Gaspar na visão da historiadora Leda Baptista - Jornal Cruzeiro do Vale

Gaspar na visão da historiadora Leda Baptista

18/03/2020

Divulgar a importância da emancipação política no desenvolvimento social e econômico de Gaspar. Esse é o principal objetivo da professora e pesquisadora Leda Maria Baptista no mês em que a cidade completa 86 anos de história. Nesta edição, o Cruzeiro do Vale dá voz a essa empenhada profissional para resumir os impactos causados na época em que o município de tornou independente. 

Nosso primeiro prefeito foi Leopoldo Schramm (1934 a 1947). Ele ganhou como patrimônio da separação com Blumenau duas mesas, dez cadeiras, um armário e uma máquina de escrever, além de ferramentas. Com tão pouco, conseguiu dar início ao seu mandato. Junto de seus conselheiros, alugou uma casa antiga do senhor Bruno Wehmuth para instalar a prefeitura, que segue no mesmo terreno. Antes disso, a Intendência do Distrito atendia onde hoje em dia está localizada a loja ‘J Passos’.

Como tudo começou

“Em 1934, como reflexo de todos os acontecimentos políticos difíceis que estavam passando o Brasil e, consequentemente, em Santa Catarina, ocorreu em Gaspar um fato que já era por demais aguardado. Até então, o território pertencia a Blumenau, assim com Indaial, Benedito Novo, Ibirama e Massaranduba, por exemplo. Eram todos distritos da grande Blumenau.

A força de lá era do Partido Republicano, que defendia a ‘política do café com leite’, um sistema antigo e viciado. Isso quer dizer que os governos do Brasil sempre intercalavam a presidência entre representantes de São Paulo e Minas Gerais, maiores produtores de café e leite, respectivamente. A situação causava um desconforto nos outros estados que nunca tinham chance de participar das decisões nacionais.

Esse grupo mantinha o poderio todo porque comandava municípios de maiores portes, onde a votação era mais fácil de dirigir o eleitorado. Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, aproveitando o descontentamento geral, propôs um novo partido. Ele então criou a ‘Aliança Liberal Nacional’, que previa que o Brasil fosse governado por presidentes de outros estados também.

A ideia deu certo. Ele saiu vitorioso. Isso foi considerado um golpe de estado, porque Getúlio destituiu o presidente eleito. Inclusive, aqui em Santa Catarina, o governador foi expulso, assim como aconteceu com telegrafistas e mestres de polícia. Toda a chefatura, a estrutura administrativa que era do Partido Republicano foi retirada a força, com armas, dos seus postos, para que outros líderes assumissem.

Lembrando que o foco não era Gaspar. Porém, deixar Blumenau um município pequeno, sem expressão política. A partir do Artigo n. 499, foram emancipados, de Blumenau, dois municípios: Gaspar e Hamônia (atual Ibirama). Logo nos dias seguintes, as demais terras obtiveram essa conquista. O interessante é que, de uma única ação política, Blumenau ficou muito reduzida. Talvez, chegou a ter 1/10 de seu tamanho original.

A vitória do Partido Liberal fez utilizou os novos munícipios para demonstrar a força, no sentido de comprovar as mudanças que o grupo estava provocando no Brasil”.

Educação

“Uma das primeiras ações foi fechar as escolas que ensinavam em língua italiana e alemã. Isso porque a unidade de ensino deveria lecionar em língua nacional. Uma das maiores mudanças registradas em Gaspar, nesse sentido, foi o encerramento dos trabalhos em uma instituição do professor Rudolfo Gunther. Logo em frente, dois anos depois, foi aberto o Grupo Escolar Professor Honório Miranda.

Foi uma construção em tempo recorde. A prefeitura, com o apoio do estado e população, deu conta. A própria comunidade doou o terreno e mão de obra. Houve um mutirão para que Gaspar se tornasse um município próspero e digno do status de município. Havia uma urgente necessidade de trazer professores para ensinar aqui.

Ou seja, a escola contou com profissionais de São Paulo e Florianópolis. Nessa escola ainda foi instada uma outra novidade: o Curso Complementar, que preparava os próprios estudantes a serem professores. Quando formados, passaram a lecionar nas novas escolas no interior.

São exemplos os professores Frida Clara da Silva, Osório Carvalho, Olímpio Moretto, Mário Nuhss, Vitório Anacleto Cardoso e Zenaide Schmitt Costa, entre tantos outros. Isso significa que a maior parte dos patronos das escolas gasparenses se formaram a partir dos benefícios da emancipação-política”.

Saúde e segurança

“Entre as prioridades de Leopoldo Schramm estavam também a saúde e a segurança do povo. O prefeito conseguiu contratar um médico do Rio de Janeiro para residir em Gaspar e acolher a demanda daqui. Doutor Aberlado Viana morou no Centro, onde atualmente se encontra o Banco Itaú. Além disso, contratou Augusto Beduschi como delegado. Eles atendiam todos os dias da semana, 24 horas, à cavalo por todo território gasparense.

Leopoldo Schramm foi muito ajudado pelos políticos, população e seus conselheiros: Anfilóquio Nunes Pires (Centro), Norberto Clock (Margem Esquerda), José Mondini (Garuba e Gaspar Grande) e Henrique Porcínio da Silva (Gasparinho). Seu longo governo foi pautado por muitas realizações, com a aprovação do povo, que viam na pessoa do prefeito um exemplo de cidadão que trabalhou pelo progresso do município”.

Desenvolvimento urbano

“As margens esquerda e direita Leste eram muito ligadas à Itajaí. Já a parte que engloba as margens direita e esquerda Oeste eram muito ligadas à Blumenau. Durante o governo de Leopoldo Schramm, houve a integração do centro da cidade as mais longínquas localidades do interior, através de estradas carroçáveis. Antes, a maior parte das ligações eram dentro de propriedades alheias. Não existiam caminhos abertos. Era necessário pedir licença, abrir e fechar as porteiras para passar enquanto carregavam mercadorias, por exemplo.

Com pás, enxadas, foices, martelos e ferramentas muito primárias, a primeira equipe gestora mobilizou a população para ajudar a desenvolver a cidade. O prefeito contratava a mão de obra da comunidade, definindo a metragem dos novos acessos públicos, o tempo de serviço e os valores a serem pagos. Os ‘empreiteiros’ que disponibilizam mais equipamentos. Dessa forma, aos poucos, foi possível ligar Gaspar às cidades vizinhas pela estrada.

Já pelo rio... sempre com canoas. Então, o prefeito da época providenciou duas grandes balsas públicas. A comunidade não precisava pagar para acessar. O espaço de cada uma era suficiente para abrigar quatro carroças, grande quantidade de lenha e até mesmo tropas de porcos. Uma das balsas fazia a travessia pelo rio entre os bairros Belchior Alto e Bela Vista. A outra ficava no Centro e levava ao lado do bairro Margem Esquerda. Ambas faziam parte dos chamados ‘Porto de Passagem’.

Bem articulado, Leopoldo Schramm conseguiu ainda, por meio de ligações políticas nacionais, verbas para construir duas pontes ainda hoje utilizadas: acessos próximos ao Alvorada e rua Doutor Nereu Ramos.

 

Edição 1942

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