Os fiéis católicos gasparenses já se preparam para organizar uma grande celebração no dia 5 de fevereiro de 2011, quando o frei Jaime Spengler será ordenado bispo. A celebração será realizada na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo e terá a presença de católicos de todo o país.
A ordenação do quarto bispo gasparense foi anunciada nesta quarta-feira, 10, e recebida com muita alegria por todos os familiares de Jaime, que residem na mesma casa onde o frei gasparense nasceu, no bairro Poço Grande. ?Foi uma alegria imensa, o pai até chorava, de tão emocionado. Não podíamos imaginar que um dia nosso filho mais velho se tornaria um bispo. É uma honra muito grande para nós?, comenta a mãe do novo bispo, Léa Maria Spengler.
A simpática senhora de 79 anos lembra como se fosse hoje o dia em que o filho disse que queria ser padre. ?Ele veio para casa, depois de uma festa de São Pedro, e disse que gostaria de ir para o seminário. Ele pediu para o tio ajudar a nos contar, pois achava que não queríamos que ele fosse. Mas ficamos muito alegres. Desde pequeno ele gostava de brincar de ser padre. Nós voltávamos da missa e ele pegava uma mesa, botava uma toalha por cima, vestia uma blusa do pai e dizia que ia rezar a missa?, relembra dona Léa. Para a família, a vida religiosa é um dom que Jaime possui desde que nasceu e que vem exercendo com muito esmero e dedicação.ENTREVISTA:
Em entrevista exclusiva ao Jornal Cruzeiro do Vale, frei Jaime fala um pouco sobre as alegrias deste novo momento em sua vida religiosa, suas experiências de vida, e o carinho que nutre pelo povo gasparense.
? Cruzeiro do Vale - O senhor já esperava esta nomeação? Qual foi sua reação ao ser informado sobre esta honra de se tornar Bispo?
Frei Jaime - Não esperava essa nomeação e muito menos a nomeação para Bispo-auxiliar em Porto Alegre. Existiam, sim, comentários! Mas, na verdade, não acreditava que pudesse tocar a mim uma nomeação desse porte. Fui chamado a Brasília no dia de frei Galvão para uma conversa com o senhor Núncio Apostólico; e qual não foi minha surpresa quando me comunicou a nomeação do Santo Padre para Bispo-auxiliar de Porto Alegre! Levei um tremendo susto! Criou-se em mim um sentimento de apreensão e de expectativa; afinal, tudo é novo: a realidade, o povo, as pessoas com quem vou trabalhar! Por trás de tudo isso temos de ver a mão do próprio Deus. Recordo com carinho a expressão de Jesus: ?não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi?. É a orientação que vem da fé que me fez dizer mais uma vez ?sim?.
? CV - Com a nomeação o senhor será transferido para a arquidiocese de Porto Alegre. Quais suas expectativas de evangelização naquela capital?
Frei Jaime - Porto Alegre é uma cidade grande! São mais de 3 milhões de habitantes. Uma cidade marcada por realidades muito distintas. Estive lá no último final de semana; chamou-me muito a atenção as favelas existentes. Portanto, estamos diante de uma realidade marcada por diferenças sociais enormes. É a essa realidade que somos chamados a levar uma palavra de esperança, uma palavra de conforto e de fé. Mas é também nessa realidade que somos chamados a ser presença e testemunho de ?menor entre os menores?. Sempre gostei do que sou e do que faço. Amo meu sacerdócio, amo a vida religiosa. Assim, de algum modo, creio, seja mais fácil inaugurar essa nova missão.
? CV - Quais as experiências de aprendizado nestes anos na Província Franciscana Imaculada Conceição?
Frei Jaime - Aprendi muito na e com a Província. Aprendi muito com minha família, meus pais e irmãos. Aprendi muito, quando fui funcionário das linhas Circulo. A vida mesmo é um grande aprendizado! É verdade que às vezes erramos; mas também é verdade que tantas outras vezes acertamos. Assim, entre acertos e erros vamos procurando responder àquilo que o Senhor nos pede. Aprendemos quando cultivamos o espírito de abertura, de acolhimento. O ser humano não pode jamais se fechar em si mesmo; um ser humano fechado em si não tem horizontes, não tem perspectivas. Creio que estamos sempre aprendendo algo. A própria existência nada mais é do que um grande aprendizado. E a partir da perspectiva da fé, o ser discípulos do senhor pressupõe a aprendizagem constante.
