Por Júlia Schäfer Dourado
A junção de nuvens carregadas, formando um céu cinza que anuncia a chuva, não é considerada um espetáculo da natureza digno da admiração dos moradores de Gaspar. Ao observar as carregadas nuvens, a primeira preocupação de quem está em casa é o que irá acontecer em sua rua: novos buracos, mais alagamentos ou a formação de muita lama? Com a falta de manutenção das estradas de toda a cidade, principalmente nos meses chuvosos, estas são perguntas que rondam a cabeça dos cidadãos frequentemente.
Em dias de fortes chuvas, a precariedade das ruas fica ainda mais exposta. A água toma conta das estradas, não podendo escoar por tubulações entupidas ou quebradas. A passagem de pedestres e motoristas fica comprometida. Águas invadem residências, causando prejuízo à população, que perde móveis, eletrodomésticos, e já se prepara para limpar o lodo ? muitas vezes contaminado por esgoto ? trazido para dentro de casa. E nos dias seguintes, os problemas podem vir até mesmo a aumentar, principalmente no caso de quem mora em estradas de barro, que ganham buracos e lama como uma triste lembrança da necessidade de manutenção da via. No caso de algumas localidades, os maiores problemas não são visíveis em dias ensolarados. Mas basta que chova por alguns minutos para que as águas encham as ruas devido ao péssimo estado da tubulação ou às valas pluviais que, cheias de sujeira, não são capazes de ter utilidade na vazão das águas.
Viver em meio a estes problemas já faz parte do cotidiano de moradores de vários pontos da cidade. No entanto, não é nesta realidade que os habitantes de Gaspar querem viver. A população não sabe mais a quem recorrer. Cada vez que veem suas ruas serem tomadas por água e lama, os moradores, desesperados, correm atrás de alguém que possa levar o problema ao conhecimento do poder público, como vereadores, meios de comunicação da cidade, lideranças de seus bairros ou tentam entrar em contato com a própria Secretaria de Obras, responsável pela manutenção das estradas.
Para ouvir as necessidades e insatisfações dos habitantes de diversas localidades, a equipe de reportagem do Cruzeiro do Vale percorreu 69 ruas da cidade, e pode perceber a realidade em que vive a população gasparense. Bueiros abertos, crateras, ruas enlameadas e com buracos (às vezes cheios de água), falta de calçadas, mato invadindo as estradas e por vezes as calçadas, lixo no passeio público, pedras de paralelepípedo soltas. Estes são problemas que os munícipes enfrentam diariamente e que ilustram as quatro páginas desta reportagem especial. Descaso e abandono são duas palavras usadas constantemente pelos moradores, que pedem para que sua situação seja exposta, na esperança de que um dia vivam em uma rua que esteja em perfeitas condições.
? Cruzeiro do Vale: Você acredita que o fato de a Secretaria de Obras ter trabalhado apenas em regime de plantão, e não com todo seu efetivo, durante o período das férias coletivas prejudicou os moradores de ruas que não estão em boas condições, visto que este é também um dos períodos mais chuvosos do ano?
SolyWaltrick Antunes Filho: Não , pois a Secretaria teve um efetivo trabalhando durante esse período, especialmente em drenagens, macadamização e patrolamento. A Secretaria de Obras não parou durante as férias coletivas.
? CV: Nas três primeiras sessões deste ano os vereadores apontaram 213 reparos (em 14 bairros) que foram reivindicados pela população. A que se deve um número tão grande? De que forma a manutenção das ruas poderia ser otimizada?
Soly: A tubulação conta com problemas históricos. Infelizmente, a própria população contribuiu para o assoreamento, como por exemplo, ao fazer terraplanagem sem aprovação, sem acompanhamento técnico e ainda aterros sem observar o escoamento. Construções irregulares e o não acondicionamento do lixo têm causado grandes prejuízos em virtude das chuvas constantes que caem. Tínhamos quase zerado as solicitações dos serviços solicitados pela comunidade, mas em função das últimas chuvas os problemas acabam aumentando e sendo reincidentes.
? CV: Manutenção, limpeza e desobstrução de tubulação e valas de drenagem pluvial, substituição de tubulação com defeito ou quebrada, limpeza e desobstrução de boca de lobo. Estes itens somam 53 das 213 indicações feitas pelos vereadores, o que vem a provar que o escoamento de águas pluviais é o causador de alagamentos e um dos grandes problemas da cidade. Que trabalhos estão sendo feitos para melhorar esta situação, que traz prejuízo a moradores de diversas localidades?
