Por Kunimund Krönke Júnior
?Nós nem mexemos com dinheiro aqui. Meu salário é a prefeitura quem paga e a ONG deposita o pagamento dos estagiários direto em conta bancária. Só recebemos o material (bolas, raquetes, redes, uniforme, entre outros)?, afirma a coordenadora do programa Segundo Tempo em Gaspar, Érica Monteiro Marques. Em outubro, o projeto de inclusão social do Ministério do Esporte foi foco de denúncias de desvios de recursos.
Apesar das denúncias, Érica garante que em Gaspar o projeto está funcionando normalmente, tanto que nesta quinta-feira, 10, o pólo recebeu a visita de representantes do Instituto Contato, entidade que gerencia o Segundo Tempo em Santa Catarina. O grupo esteve na cidade para avaliar o andamento das atividades e a veracidade das informações repassadas através da prestação de contas.
O Programa Segundo Tempo começou em Gaspar em 2005. No início as atividades eram realizadas em dois pólos, porém, a falta de participantes, as dificuldades de transporte e a falta de estrutura em um dos locais fez com que, em 2010, as atividades se concentrassem no Bela Vista Country Club.
Atualmente, o programa do Governo Federal atende 117 crianças na cidade - 56 na turma da manhã e 61 à tarde. Acompanhadas pela coordenadora, elas entram no clube e seguem até o ginásio, onde respondem à chamada. Depois, o grupo é dividido em dois para realizar as atividades, cada um supervisionado pelo menos por um estagiário. Passados 50 minutos, as crianças fazem uma pausa para o lanche e trocam de atividade. A lista inclui futebol, vôlei, handebol, basquete, futsal, tênis de campo (em parceria com um projeto da UFSC), vôlei de areia, xadrez, caminhada, gincanas e até taco. A participação das crianças é gratuita.
Prestação de contas
Como não recebe recursos financeiros, a FME, entidade responsável pelo Segundo tempo em Gaspar, tem como função receber material de trabalho e os alimentos servidos no lanche das crianças e depois fazer um relatório ao final dos 19 meses de contrato. O processo de renovação do contrato inicia com o envio de documentos, incluindo a justificativa da escolha dos pólos com foto anexada. Este ano, o programa começou apenas em outubro por cortes no orçamento do Ministério do Esporte. Para 2012, está prevista a contratação de um professor de Educação Física. Como este ano o programa só vai durar dois meses, a prefeitura entendeu que não valia a pena contratar um profissional. Então, Érica, que é diretora pedagógica da FME, se colocou à disposição para coordenar.
Psicóloga recomenda
Iniciativas como o Programa Segundo Tempo são vistas como positivas por profissionais ligados ao desenvolvimento psicomotor das crianças. ?Através de atividades extras elas têm a oportunidade de aprender fora da sala de aula e desenvolver um potencial através de algo prazeroso que já está no cotidiano delas, como correr, brincar, subir em árvore?, destaca a psicóloga Sandra Rosali de Menezes.
Para a especialista, a prática esportiva não só oportuniza o desenvolvimento psíquico e motor, mas também oferece a oportunidade de se socializar e aprender valores como cooperação, responsabilidade e solidariedade. ?Dependendo do contexto familiar, a criança ou o adolescente pode não ter essa chance. Conheço o projeto e sei que, como não há competição, as crianças aprendem que o importante é participar, ter ?espírito esportivo??, opina.
Sandra afirma ainda que os maiores beneficiados são os adolescentes que ficam em casa sozinhos. ?Fazer parte de um projeto de socialização com o Segundo Tempo evita que os jovens tenham contato com drogas e se tornem marginais. Os menores sofrem menos porque podem ficar na creche.?
Crianças e pais aprovam o projeto
Participar do Programa Segundo Tempo tem feito com que crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos aproveitem melhor o tempo livre. Muitos que ficavam em casa assistindo televisão ou jogando videogame hoje até pensam em se tornar atletas profissionais.
?Esse programa é muito bom para as crianças porque elas não ficam em casa sem fazer nada?, acredita Vera Lucia dos Passos Santos, mãe de Jhonatan, que trocou há dois anos o costume de assistir TV e comer à tarde para participar do Segundo Tempo. ?Ele sempre foi calmo. O que mudou é que ele agora tem vontade de fazer as coisas. Agora tudo que ele vê, tem vontade de fazer?, comentou Vera. O adolescente de 14 anos conta que o programa de inclusão social vem melhorando. ?Ficou mais divertido e tem mais esportes?, afirma. Jhonatan gosta de jogar basquete, vôlei e tênis. O garoto se identificou tanto com a raquete e a bolinha que pensa em se tornar profissional. Inclusive, já deu o primeiro passo: é um dos jovens beneficiados pelo Programa Segundo Tempo que trabalha como recolhedor de bolas no Bela Vista Country Club, onde acontecem as atividades.
Jhonatan parece ter influenciado o irmão mais novo, Jhoelinton, de 9 anos. Ele também gosta de basquete e sonha em ser tornar um jogador de tênis profissional. ?Ele era muito bagunceiro e respondia muito?, conta o filho adolescente de dona Vera. ?Agora o comportamento dele melhorou e as notas também?. Antes de participar do Programa Segundo Tempo, Jhoelinton passava as tardes deitado vendo televisão.
Um dos milhares de garotos que sonham seguir carreira de jogador de futebol, Eduardo Felipe da Silva, 9 anos, acha que está jogando melhor depois que começou a participar do Programa Segundo Tempo. Mais do que a habilidade da criança, a mãe, Marlene Schmitt Petri, percebeu que Eduardo ficou mais comportado. ?Ele está mais obediente?. Eduardo gosta tanto do esporte que já espera pela próxima semana. ?Ontem ele não foi porque teve dentista marcado em Blumenau. Foi só você perguntar que ele ficou ansioso?, revela a mãe. Até a próxima quinta-feira chegar, Eduardo vai ter que se contentar em jogar bola na frente da televisão.
Edição 1342
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