? CV - Como o senhor se sente sendo o quarto Bispo gasparense?
Frei Jaime - Sinto-me feliz e contente. Mas também me sinto angustiado. Trata-se de uma situação nova, numa realidade nova. Estamos indo para Porto Alegre com aquilo que aprendemos ao longo desses anos; estamos indo dispostos a dar o melhor de nossas forças em prol daquela porção do povo de Deus. Espero poder corresponder àquilo que a Arquidiocese espera de mim como Bispo Auxiliar, e àquilo que o próprio povo de Deus espera de um seu pastor. Tenho consciência da dignidade do serviço; mas também tenho presente os desafios; e, sobretudo, sei de minhas dificuldades e limitações.
? CV - Quais as influências dos Bispos gasparenses na sua vida religiosa?
Frei Jaime - Conheci bastante bem D. Carlos; conheci também D. Quirino, que me ordenou presbítero. No próximo dia 17 estarei celebrando 20 anos de ordenação presbiteral. D. Quirino me marcou pelo seu carisma, seu jeito de falar, de pregar. D. Carlos ? presença discreta ? me marcou pelo conteúdo de suas pregações, pelo seu jeito de ser atencioso. Recordo-me de uma cena muito bonita quando ele já estava acamado; vinha de Ituporanga com o senhor núncio; e ele me pediu que o levasse ao Hospital onde estava D. Carlos. O encontro dos dois foi algo muito marcante. D. Carlos sempre mostrou muita gratidão por tal encontro.
? CV - Quais motivos o levaram a escolher a vida religiosa?
Frei Jaime - A vocação é sempre um mistério. Isto vale para a vida matrimonial, mas vale também para a vida religiosa, o sacerdócio e para a vida de solteiros/as no mundo. Porque escolhemos essa ou aquela vida, é algo que diz dos desígnios mesmos de Deus. Quanto a mim, recordo-me de Frei Godofredo se preparando para celebrar missa num dia primeiro de maio. E vendo aquele homem cuidando com tanto carinho das coisas do altar, disse para mim mesmo: quero ser como aquele homem! Daquele dia e momento em diante não tive mais sossego enquanto não respondi àquele apelo.
? CV - O senhor espera celebrar alguma missa em Gaspar, após sua posse? Quando?
Frei Jaime - Bem, a ordenação será no dia 05 de fevereiro. O Bispo ordenante será o Núncio Apostólico, D. Lorenzo Badisseri; os outros dois bispos serão D. Dadeus Grings, Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, e D. Leonardo Ulrich Steiner, Bispo-Prelado de S. Felix do Araguaia, no Mato Grosso. Quanto à posse, ainda não temos data prevista. Isso depende de conversas em Porto Alegre. Em relação a celebrar em Gaspar, o que posso dizer é o seguinte: não esquecerei jamais da minha terra e meu povo. Certamente estarei em Gaspar sempre que for possível. Depois, se trata de combinar com o nosso Pároco, Frei Germano. Aliás, Frei Germano tem sido de uma atenção, carinho e disponibilidade a toda prova. Teremos de, juntos, preparar essa ordenação. Mas não só a ordenação! Vamos juntos celebrar também os 150 anos de fundação da Freguesia de S. Pedro Apóstolo. Sábado passado conversando com o Núncio Apostólico em Porto Alegre, lhe contei desse momento festivo para comunidade gasparense; e ele me dizia que se sentia muito honrado por poder participar dessa festa.
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Frei Jaime Spengler é nomeado quarto bispo gasparense
O frei gasparense Jaime Spengler foi nomeado bispo auxiliar da arquidiocese de Porto Alegre na manhã desta quarta-feira, 10. A nomeação feita pelo papa Bento XVI atendeu ao pedido do arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings.
