recuperar o conteúdo, mas que nem sempre é assim. "Já perdi trabalhos e provas. Isso não poderia acontecer, ainda mais em ano de vestibular".
A mãe da aluna, Marlete Back, revela que muitas mulheres que trabalham no terceiro turno precisam enfrentar a água do rio porque é perigoso atravessar o trecho no escuro. Ela acrescenta que, além de andar quase 30 minutos para chegar até o ponto de ônibus, elas ainda precisam percorrer o trajeto no escuro pois a iluminação pública é precária.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Um dia após a visita da equipe de reportagens do Jornal Cruzeiro do Vale à comunidade que reside no Belchior, uma equipe da Secretaria de Obras foi até a rua José Sobrinho Schmitt para verificar a situação da ponte e da falta de acesso à localidade.
Durante toda esta quinta-feira, funcionários da Secretária, supervisionados pelo secretário da Pasta, Joel Reinert, estiveram no local para reconstruir o acesso e amenizar o problema. "Fizemos uma travessia de emergência que suporta a passagem de carros e outros veículos leves. Utilizamos tubos de 60 cm e colocamos concreto em cima", explica.
Joel reconhece que a solução ideal para resolver o problema seria a construção de uma ponte de concreto e acrescenta que já consultou a Secretaria de Planejamento para que o projeto seja feito. Assim que toda a documentação estiver pronta, será aberta licitação em caráter emergencial pra que a obra saia do papel e seja concluída.
A previsão do secretário é de que todos os trabalhos estejam concluídos em aproximadamente 60 dias, se o clima colaborar. "O projeto já está sendo elaborado e dentre de pouco tempo deveremos ter uma resposta definitiva para aquela comunidade", acrescenta.
Ponte
A obra deverá ter duas cabeceiras de concreto pois, segundo Joel, outro tipo de construção será facilmente levada pelas águas, a exemplo das outras pontes que já foram construídas na localidade. "Precisamos garantir que a nova ponte seja definitiva para que os moradores e empresários possam voltar a suas rotinas", finaliza.
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