Um carrinho de bebê serve de brinquedo para as duas crianças que se divertem correndo por todos os lados da rua Vila Nova, a mais nova rua da localidade do Jardim Primavera. Na área invadida, 43 famílias desabrigadas pela tragédia de novembro de 2008 construíram suas casas de modo improvisado.
A alegria dos dois amigos com o carrinho de bebê não esconde os problemas que as famílias da localidade enfrentam todos os dias. Falta água encanada, falta energia elétrica, e um esgoto corre a céu aberto ao lado das residências. A situação é caótica e os moradores clamam por ajuda do Poder Público Municipal. "Todos nós já éramos moradores do Jardim Primavera. Perdemos nossas casas e tentamos reconstruir nossas vidas aqui. Não queríamos depender do Poder Público para ter moradia", salienta o recém eleito presidente da Associação de Moradores, José Carvalho.
A eleição da diretoria que vai representar a comunidade aconteceu no início do mês de março. José revela que conhece os problemas e dificuldades do bairro, pois mora no Jardim Primavera há 22 anos, e por isso aceitou o desafio. "Nossa Associação estava parada e nossos moradores estavam sofrendo com o descaso e preconceito. Por isso decidimos nos unir e começar a lutar por nossos direitos. Somos cidadãos de bem, pais de família, trabalhadores, e queremos o bem de nossa comunidade", destaca.
Quem passa pela rodovia Jorge Lacerda em direção à Blumenau pode perceber um pouco da situação em que vivem os moradores da rua Vila Nova. O local foi invadido pelas famílias, que abriram uma rua e começaram a construir suas casas. A água e luz que todos utilizam foi cedida pelos vizinhos. O macadame jogado pela estrada foi pago pela comunidade, que foi proibida de investir no local por ser uma área invadida. Assim, a rua ficou esburacada, cheia de lama, e com difícil acesso. Em diversos pontos a água da chuva fica acumulada, inundando casas e terrenos baldios.
O pior problema, segundo os moradores, é um esgoto que corre a céu aberto. "Sempre que chove a situação fica ruim. O esgoto escorre ao lado de nossas casas", comenta a moradora Mireli Cristina Salvador, de 19 anos. A jovem mora no Jardim primavera há quatro anos e afirma que neste período viu poucos investimentos serem feitos no bairro. Quem também sofre com a situação é Eliel Neuci dos Santos, de 26 anos. Ele mora com a família bem ao lado do esgoto. "Não deixo meu filho brincar na rua, para evitar que ele pegue alguma doença. Sofremos muito com o mau cheiro", aponta.
O terreno onde as 43 famílias construíram suas moradias após a tragédia pertence ao Banco Econômico S/A, que em dezembro de 2008 entrou com uma ação de reintegração de posse do local. A ação teve parecer favorável do juiz Cássio José Lebarbenchon Angulski, que em fevereiro de 2009 concedeu ao Banco a reintegração do terreno.
Após a divulgação da decisão, em abril de 2009, os invasores fizeram uma manifestação pelas ruas de Gaspar e pararam na Praça Getúlio Vargas, para pedir apoio do Poder Público Municipal para mantê-los na área invadida. Uma reunião foi realizada no auditório da Prefeitura, onde representantes da Administração prometeram cadastrar as famílias nos programas habitacionais do governo.
Os moradores também entraram com um agravo de instrumento solicitando a permanência na área e a Justiça alegou que daria um novo prazo para a saída das famílias. Até o momento nenhum representante judicial foi ao local determinar a saída das famílias.
Em entrevista ao jornal Cruzeiro do Vale na época, o advogado do Banco Econômico S/A, Celso Garcia, explicou que enquanto não houver uma decisão definitiva da Justiça a empresa não poderá tomar nenhuma providência.
Engana-se quem pensa que os problemas do Jardim Primavera se limitam a rua Vila Nova. O bairro é um dos mais carentes da cidade em relação a infraestrutura. Faltam ruas calçadas, esgotos correm a céu aberto, tubulações estão entupidas e provocam alagamentos, falta área de lazer para as crianças, e falta segurança. O bairro é um dos com maior índice de violência, que geralmente está associada ao tráfico de drogas.
Apesar de toda a precariedade, os moradores afirmam gostar muito de residir no local. "Aqui somos pessoas de bem. Como em todos os bairros há problemas, mas esperamos superá-los para poder dar uma vida digna aos nossos filhos", comenta o morador Samuel dos Santos, 30 anos, dos quais 16 mora no Jardim Primavera.
O presidente da Associação de Moradores, José Carvalho revela que espera, com o apoio dos demais integrantes da Associação, da comunidade e do Poder Público, conseguir mudar a atual realidade do Jardim Primavera. "Temos esperança e vamos lutar para ter um lugar mais digno para morar", garante o representante da comunidade.
Alagamentos
Um dos maiores problemas do bairro ocorre na rua Helena Kaufmann, onde uma tubulação entupida provoca alagamentos a cada dia de chuvas fortes. Cerca de vinte famílias são atingidas pelo problema. São famílias como a de seu Orestes Guedes Ramos. O senhor de 73 anos mora desde 2008 no local. "Se eu soubesse que tinha alagamentos não teria comprado minha casa aqui. A cada dia de chuva ficamos desesperados, pois a água entra em nossa casa e é uma tristeza só", comenta o morador.
O mesmo problema enfrenta Dulcília Proença Bispo dos Santos, de 70 anos. Nem mesmo as marcas da idade impedem a forte senhora de lutar para manter sua casa em ordem, apesar dos problemas. "Fizemos uma barreira na porta, mas não adianta, a água sempre entra. Tivemos que levantar os eletrodomésticos com tijolos para não estragarem sempre que chove", conta a senhora, que há 12 anos mora no local.
Os moradores do Jardim Primavera pedem diversas ações do Poder Público na localidade onde residem. A comunidade reclama da falta de infraestrutura e condições de moradia.
Entre as solicitações estão: a drenagem na tubulação da rua Helena Kaufmann, a Pavimentação das ruas Catarina Hostert, Helena Kaufmann, Angela Maria Hostert, e Antônio Moser, um ônibus escolar para fazer o transporte, principalmente a travessia, das crianças do bairro para a escola Arnoldo Agenor Zimmermann, turmas para crianças de zero a dois anos no CDI Sonia G. B. Buzzi, e uma obra de tubulação para o esgoto que corre a céu aberto no loteamento novo.
Dulcília Proença Brispo dos Santos, 70 anos, sofre com os alagamentos.
José Carvalho, Presidente da Associação de moradores.
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