A crise que ocorre na Ucrânia desde o fim do ano passado é uma crise política, que gera repercussões nos planos social, econômico e cultural. Esta crise é fruto das negociações que este país estava realizando com a União Europeia (UE), havendo a possibilidade de integrar esse bloco econômico. Acontece que a Ucrânia possui historicamente uma relação política e econômica muito forte com a Rússia, construída nos anos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e muito forte e presente até hoje. Por exemplo, a Ucrânia é dependente da Rússia com relação ao abastecimento de gás e, além disso a Rússia é o maior parceiro comercial da Ucrânia.
Os Estados Unidos da América (EUA) possuem um forte interesse na região, o que fez com que o Senador estadunidense John McCain apoiasse abertamente a entrada da Ucrânia da UE, e além disso, o vice-presidente dos EUA Joe Biden também demonstrou interesse pela entrada da Ucrânia na UE. Mas, por que tanto interesse nesse país do leste europeu? O que está por trás de toda a crise que ocorre nesse país? Historicamente, até o fim da Guerra Fria, EUA e URSS formavam duas áreas de domínio bem distintas: EUA dominava a maior parte do mundo ocidental e a URSS dominava a maior parte do mundo oriental. Após a dissolução da URSS, e a independência da Ucrânia, este país ainda continuou sob forte influência de sua vizinha, sendo uma zona politicamente estratégica para a Rússia. Os EUA apóiam a entrada da Ucrânia da UE, pois dessa forma, passariam a influenciar essa área e a enfraquecer o poderio russo. É uma guerra de poderes.
Enquanto isso, o povo ucraniano encontra-se dividido social e culturalmente. Muitos são aqueles que apóiam a entrada da Ucrânia na União Europeia, são estes que destituíram o então presidente eleito Víktor Yanukóvych, e realizaram os protestos em Kiev (capital do país). Enquanto que uma outra grande parte não quer fazer parte da UE. Essa camada da população é de descendência russa, o que não seria benéfico para eles a distância desse país. De acordo com o último censo nacional ucraniano realizado em 2001, a composição da população é a seguinte: 58% de russos, 32% de ucranianos e 10% de tártaros. Existem regiões ucranianas que são habitadas por populações russas como é o caso da Crimeia, região administrativa independente da Ucrânia que possui bases militares russas e possui grande população russa.
Essa crise, como já dito, não é uma crise somente política, mas possui dimensões culturais, sociais e mesmo econômicas. Fala-se até mesmo em uma guerra civil que resultaria na secessão desse país, em sua divisão em dois países soberanos. Não se sabe qual será o desfecho dessa crise, mas para que isso ocorra algumas perguntas que ficam no ar devem ser respondidas como: se a Ucrânia fizer parte da UE, como ficará a sua questão econômica? Há a possibilidade de a Ucrânia romper as negociações com a Rússia? O povo ucraniano quer mesmo fazer parte da União Europeia mesmo com a crise econômica que ainda assola países desse bloco? É vantajoso, culturalmente falando, uma separação do país? Todas essas questões, entre outras que surjam, devem ser respondidas pelo povo ucraniano e pela comunidade internacional, de modo a buscar o melhor desfecho a essa crise.
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