O projeto ‘Pão Vivo’ está trazendo alento a centenas de pessoas carentes e beneficiando também entidades de Gaspar. Iniciado em fevereiro deste ano, ele tem como objetivo alimentar famílias carentes e crianças em orfanatos. Atualmente, cinco voluntários produzem diariamente cerca de 200 pães, que são distribuídos gratuitamente às famílias cadastradas e às três casas de acolhimento de crianças e adolescentes.
Os pães são produzidos junto ao Ministério dos Remanescentes, no bairro Santa Terezinha, em Gaspar. A localidade é de propriedade de Vilmo Zuque, idealizador do projeto, que em um momento difícil da vida optou por dedicar sua caminhada à espiritualidade e ações sociais. “Eu estava em tratamento de câncer, internado, quando uma pessoa chegou e pediu para orar por mim. Eu aceitei. Tinha outro rapaz que estava com ele e foi a outro quarto do hospital. Quando ele voltou, me olhou e disse: ‘não te conheço, mas tenho um recado pra ti. O Espírito Santo mandou dizer que você é um desobediente, porque quantas vezes já te disseram que você veio para alimentar órfãos e viúvas, mas teu dinheiro é só pra festa e bagunça. Se tu hoje decidir fazer a obra, hoje, não amanhã, você sairá daqui em poucos dias”, lembra.
Há cerca de oito anos, Zuque foi diagnosticado com um tumor de alta gravidade, o Melonoma, que acomete a pele, olhos e cabelos. Chegou a ficar três anos consecutivos internado e estava desenganado pelos médicos, que chegaram a falar que ele teria apenas três meses de vida. “Eu, no leito do hospital, me vi morto. Mas a cada dia que passava eu aprendia um pouco e quando saí de lá, me propus a seguir o que o rapaz me falou”.
O ‘Pão Vivo’ é fruto de um momento de muita dificuldade da família Zuque. Quando Vilmo saiu do hospital, sua empresa estava praticamente falida e com várias ações trabalhistas. Junto à esposa e os filhos, ele passou por necessidades. “Aprendemos a viver assim e tudo começou a melhorar com o tempo. Passei por dificuldades, já chorei muito, mas agradecia a cada bênção recebida”, diz Zuque, que mesmo diante dos problemas, não desistiu de realizar o que havia prometido.
O espaço que hoje abriga a padaria quase foi vendido para pagar dívidas de mais de R$5 milhões. Mas a escolha foi outra. “Minha esposa disse: é hora de começar. E fomos indo. O rancho que eu criava cavalos, transformamos no Ministério. A sala das crianças, vamos ter espaço com dentista para cuidar de quem precisa. E temos a nossa padaria, que faz o pãozinho de todo o dia”.
Vilmo criou uma célula do Ministério dos Remanescentes e, em 2020, começou a planejar a padaria. Após a conquista dos maquinários e a instalação elétrica, no início de 2022, já estava tudo pronto para dar início ao projeto. Porém, ainda faltava o padeiro. Em conversa com um amigo que veio do Rio Grande do Sul para trabalhar nas obras da BR-470, ele descobriu que havia encontrado a pessoa ideal para produzir o alimento, que hoje é embalado em um saco de pão com a frase ‘servimos o melhor para servir sempre’.
“Eu sei que Deus transformou este rancho neste grande projeto e nunca faltará o nosso pão. Vamos distribuir cada dia mais pães” - Vilmo Zuque, idealizador do Pão Vivo |
André Luis kabke, de 33 anos, é natural de São Lourenço do Sul/RS e há um ano reside em Gaspar. Antes de vir para Santa Catarina, ele trabalhava em um buffet de eventos de alta gastronomia, cujo proprietário tinha o sonho de abrir uma padaria. Por isso, André foi o funcionário escolhido para fazer um curso de pães artesanais durante três meses e se dedicou a isso.
Em 2021, André recebeu o convite de um amigo para trabalhar em um laboratório de Construção Civil em Gaspar e decidiu mudar de vida. E foi através deste amigo que ele conheceu a igreja e, consequentemente, o projeto. “Eu morava há 800 quilômetros de Gaspar e aqui estou, muito feliz em fazer parte. Eu era ateu [não acreditava em Deus] e hoje doo um pouco do meu tempo para ajudar quem precisa. Isso é maravilhoso, fico até emocionado ao falar”.
De fato, o tipo de obra que ele trabalha para seu sustento é outro, mas em nenhum momento hesitou em colocar em prática o que de graça lhe foi ofertado: desenvolver a habilidade de fazer pães. Quando questionado sobre a receita deste alimento que faz tanto sucesso e é celebrado por todos que o recebem, ele prontamente responde: “Fisicamente falando: farinha, água e fermento. Mas é muito mais que isso. É o amor pelo próximo e o cuidado em servir o melhor”.
Getúlio Pereira (esq.) aprendendo com André a produzir pães |
Além das famílias carentes cadastradas no projeto, o Lar das Meninas, Lar dos Meninos e o lar Pequeno Anjo também são agraciados com pães fresquinhos todos os dias. Os lares abrigam cerca de 50 crianças e adolescentes que possuem medida de proteção e que aguardam para retornar às suas famílias ou para ter um novo lar.
Para a coordenadora Lar Pequeno Anjo, Giana Jacob, o Projeto Pão Vivo contribui significativamente na vida das pessoas. “Agradecemos demais este projeto e entendemos que ações como esta contribuem demais. Nosso município, embora a gente não perceba, ele tem muitas vulnerabilidades, muitas necessidades e pessoas carentes, que precisam de outras pessoas com este olhar, que enxerguem essas necessidades e possam ajudar”.
Os pães ofertados pelos projetos fazem parte de duas refeições diárias nos lares. “Consigo fazer até cachorro quente, que eles amam. A cozinha é um coração da casa, um lugar de afeto, de carinho. Ter o alimento quentinho, fresquinho e na hora certa faz parte do cuidado e do direito que essa criança tem”.
O projeto Pão Vivo utiliza cerca de 500kg de farinha de trigo por mês. Os voluntários contam com o apoio da comunidade e de duas empresas, uma de Gaspar e outra de Blumenau, que ajudam com os produtos necessários para a produção dos pães. Convicto de que outras famílias ainda serão beneficiadas, Vilmo fez um plantio de uvas na mesma localidade e mal pode esperar para que possam ser comercializados os 1.500 quilos de uva. O valor arrecadado será totalmente utilizado para comprar ingredientes para a confecção dos pães.
Este mesmo projeto será levado a outros lugares, como Itajaí, São José do Cerrito e uma localidade carente da Ilha do Mel.
Quem precisar de doação de pães pode entrar em contato através do telefone (47) 997218868. A equipe fará uma visita para cadastramento caso a família esteja mesmo em situação de vulnerabilidade.
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