Por Kunimund Krönke Junior e Fernanda Pereira
Você sabe para onde vai o esgoto que sai de sua residência? Foi para responder esta e outras perguntas ligadas ao saneamento básico do município que o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto, Samae, realizou uma pesquisa em todos os bairros da cidade. Os resultados surpreenderam até mesmo a equipe da autarquia, que ficou satisfeita com os baixos índices de esgotos que correm a céu aberto, por exemplo.
Dos 8.130 entrevistados, apenas 68 responderam que o esgoto de suas casas está a céu aberto. São casos como o dos moradores do Jardim Primavera, no Bela Vista, onde uma vala corre ao lado de várias residências, às margens da rodovia Jorge Lacerda.
A maioria dos entrevistados, 51,28%, afirmou que o esgoto de suas casas cai na rede geral de drenagem das águas pluviais, e se mistura com a água das chuvas. Outros 28,30% afirmaram que o esgoto corre por tubulação até o ribeirão mais próximo. Esta situação é mais comum em áreas rurais, como no bairro Lagoa, por exemplo, onde muitas residências não possuem nem mesmo uma fossa séptica. O presidente da Associação de Moradores do bairro, Ademar dos Santos, afirma que muitos esgotos correm em direção a valas e ribeirões. ?Aqui é uma região de agricultura. Então o esgoto se mistura com a água da arrozeira e com a água que sai do pasto?, comenta.
Sem tratamento
De acordo com Fernanda Gelatti, funcionária do departamento de saneamento do Samae, causou surpresa o fato de muitas pessoas pensarem que existe uma estação de tratamento de esgoto (ETE) no município. Dos 8,130 entrevistados, 502 acreditam que o esgoto de suas casas vai para uma rede de tratamento. ?Gaspar ainda não possui rede de tratamento de esgoto. Com base nessa pesquisa é que vamos realizar um projeto para iniciar este tratamento, mas este é um processo demorado, que ainda é precário em todo o país?, explica Fernanda.
A pesquisa
Os Agentes da Secretaria Municipal de Saúde ajudaram na coleta dos dados da pesquisa realizada pelo Samae de agosto a dezembro de 2010. Ao todo, foram distribuídos 17.488 questionários, destes, 8.130 foram preenchidos, o que representa 46,5% do total.
A pesquisa abordou questões como quais as fontes de água potável da residência e se existe o hábito de tratá-la em casa; sobre o destino do esgoto, qual o sistema de tratamento instalado e se é feita a manutenção regular das estruturas; e sobre a coleta do lixo.
Acompanhe nos gráficos o perfil das respostas dos entrevistados.
Tratamento da Água
A maioria das pessoas (85,3%) respondeu que se abastece com a água da rede pública de abastecimento (Samae), enquanto 8,6% usam algum tipo de poço (escavado ou artesiano) e 3,8% recorrem a nascentes ou cachoeiras. Mais da metade (51,1%) dos entrevistados acredita o tratamento na estação é suficiente, enquanto 34,4% responderam que filtram a água e 0,6% fervem.
EsgotoQuase cinco mil (60,8%) entrevistados afirmaram ter fossa séptica em suas residências. Já o sistema de fossa e filtro anaeróbio, exigido para a liberação de construções novas, foi citado em 16,08% dos questionários. Sumidouro é outro elemento que aparece na pesquisa, ora acompanhado de fossa e filtro (2,57%), como é exigido em área rural; sem o filtro (1,78%); ou como única parte do sistema (1,19%). Segundo 51,28%, o esgoto vai para uma rede geral, junto com a drenagem de água da chuva e em 28,30% dos casos o resíduo doméstico cai em ribeirões e valas.
Coleta do lixo orgânico e reciclável Em relação ao lixo, 95,15% dos entrevistados afirmaram que o destino dos resíduos orgânicos é o serviço de coleta. Entre as respostas aparece a queima do lixo (1,06%). Para o presidente do Samae, Lovídio Bertoldi, são residências em áreas rurais, onde o caminhão passa apenas uma vez por semana. ?Use o sistema de coleta de lixo porque você já está pagando por ele?, orienta Bertoldi. Quando ao material reciclável, 90,26% participa da coleta seletiva, enquanto 2,61% misturam com o lixo orgânico. Segundo o Samae, ?o serviço de coleta de resíduos sólidos abrange 98% dos domicílios?.
