Nas décadas de 40 e 50, quando Gaspar ainda lutava pela sua consolidação como município e dava os primeiros passos em busca de seu futuro, uma série de pessoas e entidades muito se destacaram e contribuíram para esse objetivo. E um desses personagens que teve papel saliente naquela época em favor do progresso do município, foi o Sr. João de Souza Pamplona, mais conhecido como Jóca Pamplona.
Membro de conceituada família do município, seu pai Francisco foi o Agente dos Correios e Telégrafos de Gaspar. Jóca, depois dos estudos básicos, procurou arrumar emprego para ganhar a vida e garantir o futuro. Iniciou a vida profissional como sapateiro e depois como funcionário da Loja Zendron, de Brusque, para onde se transferiu.
Jovem, boa pinta, exímio tocador de gaita de boca, fez sucesso nos meios sociais brusquenses, onde animava os ?saraus? dos salões de dança com sua inseparável gaita. Na década de 30 retornou a Gaspar para trabalhar com seus irmãos na padaria do Chiquinho, adquirida por seu pai. O estabelecimento dispunha de outros espaços que foram aproveitados para instalar um bar e um salão de sinuca.
Pouco tempo depois Jóca enamorou-se e logo veio a se casar com a jovem Erna Genny Wehmuth, da sociedade local e com quem veio a ter seis filhos: Elinor, Lodemar, Miriam, Meridalva, Maurilia e Carlos Francisco, os quais, casados, lhe deram 21 netos. Após o casamento Jóca comprou de seu pai a padaria, o bar e seus anexos e em seguida demoliu o prédio antigo. Em seu lugar construiu um moderno edifício em cuja parte superior passou a morar com a família. Na parte térrea montou a padaria, uma confeitaria e também o Bar do Jóca, com modernas instalações, inclusive um salão de jogos.
Em pouco tempo o estabelecimento ficou famoso e passou a tomar conta da cidade e a atrair e concentrar boa parte da sociedade gasparense. A padaria comandada por dona Erna, com seus deliciosos quitutes, ?cuca, bolos e tortas? dominava o mercado, enquanto o Bar do Jóca passou a se tornar o ponto de encontro obrigatório de esportistas, empresários, comerciantes e políticos, que aperitivavam ao meio dia e a noite após o expediente, voltavam para repetir a dose e também para conversar e discutir os mais variados assuntos.
Nas mesas do Bar do Jóca eram discutidos os principais problemas e acontecimentos da cidade, especialmente a política e o futebol.
Foi ali que praticamente nasceu o C.A. Tupi, que substituiu o antigo e valente clube de futebol de Gaspar, o 21 de Abril. Na política não foi diferente. Todos os principais lideres políticos de Gaspar, prefeitos, vereadores faziam reuniões no Bar do Jóca. Em época de eleições era ali que se traçavam estratégias, discutiam e indicavam candidatos aos cargos eletivos. Além dos políticos daqui, também passaram pelo famoso bar Evelásio Vieira, ex-prefeito de Blumenau e senador da República, Antônio Carlos Konder Reis e Irineu Bornhausen, ex-senadores e ex-governadores.
Com Konder Reis, aliás, aconteceu um fato interessante. Em 1965 concorreu ao cargo de governador pela UDN, tendo como adversário Ivo Silveira, do PSD. Eleição apertada, e quando a contagem dos votos estava pela metade, Konder Reis deixou o litoral onde residia e veio para Gaspar entrando no Bar do Jóca de quem era amigo. Nervoso, com os amigos, procurou um lugar na cozinha onde uma rádio transmitia os resultados da apuração dos votos da região. Diante dos números equilibrados, Konder Reis como profundo conhecedor da realidade política do estado prognosticou para os presentes que a sua vitória dependeria dos votos computados na Comarca de Blumenau. E tão logo os votos da Comarca blumenauense forma anunciados, Konder Reis não se conteve e exclamou: ?Jóca, perdemos a eleição e pela minha previsão, por uns 25 mil votos?. Konder Reis quase acertou pois a contagem final da eleição deu a vitória a Ivo Silveira pela diferença de 23.390 votos. Mas, além do futebol e da política o Bar do Jóca, ao longo da sua existência, registrou outras histórias incríveis dignas de registro e que hoje são lembradas com saudade e emoção pelo seu filho Chico.
É o caso de um ex-gerente do Banco Inco, cuja agência ficava na frente do Bar do Jóca, separada apenas pela rua Aristiliano Ramos. Após a abertura da agência, às 9h30min, invariavelmente o referido gerente se transferia para o Bar do Jóca e ali, numa mesa, atendia os clientes e despachava com os funcionários do Banco. Essa rotina, segundo Chico, se estendia até o final do expediente, sempre acompanhada de um bom papo, cafezinho e aperitivos.
Outro fato marcante acontecia sempre aos domingos, quando um grupo de fiéis depois da missa ia para o bar onde se confraternizavam e bebiam muitas cervejas.
Assim era o Bar do Jóca, sempre frequentado por boa parcela dos gasparenses, por isso que marcou época na história de Gaspar. Em 1972, após aposentar-se, Jóca Pamplona sentindo-se cansado da rotina estressante do bar e da padaria, encerrou as atividades comerciais após ter postergado a decisão por várias vezes a pedido dos frequentadores. Pelo que representaram para Gaspar e para os gasparenses, nas três décadas de atividades, o Bar do Jóca e o seu proprietário João de Souza Pamplona marcaram forte presença na vida da cidade, por isso deixaram uma imensa lacuna e muitas saudades. Jóca Pamplona faleceu em 18 de fevereiro de 1997. Foi sepultado no cemitério local depois de muitas homenagens.
Alvaro Correia | Ex-parlamentar
Edição 1542
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