por Gilberto Schmitt - Jornal Cruzeiro do Vale

por Gilberto Schmitt

05/12/2008

Em busca da dignidade
Comovente é ouvir os depoimentos de quem viveu e sobreviveu depois da tragédia da última semana em Gaspar e Ilhota. Muitas vezes temos vontade de, na cobertura jornalística, largar tudo e chorar junto com quem sofre a perda de um filho, de um irmão. Mas precisamos seguir em frente e noticiar a história destas pessoas, para mostrar que há vidas em jogo e que aqueles que sobreviveram precisam de atenção, respeito e dignidade.

A perda de uma família
No Braço do Baú, a situação foi muito delicada. Esta foi uma das regiões mais atingidas pelos deslizamentos. Famílias inteiras ficaram soterradas sob os escombros e muita lama. José Altino Richart, 59 anos, se emociona ao falar do modo como perdeu a família. Lembra a dor da filha, presa nos escombros da residência da cintura para baixo, que ficou mais de 14 horas esperando o resgate, que só veio quando ela havia perdido as forças e falecido. Seu José Altino perdeu a esposa, a filha, um irmão, cunhado, sobrinhos e demais familiares. Uma tragédia que jamais será apagada.

Difícil de acreditar
Jaques Sabel, que não teve a casa destruída pela força dos deslizamentos, lamenta a perda de muitos familiares e amigos da localidade do Alto Braço, também no Morro do Baú. Ele perdeu a mãe, a cunhada e três sobrinhos na tragédia. Em seu depoimento à equipe de reportagem, declarou que está difícil de acreditar no que aconteceu. "Ainda não conseguimos cair na real". Aos poucos, a realidade vai se mostrando muito dura, e a história vai registrar para sempre o tamanho desta tragédia para os moradores do local.

Por pouco
O depoimento da senhora Renata Pitz, 54 anos, também foi emocionante. Emocionada, conta que conseguiu se salvar porque rastejou ferida, no escuro, durante a madrugada até a casa da nora. Sem poder enxergar nada, não pôde conter o choro quando descobriu que havia perdido o marido e o filho no desabamento da casa, no Belchior Baixo. Foram momentos de desespero que ela insiste em esquecer, mas as imagens do desastre não vão sair tão cedo da memória de quem viveu na pele o horror daquela noite de 23 de novembro.

Soterrados
Difícil também é a dor de quem descobre que amigos morreram esmagados pelas próprias casas, sem chance de defesa, sem tempo para fugir e se proteger. O advogado Daniel Krause e a esposa estavam em casa quando a enxurrada desceu toda a terra e o parte do morro levou casas, árvores e o que encontrou pela frente. Um vizinho e amigo do casal, Ademir Anderson, fala entristecido que "dá uma dor muito grande saber que morreram assim, soterrados". A sensação de impotência é realmente desanimadora.

Achou que havia perdido três filhos
Como não se emocionar diante da mãe que pensou que tinha perdido três filhos em um deslizamento? Os momentos que se passaram desde que Geni Mendonça, 40 anos, viu a casa totalmente destruída até encontrar dois filhos em segurança foram intermináveis. Infelizmente, ela perdeu a filha Jéssica, de 14 anos, mas pôde abraçar os dois meninos. Com certeza a diarista que luta para sustentar a família jamais vai apagar este dia de sua memória.

Desespero
Pedro Luis Oeschler acordou assustado no meio da noite por um forte estrondo. As quatro casas ao lado da sua, no Arraial, ficaram destruídas. Quando correu para ver o que havia acontecido, ficou desesperado. Em uma das casas, estava seu filho Luis Fernando Oeschler, 10 anos, que estava dormindo na casa do padrinho Alcídio, que também morreu no desmoronamento.

 

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