Por Júlia Schäfer Dourado
Sentadas em uma das mesas da Biblioteca Pública Dom Daniel Hostin, Alessandra Wandalen Marchetti, 16 anos, e Gisele de Souza Bonin, 28, estudavam matemática quando foram abordadas com perguntas sobre outra área: a literatura. Alessandra, que hoje está no 1º ano do ensino médio da escola Frei Godofredo, revelou ser uma fã de romances, e Gisele, já formada em secretariado, contou que não tem o costume de ler sempre, mas que entre suas preferências estão biografias e autobiografias.
?Pego bastante livro e levo para casa. Antes pegava uns três ou quatro por semana, mas agora comecei a trabalhar então não posso vir tanto à Biblioteca?, conta a estudante. Ela confessa não prestar muita atenção ao nome dos autores que lê, lembrando-se apenas de Nicholas Sparks, um dos mais bem-sucedidos autores de romance na atualidade. Gisele geralmente pega livros emprestados das amigas, não costuma ganhar e nem comprar. Agora ela está lendo ?A Cabana?, do autor canadense William P. Young, e considera que este é um dos melhores exemplares que já leu.
Quando se fala em literatura brasileira, a expressão das jovens é outra, principalmente ao serem citados três autores marcantes: Cora Coralina, Monteiro Lobato e Machado de Assis. Sobre o último, Alessandra tem uma opinião formada. ?Ele é chato. Não lembro qual foi o livro que li, mas achei chato?.
Pela lista de livros mais emprestados da Biblioteca Pública Dom Daniel Hostin pode-se perceber que os autores brasileiros, ainda mais os que são mais clássicos, caíram no esquecimento. Escritores clássicos da literatura mal aparecem entre os mais desejados volumes emprestados nos últimos meses. No dia do livro, 29 de outubro, pode-se comemorar que os jovens leem cada dia mais, porém a literatura brasileira fica de lado para dar lugar a autores de outras nacionalidades.
Na parte de literatura adulta, os livros da americana Stephenie Meyer são os mais procurados e aparecem três vezes na lista dos mais emprestados da biblioteca. Os títulos ?Amanhecer?, ?Crepúsculo? e ?A Hospedeira? estão em primeiro, sétimo e décimo lugares, respectivamente. O já citado ?A Cabana?, ocupa o segundo lugar e ?Diários do vampiro: a fúria?, da autora L. J. Smith, o terceiro.
Nicholas Sparks é outro destaque na preferência dos leitores gasparenses: do quarto ao sexto lugar, todos são livros seus. ?A última música? e ?O Milagre? empataram no quarto lugar, e sem seguida vem ?Noites de Tormenta? e ?Diário de uma paixão?, respectivamente. Outro de seus livros, ?Querido John?, é o oitavo mais emprestado do local. Em nono lugar está ?O vendedor de sonhos ? o chamado?, do brasileiro Augusto Cury.
Linguagem rebuscada dos clássicos da literatura afasta leitores
?Hoje o que atrai leitores não são mais os lábios de mel de Iracema?, brinca a coordenadora da biblioteca, Lúcia Kistner, citando a obra de José de Alencar. Ela concorda que os livros mais clássicos realmente são pouco lidos, sendo que geralmente os mais jovens só se interessam em lê-los quando estão entre os exigidos para o vestibular.
Lúcia acredita que os tempos mudaram, assim como os gostos dos jovens e adultos. ?Não adianta forçar a ler os clássicos na escola, pois não haverá aprendizado e o aluno pode vir a se afastar dos livros. Tem que haver uma política de leitura nas escolas, tendo os professores como mediadores da leitura?. Ela comenta que há vários níveis pelo qual a pessoa passa para se tornar um leitor, citando a estudiosa Nely Novaes Coelho: pré-leitor, leitor em processo, leitor fluente e leitor crítico. Às vezes uma pessoa pode ser leitor crítico em livros de ficção científica, mas não conseguir chegar a este nível em leituras mais clássicas. ?Às vezes o leitor não está pronto para ler um livro inteiro de Machado de Assis ou para não sofrer muito com Clarisse Lispector?.
Para a professora de Língua Portuguesa e Literatura, Ides Curbani, é a linguagem mais rebuscada e estética que faz com que os jovens não se interessem por leituras mais clássicas. ?Estes livros de ficção de hoje deixam a imaginação fluir e por isso são mais atraentes. A literatura mais culta é arte e por ser arte trabalha mais com a estética. Assim, ela priva os jovens em certos aspectos e o vocabulário também conta com algumas palavras que eles desconhecem. Acredito que o importante é que leiam, não importa se sejam livros clássicos ou destes novos de ficcção?, comentou.
Ela acredita que a geração que hoje está nas escolas cresceu em um mundo em que tudo é mais rápido e fácil e que a literatura que hoje está em destaque vem ao encontro do mundo contemporâneo. A inserção da literatura nas salas de aula, de acordo com Ides, depende mais da consciência do professor do que de haver uma matéria dedicada a esta arte. ?Só não trabalha com literatura o professor que não quer. Ela é importante para que os alunos saibam reconhecer a verdadeira arte da escrita, que traz valores estéticos e desperta emoções. Tendo o conhecimento, os alunos vão poder comprar livros e terão propriedade para saber o que é bom ou não para eles?, finaliza.
Edição 1338
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).