A ordenação de Frei Jaime está marcada para o dia 5 de fevereiro, em Gaspar, e será celebrada pelas mãos do Núncio Apostólico do Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri.
Atual pároco da paróquia Bom Jesus dos Perdões e Guardião da Fraternidade Franciscana Bom Jesus em Curitiba (PR), frei Jaime nasceu no Poço Grande, em Gaspar, Santa Catarina, em 6 de setembro de 1960. Ingressou no seminário Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP) em 1980 e emitiu seus primeiros votos em 1983.
Frei Jaime fez os cursos de filosofia e teologia em Petrópolis (RJ) e foi ordenado padre em 17 de novembro de 1990. De 1991 a 1995 foi mestre dos postulantes e professor no Seminário Frei Galvão. Em Roma, fez o doutorado de filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum. Foi vice-reitor e professor do Instituto Filosófico São Boaventura, em Campo Largo (PR).
Em 2002 é nomeado Guardião da Fraternidade de Campo Largo e, em 2003, é transferido para o Convento Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba, como Guardião, vigário paroquial e professor de filosofia no Centro Universitário Franciscano do Paraná.
Padre fransciscano da Província Imaculada Conceição do Brasil, frei Jaime é o quarto gasparense a ser nomeado bispo. Os três primeiros foram Dom Daniel Hostin, Dom Quirino Adolfo Schmitz e Dom Carlos Schmidt, todos já falecidos.
Conheça um pouco mais sobre os Bispos Gasparenses
Por Alvaro Correia
Bispo Dom Daniel HostinSem qualquer exagero, poder-se-ia afirmar que Gaspar é um município abençoado por Deus, pois desde os seus primórdios o seu aguerrido e valoroso povo fez da fé e do espírito religioso a sua grande arma para vencer os desafios decorrentes do processo de progresso e desenvolvimento.
Foi esse sentimento religioso o responsável também pela projeção e pelo destaque que Gaspar alcançou no Estado e no país, pelos fatos importantes aqui registrados nesse setor religioso, a começar pelos três bispos, dezenas de sacerdotes e religiosas que daqui saíram para servir à causa de Deus, através da Igreja Católica Apostólica Romana.
A propósito, hoje vamos falar do nosso primeiro bispo, o saudoso Dom Daniel Hostin, que, por 44 anos, dirigiu a Diocese de Lages, realizando na região serrana uma obra pastoral lembrada e reverenciada até hoje pelo povo daquela região. Nascido em Gaspar em 2 de abril de 1890, D. Daniel era filho de Frederico Hostin e de Margarida Martendal. Seus primeiros estudos, primário e ginasial, foram feitos no Colégio Santo Antônio, de Blumenau. Entrando para a Ordem Franciscana, recebeu o hábito em 18 de janeiro de 1910, no Convento Noviciado de Rodeio, onde também, em 20 de janeiro de 1911, emitiu seus votos solenes. Ordenou-se sacerdote em Petrópolis em 30 de novembro de 1917, em solenidade presidida pelo Bispo Diocesano de Niterói, Dom Agostinho Benassi. Vindo para Blumenau, foi professor do Colégio Santo Antônio, até 1920, quando assumiu como Vigário a direção da Paróquia de São Paulo Apóstolo.
Além de orador primoroso, empenhou-se com extrema dedicação no desempenho do seu ministério, conquistando os corações dos católicos e não católicos de Blumenau, pelo zelo e carinho com que tratava a todos. Quando, em 1926, o Capítulo Provincial o transferiu como guardião para o Convento Franciscano de Curitiba, Blumenau inteira lamentou a sua saída e chorou, tal o grau de admiração e carinho que dispensava ao bispo gasparense. O seu prestígio crescia dentro da ordem e em 1928 foi novamente transferido, agora como guardião do Convento de Petrópolis. E foi lá mesmo, em Petrópolis, que foi surpreendido com a grande notícia da sua nomeação para primeiro bispo diocesano de Lages, diocese criada pelo Papa Pio XI, em 12 de agosto de 1929. Em Gaspar, Blumenau e em todo o Estado a ascensão de Frei Daniel ao episcopado foi recebida com alegria e festas pela população. Em Blumenau, inclusive, houve um banquete comemorativo com a presença de grande número de autoridades e pessoas amigas e admiradoras do novo bispo.
