O feminicídio é uma triste realidade. O termo, relativamente recente no vocabulário jurídico e social, refere-se a um tipo específico de crime que atinge diretamente mulheres pelo simples fato de serem mulheres. Para entender o significado profundo dessa palavra, é necessário contextualizá-la dentro de um cenário mais amplo de desigualdade de gênero e violência sistemática contra as mulheres.
O feminicídio não é apenas mais um crime, mas sim um fenômeno complexo que revela as profundas raízes do sexismo e da misoginia na sociedade. Ele vai além do simples assassinato de mulheres, pois carrega consigo uma mensagem de poder e controle sobre o corpo e a vida delas. Trata-se da manifestação mais extrema de uma cultura que desvaloriza a vida e perpetua a ideia de que elas são propriedade dos homens.
Esta semana, dois casos chocaram Gaspar: um de feminicídio tentado e outro, consumado. Foram os dois primeiros do ano e por arma branca (faca). No ano passado inteiro foram registrados dois feminicídios consumados e um tentado em Gaspar, por asfixia, tiro e arma branca
De acordo com o delegado Paulo Koerich, da Polícia Civil de Gaspar, não há um perfil padrão de vítima, já que suas idades variam entre 20 e 80 anos e os registros foram em vários bairros da cidade. Já a idade dos agressores fica entre 40 e 71 anos. “Em todos os casos, os agressores tiveram ou mantinham um relacionamento amoroso com as vítimas, com exceção do crime desta semana, em que o autor atentou também contra a ex-sogra”, destaca.
A principal orientação do delegado é de que as mulheres procurem ajuda e denunciem: “A minha orientação é que as mulheres que sejam vítimas de violência e estejam sob ameaça procurem auxílio dos órgãos públicos e requeiram uma concessão de medidas protetivas de urgência e acolhimento em instituição de proteção a vítimas de violência doméstica caso entendam necessário”.
Osmarina Zuchi Theiss, de 80 anos, entrou para as estatísticas de feminicídio em Gaspar esta semana. Isso porque no início da tarde de segunda-feira, dia 4 de março, ela foi atacada pelo ex-genro, que estava armado com um facão. Tudo aconteceu no bairro Gasparinho. Ele golpeou a idosa e também sua ex-mulher, de 60 anos, que é filha de Osmarina.
O crime chocou Gaspar. Osmarina chegou a ser socorrida e encaminhada ao hospital, mas não resistiu aos graves ferimentos. Já sua filha segue internada e não corre risco de morte.
Assassino está preso com escolta policial
Logo após cometer o crime, o homem que atacou as duas mulheres com um facão dirigiu pela Rodovia Ivo Silveira e jogou seu carro na frente de um caminhão. Ele ficou gravemente ferido e, enquanto era socorrido pelos bombeiros, contou que havia acabado de cometer o crime.
A Polícia Militar estava no local e foi até o endereço informado, confirmando a informação. O homem foi levado ao hospital e segue internado com escolta policial. Após receber alta, ele será levado ao presídio.
O facão utilizado no crime foi encontrado no local, ensanguentado.
O homem tinha passagens criminais por ameaça e dano. A ex-mulher tinha uma medida protetiva contra o autor do crime.
Na quinta-feira, 7 de março, a Procuradoria da Mulher da Câmara de Gaspar promoveu um evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher. A palestra foi ministrada pelas policiais militares Mileny Barros Cardoso Miguel e Gabriela Fernandez Vidal Sales, que abordaram o tema ‘combate e enfrentamento da violência contra a mulher’.
Presidente da Procuradoria, a vereadora Mara Lucia Xavier dos Santos da Costa destaca que o tema é importante pois muitas mulheres são vítimas de violência física, psicológica e patrimonial. “A violência faz parte da vida de um grande número de mulheres e é preciso que o assunto esteja sempre em pauta, principalmente para mostrar que há políticas públicas de prevenção e combate à violência e também para promover iniciativas que possam contribuir para a solução do problema”.
Segundo o Observatório da Violência Contra a Mulher em Santa Catarina e dados da Secretaria de Segurança Pública, em 2023, ocorreram 56 feminicídios no Estado e foram requeridas 28.167 medidas protetivas, conforme levantamento do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). Em 2024, no mês de janeiro, já foram registrados cinco feminicídios e requeridas 3.018 medidas protetivas.
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