Biografia de Frei Bruno é lançada no Salão Cristo Rei - Jornal Cruzeiro do Vale

Biografia de Frei Bruno é lançada no Salão Cristo Rei

13/11/2014

dsc1890GG.jpgO Salão Cristo Rei foi palco de fé e inspiração na noite desta quinta-feira, dia 13. Com ampla presença de fiéis, o espaço recebeu o lançamento oficial do livro ?Frei Bruno Linden: tudo para todos?, escrito pelo frei Clarêncio Neotti, presidente da Comissão História do processo de beatificação de Frei Bruno Linden. A vida do frade que passou por Gaspar no início do século passado e agora é alvo de um processo de beatificação no Vaticano é contada nas 318 páginas da biografia, que será parte integrante do processo a ser enviado a Roma.

O lançamento foi organizado pela Paróquia de Gaspar e contou com a presença do autor do livro, jornalista, autor de diversos livros religiosos e que hoje reside em Vila Velha (ES), onde é Vigário Paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo.

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Fiéis fizeram questão de comparecer ao lançamento e pedir o autógrafo do autor do livro. Rosa Schmalz, 75 anos, conheceu a história de Frei Bruno por orações na igreja e decidiu comparecer ao lançamento para apoiar a iniciativa. ?Acho que a gente tem que ajudar nas ações da Igreja e, ouvindo o autor falar, fiquei curiosa para conhecer melhor a vida de Frei Bruno?, conta.

Irmã Walfrida também compareceu ao lançamento e se diz ansiosa para conhecer mais detalhes da trajetória do frade que passou por Gaspar. ?A gente já conhecia algumas passagens da vida dele, mas agora será uma oportunidade para aprofundarmos isso?, destacou. Francisco Hostins, que conheceu Frei Bruno quando ele deu uma palestra no seminário que ele frequentava, em Rodeio, ficou feliz por participar do lançamento do livro em Gaspar. ?Nunca esqueci o diálogo que ele nos apresentou?, recorda.

O presidente do Conselho da Paróquia, Clarindo Fantoni, avaliou positivamente o lançamento pelo fato de ter incluído Gaspar no roteiro que será enviado ao Vaticano, no processo de beatificação de Frei Bruno, e também por oportunizar a cidade conhecer mais de perto o Frei Clarêncio Neotti. ?Ele tem um conhecimento esplêndido e, ao longo desta semana, rezou missa, conversou com fiéis. É sempre um prazer estar perto de pessoas com tanta sabedoria, ajuda a fortalecer ainda mais as ações da igreja?, frisou.

 

 

Trajetória e beatificação

Filho de Humberto Linden e Cecília Golden, Frei Bruno Linden nasceu em Dusseldorf, na Alemanha, em 8 de setembro de 1876. Em 1894, ainda como noviço, aportou em Salvador, na Bahia, de onde logo partiu para o sacerdócio, estudando filosofia e teologia em Petrópolis. Entre 1902 e 1906, atuou como superior e coadjutor na Paróquia de Gaspar. Trabalhou também em São José, Não-Me-Toque (RS), Rodeio e Xaxim. Já com 80 anos, foi para Joaçaba, onde viveu até 1960, quando morreu vítima de infarto.

No ano passado, o Vaticano concedeu o ?Nihil obstat? (nada obsta) para o pedido de beatificação de Frei Bruno Linden. O documento permite que o processo avance junto à Santa Sé. Na Igreja Católica, a beatificação permite que sejam prestados cultos públicos e é considerada uma etapa anterior à canonização.

 

 

Divulgação/InternetMonumento no Meio-Oeste

Em Joaçaba, cidade no Meio-Oeste em que atuou nos últimos anos de vida, Frei Bruno é lembrado até hoje e ganhou, inclusive, um monumento especial. A estátua de Frei Bruno fica no Morro Panorâmico, o ponto mais alto de Joaçaba, e foi inaugurada em 2006. Com 37 metros de altura, o monumento só perde em tamanho para a estátua do Cristo Redentor (40 metros) e para a Estátua da Liberdade (57 metros).

A obra foi idealizada pelo artista plástico Cláudio Silva, que montou toda a estrutura usando 24 peças em fibras de vidro, material mais leve e do qual, segundo o autor, não há precedente no país. A torre do monumento é dividida internamente em pavimento térreo, onde está instalado o Museu Frei Bruno, e pavimento superior, com restaurante panorâmico para 72 pessoas. Mais acima, há um mirante com vista panorâmica para as cidades de Joaçaba e Herval d?Oeste. A construção envolveu verbas públicas, doações de romeiros e empresários da cidade, região e do Estado.

