As lágrimas correm pela face já marcada pela idade avançada de seu Herbert Wehmuth ao relembrar os momentos difíceis que passou durante as sangrentas batalhas da II Guerra Mundial. O único gasparense expedicionário que ainda vive completou nesta quarta-feira, 11, 89 anos de vida. Na bagagem, seu Bruda, como é conhecido por todos, carrega muitas marcas deixadas pela violência e crueldade da guerra. Para homenagear este bravo cidadão, que hoje vive com a esposa Siegrid em um apartamento na entrada do bairro Santa Terezinha, a equipe de reportagem do Jornal Cruzeiro do Vale foi conversar um pouco com seu Bruda, que se emociona ao narrar as dificuldades enfrentadas durante os meses em que lutou representando o Brasil na Itália.
? O senhor partiu de Gaspar em 1941 com outros 21 jovens patriotas, que foram servir ao país na temida Segunda Guerra Mundial. Como foi esta ida dos brasileiros até a Itália?
Resposta: Quando sai do Rio de Janeiro fui de navio. A viagem durou 13 dias e fomos em dois navios. Atravessamos o rio e quando chegamos fomos batizados com farinha, para atravessar o canal. Quando chegamos em Nápoles é que vimos o que era o horror da guerra. Vimos tudo destruído. De lá fomos para Pizza, onde ficamos em um acampamento, dormíamos dois soldados em cada barraca, tinham muitas barracas lá naquele acampamento. Por lá ficamos algumas semanas e aprendemos a atirar. Nós não sabíamos nada, não estávamos preparados para a guerra. Uma das lembranças mais fortes que tenho é de Monte Castelo, onde lutamos por muito tempo. Vimos muitos horrores na guerra.
? Que idade o senhor tinha quando foi para a guerra? O senhor sonhava em servir ao país?
Resposta: Eu tinha uns 23 anos, pois naquela época a gente servia com 21 anos. E servia por obrigação. Eu não tive escolha, se pudesse escolher não teria ido, mas não tinha escolha. Servi um tempo no Brasil e depois fomos para a guerra. Saímos de Gaspar em 22 pessoas e voltamos em 21. Apenas um morreu em batalha.
? Teve algum momento durante a guerra que marcou o senhor de forma tão forte que o senhor não consegue esquecer? Qual?
Resposta: O pior lugar que nós passamos foi em Montezi. Fomos para lá depois da batalha de Monte Castelo. Ali perdemos mais de 500 soldados brasileiros. Foi uma luta terrível. Por todos os lados víamos uma crueldade estúpida.
? Qual a principal marca que a guerra deixou na sua vida?
Resposta: São as lembranças ruins. Elas demoraram para sair de minha mente. Eu voltei com neurose de guerra e precisei de tratamento para esquecer tudo o que vi por lá. No começo, logo que voltei, eu tinha muitos pesadelos e tudo isso me fez muito mal, pois não tínhamos preparo para a guerra, nem preparo psicológico para matar as pessoas. Eu não sei quantas pessoas matei durante as batalhas.
? Qual a principal lição que o senhor teve neste tempo de guerra?
Resposta: Minha maior lição foi a de que a guerra não é boa. Lá a gente nunca sabe o dia de amanhã. Uma hora estávamos vivos e em segundos poderíamos estar mortos. Aprendi que a vida é frágil e a guerra acaba com a vida.
? O senhor é o único expedicionário de Gaspar ainda vivo. O senhor sente saudades dos amigos de batalha?
Resposta: Não tenho mais saudades, já faz muito tempo que eles morreram e as lembranças que tenho dos tempos que passamos na guerra não são boas.
? O senhor se sente honrado por ainda poder estar vivo?
Resposta: Me sinto honrado por estar vivo e poder estar com minha família, pois lá não sabíamos se voltaríamos com vida. Se eu pudesse voltar no tempo não iria para a guerra, pois ela deixou muitas marcas na minha vida. Também não deixaria meus filhos e netos servirem.
edição 1220
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