A sua sagração episcopal deu-se em 29 de setembro de 1929, em Blumenau, sendo sagrantes o Bispo de Florianópolis, Dom Joaquim Domingues de Oliveira, e consagrantes os Bispos Dom Pio de Freitas, de Joinville, e Dom Guilherme Mueller, de Barra do Piraí, Estado do Rio.
Em meio a grandes manifestações de alegria, a população de Blumenau festejou a sagração de Dom Daniel, que inclusive foi homenageado com grandioso banquete.
A posse do primeiro bispo de Lages realizou-se no dia 18 de novembro, em meio a pomposas festividades. A solenidade foi presidida pelo Bispo Metropolitano D. Joaquim Domingues de Oliveira, contando ainda com a presença de altas autoridades civis, militares e eclesiásticas.
Encerradas as festividades de posse, D. Daniel passou a organizar de imediato a estrutura da Diocese, a fim de dar cumprimento à sua missão, que se prenunciava bastante espinhosa, dada a extensão territorial do novo bispado, que ia até os limites com a Argentina, abrangendo ainda todo o Oeste e Extremo-Oeste catarinense. Em seguida, estabeleceu um programa de visitas para conhecer a realidade e as necessidades da nova Diocese. Desde logo sentiu a falta de professores na região e imediatamente passou a coordenar a criação do Colégio Diocesano, que seria inaugurado em março de 1930.
O sucesso da iniciativa foi tão grande que, dois anos após, o colégio passou a funcionar num amplo e moderno prédio, onde funciona até os dias de hoje, construído em tempo recorde sob a ?batuta? de D. Daniel.
Toda a região da Diocese de Lages foi grandemente beneficiada pelo notável trabalho desenvolvido por Dom Daniel, que criou inúmeras Paróquias, Capelas e Associações Religiosas, que além de difundirem a palavra de Deus, muito contribuíram também para o progresso da região. Foram quase cinquenta anos de intensa atividade na difusão e na implantação da cultura, do civismo e da religião. Querido e festejado por todos, Dom Daniel veio a falecer aos 83 anos, no dia 8 de novembro de 1973, num leito do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, de Lages, onde vinha sendo assistido por uma equipe de médicos.
A consternação pelo seu desaparecimento repercutiu pelo Estado afora e uma verdadeira multidão compareceu ao seu sepultamento, realizado dia 9, na cripta da Catedral Diocesana de Lages.
Essa é a breve biografia do nosso primeiro Bispo D. Daniel, que no testamento que deixou dizia, em sua parte final: ?Nada possuo de meu, e, como Franciscano, nem poderia possuir, em virtude do voto solene de pobreza. Se alguma coisa for encontrada em meu nome, pertence à Diocese?.
Dom Quirino Adolfo Schmitz
A Igreja Católica do Brasil perdeu em 20 de julho de 2007 um dos seus grandes baluartes com o falecimento do Bispo Emérito de Teófilo Otomi (MG) Dom Quirino Adolfo Schmitz.
Em todo o pais repercutiu e houve manifestações de pesar pela morte do ilustre prelado que era filho de Gaspar, tendo aqui nascido em 22 de novembro de 1918 na localidade de Belchior onde residiam seus pais, Catarina Moser e João José Schmitz. Manifestando desde cedo um forte espírito de religiosidade, Dom Quirino sensibilizou seus pais para que o internassem no Seminário Franciscano de Rio Negro, depois que concluiu o curso primário na escola de Belchior. No Seminário de Rio Negro concluiu o ensino médio e em 18 de dezembro de 1937 ingressou na Ordem Frades Menores. Transferido para Curitiba lá permaneceu ate 1941, tendo concluído o curso de filosofia e feito profissão solene. Seu próximo destino foi Petrópolis onde fez teologia e foi ordenado sacerdote em 28 de novembro de 1943. Lá mesmo iniciou a sua atividade pastoral. Revelando-se um pastor brilhante, dedicado e com uma voz privilegiada, Dom Quirino foi logo pinçado pela direção da igreja para cumprir importantes missões.
