Quem precisa de ética? - Jornal Cruzeiro do Vale

O eclodir de escândalos éticos que assola nosso país, voltou nossa atenção para assuntos antes negligenciados. Vemos em todas as mídias ferrenhas discussões políticas, bem como a cobrança de postura ética dos governantes, o que de fato é algo saudável e mostra o já tardio amadurecimento de nossa democracia.
Porém, o que gostaria de refletir é até que ponto estamos dispostos a praticar aquilo que exigimos de nossos governantes. Exigimos ética, que é tomar decisões de acordo bom, correto e justo, mas quantas vezes nos comportamos de maneira antiética?
Cito a indignação pelos direitos que nos são tirados por uma má administração pública, indignação justa e necessária. Porém, devemos pensar: Nós não retiramos o direito do outro? Por exemplo, no ônibus que à lugares reservados para pessoas idosas, gestantes e deficientes, quantas vezes estes não estão privados deste direito que depende apenas de uma atitude nossa de lhes ceder o lugar. Exigimos serviços públicos de qualidade, mas jogamos lixo nas ruas, não poderíamos joga-lo no lugar devido? Exigimos transparência nas contas públicas, mas sonegamos impostos. E assim por diante...
Entretanto, se cito os exemplos acima não é porque ache que não devemos cobrar uma postura ética que esteja de acordo com a função de nosso governantes, pelo contrário devemos ser veementes nesta cobrança. Porém não podemos achar que nossas posturas antiéticas sejam menos erradas, porque tem pessoas que comentem crimes maiores.
Ou seja, se queremos uma mudança de fato, temos de tomar consciência que esta mudança começa em cada um de nós. E assim formaremos uma geração que não só escutou discursos sobre ética, mas viu exemplos éticos, geração que no futuro há de nós governar.

Tiago Correia | Professor de Filosofia da Rede Municipal de Gaspar