Durante toda esta sexta-feira, 30, os empresários gasparense vão eleger a nova diretoria da Associação Empresarial de Gaspar, Acig. O atual presidente, Samir Buhatem, deixa o cargo e indica o empresário Rogério Alves para ser seu sucessor. Rogério concorre em chapa única e a eleição segue até o final do dia, na sede da Acig.
Após passar quatro anos à frente da entidade, Samir conversou com a equipe de reportagem do Cruzeiro do Vale e fez uma ampla análise sobre o envolvimento da Associação no desenvolvimento econômico de Gaspar, nas lutas pela classe empresarial e sobre o atual cenário econômico da cidade. Confira abaixo as conclusões a que chegou o empresário.
Cruzeiro do Vale - Após atuar quatro anos à frente da Associação Empresarial de Gaspar, qual sua análise sobre o envolvimento e compromisso da classe empresarial gasparense com o desenvolvimento da cidade?
Samir Buhatem - Todo empresário é um empreendedor, pela sua ação direta é que os empregos são gerados, os pesados impostos são pagos e a máquina pública se movimenta. Somos nós empresários que damos vida a uma economia, fazemos crescer uma cidade ou por nossa decisão podemos abandoná-la ao acaso. Nosso compromisso é nato, sem nossa força econômica e geradora de riqueza não existe condições financeiras de dar sustentação a um município, seja ele qual for. O envolvimento de muitos empresários em Gaspar é excepcional, porém na sua maioria, infelizmente, isolam-se em seus negócios e automatizam sua participação pela geração de empregos e impostos, não querendo se envolver com as decisões estratégicas que envolvem o futuro da cidade. Este é o grande erro, pois a omissão da maioria da classe empresarial é que está fazendo com que o país fique cada dia mais sujeito às estripulias políticas que assistimos diariamente.
CV - Neste período, na sua visão, como se deu o crescimento econômico de Gaspar?
Samir - Gaspar perde oportunidades, o mundo está crescendo a uma velocidade assustadora, muito superior ao Brasil, e infinitamente superior a Gaspar. Por falta de políticas públicas claras, um planejamento estruturado e competência administrativa, Gaspar está apenas contando tempo e perdendo o bonde da história. Há anos que vivo o mundo empresarial de Gaspar, e sou testemunha de que muitos tentam empreender na cidade e ficam frustrados. Nos últimos quatro anos construímos um forte relacionamento com as cidades vizinhas, por meio das Associações Empresariais, visando um entendimento regionalizado. Cremos, em nossa estratégia, que Gaspar ganharia muito se unisse forças com o Vale do Itajaí, pois suas demandas são superiores a sua própria estrutura como cidade. Nos investimentos em infraestrutura, os valores superam a capacidade de captação de uma cidade deste porte, mas quando se regionaliza esta infraestrutura podemos somar o poder econômico e político de toda uma meso-região, que será beneficiada com estas obras. O mesmo vale para as demais cidades do Vale.
CV - O que falta na cidade para que este crescimento seja maior e melhor valorizado?
Samir - Planejamento, metas, prazos e agir politicamente. Quando comentamos que agir politicamente é o melhor caminho, estamos nos baseando na estratégia que o próprio Brasil adotou com o pluripartidarismo e os governos de coalizão. Significa que um governo deve, para atingir seus objetivos, se coligar com outros partidos, sob uma ampla aliança, para obter uma maioria no Legislativo para aprovar suas ações. Desta forma, Gaspar deve estar acima das bandeiras partidárias, e buscar agir e interagir com todos os partidos, visto que as verbas públicas, concentradas no Governo Federal, estão partilhadas em diversos Ministérios, e cada qual pertencendo a um partido da coalizão. Portanto, ao tentar isolar-se sob seu único partido, corre-se o risco de não ser atendido em Ministérios vitais para a captação de recursos, gerando um ciclo vicioso de projetos apresentados, publicidade feita, convênios assinados, porém sem êxito na liberação dos recursos para o início da implantação e realização dos anseios da população.
CV - Existe em Gaspar apoio do Poder Público para o fortalecimento da classe empresarial?
Samir - Já houve este apoio declarado a todas as entidades de classe. Hoje existe pouca transparência nos planos do atual governo. Não está claro para nós qual o rumo que a Administração quer tomar para o município, e se não sabemos para onde vamos, como podemos planejar ou até mesmo auxiliar a alcançar estes objetivos? Sem o diálogo aberto e franco, não podemos investir, gerar empregos, renda e consensar os rumos do crescimento do município. E isto é um erro estratégico que recai sobre a população mais carente, pois sempre é a mais necessitada das decisões tomadas.