A primeira delas deu-se em Curitiba em 1945, quando foi nomeado Diretor do Colégio Dom Jesus recém instalado pelos franciscanos. Em 7 anos organizou e transformou o Bom Jesus num dos melhores Colégios da Capital paranaense, permanecendo na sua direção ate 1952. a regência do internato do Colégio Diocesano de Lages foi a sua próxima missão. Lá juntamente com o Bispo conterrâneo Dom Daniel Hostinz, Frei Quirino desenvolveria mais um notável trabalho junto aos internados e toda a comunidade católica daquela região serrana. Permaneceu em Lages até 1954, quando foi nomeado para assumir a Paróquia de Santo Antonio do Pari, São Paulo e a direção do Colégio Santo Antonio da mesma cidade. A seguir foi premiado com uma missão internacional sendo nomeado Diretor do Missionskolleg em Ganstock, na Bélgica, cargo que assumiu em 1958. Quando já era figura de destaque naquela cidade, pelo belo trabalho de desenvolver a frente do colégio, eis que é surpreendido com a noticia da sua nomeação para o posto de bispo.
Com apenas 43 anos e achando-se muito novo para exercer tão honroso cargo, tentou junto aos seus superiores mudar a nomeação, mas de nada adiantou os seus argumentos. O jeito então foi arrumar as malas e se despedir dos católicos da Bélgica e viajar para o Brasil para se preparar para a sagração episcopal. A histórica solenidade realizada em Gaspar no dia 25 de abril de 1961 juntamente com os festejos comemorativos dos cem anos de Gaspar. O governador Celso Ramos o Nancio apostólico do Brasil, Dom Armando Lombardi e outras autoridades de vulto prestigiaram a solenidade de sagração de Dom Quirino Adolfo Schmitz que foi nomeado Bispo Emérito de Teófilo Otomi, Minas Gerais, de cuja cidade também veio uma comitiva liderada pelo Prefeito. Encerradas as festividades Dom Quirino permaneceu mais alguns dias em Gaspar e na região para visitar parentes, amigos e as autoridades para agradecer pelo apoio dado as festas da sua sagração. Em seguida foi assumir a direção da Diocese de Teófilo Otomi, onde foi recebido festivamente. Num discurso de agradecimento disse: ?Nunca esperava ser Bispo. Pedi ao Papa que me dispensasse mais não adiantou, vim sem conhecer ninguém em Teófilo Otomi.? Quando chegou aquela cidade, Dom Quirino foi morar em um morro e o local ate hoje é conhecido como morro do bispo. Diante do tamanho da Diocese e dos muitos problemas que apresentava Dom Quirino teve que organizar uma excelente equipe para enfrentar os desafios, lançando-se a luta tendo como lema: ?Comprometido com o evangelho.? Promoveu um formidável trabalho de evangelização onde fez a opção pelos pobres.
Ganhando notoriedade e prestigio junto aos altos escalões da Igreja, Dom Quirino foi nomeado membro do Conselho Episcopal Pastoral do Leste 2. em razão disso participou do Concilio Vaticano II e da conferencia de Puebla. Sempre em busca de mais conhecimentos Dom Quirino participou ainda nos seguintes: espiritualidade e pastoral; por um mundo melhor e novo direito canônico, sendo esses dois últimos na Itália. Orador primoroso, Dom Quirino era muito solicitado para falar e pregar em festas e solenidades religiosas. Pregou muitas vezes nas novenas do Espírito Santo em Blumenau, com também aqui em Gaspar nas novenas de São Pedro. Depois de cumprir sua missão pastoral com tanta intensidade, brilhantismo e eficiência, o saudoso Bispo gasparense, ante o peso da idade foi aos poucos diminuindo o ritmo das suas atividades e recolhendo-se ao Asilo Recanto Frei Dimas, em Teófilo Otomi.