Soly: A situação traz prejuízos a todos, inclusive a prefeitura que tem toda rotina de obras e manutenção interrompida em função das enxurradas frequentes. Sem contar o prejuízo financeiro e o retrabalho. Contratamos um caminhão hidrojato e fizemos decreto emergencial para contratação de limpeza de ribeirões, como no caso do Gasparinho, e outras trocas de tubulação necessárias, principalmente nos bairros Gasparinho, Belchior, Gaspar Alto, Bela Vista e Figueira.
? CV: Ao todo, 81 indicações foram feitas para as questões de macadamização, patrolamento e roçagem das ruas. Os moradores de ruas que não são pavimentadas sofrem o ano inteiro com buracos nas vias, e nos meses chuvosos o problema piora, com ruas ficando, muitas vezes, intransitáveis. Você acredita que o trabalho de manutenção que é executado pela Secretaria de Obras é suficiente para resolver os problemas desta parte da população? Se não, o que pode ser feito para este trabalho ser melhorado?
Soly: As demandas são atendidas de acordo com as solicitações, mas há um constante retrabalho em função das intempéries. Estamos em fase de licitação para contratação de uma empresa de limpeza urbana o que deve agilizar os trabalhos.
? CV: Qual é sua análise dos trabalhos executados pela secretaria de Obras na manutenção das vias públicas do município?
Soly: Os trabalhos tem sido constantes. Estamos pavimentando as vias de maior dificuldade de manutenção como a Rua Progresso, 2 de Novembro, Arnoldo Sansão, José Anastácio, Maria Zimmermann. Enfim, entre em andamento e concluídas são mais de 25 ruas pavimentadas para facilitar a manutenção.
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Paralelepípedos soltos sobre a estrada são a característica mais marcante da rua José Ebehardt, bairro Coloninha. Os bueiros, escondidos entre os paralelepípedos e a calçada, estão sinalizados com galhos, que parecem ter sido colocados nos locais pelos próprios moradores. Por não chegar até o bueiro, areia e pequenas pedras trazidas pelas águas se acumularam ao longo da via. |
Também no bairro Coloninha, na rua Inês Baron, há um bueiro aberto e entupido pela lama, que também toma conta da estrada. Há necessidade de macadamização desta via, muito utilizada por motoristas para fugir da rua Dr. Nereu Ramos em dias de trânsito caótico. Além disso, inúmeros buracos atrapalham o caminho de pedestres, ciclistas e motoristas. |
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Na rua Paulo Evaldo Gaertner, Coloninha, a margem da estrada cedeu, formando uma cratera. Não bastasse a via acidentada, a grande quantidade de mato existente esconde o buraco dos olhos do motorista, o que pode vir a causar um acidente. Não há local de passeio público, o que faz com que os pedestres se arrisquem ao caminhar na própria estrada. |
Os bueiros da rua Manoel Bernardes da Silva, Figueira, estão abertos. De acordo com Carlos Alberto de Souza, 55 anos, morador da rua há 29, funcionários da prefeitura apareceram no local para resolver o problema da tubulação entupida. ?Vieram na quinta-feira, 10, abriram os buracos e não apareceram mais. Com a chuva forte de sexta-feira, nossa estrada ficou fechada por causa da água?. |
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A grande vala que existe na rua João Isidoro Schramm, bairro Figueira, está com água até o mesmo nível da rua, ameaçando as casas dos moradores. Com a menor chuva, as possibilidades de alagamento são enormes. Glayser de Almeira Alves, 20 anos, mostra que não chega a pegar água em sua casa, que está em terreno mais alto, mas afirma que a rua é constantemente inundada. ?Precisamos que a água escoe para algum lugar, talvez uma tubulação mais forte seja a solução?. |
As estreitas estradas que levam à localidade Coral de Minas parecem desafiar os motoristas que por lá ousam passar. Enquanto a estrada está em boas condições em alguns pontos, em outros há buracos e muito mato. Este último esconde a margem da estrada, feita ao lado de um precipício. |
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Na estrada geral da Garuba, há pequenos buracos. Porém, o que realmente chama a atenção é uma ponte inacabada, cuja obra parece estar parada há bastante tempo. Faltam as cabeceiras para que seja possível transitar por ela. Enquanto isso, moradores têm de utilizar uma precária ponte de madeira, em que passa um carro por vez. |
A chuva costuma descer morro abaixo na rua Otto Nuss, bairro Gaspar Grande. O morador Antônio Lemes, 63 anos, aponta as subidas dos dois morros na frente de sua casa, em que a terra está esculpida pela força das águas. ?A água desce com pedras e tudo mais, só não entra em minha casa porque cavo uma vala na frente de casa. Sei que isso piora a passagem dos carros, mas a água tem que sair por algum lugar?. Para ele, uma tubulação maior seria a solução do problema. |
