Por Alvaro Correia, ex-parlamentar
Embora o avançado da idade e sem mandato público, entendo que não posso deixar de manifestar a minha estranheza diante do recente convênio pelo qual o Governo do estado vai destinar 465 milhões de reais para concluir a construção de quatro rodovias federais em SC. Mais da metade desse dinheiro será destinado para a construção da BR 470, de Blumenau a Rio do Sul, cujas obras passam por sérios problemas, sendo o financeiro o principal deles.
Embora reconheça a necessidade absoluta da conclusão dessa obra, não posso concordar que seu custo financeiro seja transferido para o nosso estado.
Considero uma decisão absurda e lamentável, infelizmente apoiada por deputados e senadores catarinenses que tem a obrigação de defender o nosso estado.
A construção da BR 470 pela qual tanto lutei como deputado, é digna inclusive de uma comissão parlamentar para se apurar as barbaridades administrativas que já produziu e evitar que as obras se estendam por mais 50 anos como aconteceu com o trecho Navegantes-Blumenau.
A rodovia Jorge Lacerda depois de asfaltada na década de 1960 pouco tempo depois ficou saturada e já não suportava mais o intenso tráfico que só aumentava.
As lideranças da região, depois de estudos, concentraram seus esforços na Blumenau-Navegantes, de apenas 59 km e que serviria inclusive como rodovia de integração.
E em 1971 o projeto recebeu o primeiro grande apoio de parte do ex-presidente Médici que fazia visita oficial a Blumenau. Graças a esse importante apoio a construção da rodovia passou a integrar o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) como obra prioritária e com recursos alocados no orçamento da União.
Mesmo assim as obras iniciadas com muita morosidade pouco avançaram provocando forte reação das lideranças da região.
Em 25 de setembro de 1976 o general Ernesto Geisel, como novo presidente da república esteve em visita oficial a Blumenau onde sentir o clamor das lideranças pelos problemas que impediam o andamento das obras da BR 470. Nesta mesma noite participou de um comício da Arena no morro da Matriz e diante dos aplausos da grande platéia assinou um decreto transformando a construção da Blumenau-Navegantes de obra prioritária para preferencial, com prazo de 48 meses para sua conclusão.
Realmente, em seguida a construção da obra passou a ter um andamento mais rápido através de duas empreiteiras.
Uma responsável pelo trecho Navegantes- Gaspar e outra pelo trecho Gaspar- Blumenau.
Pouco tempo depois por falta de verba observou-se nova morosidade no andamento das obras até a sua paralisação completa.
Depois de muita luta e apelos desesperados as autoridades federais, passados mais alguns anos as obras foram reiniciadas até a sua conclusão.
Depois de algum tempo iniciou-se a construção do trecho Blumenau a Rio do Sul, cujas obras estão marcadas por novos e graves problemas, sofrendo absurdo atraso e prejudicando enormemente o tráfico para o Alto Vale. Tendo em vista que já se levou 50 anos para construir o trecho Navegantes-Blumenau e o que está acontecendo com o trecho Blumenau-Rio do Sul, seria interessante fosse criada uma comissão parlamentar, seja federal ou estadual, para acompanhar e fiscalizar o andamento das obras.
O Brasil se prepara para ter eleições gerais e cujo processo poderá tumultuar em muito, o andamento de obras públicas.
A construção da BR 470, dada a sua importância como obra Federal e a circunstância de que os custos ficaram a cargo de Santa Catarina, será sem dúvida objeto de análise e muita discussão.
E quem garante também que não vai faltar verbas para dar andamento as obras?
E se acontecer, recorrer a quem, se o governo e deputados catarinenses assinaram e concordaram com o lamentável convênio transferindo o custo da obra para o cofre do estado.
Diante da situação só nos resta rezar e torcer para que não aconteça o pior.
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