Em horário próximo às 17h, quando o trânsito na rua Luiz Franzói é mais movimentado em função do término das aulas da Escola Norma Mônica Sabel, D.C.S., 10 anos foi atravessar a rua. Um ato simples, feito por milhares de pessoas todos os dias. Porém para a menina, não foi tão simples assim. Ao cruzar a estrada, foi atropelada por uma Parati cinza.
Do outro lado da rua, a mãe, que estava em um salão de cabeleireiros, saiu para ver o que acontecia. A menina de 10 anos foi atendida pelo Corpo de Bombeiros de Gaspar, e apesar de não apresentar nenhum ferimento, foi encaminhada ao Hospital de Gaspar por sentir dores no corpo.
Este acidente, que aconteceu na tarde da última terça-feira, 22, foi o terceiro atropelamento do ano. Por mais que existam pontos de maior movimento, o número de acidentes, tanto os deste ano quanto os de 2010, estão bem distribuídos pelo município, de acordo com o tenente Alcione Amilton Fragas.
O diretor da Ditran Jackson José dos Santos, concorda que os atropelamentos não acontecem apenas na área central. ?Em locais com pouca movimentação, o motorista geralmente não respeita a placa de pare?.
Ele também é da opinião de que são diversos os agravantes que podem causar um atropelamento, como a negligência do pedestre, falta de atenção, velocidade dos condutores e a falta de uma educação devida quanto à sinalização.
Outra vítima de acidentes deste tipo é Divina Bernadete Machado, 48 anos. Ela foi atropelada na noite do dia 4 de março, por volta das 21h30, quando ia trabalhar. ?Desci do ônibus e fui à farmácia comprar um remédio, pois estava com muita dor de cabeça. Quando fui atravessar em frente à cabeceira da ponte, um carro veio em alta velocidade em direção à Margem Esquerda e me atropelou. Isso que ainda olhei para os dois lados antes de começar a atravessar?, relata.
Ela, que trabalha no terceiro turno, diz que agora tem medo de cruzar aquele local pelo qual sempre passava. Devido ao acidente, Divina está de atestado médico e seu corpo ficou com vários hematomas, além de uma dor no braço que ainda não passou. ?Como a pessoa vai atravessar se os motoristas não querem parar de jeito nenhum? É complicado até mesmo para quem, como eu, apenas atravessa na faixa?.
De acordo com um levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros de Gaspar, aconteceram três atropelamentos, nenhum deles com morte, no ano de 2011.
Tanto em 2010 quanto em 2009, o número de atropelamentos em Gaspar chegou exatamente a 30, com um óbito em 2010. Nesta estatística não estão incluídos atropelamentos com bicicletas, apenas aqueles que envolvem pedestres. O número de óbitos está ligado a vítimas que morreram na hora e no local do acidente, pois o Corpo de Bombeiros não tem controle do que acontece com as vítimas após serem encaminhadas para o hospital.
Segundo o diretor da Ditran, Jackson José dos Santos, a diretoria está realizando uma operação especial denominada de Faixa de Pedestres, que visa dar uma cor mais forte e assim melhorar a visualização das faixas de segurança que já existem no município. ?Estamos tentando fazer a pintura à noite, e o que realmente tem nos atrapalhado são as chuvas. Porém, um trabalho de sinalização vertical e horizontal está sendo executado por nossa equipe?.
Este trabalho, de acordo com o diretor, é feito em parceria com a Secretaria de Obras, pois a Ditran pode apenas sinalizar com faixas de pedestres e placas as ruas que estão em boas condições.
As faixas de segurança dos bairros, conforme explica Jackson, são instaladas em pontos estratégicos, pontos críticos, e principalmente em cruzamentos perigosos, para que o motorista dê espaço para o pedestre atravessar.
Jackson afirma que foi feita uma licitação para aquisição de placas que sinalizam as faixas, pois há um sério problema de depredação que traz ainda mais custos para manter as ruas bem sinalizadas.
Para resolver este problema e também o do comportamento de motoristas e pedestres que não respeitam a lei, o diretor acredita que a saída é a conscientização através da educação e fiscalização.
Jackson não soube precisar o número exato de faixas de pedestre que existem em Gaspar, mas pediu para que sempre que a comunidade acredite que há necessidade de sinalização, entre em contato com a Ditran. ?Ligue, solicite e tire dúvidas. Assim a comunidade pode entender como funciona e fica ciente do que pode ser feito quanto a isto?.
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?Estamos tentando fazer a pintura à noite, e o que realmente tem nos atrapalhado são as chuvas. Porém, um trabalho de sinalização vertical e horizontal está sendo feito?. Jackson José dos Santos - diretor da Ditran |
Por Júlia Schäfer Dourado
Desde pequenos, todos são ensinados em casa e na escola: para atravessar a rua é preciso olhar para os dois lados, prestar atenção na velocidade dos carros e então cruzar a via na faixa de pedestres. Já maiores, na autoescola, aprendem que é necessário respeitar a sinalização de trânsito e dar espaço para os pedestres atravessarem as ruas nos locais em que há a faixa para travessia. Pelos atropelamentos que acontecem esporadicamente em Gaspar, é fácil perceber que sempre uma das partes não aplica o que foi ensinado e a culpa pelo acidente é jogada de um para o outro. Afinal, quem é o culpado pelos atropelamentos que acontecem pelas estradas da cidade?