 

 

Romaria anual

Uma vez por ano, também acontece na cidade a Romaria Penitencial Frei Bruno. Promovida e organizada pela Associação Amigos de Frei Bruno e Catedral Santa Teresinha, é realizada no início do ano, normalmente entre fevereiro e março. Com cruzes, velas e santinhos, os fiéis, na maioria das vezes descalços, percorreram quase três quilômetros de Joaçaba e Luzerna até o jazigo no Cemitério Municipal Frei Edgar.

 

 

 

Beatificação - O processo

- O processo de beatificação só pode ser aberto pelo bispo da cidade em que a pessoa nasceu ou morreu.

 

- Quando o bispo abriu em sessão solene o processo, o que já ocorreu, Frei Bruno ganhou o título de venerável.

 

- Depois disso, foi enviada para Roma uma pequena biografia de Frei Bruno. A partir daí, Roma consulta seus arquivos e, se houvesse algo contra ele, responderia que não se pode haver processo.

 

- Quando Roma aceitou o processo como estava e disse ele poderia continuar, automaticamente Frei Bruno se tornou ?Servo de Deus?, situação dele no momento.

 

- Agora, os trabalhos se concentram em três comissões, no Brasil. A comissão história foi responsável pela biografia e pela busca por documentos e já concluiu os trabalhos. Há ainda a comissão de levantamento de pessoas que o conheceram, ouviram falar dele ou possuem uma carta escrita por ele. Este grupo também já finalizou os processos. Uma terceira comissão, formada por teólogos, vem examinando 360 páginas de escritos de Frei Bruno. A análise leva em conta as virtudes cristãs e deve terminar até o dia 30 de novembro.

 

- Se essa análise terminar no prazo, uma nova reunião deve marcar o encerramento dos trabalhos no país. Um capítulo especial sobre o método usado nas pesquisas será juntado ao restante do material, que será entregue ao bispo de Joaçaba, Dom Mário Marquez.

 

- Na véspera da próxima Romaria Penitencial, que ocorre já no primeiro trimestre de 2015, em Joaçaba, uma sessão solene deve marcar o fechamento dos materiais elaborados e o envio para Roma, onde os relatórios serão analisados por teólogos. A beatificação, que ainda dependerá da comprovação de milagres, poderá ser marcada para Joaçaba ou para o Vaticano.

 

 

 

 

 

ENTREVISTA

 

dsc1937GG.jpg?Era um homem íntegro, um pacificador?

 

Em entrevista ao Cruzeiro do Vale, o autor da biografia de Frei Bruno, Frei Clarêncio Neotti, falou sobre a elaboração do livro e sobre características marcantes do padre que agora passa por processo de beatificação. Confira abaixo:

 

Jornal Cruzeiro do Vale - Como surgiu a ideia do livro e como foi o processo de elaboração?

Frei Clarêncio Neotti - A ideia de fazer o livro não foi minha, foi um pedido do bispo de Joaçaba (Mário Marquez). O povo, sobretudo de Joaçaba, estava pressionando e uma biografia oficial era exigência para abrir o processo de beatificação. Só o que existia era uns livrinhos de piedade com dados repetidos do necrológio, que tinham erros de datas e informações. Eu tinha acabado de escrever a biografia do Frei Aurélio Perguntaram-me se eu aceitava o trabalho. Como era bispo e meu provincial, eu conheci Dom Mario porque ele foi bispo auxiliar em Vitória, responsável por Vila Velha, então o conhecia bem, e ele conhecia a mim também. Tinha acabado de escrever a biografia do Frei Aurélio Stulzer, um frade que morreu nonagenário em Vila Velha (ES) com fama de santidade e que é filho de Jaraguá do Sul.

 

Cruzeiro do Vale - Por onde iniciou os trabalhos?

Frei Clarêncio - Aceitei a tarefa e, como vi que era condição para abrir o processo, fui logo consultar os arquivos necessários. Sabia exatamente onde o Frei Bruno tinha trabalhado e qual era a diocese responsável, o que foi uma vantagem. Algumas dioceses têm tudo arquivado, organizado, sobretudo a de Florianópolis, que me encantou. Outras não têm nada.

