De cima do morro, uma nova capela zela pelos fiéis de São Cristóvão. Finalmente chega ao fim um processo de quase 11 anos, resultado da força de vontade e mobilização de toda uma comunidade. Conhecida pela tradicional festa do padroeiro e pela ainda mais famosa carreata de motoristas que acontecem todos os anos, agora a comunidade tem um motivo a mais para se orgulhar. A inauguração da igreja está marcada para acontecer neste domingo, 10, às 9h30. Durante a missa, a edificação será inaugurada e consagrada.
Os últimos detalhes ainda estão sendo acertados. Uma cruz deve ser colocada no topo da construção e o sino, instalado. Além das imagens de alguns santos, que aos poucos vão tomando seus lugares dentro da iluminada construção.
A luz solar que entra pelas muitas janelas ressalta ainda mais a beleza da capela construída com o suor de toda a comunidade do Gaspar Grande. ?Tivemos que nos dedicar muito. Eu, por exemplo, precisei deixar meus serviços pessoais de lado muitas vezes para dar atenção a construção?, conta o coordenador do Conselho Pastoral Comunitário, Pedro Afonso de Oliveira.
A capela vem dar ainda mais força a uma comunidade que teve início em pequenos grupos de reflexão e hoje precisa de um grande espaço para abrigar todos os seus fiéis. A construção ocupa uma área de 1000 metros quadrados e foi planejada para que coubessem 600 pessoas sentadas. Para que este sonho tomasse forma, fosse cimentado e finalizado, foi necessário correr atrás de muitas doações e trabalhar com afinco durante as festas do padroeiro para arrecadar dinheiro. Jaime Schneider, 50 anos, foi uma das pessoas que ajudou a procurar doações para a construção do templo. ?São Cristóvão tem muitos devotos, é difícil as pessoas negarem doação para ele. A maioria doa algo, mesmo que seja pouco?, comenta.
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Comunidade comemora conquistaEmocionada. Esta é a palavra que Otávia Sansão, 47 anos, usa para definir como se sente ao olhar a construção da capela de São Cristóvão, agora finalizada. ?A emoção é muito grande. Tenho muita alegria em louvar a Deus e em podermos oferecer a Ele este templo que vai ser sagrado?.
Otávia viu a Comunidade São Cristóvão nascer, crescer e se tornar o que é hoje. Quando moça, era levada pela mãe às celebrações que aconteciam na escola do bairro, cultos e celebrações e participava dos grupos de reflexão do local. Ela teve sempre participação ativa na igreja, e fez parte do grupo que ajudou a comunidade a crescer através das festas e doações.
Além disso, Otávia tem papel marcante na comunidade. Faz parte do Conselho Pastoral Comunitário, da pastoral do batismo, da animação, é ministra da eucaristia, e, é claro, devota de São Cristóvão. ?Tenho sempre a bênção dele. Sou devota e motorista, mas de carro pequeno?, brinca. Ela afirma ter imagens do santo em casa e no carro mas dá destaque ao fato de ele sempre acompanhá-la por ela o ter no coração.Na comunidade ela trabalha preparando as celebrações e ainda ajuda nas festas organizadas para o padroeiro, das quais participa todos os anos.
Quem também participa e ajuda na festa é Jaime Schneider, 50 anos, que hoje é vice-presidente do CPC. Sua família esteve envolvida com a comunidade desde o seu início e ele afirma que não poderia ficar de fora. ?No começo foi bem difícil conseguir contribuições, batalharam muito por doações. Inclusive Pedro Antônio Schneider é lembrado por conseguir a doação do terreno em que hoje está localizado o centro comunitário?. Jaime sempre participa da organização das festas e ajuda na arrecadação de prendas, além de trabalha na venda de bebidas e churrasco.
História
A semente da comunidade foi plantada através dos grupos de reflexão que existiam no bairro, em que famílias se encontravam para momentos de oração, partilha e reflexão da palavra bíblica. Antes do ano de 1975 celebravam-se missas a cada 3 ou 4 meses, na escola da localidade. Em outubro daquele ano, Frei Elzeário Schmitt lançou a possibilidade de realizar missas todos os meses. O local era pequeno e não se adequava ao número de fiéis que prestigiava as celebrações.
O culto passou a ser semanal em 1980 e foi quando se notou a necessidade da fundação de um centro comunitário. A primeira diretoria foi eleita no dia 2 de maio de 1984 e após algumas reuniões foi escolhido São Cristóvão como padroeiro. ?Primeiro pensou-se em homenagear Nossa Senhora, mas como o número de motoristas e agricultores era muito grande, foi escolhido São Cristóvão?, conta Otávia. O terreno para a construção do centro comunitário foi doado por Emilia Theiss e chega a uma medida de 9000 metros quadrados. Em 29 de julho de 1984 aconteceu a primeira festa da comunidade, que deu o pontapé inicial a longa tradição das festas em que os motoristas e agricultores homenageiam e pedem a proteção de seu padroeiro. ?Quem trabalha em uma destas funções sempre chama o santo e pede pela sua proteção. Peço tanto na vida pessoal quanto no trabalho?, comenta Jaime.