De acordo com o tenente do Corpo de Bombeiros de Gaspar Alcione Amilton de Fragas, há uma série de fatores que contribuem para que os atropelamentos aconteçam. Entre eles, estão a falta de calçadas ou a precariedade delas, que não têm condições ideais para o tráfego do pedestre, o que o obriga a andar na própria rua, disputando espaço com os carros. Outro fator é a pouca iluminação que há em alguns pontos, além da alta velocidade em que andam os carros, o que dificulta que o pedestre faça a travessia em rodovias.
Há também, de acordo com o tenente, deficiência na sinalização de trânsito. ?Se formos analisar nossas faixas, tirando a área central, existe esta deficiência, principalmente nos bairros. A questão dos acidentes envolve muito a cultura do motorista ? de saber que precisa parar, reduzir, e deixar o pedestre passar ? e a do pedestre, de saber que deve atravessar com cuidado e na faixa?.
A imprudência de uma das duas partes resulta em acidentes de trânsito. Em cenas registradas pela equipe de reportagem de reportagem do Cruzeiro do Vale é possível perceber situações de desrespeito ao pedestre ou de desobediência por parte deles às normas de trânsito.
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?O que mais me preocupa são as crianças quando saem das escolas. Elas andam em grupos e quando chegam em uma destas calçadas que não está em boas condições, vão todos para a rua?, destaca o tenente Fragas. Porém, o que se pode observar é que isto também acontece em locais em que as calçadas estão em perfeitas condições. Na rua São Pedro, as calçadas são altas, sem buracos ou mato tomando conta do local. Ainda assim, os grandes grupos ocupam tanto a calçada quanto a estrada, tornando perigosa a passagem dos carros e a própria passagem dos pedestres. |
Em poucos minutos observando o trânsito na Avenida das Comunidades, é possível ver cenas comuns em filmes de aventura. Os carros não param para dar lugar aos pedestres, que, por sua vez, não esperam que o sinal feche para atravessar a rua. Mesmo que o sinal esteja visivelmente fechado para ele, o pedestre se arrisca atravessando a rua pelo simples fato de o movimento de carros não ser intenso naquele momento. Na outra faixa, observa-se grande quantidade de carros passando sem dar chance para que o pedestre continue a travessia da rua. | ![]() |
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A apenas alguns metros da faixa de pedestres que há em frente à Praça Getúlio Vargas, uma mulher atravessa a rua. Ao perceber que há uma brecha entre os veículos, aproveita e cruza a via. A cena é comum e se repete em vários trechos da Coronel Aristiliano Ramos. O detalhe é que a rua conta com diversas faixas de pedestres, que não são usadas como deveriam pelos moradores de Gaspar. Utilizar as várias faixas disponibilizadas evita acidentes e assim o pedestre garante sua própria segurança e tem o direito de atravessar a rua respeitado. |
Uma briga entre pedestres e veículos também pode ser observada na faixa de pedestres que há próximo da cabeceira da Ponte Hercílio Deeke. A senhora da foto atravessava tranquilamente a via quando viu que o carro que vinha em direção à Margem Esquerda não iria reduzir a velocidade. Então, acelerou os passos, correndo em direção à calçada para evitar um acidente. Pedestres que atravessam a rua correndo, arriscando-se podem ser vistos de vez em quando, e carros que param para que os pedestres atravessem não são tão raros nesta região. | ![]() |
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A rua Frei Solano é a principal e também uma das mais extensas ruas do bairro Gasparinho. Em diversos pontos da via não há calçadas e há barro nos cantos, o que obriga o pedestre a andar na estrada, misturando-se aos carros. Ao desviar, o carro ocupa mais espaço na estrada do que deveria, podendo até mesmo invadir a outra pista e causar um acidente, ou caso não veja o pedestre, um atropelamento. A falta ou péssima condição de calçadas foi um dos fatores citados pelo tenente Fragas entre os que favorecem o acontecimento de acidentes deste tipo. |
Na rua Duque de Caxias, o pedestre encontra faixas de segurança. O que é raro de se ver é um carro parar para deixar que ele atravesse a estrada. Entre corridas e paradas no meio da rua, os pedestres conseguem, enfim, chegar ao outro lado da via. Para conseguir fazer esta travessia, leva-se tempo. Ou o movimento diminui ou algum motorista é obrigado a dar a preferência para outro veículo na rotatória para que o pedestre arranje uma brecha para atravessar. É realmente raro ver um carro dar a vez para um pedestre. | ![]() |
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