Município vai elaborar projeto para saneamento
Gaspar ainda não trata o esgoto, mas já dá os primeiros passos para a coleta com a instalação da tubulação nas ruas Coronel Aristiliano Ramos (concluída), São José, São Pedro e Industrial José Beduschi (em andamento). Essas obras aos poucos transformam a rede mista ? onde a água da chuva e do esgoto se misturam ? em separadas. Atualmente, a canalização específica para os resíduos domésticos cobre 1% dos domicílios e é obrigatória em novas construções.
Com objetivo de tratar até 30% do esgoto no prazo de cinco anos, a Prefeitura espera da Caixa Econômica Federal a liberação de R$ 264 mil. A administração municipal vai entrar com a outra metade do investimento para contratar a empresa que vai elaborar um projeto de saneamento básico para a cidade. As obras devem começar após nove meses e os primeiros bairros contemplados serão Centro, Sete de Setembro e Santa Terezinha, os mais populosos do município.
O presidente do Samae, Lovídio Bertoldi, adiantou que a atual administração não vai conceder o serviço de tratamento de esgoto à iniciativa privada, como fez Blumenau. ?No nosso entendimento, o saneamento básico é obrigação do Estado?, afirma. Bertoldi revela que se baseou apenas na taxa que o município vizinho pretende cobrar, que será de 80% do preço da distribuição de água, para chegar a esta conclusão.
Segundo pesquisa apresentada esta semana pelo Samae, a fossa séptica é o sistema de tratamento predominante em Gaspar. Neste processo, o esgoto entra em um tanque revestido de concreto, onde as substâncias mais densas vão afundar, enquanto óleos, graxas e gorduras flutuam. O lodo que se acumula no fundo do tanque será consumido por bactérias, podendo eliminar todos os microrganismos nocivos e gases. O líquido restante pode sair e se infiltrar na terra direto ou passar ainda por um filtro anaeróbio, onde partículas sólidas ainda podem ficar retidas em pedras. De acordo com o presidente do Samae, ?se o sistema de fossa séptica e filtro anaeróbio não for limpo regularmente, pode perder a funcionalidade. Com a manutenção correta, a estrutura consegue eliminar até 70% das impurezas?.
Saneamento básico está relacionado à saúde
Saneamento básico não significa apenas tratar o esgoto, mas inclui os serviços de abastecimento de água, limpeza das ruas, coleta de lixo e sistemas de drenagem. É ?um conjunto de procedimentos adotados em uma determinada região que visa proporcionar uma situação higiênica saudável para os habitantes?. A implantação dessas medidas influencia diretamente na saúde das pessoas, evitando a contaminação e proliferação de doenças, como diarréia, hepatite, dengue, febre amarela, malária, doenças de pele, entre outras. Ao mesmo tempo, garante-se a preservação do meio ambiente com a reciclagem do lixo, tratamento de poluentes industriais, etc.
Alguns municípios de Santa Catarina estão prestes a atingir a coleta total do esgoto, como São Ludgero, no Sul do estado, e Indaial. Segundo levantamento do Ministério das Cidades, para que todo o Brasil seja beneficiado com a coleta e o tratamento de esgoto, é necessário um investimento de R$ 157 bilhões.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou esta semana dados sobre a expansão das redes de esgoto no Brasil entre os anos de 2000 e 2008. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008, 45,7% das residências eram atendidas por essas redes coletoras. Durante o período da pesquisa também aumentou de 35,3% para 68,8% o percentual de domicílios com esgoto coletado e tratado. O estado com maior cobertura é São Paulo, seguido por Pernambuco e Minas Gerais.
Além disso, a pesquisa mostra a ampliação da distribuição de água potável no Brasil. Passou de 34,6 milhões de residências (63,9%), em 2000, para 45,3 milhões (78,6%), em 2008.
Com informações da Agência Brasil.
Edição 1336
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