Figueira que chora - Jornal Cruzeiro do Vale

Figueira que chora

25/10/2011 11:20

Ano passado escrevi um poema em homenagem à figueira da Praça Getulio Vargas, a Figueira mais majestosa de nossa cidade, eu diria a nossa Realeza, imponente diante da Prefeitura Municipal, mesmo com seus galhos pesados, com ramos diversos, bromélias ressequidas, barbas de velho... Mas aonde os passarinhos nunca deixavam de pousar e cantar.

Eu disse: ?Eles cantam, à sua beleza, à sua Glória, nossa rainha, Nosssa Senhora...? ?A tua fronte alberga a beleza do nosso porvir!?. Este ano fiquei imensamente feliz, chegando a me emocionar ao ver toda a limpeza feita, não somente em cada galho da figueira, mas em todas as árvores de nossa querida Praça Getúlio Vargas.

Eu aprendi a amar aquela árvore, mesmo com suas barbas de velho, sem fazer ideia da inteira beleza que se escondia debaixo delas. Depois ainda as flores distribuídas, com mãos cuidadosas, no entorno e meandros da praça, trouxeram a alegria que não havia mais.

Envernizaram os bancos, agora dá gosto sentar à sombra dela, para conversar, descansar, ler um livro, tomar um sorvete ou namorar... O acabamento final: a iluminação implantada em toda a praça, fazendo evidenciar, mesmo à noite as suas belezas!
A ?Figueira Real? de nosso município, feliz como senhora que se arruma para ir à missa da Igreja Matriz São Pedro Apóstolo! Hoje cheguei à praça antes das oito horas da manhã - é passagem para meu trabalho - e me deparei com a Figueira a chorar, podia ouvir seu murmúrio baixo, como quem sofre sozinha sem poder falar.

Não foi difícil constatar: olhando em seu entorno, cerca de dez andarilhos, pessoas sem teto, ou viciados em alguma droga? Não sei precisar, apenas que estavam a gritar, xingar-se entre si, empurrar-se, entre outras coisas, que prefiro não comentar...
Alguém do Direitos Humanos pode dizer: Coitados! São os excluídos da sociedade, deixe- os em paz ali na praça! Eu não sou pessoa insensível, pelo contrário: entendo que todos têm o direito de ir e vir e fazer de suas vidas o que bem entenderem, mas desde criança aprendi que o meu direito termina onde começa o direito do outro.

Estes arruaceiros, desocupados, inermes, não têm o direito de permanecer num local em que tiram a paz das pessoas que o permeiam. Oferecer ajuda, assistência a eles? Concordo plenamente, mas constata-se que são pessoas que não querem mudar, não querem melhorar, estão ali apenas por favores gratuitos, como marmitas do restaurante próximo que para não arrumar confusão, preferem colaborar com eles, ou ajuda de qualquer pessoa, sem poder de discernimento ou de dizer um ?não?, que acabe doando-lhes um passe de ônibus, ou algum trocado, provavelmente destinado a comprar drogas ou álcool. Ajuda se dá para quem quer se ajudar!

A Cracolândia de São Paulo, vergonha de todo o país, com certeza começou assim: com dois ou três, depois dez, vinte, destes marginais, tornando-se hoje uma verdadeira cidade do crime, do tráfico e da prostituição.

?Nossa Senhora?  chora, e todos nós, cidadãos de Gaspar, choramos com ela. Rogamos à Deus que um dia Ele possa tomar as rédeas das vidas desses  seres humanos ?perdidos? e às autoridades locais, rogamos  para que tomem uma atitude em relação a  esta situação que tanto envergonha e entristece a todos nós. Se isto não acontecer, eu pergunto: o que será do nosso porvir! 

Karine Alves Ribeiro | Gaspar

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