Sabe aquelas vezes que você perde a oportunidade de ficar calado e mesmo assim não se contenta e solta o verbo? Só depois; depois de pensar é que se dá conta da bobagem que fez. Mas aí F*, já é tarde!...
Pois é! E o caso do texto de hoje. Sei que vai chocar. Sei que causará polêmica. Sei que críticas irão chover aqui na redação. Ainda mais escrito por um professor de Língua Portuguesa. Ai, ai, ai... Mas que se F*!
Religiosos, puritanos, carolas de plantão e todos os certinhos, aconselho que tapem os ouvidos, ou melhor, parem a leitura por aqui. Culpado. Réu confesso. E confesso mesmo. Sou um ?boca-suja? dos piores. Não me privo. Falo, xingo, solto, não guardo. Volta e meia, em casa ou no trabalho sou repreendido por este tipo de atitude. Já me acostumei com os puxões-de-orelha. Até me policio, mas não consigo evitar. Eles saem naturalmente. Têm vida própria. É uma M*.
Para aqueles que já estão horrorizados com o assunto e com meu linguajar, vai aqui um desafio. Ao topar com uma pedra, a quina da mesa ou o pé da cama, qual a expressão que logo vem à boca?...
- FILHA-DA-PUTA!!!
Pode até ser que não falem, mas que pensam, pensam. Mesmo sabendo que estes objetos não passam de seres inanimados. Mesmo sabendo que nem mãe eles têm, todos logo revidam e descarregam sua raiva nos obstáculos do caminho. Além disso, este tipo de linguagem chula, de baixo calão faz parte do nosso cotidiano. É uma instituição nacional. Diria até internacional, pelo menos nos povos de origem latina, de sangue quente. E não adianta tentar coibir e pregar o falso moralismo. Está na boca do povo. Acontece nas melhores famílias e claro; com mais freqüência nas piores.
E convenhamos, depende muito da intenção de quem fala. Se você quer ofender aí sim podemos classificá-los como autênticos palavrões. Se não eles não passam de interjeições:
- C*... Como é que você conseguiu acertar aquela bola.
- P*... O seu trabalho ficou muito bom.
- Vai tomar no C*... Esse carro é do C*. (neste caso funciona como adjetivo).
E eles ainda podem assumir papel de advérbios:
- O fulano mora longe p?rá C*.
Ainda bem que tudo pode ser explicado cientificamente, se não eu tava F*. Pesquisas recentes mostram que as palavras sujas nascem em um mundo à parte dentro do cérebro. Enquanto a linguagem comum, mais elaborada e consciente fica a cargo da parte mais sofisticada da massa cinzenta, o neocórtex, os palavrões moram nos porões da cabeça. Tecnicamente no Sistema Límbico. É o fundo do cérebro, a parte que controla nossas emoções. Trata-se de uma zona primitiva, responsável pelos nossos instintos, o nosso lado animal.
É claro que não precisamos esbarrar em alguma coisa para nos descontrolarmos. Se usarmos a razão, o pensamento consciente, ninguém ofenderia uma coisa inanimada. Mas o sistema límbico é burro. Burro e sincero. Curto e grosso. E reproduz nossas emoções com uma intensidade sem igual.
Visto por esta ótica, os palavrões são pura poesia, no sentido mais profundo da palavra. Sim! Poesia...O que é poesia senão a expressão mais pura do sentimento humano. Há alguma coisa mais forte e eloquente do que um PUTA QUE O PARIU. Não outro tipo de palavra que possa substituir a paixão e a carga emocional que o desabafo de um bom e sonoro palavrão. Além do que, relaxa, acalma e liberta.
Na verdade a sociedade é extremamente hipócrita. É aquela velha historinha... Na frente de estranhos não pode; faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Ou seja, raramente somos sinceros, vivemos de aparências e só nos momentos de furor ou quando estamos bem à vontade e que vem a tona a nossa real personalidade.
Palavrão, palavrão mesmo, é discriminação; racismo; corrupção; ódio; violência e todas as denominações para as formas de maldade que o ser humano comete contra seu próximo. Isto é indecente ? Estes sim são os legítimos nomes feios.
Para finalizar uma piadinha, território livre onde o palavrão circula sem censura.
O sujeito entra na igreja vazia, senta-se e começa a gritar repetidamente:
- É F*, é F*, é F*, é F*, é F*, mil vezes F*.
O padre que estava na sacristia, ouvindo aquilo, corre para ver o que estava acontecendo, quando encontra o homem desesperado.
- O que é isso meu filho. Você está na casa de Deus. Não podes falar estas indecências aqui. Por que estais tão nervoso?
- Olha padre, sou casado há 10 anos e nesse tempo todo eu e minha esposa tentamos ter um filho. Há nove meses atrás ela engravida e foi aquela alegria. Comprei enxoval, decorei o quarto do bebê, acompanhei ansioso o nascimento dele e então, hoje nasceu a criança.
- Então filho, deverias estar contente e não agir desta maneira.
- Mas veja só seu padre. Eu sou branco, minha mulher é loira e na hora do parto quando o neném vem ao mundo, o que eu vejo. Um bebê pretinho como carvão... E aí padre? O que o senhor me diz?
- É meu filho, tens razão... Éééé F*.
Michel Jaques - michel.jaques@yahoo.com.br
edição 1231
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).