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Também na Cohab do bairro Gaspar Mirim, o que restou de uma minipraça pública foi um grande buraco na calçada, circundado por tábuas. O abandono está explícito. O mato cresce para todos os lados e o local que poderia ser utilizado pela comunidade como área de lazer não passa de uma cratera. |
Saindo da localidade e indo em direção ao bairro Santa Terezinha, o que se vê na calçada é uma trilha aberta em meio ao mato. O espaço é estreito e parece ter sido aberto pelos moradores para poder trafegar pela estrada de forma mais segura. Há lama e água no local de passagem, e há pontos em que só é possível que uma pessoa transite por vez. |
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A lama escorregadia que há na estrada deixa os moradores da rua Fernando Krauss indignados. Eles reclamam de pó em dias ensolarados e lama em dias chuvosos. A via faz importante ligação entre os bairros Gasparinho e Gaspar Mirim. J á houve protestos dos moradores para chamar a atenção das autoridades públicas e indicação do vereador José Hilário Melato, que solicitou um projeto de pavimentação e efetivação do calçamento da estrada em sessão parlamentar do dia 8 de fevereiro deste ano. |
A mãe tenta atravessar a rua em meio à lama e buracos. Muitas vias do bairro Santa Terezinha estão praticamente intransitáveis. Porém, este sacrifício a ser realizado pelos moradores trará frutos para a comunidade. Toda esta lama é decorrente das obras de drenagem do bairro Santa Terezinha, que, após finalizadas, devem poupar os habitantes da localidade de sofrer com inundações causadas pela água da chuva. |
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As ladeiras da Cohab do Gaspar Mirim também foram marcadas pela força das águas. As crateras que existem nos cantos das ruas dificultam a subida e descida de carros e atrapalham pedestres. A foto retrata a rua Nelson Casas, porém a mesma situação pode ser vista em outras vias públicas da localidade. |
Na rua 25 de dezembro, bairro Sete de Setembro, há um pouco de lama nas margens da via. Chama atenção a grama que nasce entre os paralelepípedos em quase toda a extensão da rua. Mas a pior situação é da calçada, que mesmo com uma placa que alerta ?É proibido botar lixo?, virou um depósito de sujeira. Falta de consciência dos moradores, o que pode vir a prejudicá-los ainda mais. |
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Via muito movimentada do bairro Margem Esquerda, a rua Pedro Bonifácio Sabel precisa de reparos. O grande número de crianças que passa pelo local diariamente ? pelo fato de nela estar localizada a Escola Norma Mônica Sabel ? encontra mato nas margens da estrada e também uma boca de lobo aberta. |
Na rua Niterói, também Margem Esquerda, há um trecho sem calçada, dominado pelo mato, que invade a estrada. Porém, o pior trecho uma descida, em que uma cratera atrapalha o trânsito e impede que dois carros passem por aquele ponto ao mesmo tempo. Para evitar acidentes, a população sinalizou o local, com um pedaço de madeira e uma sacola de supermercado. |
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Na rua Niterói, também Margem Esquerda, há um trecho sem calçada, dominado pelo mato, que invade a estrada. Porém, o pior trecho uma descida, em que uma cratera atrapalha o trânsito e impede que dois carros passem por aquele ponto ao mesmo tempo. Para evitar acidentes, a população sinalizou o local, com um pedaço de madeira e uma sacola de supermercado. |
Na parte da rua Vidal Flávio Dias em que não há asfalto, lama e buracos são comuns. Em vários trechos, há uma grande quantidade de lama acumulada, prejudicando a passagem de carros, pedestres e ciclistas. Os motoristas saem, inclusive, do lado correto da pista para desviar de onde há maior acúmulo de lama. |
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Na parte da rua Vidal Flávio Dias em que não há asfalto, lama e buracos são comuns. Em vários trechos, há uma grande quantidade de lama acumulada, prejudicando a passagem de carros, pedestres e ciclistas. Os motoristas saem, inclusive, do lado correto da pista para desviar de onde há maior acúmulo de lama. |
O clamor dos gasparenses de diversos bairros chegou aos ouvidos dos vereadores, que colocaram em pauta a situação das ruas nas primeiras três sessões realizadas este ano. A falta de manutenção das ruas faz a comunidade sentir medo ao enxergar o menor sinal de chuva. Para tentar proteger suas famílias, suas casas, seus pertences, eles recorrem a qualquer um que lhes dê a esperança de uma solução para seus problemas.