Foi de lá que saiu em 7 de junho de 2007 para guardar leito no hospital Santa Rosália. Com problemas cardíacos e gastrointestinais. Durante 13 dias uma equipe medica lhe assistiu sem entretanto conseguir reverter o quadro da sua abalada saúde.
E a 1:30 horas do dia 20 daquele mês, Dom Quirino veio a falecer.
A infausta noticia imediatamente espalhou-se por todo o Brasil causando uma verdadeira comoção junto a população de Teófilo Otomi, onde era muito querido e admirado por todos. A prefeitura daquela cidade decretou luto por três dia e em nota oficial, manifestou o pesar do povo e do município.
Também a CNBB emitiu ?Nota de Pesar e Solidariedade?, pela morte do Bispo de Teófilo Otomi e ?agradecendo a Deus pela sua vida preciosa de Dom Quirino e pelo bem que ele fez a sociedade e a Igreja.?
O corpo de Dom Quirino foi velado na Catedral da imaculada Conceição em cuja cripta foi sepultado as 17:00 horas depois das muitas homenagens do povo e das autoridades.
Alem do exemplo que deu em vida como um bispo evangelizador e excelente condutor de almas, Dom Quirino deixou como legado as seguintes obras publicadas; ?Pastor do povo?, ?Posso batizar meu filho?, ?Eu vi Jesus de Nazaré?, ?Que fazer na Igreja?, ?Crisma para que??, ?Matrimonio, sacramento formador de comunidades?, ?Unção dos doentes? e ?Pastor Inquieto? (Memórias). Dom Quirino faleceu aos 88 anos de idade.
Dom Carlos Schmidt
Gaspar é um dos poucos municípios do Brasil que deu três bispos à Igreja Católica Apostólica Romana. Todos, infelizmente já faleceram. Neste espaço já falamos sobre a vida e a obra evangelizadora de Dom Daniel Hostin e de Dom Quirino Adolfo Schmitz, os dois primeiros que já nos deixaram, chamados por Deus. O último a nos deixar foi Dom Carlos Schmitt, Bispo Emérito de Dourados, Mato Grosso do Sul, cujo falecimento ocorreu no dia 16 de janeiro de 2006, no Hospital Santa Isabel, em Blumenau, onde era capelão há 23 anos.
Filho de Nicolau Miguel Schmitt e Cecília Schmitt Hostin, Dom Carlos nasceu em Gaspar, no dia 27 de janeiro de 1919, sendo batizado com o nome de Stanislau Hostin Schmitt. Fez os estudos básicos no Colégio Cristo Rei e aos 12 anos ingressou no Seminário São Luis de Tolosa, em Rio Negro.
Os estudos do ensino médio ele concluiu no Colégio São Luis de Tolosa, em Viodrop, Holanda, para onde foi transferido em 1934. Retornou ao Brasil em julho de 1938, para fazer o Noviciado Franciscano, em Rodeio, onde, em 1939, fez a profissão religiosa dos votos temporários. Ainda em Rodeio iniciou o curso de Filosofia, que concluiu em 1940 em Curitiba. De 1941 a 1944 estudou Teologia em Petrópolis, onde em 1942 foi ordenado diácono, e em 1943, finalmente, foi ordenado sacerdote, cujo ministério viria a exercer por 62 anos. Ainda em Petrópolis, em 1945, fez curso e treinamento para a pregação de missões populares. Em seguida passou dois anos trabalhando na Capela de Pau Grande, na Baixada Fluminense.
Em continuidade à sua atividade evangelizadora, foi transferido para Santa Catarina, onde foi prefeito de estudos, de 1946 a 1947, do Seminário de São João Batista, em Luzerna, e de 1948 a 1950, do Seminário Nossa Senhora de Fátima, de Rodeio. De 1951 a 1954 foi professor do Seminário Frei Galvão, em Guaratinguetá. Em 1955 fez a preparação para as santas missões, no Convento e Paróquia Santo Antônio, em Florianópolis. Em seguida, por quatro anos, de 1956 a 1960, respondeu pela paróquia de Xaxim, no Oeste catarinense. No dia 29 de agosto de 1960, Dom Carlos era surpreendido com a grata notícia de que o Papa João XXIII o elegera Bispo de Dourados.
