O fim de novembro ficou marcado para sempre na vida daqueles que viveram de perto uma das maiores catástrofes climáticas já registradas em Santa Catarina. Cada pessoa carrega um sentimento diferente e possui muitas histórias para contar. Se para as famílias que perderam entes queridos as lembranças são intensas, a memória daqueles que trabalharam no resgate das vítimas também guarda recordações doloridas. Esse é o caso do morador do Belchior e sargento do 23º BI, Edson Henrique Nascimento Peronni.
Na época, ele ainda morava em Blumenau e a família da namorada vivia em Gaspar, no Belchior. Com informações desencontradas, a equipe do batalhão de Blumenau resolveu conferir pessoalmente o que estava acontecendo. Foi aí que Edson pediu para que pudesse ir junto. “Não sabíamos bem a proporção de todo o estrago causado pelas chuvas e deslizamentos. Na época, as informações não chegavam tão ligeiro. A ideia era ir até o Belchior verificar e poder repassar tudo aos superiores”.
Em um veículo do Exército, a equipe entrou na rua José Patrocínio dos Santos, na Cananeia, no Belchior Central. Eles seguiram até onde conseguiram, já que a via estava totalmente destruída. Depois, seguiram a pé. Ele lembra de ter encontrado, na divisa dos bairros Belchior e Arraial, uma família em uma Unidade de Saúde. “Eles carregavam um bebê de uns dez dias de vida. Estavam assustados e preocupados, pois não entendiam o que estava acontecendo. A gente olhava para frente e não dava mais pra definir o que era estrada ou morro”, conta.
O sargento lembra de outras conversas com moradores que encontrou durante a caminhada. Naquele mesmo dia, a equipe decidiu voltar para o quartel para buscar ajuda, já que era impossível se locomover a pé em determinados trechos. “O batalhão continuou trabalhando todos os dias durante e após a tragédia. Depois de um tempo, os abrigos foram sendo esvaziados e pessoas foram voltando para suas casas e nós continuamos lá para manter a ordem e segurança de todos”, recorda o sargento.
Essa foi a primeira vez que o sargento Peronni participou de uma ação como essa. “Já havia auxiliado nas cheias, mas o que aconteceu naquele ano foi totalmente diferente. Nós trabalhamos o tempo todo. Houve dias em que eu nem dormi. Me marcou muito ver meus companheiros do exército, que também haviam perdido tudo em casa, ajudando a população. Mesmo diante de todas as dificuldades, eles continuaram trabalhando. Não deixaram em nenhum momento de prestar ajuda às pessoas”.
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