CV - O que, na sua opinião, impede a cidade de alcançar grandes obras como a Ponte do Vale e o Anel de Contorno. Obras estas que a ACIG lutou, mas até agora não saíram do papel?
Samir - A falta de parcerias! Gaspar não tem porte para conquistar grandes volumes de investimentos, não tem acesso e representatividade política para captar recursos de vulto no Governo Federal, e com isso os grandes projetos ficam para segundo plano. Porém, ao realizar parcerias e unir forças com toda a região, Gaspar ganha representatividade e com isso a captação passa a ser viabilizada pela pressão de todos os municípios do Vale.
CV - Qual seria, na sua visão de empresário, a solução para que a cidade de Gaspar deixe de ser um corredor de passagem e passe a ser vista como um local para bons investimentos de grandes empresas?
Samir - Construir imediatamente o Anel de Contorno, aliviando o transita do centro da cidade, concluir o asfaltamento e urbanização da Rua Vidal Flavio Dias, no Belchior Baixo, isto para dar um alento ao trânsito complexo e sobrecarregado. Porém, outras medidas devem ser tomadas de forma simples. A cidade deve atrair empresas para dar conforto e segurança para a população, como empresas de TV a Cabo e de internet de banda larga/rápida. No campo da segurança pública, o aumento do número de policiais militares e civis é imperioso, pois como o município é extenso em sua territorialidade, precisamos criar pelotões da PM em pontos estratégicos, como Belchior Central, Bela Vista, Poço Grande, Margem Esquerda/Lagoa e Baú Baixo. Cada pelotão com pessoal para plantão e ronda 24 horas, além de viaturas aptas e seguras para garantir à população a segurança necessária. Na Polícia Civil, a vinda de novos delegados, agentes e investigadores é uma medida urgente. A criação local do Instituto Geral de Criminalistica, para auxiliar na solução dos crimes, também se faz necessária. Ou seja, a população tem que estar com sentimento de segurança e os criminosos devem saber que estão sendo vigiados com inteligência. Para atrair novos negócios e manter os atuais, são necessários além de acessos rápidos, o condomínio industrial, o porto seco, a própria internet (pois sem ela não se faz negócios), incentivos fiscais, apoio comercial, etc. O empreendedor tem que ter a segurança em investir numa cidade que dispoe de transporte coletivo para seus colaboradores, facilidade de acessos aos insumos e saída de produtos acabados, e claro fazer parte de uma cidade vitoriosa, que sua opinião é ouvida e que a estrutura de governo é profissional.
CV - Você tem acompanhado a polêmica sobre a possível saída da Bunge da cidade? Qual sua opinião sobre o assunto? Falta estratégia política para evitar sua possível saída?
Samir - A saída do centro administrativo da Bunge estava traçado há anos, o ex-presidente Sergio Roberto Waldrich, que com sua liderança e visão globalizada insistia em mantê-la em Gaspar, contra a vontade e os planos da própria diretoria. O Vale do Itajaí está renegado nas políticas de investimento dos Governos, pela falta de representatividade política da região. Assim, é difícil manter uma empresa de classe mundial sem apresentar um mínimo de quesitos de infra-estrutura, como moradia, segurança, transporte, aeroporto, pontes e acessos. O mundo dos negócios é muito dinâmico, e necessita de políticas de acessibilidade muito claras, e creio que Gaspar não deu a devida importância para estas políticas nos últimos anos, e não está nos planos de governo alguma mudança nesta política, ou seja, deixar de agir pela política partidária e agir de forma profissional para buscar resultados que atraiam e mantenham empresas na região.
CV - Para finalizar, qual a sua análise sobre os últimos quatro anos de atuação da Associação Empresarial de Gaspar?
Samir - Assumimos a ACIG em 2006, num momento conturbado e de descrédito e sem projetos concretos para serem realizados. Com a diretoria e todos os colaboradores, conseguimos inserir a ACIG no contexto e no centro das decisões. Desta forma, desempenhamos papel fundamental em importantes obras, como o IF-SC, o projeto de batimetria e sondagem da nova Ponte do Vale (veja que a mesma leva este nome por ser importante para a região), o Hospital de Gaspar, a reforma da sede da Associação, a criação do Centro de Treinamento Herbert Wemuth, a transformação do Pelotão da PM em Compania, entre outras grandes realizações em favor não só da classe empresarial mas em favor do crescimento e desenvolvimento econômico da cidade.
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).