Dia da Educação - Jornal Cruzeiro do Vale

Dia da Educação

26/04/2013 03:42

Educação. Palavra que constantemente está na mídia, no discurso de políticos, nos debates entre especialistas. Sempre com o mesmo bordão ?Educação é a base de tudo?. Entretanto, apesar do reconhecimento geral sobre a importância da educação, inúmeras matérias e pesquisas revelam o quanto ela ainda tem de evoluir e como necessita de mais investimentos no Brasil. Professores mal pagos, desvalorizados e desqualificados; escolas sem infra-estrutura; projetos político pedagógicos descontextualizados e desmotivadores estão entre os elementos que conformam um quadro de desrespeito a profissionais da educação, aos alunos, às famílias e as próprias comunidades. Todos desrespeitados no seu direito constitucional de participar de uma educação de qualidade promotora de sujeitos de direitos e de comunidades desenvolvidas.

No próximo dia 28 de abril, comemora-se o Dia da Educação. Apesar deste quadro, ainda temos o que comemorar. Em todas as partes do país temos iniciativas valorosas que estão motivando meninos, meninas e jovens a se reconhecerem sujeitos da construção do conhecimento. Por outro lado, são iniciativas, em sua grande parte, exclusivas de profissionais da educação que as empreendem independente de incentivos de política pública. No final de 2012 foidivulgada uma avaliação sobre a qualidade da educação em diferentes países elaborada pela empresa Pearson. O Brasil ficou na penúltima posição, atrás de nações como Colômbia, Tailândia e México. Apenas os estudantes da Indonésia figuram atrás dos brasileiros. O dado revela que não basta termos profissionais da educação comprometidos em promover mudanças. É necessário respaldo de política pública que torne estas experiências uma realidade comum.

Não podemos deixar de reconhecer que houve avanços de política pública nos últimos anos, como, por exemplo, a nova lei que estabelece a matrícula de crianças a partir de 4 anos. Mas, não adianta determinar que a criança permaneça mais tempo em uma escola que não consegue ser atrativa e não consegue despertar no alunado o prazer da descoberta, o prazer pela construção do conhecimento. Esta situação é atestada pelo próprio índice oficial do governo para avaliar a qualidade do ensino, o Índice de Educação Básica (IDEB). Em estados como o Piauí e Bahia, onde temos grande concentração de pobreza, as médias do IDEB estão abaixo da média nacional. Lembrando que a média nacional, por si só, não representa o que podemos chamar de educação de qualidade.

Pela nossa experiência junto a escolas públicas do meio rural e urbano, percebemos que há muitas aprendizagens e boas iniciativas passíveis de multiplicação e que necessitam de investimento público para atingirem escala. Em especial experiências que promovem a autonomia dos jovens na escola e na comunidade, permitindo que esta aluna e este aluno saiam da posição passiva de meros receptores de conhecimento para uma postura protagônica de construtores e promotores de conhecimento. Além de agilizar o processo de ensino/aprendizagem são iniciativas que valorizam o jovem dentro da escola e da comunidade contribuindo para mantê-lo na escola, melhorar seu rendimento e estimulá-lo para busca de novos desafios de aprendizagem.

Além disso, são experiências que criam uma interface importante entre conhecimento escolar e conhecimento comunitário. Onde o conhecimento da escola além de ser fundamental para o futuro do jovem passa a ser reconhecido como fundamental para o presente da comunidade. Jovens que promovem a consciência sócio-ambiental, os cuidados de saúde, o prazer pela leitura, a melhoria da gestão de pequenos negócios via aperfeiçoamento de cálculos básicos de matemática entre outros, a partir do conhecimento escolar, são jovens agentes de transformação que, além de darem um novo sentido para a escola e para si mesmos, ainda promovem o desenvolvimento comunitário.

São iniciativas que dialogam com uma proposta de educação contextualizada onde os conteúdos curriculares são trabalhados a partir do contexto local. Onde o processo de ensino e aprendizagem de uma escola do meio rural irá trazer para dentro da sala de aula a realidade da agricultura familiar, das suas festas e crenças, dos períodos de seca, do impacto da caça predatória e do desmatamento de matas ciliares na produção de alimentos, entre outros assuntos que estão no cotidiano da vida rural e que, certamente, estão relacionados a inúmeros conteúdos obrigatórios de ensino de matemática, português, história, geografia, biologia e tantas outras disciplinas.

Apesar de tudo isso ser inovação e parecer ser novo, na verdade, esta forma de conceber e praticar educação faz parte dos antigos ensinamentos que Paulo Freire nos traduzia de forma poética e bela.  Infelizmente, muito do que ele deixou de legado fica apenas nos discursos e nas bonitas frases espalhadas nos murais de escolas. Está mais do que na hora de tirarmos Paulo Freire de nossas paredes e murais e o colocarmos dentro de nossa sala de aula, na voz e na atitude dos professores e no coração e na alma de nossos alunos e alunas, afinal como esse sábio mestre nos ensinou ?Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda?.

 

José Claudio Barros

 

 

Edição 1483

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