A sua sagração deu-se na Basílica de São Pedro, em Roma, no dia 28 de outubro do mesmo ano, em solenidade presidida por sua santidade o Papa João XXIII. A sua posse na Diocese de Dourados deu-se em 8 de janeiro de 1961, em meio a grandiosas festividades.
Depois de nove anos de intenso trabalho e quando a Diocese de Dourados, já devidamente estruturada, cumpria de forma brilhante a sua missão, Dom Carlos resolveu renunciar e pediu ao Papa para deixar o posto. O Papa aceitou o seu pedido e o transferiu para Lages, onde foi nomeado bispo auxiliar da Diocese, então comandada pelo seu conterrâneo, o Bispo Dom Daniel Hostin, lá permanecendo de abril de 1970 a 31 de outubro de 1975. Dessa data em diante foi nomeado e permaneceu por 30 anos como capelão dos Hospitais Santo Antônio, então dirigido pelas freiras franciscanas, e Santa Isabel, de Blumenau.
No Hospital Santo Antônio permaneceu sete anos e no Santa Isabel por 23, exercendo a nobre função com muito amor, zelo e dedicação. Visitava os doentes, levando-lhes os sacramentos da Reconciliação, da Eucaristia e da Unção dos Enfermos. Confortava, animava, consolava e curava. Uma rede de autofalantes possibilitava-lhe a oração e a meditação diária da palavra de Deus com os enfermos, em seus quartos. Como bom samaritano do Evangelho, esteve sempre ao lado dos sofredores, vendo neles a presença do Senhor.
?Estive doente e você veio me visitar?, foi a palavra do Evangelho que ele mais assiduamente encarnou.
Dom Carlos foi vítima de um derrame cerebral em setembro de 2002, quando já contava 83 anos de idade. O gosto pela vida e o seu espírito de luta permitiram-lhe uma razoável recuperação. Recuperou em parte a comunicação verbal, mas teve de submeter-se a uma cadeira de rodas para se locomover. Ainda assim, rezava missa e confessava as muitas pessoas que o procuravam. Seu quadro clínico agravou-se em janeiro de 2006, vindo a falecer por volta das 18 horas do dia 16, no Hospital Santa Isabel em consequência de um derrame sofrido dia 13. Em sua homenagem, foram celebradas duas missas exéquias no dia 17, uma às 8 horas, na capela do Hospital Santa Isabel, e outra às 10 horas, na Catedral da Diocese, presidida pelo Bispo Dom Angélico Bernardino.
Em seguida o corpo foi transladado para Gaspar, sua terra natal, onde houve missa de corpo presente às 16 horas, na Matriz de São Pedro Apóstolo, que ficou lotada com a presença de centenas de gasparenses que foram homenagear e se despedir do bondoso bispo filho da terra.
Muitas autoridades civis e eclesiásticas também compareceram às exéquias, destacando-se, entre elas: o bispo emérito de Dourados, Dom Alberto Johannes Forst; o bispo auxiliar emérito de Florianópolis, Dom Vito Schlickmann; o bispo de Lages, Dom Oneres Marchiori; o bispo diocesano de Joinvile, Dom Orlando Brandes; o bispo diocesano de Joaçaba, Dom Valmir Alberto Vale; o Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição, padre Frei Augusto Koenig.
Depois da missa e das homenagens, o corpo de Dom Carlos foi sepultado no cemitério local junto ao mausoléu da família franciscana.
?Justiça et Pax? (Justiça e Paz) era o lema episcopal de Dom Carlos. O portal eletrônico de conferência dos bispos do Brasil (CNBB), com a notícia da sua morte, afirmava: ?Seu lema marcou todo o seu episcopado na valorização da pessoa humana?. O nome de Dom Carlos Schmitt junta-se a outros ilustres gasparenses na galeria de honra dos que contribuíram para destacar a história do nosso município.
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