A capela que será inaugurada neste final de semana é mais um clamor da comunidade, cujos fiéis eram muitos para a antiga construção. O ano de 2000 foi marcado pelo lançamento da pedra fundamental e o de 2004 pelo início da construção efetiva. Agora é a vez de 2011 entrar para a história da comunidade, com o importante marco da inauguração da capela pela qual estas pessoas tanto lutaram.
Quem foi o santo?
Padroeiro dos motoristas, viajantes e agricultores, ele é um Sato venerado pelos católicos e cristãos ortodoxos. Apesar de sua popularidade, pouco se sabe sobre a vida do santo, que foi classificado como mártir por ter sido perseguido, preso e, após sofrer cruel martírio, foi decapitado. Acredita-se que tenha morrido durante o reinado de Décio, imperador romano do século III.
Reprobus era o nome de nascença do santo, que foi convertido à fé cristã por um eremita, que também o batizou. Conta a lenda que Reprobus recusou-se a fazer jejum e rezar, mas aceitou a tarefa de ajudar as pessoas a atravessar um rio perigoso, visto que tinha tamanho e força extraordinárias. Certa vez, em sua tarefa, ele fez a travessia de uma criança, que ficava mais pesada a cada passo que ele dava, de tal forma que sentiu como se carregasse o mundo inteiro sobre seus ombros. Após atravessar o rio, a criança revelou para Reprobus que era Jesus Cristo.
É desta história que vem seu nome, Cristóvão, que significa ?aquele que carrega Cristo?. A criança então pediu que o homem fixasse seu bastão na terra, em um local em que no dia seguinte apareceu uma palmeira.
Foi este milagre o responsável pela conversão de muitas pessoas e também por causar fúria no rei da região.
Carreata é tradição na cidade
Caminhões, carros e motos tomam conta das ruas gasparenses todos os anos na manhã de domingo em que se realiza a festa de São Cristóvão. A carreata que reúne um número maior de veículos a cada edição já é famosa na região e traz um grande público à missa e festa do padroeiro dos motoristas e agricultores. É através desta procissão que os devotos demonstram sua fé e prestam homenagem ao santo. Aqueles que não seguem a procissão a assistem passar pelas ruas da cidade, pois chamam atenção as centenas de veículos enfileirados.
Todos os anos um caminhoneiro é escolhido e fica responsável pelo transporte do santo do local em que sai a carreata, da última vez o Ginásio Prefeito João dos Santos, até a capela da Comunidade São Cristóvão. Chegando ao local de oração, é celebrada uma missa em que os motoristas recebem a bênção para garantir mais um ano de proteção do santo nas estradas.
A procissão é apenas uma das atrações da festa, porém é considerada o ponto alto dos festejos e já virou tradição entre os gasparenses. A cada ano o evento reúne um número maior de participantes.
Esta afirmação foi feita pelo presidente do Conselho Pastoral Comunitário, Pedro Afonso de Almeida, na última edição da festa, que ocorreu entre os dias 24 e 26 de julho do ano passado. ?A maior parte das pessoas presentes no domingo são os motoristas, que vêm benzer seus veículos e chaves?, comentou ele na ocasião.
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1984: Antes da construção da primeira sede da Comunidade São Cristóvão as missas eram realizadas na escola do Gaspar Grande a cada três ou quatro meses. Com o início das celebrações dominicais, sentiu-se a necessidade de um espaço específico para tal. Então, em 1984 inaugurou-se a primeira capela, construído pela comunidade em um terreno doado por um casal de moradores. |
1984: A primeira festa de São Cristóvão, que deu início à tradição mantida até hoje pelos fiéis gasparenses, foi realizada no dia 29 de julho de 1984 na sede da comunidade. A missa foi celebrada pelo bispo D. Carlos Schmitt. O altar da ocasião foi montado na carroceria de um caminhão. A comunidade ainda estava dando seus primeiros passos e sua primeira sede se resumia a algumas barracas. |
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1984: Desde a primeira festa do padroeiro sua imagem é levada por um motorista até o local da missa. Na primeira festa, ela foi transportada pelo motorista Henrique Isensee. Nas primeiras edições das festividades a estátua do santo era levada em cima de uma caminhonete. Hoje uma grande carreata é organizada por pessoas da comunidade e o santo vai sobre um caminhão até o local da missa. |
2000: O momento fotografado é da missa realizada no dia 29 de outubro de 2000 em que foi lançada a pedra fundamental da capela. A partir desta data o terreno passou a ser preparado para receber a capela tão desejada por tantos anos pela comunidade do bairro Gaspar Grande. A construção da estrutura, no entanto, começou apenas quatro anos após o lançamento da pedra fundamental. |
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2004: Uma matéria do Jornal Cruzeiro do Vale ? da edição que circulou entre os dia 13 e 19 de fevereiro de 2004 ? registrava o início a construção efetiva do prédio. ?A comunidade São Cristóvão, no Gaspar Grande, está ansiosa para começar a ver a Capela de São Cristóvão tomar forma. A capela começou a ser construída na última segunda-feira, 9?, conta a matéria publicada na época. |
2011: Os muitos anos de esforço da comunidade resultaram na capela que agora os abrigará durante sessões eucarísticas e que também terá espaço para aulas de catequese. A capela foi construída com o dinheiro arrecadado nas tradicionais festas e doações de toda a comunidade gasparense e até pessoas de fora da cidade. Sua inauguração, no dia 10 de abril, é um marco na história dos fiéis do bairro. |
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edição 1282
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