Conscientes da situação das ruas da cidade, os vereadores Luís Carlos Spengler Filho, Rodrigo Boeing Althoff, Joceli Campos Lucinda, José Hilário Melato, Kléber Edson Wan-Dall e Raul Schiller expuseram, por meio de indicações, as obras que precisam ser feitas em diversas ruas gasparenses, apontadas por seus próprios moradores.
Nas três primeiras sessões de 2011 foram citados os diversos problemas que existem em 58 ruas da cidade. Além disso, o vereador Rodrigo Althoff solicitou manutenção, sinalização de vias e serviço de caminhão pipa para o bairro Lagoa, sem indicar ruas específicas. Dentre os bairros da cidade, os que mais foram mencionados pelos legisladores foram o Sete de Setembro, 17 vezes, e o Belchior, mencionado em 13 momentos. O primeiro bairro sofre alagamentos constantemente, por isso as obras necessárias envolviam, em sua maioria, limpeza e desobstrução da tubulação, enquanto no segundo, que se encontra na zona rural, patrolamento e macadamização estão entre as principais necessidades da comunidade, além da manutenção da cabeceira de duas pontes.
Para solucionar os vários problemas que afetam as vias da cidade, as obras necessárias mais citadas pelos vereadores foram a de patrolamento, que apareceu 31 vezes nas indicações, macadamização, que foi mencionada 30 vezes, e também roçagem das margens das pistas, indicada 20 vezes. Observando estes números, é possível perceber que as ruas que ainda não foram pavimentadas são mais prejudicadas em estações de chuva, pois precisam estar sempre em manutenção para que os moradores tenham vias em boas condições para transitarem. Todos os consertos solicitados podem ser encontrados no gráfico abaixo.
Principais indicações
- Limpeza da Via: 29 indicações
- Limp/desob. de boca de lobo: 19 indicações
- Desobstrução rede de esgoto: 15 indicações
- Melhoria no esc. pluv e sanitário: 1 indicação
- Substituição de tubulação com defeito/quebrada: 18 indicações
- Manutenção da pavimentação: 17 indicações
- Manutenção da via: 2 indicações
- Sinalização da via: 1 indicação
- Serviço de caminhão pipa: 4 indicações
- Patrolamento: 31 indicações
- Macadamização: 30 indicações
- Roçagem: 20 indicações
- Manutenção, limp. e desob. de tubul. e valas de dren. pluvial: 16 indicações
- Construção de travessa: 1 indicação
- Alargamento de via: 1 indicação
- Conserto/manutenção de cabeceira de ponte: 2 indicações
- Contenção de cratera: 1 indicação
- Calçada: 1 indicação
- Efetivar calçamento: 1 indicação
- Revisão tub de água potável: 2 indicações
- Manutenção de laterais de ponte: 1 indicação
- Manut. de telas de prot. de ponte: 1 indicação
Bairros mencionados
7 de Setembro: 17 vezes
Lagoa: 1 vez
Sertão Verde: 4 vezes
Centro: 1 vez
Margem Esquerda: 2 vezes
Gaspar Mirim: 1 vez
Santa Terezinha: 1 vez
Belchior: 13 vezes
Pocinho: 1 vez
Gasparinho: 3 vezes
Arraial: 1 vez
Gaspar Grande: 1 vez
Coloninha: 6 vezes
Figueira: 7 vezes
Gaspar Alto: 1 vez
edição 1267
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