Meu trabalho com a comissão de História foi fazer o levantamento dos documentos. Quando comecei, todos diziam que eu não acharia nada. No entanto, consegui um acervo de mais de 3 mil páginas fotocopiadas. Frei Bruno era muito fiel ao que chamamos de Livro de Tombos, um livro em que o padre escreve os acontecimentos da paróquia e da cidade. Por sorte, ele foi fidelíssimo ao escrever esses livros. Encontrei o Livro de Tombos de Gaspar, de São José, Não-Me-Toque (RS) e de Rodeio, onde Frei Bruno ficou 19 anos. Depois consultei outros materiais, o arquivo da minha província e, além disso, recolhi material paralelo, como os que falam das criações dos municípios em que o Frei Bruno atuou.

 

Cruzeiro do Vale - O senhor chegou a ter contato com Frei Bruno?

Frei Clarêncio - Conheci-o quando era criança. Sou de Salete, que naquele tempo se chamava Ribeirão Grande. Ele veio visitar as irmãs catequistas, então eu ajudei na missa dele quando tinha uns 9 anos. Fui revê-lo quando fiz o noviciado em Rodeio, em 1954. Frei Bruno não era grande orador, não era um homem de frases, mas era um homem que todo mundo entendia. E isso conta muito para quem faz o sermão. São aqueles que falam de tal maneira que todo mundo está satisfeito e contente. E Frei Bruno era um desses. Ele pregava em italiano, em alemão, em português, conforme a necessidade de quem estava à frente dele.

Frei Bruno tinha três irmãs. Em 1950, ele renunciou ao direito de visitar a família em Dusseldorf, na Alemanha, e, em carta, ele diz que ainda tinha duas irmãs vivas. Conseguimos as certidões de casamento dos pais, de batismo dele, tudo isso está anexado no processo.

 

Cruzeiro do Vale - Que virtudes de Frei Bruno mais lhe impressionam?

Frei Clarêncio - Primeiro: ele era um homem íntegro. Não escutei em momento algum alguém o chamando de isso ou aquilo. Ele chegava a uma capela extremamente brigada entre si, o que é costume, e pacificava o pessoal. Chegava a uma família em briga, e pacificava. Era um pacificador e, para ser assim, você precisa ter um coração pacificado. Ele tinha uma confiança absoluta do povo. O povo confiava nele, porque ele também confiava no povo. Quando você cria uma confiança total numa pessoa, essa outra pessoa pode te ajudar muito, chegando até a um extremo de poder te curar de uma doença ou de estabelecer paz interior.

Se eu pudesse chamar a atenção, ele deve ser o santo da família. Evidente que a família do tempo dele não é a família de hoje. Mas a família de hoje está necessitada de exemplos, de caminhos familiares. Isso o Frei Bruno tem. A pastoral dele não foi organizada como é hoje, mas a forma dele de ser pastor, de ser pároco, era visitando as famílias. Por isso ele andava muito a pé, era famoso como homem de rua.

 

Cruzeiro do Vale - Que inspirações ele pode trazer aos mais novos?

Frei Clarêncio - Existe uma qualidade impressionante no Frei Bruno que é o respeito pela outra pessoa. Não encontrei uma palavra negativa sobre o bispo dele, contra um coadjutor, um coloquial ou um político. E naquele tempo, havia dois partidos que se odiavam entre si, que era o PSD e a UDN. Frei Bruno tinha como princípio: direita ou esquerda, são meus paroquianos. Acho que precisamos muito disso hoje em dia.

 

Cruzeiro do Vale - Como o senhor vê hoje a passagem dele por Gaspar?

Frei Clarêncio - Frei Bruno foi ordenado padre em 1º de maio de 1901, na primeira turma do Instituto Teológico de Petrópolis (RJ). Depois disso, ficou um ano inteiro estudando teologia e visitou capelas em toda a baixada fluminense. Em dezembro de 1903, recebe transferência para Gaspar. Quem é o pároco? Frei Solano. Ele veio e ficou aqui como adjutor e também como pároco, o que não era comum na época, pelo pouco tempo de casa. Frei Bruno deixou Gaspar quando foi nomeado pároco de Cebolas. Foi uma passagem importante para ele. Os primeiros anos são sempre de aprendizado. 

 

 

O livro

?Frei Bruno Linden: tudo para todos?

Autor: Frei Clarêncio Neotti

Tiragem: atualmente na 4ª edição, o livro já teve mais de 4 mil exemplares impressos

Número de páginas: 318

Tempo de pesquisa e elaboração: três anos e meio

Valor: R$ 25, na noite de lançamento

Onde comprar: Secretaria da Paróquia de Gaspar?

Edição 1640

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