Será que vai chover?
Altas temperaturas, clima abafado, céu ensolarado e com formação de muitas nuvens. Quando Ailton Santos olha para o céu e vê a cena já sabe: precisa preparar a família para levantar os móveis, pois vai chover forte e sua casa será uma das primeiras a ser invadida pela enxurrada.
O problema do morador da rua 18 de Março, no bairro Sete de Setembro, se repete em dezenas de outras ruas da cidade, onde todos os moradores ficam aflitos a cada fim de tarde de verão. A expectativa é sempre a mesma: Será que vai chover?
Há uma semana a previsão do tempo avisou mas não deu tempo de muitas famílias retirarem suas coisas de casa e em poucos minutos choveu o esperado para vários dias e dezenas de casas foram alagadas, ruas e até pontes foram destruídas e o saldo final da tempestade foram 40 ruas precisando de reconstrução em toda Gaspar e um dia inteiro sem o abastecimento de água na cidade.
Para Ailton, e também para a diretora da Defesa Civil, Mari Ines Testoni Theiss, todos os constantes alagamentos seriam evitados se as tubulações por onde deveriam escoar as águas da chuva não estivessem entupidas.
O problema é antigo e há anos Gaspar carece de obras de drenagem pluvial em diversos bairros, porém, se agravou a partir de 2008 e desde então mais ruas ficam alagadas a cada dia de chuva.
A solução, segundo a própria diretora da Defesa Civil, seria a execução de grandes projetos de drenagem nos bairros afetados. Para isso, o Município precisa buscar recursos federais. ?Os recursos municipais possíveis já estão sendo realizados, como a substituição e colocação de tubulação?, explica Mari Ines. A diretora cita os projetos de drenagem do bairro Sete Setembro, realizado no primeiro governo de Celso Zuchi, e agora a drenagem do Santa Terezinha, como exemplos concretos na tentativa da resolução da situação.
Enquanto estas grandes obras não são realizadas, a comunidade precisa ficar ligada, sempre de olho no céu e, a cada sinal de tempestade, reunir forças para levantar os móveis e tentar retirar do alcance das águas tudo o que for possível.
Fique atento
As fortes chuvas da semana passada poderão se repetir até o final do verão e para evitar surpresas, a dica é ficar sempre atento ao site da Defesa Civil do estado, que oferece alertas e boletins de ocorrências de fenômenos naturais no estado.
Para esta sexta-feira a previsão é de pancadas de chuva forte por alguns momentos, com temporais e descarga elétrica (raios) no início do dia. Há risco de alagamentos e deslizamentos do Planalto ao Litoral. No decorrer da tarde a instabilidade diminui permanecendo a variação de nuvens.
Para sábado a previsão é de que a frente fria deva se afastar para o Sudeste do Brasil e o tempo melhora em SC, com chuva isolada no início e fim do dia e com aberturas de sol no Oeste e Meio-Oeste. A chuva da tarde pode estar acompanhada de descarga elétrica. Temperatura agradável. Vento de sudeste e nordeste, fraco a moderado.
Sinal de alerta
Na semana passada a Defesa Civil do estado havia disponibilizado para todas as cidades do Vale o sinal de alerta para a ocorrência de fortes chuvas para a madrugada dos dias 20 e 21. Apesar do alerta, a diretora da Defesa Civil de Gaspar, Mari Ines Testoni Theiss, foi para o litoral e precisou ser chamada às pressas quando soube que a cidade estava sendo afetada, mais uma vez, pelas fortes chuvas. Uma equipe da Administração Municipal foi chamada para trabalhar no plantão, mas quase nada pode fazer, pois as águas já haviam invadido as casas. O trabalho de reconstrução iniciou no domingo e seguiu durante toda esta semana. Os estragos foram grandes, principalmente na região do Gasparinho, onde alguns moradores afirmam ter sido mais prejudicados do que em 2008.
Ilhota
Enquanto em Gaspar não houve nenhum tipo de aviso sobre a previsão de fortes chuvas, em Ilhota o diretor da Defesa Civil, Paulo Drunn, alertou os coordenadores dos Nudecs, núcleos formados nos bairros com maior incidência de alagamentos e deslizamentos.
Com o alerta, várias pessoas foram retiradas de suas casas, no Baú, e muitas vidas foram preservadas. ?Acredito que o estrago das chuvas do último final de semana teriam sido bem piores se não tivéssemos avisado. Além disso, estamos trabalhando na dragagem dos ribeirões e acredito que estas obras ajudaram a evitar que mais rios transbordassem?, alerta o diretor.
Comunidade começa a se unir para cobrar ações
Diante da falta de ações preventivas do município para acabar com os constantes alagamentos que ocorrem a cada dia de fortes chuvas, as comunidades mais atingidas decidiram se unir para pedir soluções para o problema que afeta centenas de pessoas.
O primeiro bairro a mobilizar os moradores foi o Sete de Setembro, que reuniu dezenas de pessoas na noite de terça-feira para pedir atenção dos Administradores Públicos. A reunião foi prestigiada pelo secretário de Obras, Soly Waltrick, que informou a todos que somente uma grande obra de drenagem daria fim ao problema. Porém, prometeu a todos os presentes que providenciará a limpeza das tubulações e a abertura de bueiros entupidos no prazo de dez dias, a contar da reunião. ?Era possível observar a indignação das pessoas ali presentes, pelo sentimento de descaso por parte do Executivo?, afirma o vereador Luis Carlos Spengler, um dos responsáveis pelo encontro.
Nesta sexta-feira, 28, uma nova reunião foi agendada no bairro, desta vez o vereador Kleber Wan-Dall pretende ouvir a comunidade em encontro agendado para acontecer no Salão da Igreja da Comunidade Santa Rita de Cássia, com início marcado para as 19h30.
Na quarta-feira, 26, foi a vez dos moradores do Sertão Verde se reunirem com os Administradores Públicos. O prefeito Pedro Celso Zuchi esteve na reunião, ouviu todos os apelos da comunidade e prometeu buscar uma solução para os problemas do bairro, que desde 2008 sofre principalmente com os deslizamentos de terra.
BelchiorNa próxima semana os moradores da rua José Schmitt Sobrinho, no bairro Belchior, pretendem se encontrar com os Administradores Públicos. A data do encontro ainda não foi agendada, porém, segundo o morador José Luiz Hostert, não deve passar desta semana, devido às urgências da comunidade. ?Temos sido muito afetados pelas chuvas. No último final de semana a ponte provisória que usamos teve a cabeceira arrancada e ficamos isolados?, relata.
A indignação da comunidade é ainda maior, pois uma ponte nova foi construída pelo Governo do Estado após a tragédia de 2008 e depende apenas da instalação das cabeceiras para poder dar acesso seguro para a comunidade.
?Vamos cobrar do prefeito a obra destas cabeceiras. Precisamos também de limpeza nas tubulações e desvio de água das encostas?, comenta o líder comunitário.
Consumo de água ainda precisa ser moderado
Depois de limpar toda a sujeira provocada pelos alagamentos do final de semana, Gaspar enfrentou um novo problema: a falta de água. Na terça-feira as Estações de Tratamento do Centro e Bela Vista, que abastecem quase todos os bairros da cidade, ficaram paradas pois não conseguiam tratar a água que estava com muita turbidez.
Nesta quinta-feira as estações já operavam com 70% de sua capacidade mas o alerta do diretor do Samae, Lovídio Bertoldi, é para que a população continue a consumir de forma moderada. ?Na madrugada de quarta para quinta conseguimos abastecer toda a cidade. Quem têm caixa de água não ficou mais sem água, porém, ainda dependemos da turbidez da água, que precisa estar abaixo de mil para que possamos fazer o tratamento adequado?, explica o diretor. Na manhã desta quinta-feira a turbidez estava em 2.100, impedindo ainda a distribuição em toda a cidade.
Segundo Lovídio ainda não há previsão para normalizar o fornecimento. ?Por isso a economia e o uso racional é muito importante?, destaca. A expectativa do Samae é de que cerca de 20% das residências da cidade não tenham caixa de água. Estas são as que mais sofrem com a redução no abastecimento, pois não conseguem armazenar água para o uso quando a distribuição é paralisada. Edição 1261
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